ANÁLISE SUSTENTÁVEL DA SUBSTITUIÇÃO DA AREIA NATURAL POR RESÍDUOS DE PEDREIRA NOS CONCRETOS DE CIMENTO PORTLAND

Antônio Everaldo Vitoriano de Araújo1, Cauã Ruda Fernandes Gomes2, Genivaldo Barbosa de Mello Neto2, Arthur Padilha Pina2, Allan Moura Nunes2, Cícero Ronaldo de Siqueira Júnior2, João Gomes da Costa3, Aldenir Feitosa dos Santos3, Jessé Marques da Silva Júnior Pavão3*

1Engenheiro Civil, mestrando do Programa de Pós-Graduação Análise de Sistemas Ambientais – Centro Universitário Cesmac, Maceió-Alagoas. 2Aluno do curso de Engenharia Civil – Centro Universitário Cesmac.

3 Professor do Programa de Pós-Graduação Análise de Sistemas Ambientais – Centro Universitário Cesmac.

* Autor para correspondência (jesse.marques@cesmac.edu.br)

Resumo

A construção civil sempre foi sinônimo de desenvolvimento econômico e social de qualquer país, entretanto, ao mesmo tempo em que se elevam os índices de desenvolvimento, aumenta o consumo de recursos naturais e também a geração de resíduos, gerados pelas obras em diferentes fases. A comunidade ligada à construção civil do país, mesmo sabedora da importância dos recursos naturais, em especial a areia natural, autorizam a sua exploração em grandes quantidades, mesmo em meio à deflagração mundial da sustentabilidade ambiental. Neste trabalho, efetuou-se um estudo científico de cunho ambiental educacional da substituição da areia natural pela areia de brita nos concretos de Cimento Portland, avaliando a resistência à compressão dos concretos. Foram utilizados cinco tratamentos diferentes para a determinação daquele que apresentasse a melhor resistência à compressão axial do concreto. O primeiro tratamento foi composto inicialmente com 100% de areia natural como agregado miúdo do concreto, o segundo tratamento composto por 70% de areia natural e 30% de areia de brita, o terceiro tratamento composto por 50% de areia natural e 50% de areia de brita, o quarto tratamento composto por 30% de areia natural e 70% de areia de brita e o quinto tratamento composto por 100% de areia de brita. Após a elaboração dos experimentos, determinou-se o traço de 1:1,8 :2,3: 0,6 (cimento: agregado miúdo: agregado graúdo: água), para uma resistência à compressão em torno de 20,0 Mpa, conforme NBR 6118: 2003 e foram rompidos nas idades, aos 7, 14, 21 e 28 dias. Os resultados observados em todos os tratamentos foi a obtenção de resistências à compressão axial acima de 20,0 Mpa. Para efeito sustentável do meio ambiente, estes resultados são de fundamental importância visto que a substituição proposta neste estudo foi confirmada mediante norma o que possibilitará menor exploração da areia natural nos rios evitando a degradação, preservando a mata ciliar e evitando o assoreando de suas margens.

Palavras-chave: Resíduos de pedreiras. Concretos sustentáveis. Resíduos sólidos. Construção civil.

ABSTRACT

Civil construction has always been synonymous with the economic and social development of any country, but at the same time as development rates increase, consumption of natural resources and also the generation of waste, generated by works in different phases, increases. The civil construction community of the country, even knowing the importance of natural resources, especially natural sand, authorize its exploitation in large quantities, even in the midst of the global outbreak of environmental sustainability. In this work, we carried out a scientific study of educational environmental nature of the replacement of natural sand by crushed sand in Portland cement concretes, evaluating the compressive strength of concrete. Five different treatments were used to determine the one that presented the best axial compressive strength of the concrete. The first treatment was initially composed of 100% natural sand as the small aggregate of the concrete, the second treatment consisting of 70% natural sand and 30% crushed sand, the third treatment consisting of 50% natural sand and 50% sand, the fourth treatment consisting of 30% natural sand and 70% crushed sand and the fifth treatment consisting of 100% crushed sand. After the elaboration of the experiments, the trace of 1: 1.8: 2.3: 0.6 (cement: small aggregate: large aggregate: water) was determined for a compressive strength of around 20.0 MPa, according to NBR 6118: 2003 and were ruptured at ages 7, 14, 21 and 28 days. The results observed in all the treatments were to obtain resistance to axial compression above 20.0 MPa. For the sustainable effect of the environment, these results are of fundamental importance since the substitution proposed in this study was confirmed by norm which will allow less exploitation of the natural sand in the rivers avoiding the degradation, preserving the ciliary forest and avoiding the silting of its banks.

Keywords: Quarry waste. Sustainable concrete. Solid waste. Construction.

