EDITORIAL DA 72ª EDIÇÃO DA REVISTA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO



Certa vez escrevi a seguinte reflexão: “Como dizia Ruben Alves: ‘A esperança se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce.’ E é por causa destas pequenas coisas que a vida pode se transformar para melhor! Cada vez mais parece que vivemos tempos de fim de mundo. Mazelas eclodem de forma descontrolada pelos arredores da Terra. O que sobra delas: um ambiente devastado, destroços, assombro, dor, sofrimento, principalmente dos que já, quase sem forças, sobrevivem à situação em que se encontram: os desassistidos, os pobres, os famintos, os sedentos, os esquecidos, e tantos outros... Precisamos, ainda, sentir na pele a dor que recai sobre a desigualdade para conseguirmos nos colocar no lugar do outro, que sofre? Merecemos viver neste Planeta que tanto vilipendiamos? A vida segue em meio a tudo isso. E dos destroços, dos escombros, da dor e do sofrimento - assim como a primavera surge depois de cada inverno - florescem ações silenciosas que recriam dias mais felizes, mais fraternos, para tudo e todos. Como disse Fernando Sabino: ‘No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim’. Finalizo esta reflexão que me brota dos poros com o que diz Ailton Krenak: ‘O fim do mundo talvez seja uma breve interrupção de um estado de prazer extasiante que a gente não quer perder’.”

Retomo-a para dar continuidade a partir deste editorial, que abre a 72ª edição da revista Educação Ambiental em Ação.

São sim, as pequenas coisas da vida que nos promovem grandes transformações, sejam elas boas ou não. Fato é que precisamos de muita atenção para não cometer erros que geram outros, e outros e outros, fazendo da nossa vida uma coleção de pequenos problemas que, se empilhados, tornam-se grandes, prejudicando o nosso ambiente interno. Da mesma forma precisamos dar atenção às nossas atitudes, e perceber quais os reflexos destas ao meio ambiente.

Este ano de 2020, sem dúvida, deixará uma marca no processo civilizatório, pois nos obriga a repensar a nossa forma de viver, embora muitos ainda se debatam esperançosos por “voltar ao normal”, sem darem-se conta de que, daqui para a frente, o “normal” certamente será diferente. Precisamos, então, estar preparados para enfrentar e aceitar todas as mudanças que decorrem desta pandemia.

Em diferentes espaços, pessoas se lamentam, discutem, afrontam ideias, ideologias, porém, para onde estas discussões, em exagero, estão nos levando? Será que não estamos esquecendo algo? O que temos a aprender? Tantos estudos, tantas pesquisas, tantas descobertas, tantas conquistas, dos mais diversos coletivos da sociedade civil (Universidades, Escolas, ONG,s, Instituições...) estão sendo postos a prova, sem que tais questionamentos tenham, sequer, uma argumentação lógica. Será que desperdiçaremos, também, este momento de tantas lições, que retrata quais os aspectos de nossas vidas que precisamos mudar como humanidade, para colocar mudanças em prática? Quais são as palavras que vêm nutrindo os nossos pensamentos através de informações as quais temos acesso? O que estamos lendo, vendo, ouvindo, e quanto nos deixamos envolver por tudo isso?

Tem uma lenda indígena linda, que fala sobre algo que se apropria bem ao que, por ora, refletimos:

Um jovem guerreiro, indignado e com raiva, chega junto de seu Avô contando que sofreu injustiça de um amigo. O Avô disse ao neto:

"Deixa-me contar-lhe uma história. Eu mesmo, algumas vezes, senti grande ódio daqueles que me "aprontaram" tanto, sem qualquer arrependimento daquilo que fizeram. Todavia, o ódio corrói-te, mas não fere o teu inimigo. É o mesmo que tomar veneno, desejando que o teu inimigo morra. Lutei muitas vezes contra estes sentimentos".

E o avô continuou contando ao neto: "É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não magoa. Ele vive em harmonia com todos ao redor dele e não se ofende quando não se teve intenção de ofender. Ele só lutará quando for certo fazer isso, e da maneira correta.

Mas, o outro lobo, ah!  Esse é cheio de raiva! Mesmo as pequeninas coisas o lançam num ataque de ira! Ele briga com todos o tempo todo, sem qualquer motivo. Ele não pode pensar, porque a sua raiva e o seu ódio são muito grandes.

É uma raiva inútil, pois sua raiva não irá mudar coisa alguma!“Algumas vezes é difícil conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar o meu espírito".

O Jovem olhou intensamente nos olhos do seu Avô e perguntou: "Qual deles vence, Avô?" O Avô sorriu e respondeu baixinho: "Aquele que eu alimento".

Gosto muito desta lenda porque ela ilustra bem que, para vivermos melhor, necessariamente precisamos nos alimentar de boas ações e nos rodear por boas atitudes, que sejam bem planejadas, pensadas, responsáveis, que levem tudo e todos em conta, que possam fortalecer diferentes coletivos e formas de vida, para alcançarmos uma sociedade sustentável, por mais que seja uma ideia utópica, uma vez que os tempos são incertos e ainda não temos como dimensionar o que teremos a enfrentar após este período de pandemia.

Assim, ao apresentarmos na revista ações que são programadas, planejadas, experimentadas, e que se concretizam aqui, ali, lá, acolá, através de uma gama variada de artigos, textos, relatos, e diferentes seções temáticas relacionadas a Educação Ambiental, desejamos que possam servir de “alimento” para novas ações, que levem em conta o ambiente por inteiro.



A todos e todas, uma boa leitura!



Bere Adams e equipe da revista

Educação Ambiental em Ação



WWW.revistaea.org



Setembro/2020