1 Introdução

A crise econômica por que passa o país, tem conscientizado a população para o reúso de materiais de construção. A sustentabilidade tem sido a palavra mais utilizada nos canteiros de obras, voltando a criatividade para os vários testes de reúso dos materiais que antes eram imperceptíveis para reaproveitamento dentro do canteiro. Para Elkington (2014), o mundo vivencia o início de uma quarta onda ambiental, cuja palavra foco finalmente é a sustentabilidade. Diante deste grande desafio, a educação ambiental é a principal ferramenta utilizada nos cursos de engenharia civil desde os primeiros semestres, para que desta forma, possa, ainda na universidade, despertar o interesse dos futuros engenheiros civis, para a grande questão da preservação ambiental, rumo a sustentabilidade e preservação dos recursos naturais.

Com a escassez de recursos naturais por que passam muitas regiões, e o alto volume de resíduos gerados pelas diversas atividades produtivas, entre elas se destaca a construção civil, os órgãos ambientais estão cada vez mais rigorosos quanto à extração desses recursos, entre eles a areia natural nos leitos de rios. Trata-se de ações que reagem às atividades, denominadas de extrativistas. Essas atividades degradam quaisquer que sejam as espécies de vegetação localizadas próximo às margens dos cursos d’água, identificadas como áreas de preservação permanentes, conforme o CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO (1965), por meio da Lei 4.771/65.

Em tese, a Lei que define as áreas de preservação permanentes trouxe um conjunto de mudanças para aqueles que, de alguma maneira, lidam com esse patrimônio da humanidade: o meio ambiente. Como a areia natural é obtida, principalmente, através da extração em leito de rios, as licenças para exploração deste material têm sido suspendidas, tornando a areia natural um material mais caro e escasso (ALMEIDA E SILVA, 2005).

A areia natural é explorada em nossos rios de forma a degradá-los, devastando a mata ciliar, assoreando suas margens e reduzindo a oxigenação das suas águas e, com isso, acarretando o desaparecimento do alimento da população ribeirinha. Para se ter uma noção, anualmente são retirados nos vários rios deste país, cerca de mais de 391.765.746 m³, segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM – 2014), para usos na construção civil. Nos últimos anos, o esgotamento das jazidas de agregado miúdo natural, nas proximidades dos grandes centros consumidores, o aumento dos custos de transporte, o acirramento da competição comercial entre os produtores de concreto e a conscientização da sociedade, que demanda leis de proteção ambiental, vieram a contribuir para um melhor entendimento sobre a importância dos agregados. (SBRIGHI NETO, 2005).

Como não entender todo esse processo como responsável pela degradação ambiental e seus efeitos sanitários? Não se trata aqui de reproduzir afirmações do senso comum, sem estudos prévios às conclusões, inclusive, sobre o encarecimento da matéria prima para a produção de concreto. Segundo NEVILLE (1997) não existe objeção ao uso de agregados com materiais pulverulentos presentes, desde que não haja atividade química. Entretanto, a sua quantidade presente na massa total do agregado deve ser controlada, pois, devido à sua finura, requer uma quantidade maior de água para a mesma característica de argamassa ou concreto”. Com efeito, estudos, como os citados abaixo, oferecem argumentos baseados em dados de realidade que parecem absolutamente óbvias.

Todavia, o elevado consumo de concreto impõe desafios. A alta demanda pelo material implica na constante extração de agregados utilizados em sua fabricação que, por serem não renováveis, caminham para um esgotamento em regiões próximas aos grandes centros consumidores, motivando suas explorações em locais distantes aos de suas utilizações e ocasionando a elevação dos custos de transporte. Além disso, leis mais rigorosas que regem a exploração de agregados na natureza, visando a redução dos impactos ambientais causados por essa atividade, também ocasionam o aumento do custo final do produto. A extração de areia natural que, no passado, era prática comum nos leitos e vales de rios, agora se concentra em baixadas, provocando impactos ambientais, em consequência da remoção de coberturas vegetais nas áreas a serem lavradas, de material estéril e de solo orgânico na etapa de decapeamento (BRUM; OLIVEIRA JÚNIOR; SANTOS, 2001).

Na produção de materiais pelas pedreiras, para usos na construção civil, não se inclui o pó de pedra. Este material é considerado um resíduo e sua inserção no processo produtivo é configurada como sustentabilidade, visto que este material passará de resíduo das pedreiras para a inclusão na produção de concretos e argamassas. Jacobi (2003), defende a sustentabilidade como sendo uma estratégia que se deve levar em conta tanto quanto a viabilidade econômica.

Sabe-se que a areia de brita é um material de construção que junto ao filer compõem o pó de pedra, material que é produzido no processo de britagem. As pedreiras de maior porte e com encomendas de compra, fazem a separação dos dois materiais e os vendem para aplicações diversas: O primeiro é bastante utilizado por usinas de asfalto, na fabricação dos concretos betuminosos usinados à quente (CBUQ) e usinados à frio (CBUF), ambos bastante empregados na pavimentação rodoviária; enquanto o segundo, areia de brita, já é muito utilizada nos locais onde inexiste a areia de rio própria para consumo da construção civil. A areia de rio utilizada nos concretos de obras de construção civil, como se sabe, é aquela isenta de impurezas e materiais orgânicos e que possuem boa resistência mecânica à compressão, tração e abrasão. Essas areias possuem partículas de quartzo oriundas das rochas de origem e satisfazem às exigências da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, conforme ABNT NBR 7211:2009 - Agregados para concreto - Especificação.

Atente-se também para o fato de que o aglomerante é ingrediente necessário na composição do concreto, como definido por Mehta; Monteiro (2008), é um material compósito que consiste, essencialmente, de um meio aglomerante no qual são aglutinados partículas ou fragmentos de agregado. No concreto de cimento hidráulico, o aglomerante é formado de uma mistura de cimento e água”.

Surge, então, a necessidade de se demonstrar nesta pesquisa que a substituição da areia natural pela areia de brita, não acarretará a perda da qualidade dos concretos e que sua resistência à compressão não sofrerá qualquer decréscimo acarretado por essa substituição. Ao mesmo tempo, os resultados desta pesquisa já são utilizados em aulas práticas das disciplinas Materiais da Construção Civil I e II, no curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Cesmac, com o propósito de ser uma ferramenta na construção ideológica do futuro engenheiro civil.

2 Materiais

Para a verificação dos resultados da substituição da areia natural pela areia de brita, realizaram-se experimentos com os materiais componentes dos concretos, à fim de que se pudesse avaliar as características destes, fabricados com a areia natural e as características daqueles fabricados com a areia de brita; tornando estes experimentos primordiais para a avaliação de cada um destes concretos, e que darão a certeza da boa performance do concreto elaborado com a areia de brita como agregado miúdo.

O cimento utilizado nos experimentos foi o Portland CP-II-F- 40 (composto de fíler, com resistência a compressão axial de 40 Mpa aos 28 dias). Já a areia natural foi retirada do Rio Paraíba – Cajueiro, Alagoas, com as seguintes Coordenadas Geográficas: Latitude: 09°23’48” S; Longitude: 36°09’13” W; Altitude: 102m e Área: 124,8 km2. Caracterizada por possuir grande quantidade de partículas de quartzo, com as características conforme Tabela 1. A brita utilizada foi o pedrisco, com as características conforme Tabela 2.

Tabela1. Granulometria da areia natural.

AREIA NATURAL LAVADA

PENEIRA

(mm)

PESO RETIDO

(g)

76

---

64

---

50

---

38

---

32

---

25

---

19

---

12,5

---

9,5

---

6,3

---

4,8

20

2,4

35

1,2

150

0,6

545

0,3

165

0,15

65

FUNDO

20

TOTAL

1000

MATERIAL PULVERULENTO

PESO INICIAL 1000

PESO FINAL 975

MAT. PULV. 2,5%

MÓDULO DE FINURA

2,925



Tabela 2. Granulometria do pedrisco.



PENEIRA

(mm)




PESO

(RETIDO)


76

---

64

---

50

---

38

---

32

---

25

---

19

---

12,5

605

9,5

1660

6,3

1830

4,8

545

2,4

225

1,2

35

0,6

35

0,3

25

0,15

35

FUNDO

5

TOTAL

5000



MATERIAL PULVERULENTO

PESO INICIAL 5000

PESO FINAL 4980

MAT. PULV. 0,4%

MÓDULO DE FINURA

6,312

O pó de pedra foi fornecido por UBA – União Brasileira de Agregados; Fazenda Sardinha, s/n, Zona Rural de Ipioca, Maceió, AL. O referido material ao ser analisado, apresentou as características conforme Tabela 3.

Tabela 3. Caracterização granulométrica do pó de pedra.

Peneira

(mm)

Peso

(g)

%




Retida

Acumulada

76

---

---

---

64

---

---

---

50

---

---

---

38

---

---

---

32

---

---

---

25

---

---

---

19

---

---

---

12,5

---

---

---

9,5

---

---

---

6,3

---

---

---

4,8

20,0

2

2

2,4

270,0

27

29

1,2

195,0

19,5

48,5

0,6

160,0

16,0

64,5

0,3

130,0

13,0

77,5

0,15

140,0

14,0

91,5

Fundo

85,0

8,5

100%

Total

1000,0

100%




3 Métodos

O experimento planejado constou da moldagem de 80 corpos de prova de concreto, distribuídos da seguinte forma: 16 (dezesseis) corpos de prova para o T1, elaborado com o agregado miúdo composto de 100% de areia natural (concreto tradicional); 16 (dezesseis) corpos de prova para o T2, elaborado com o agregado miúdo composto de 70% de areia natural e 30% de areia de brita; 16 (dezesseis) corpos de prova para o T3, elaborado com o agregado miúdo composto de 50% de areia natural e 50% de areia de brita; 16 (dezesseis) corpos de prova para o T4 elaborado com o agregado miúdo composto de 30% de areia natural e 70% de areia de brita, e 16 (dezesseis) corpos de prova para o T5, elaborado com o agregado miúdo composto com 100% de areia de brita, fixou-se a Tabela 4.

Tabela 4. Percentuais de substituição dos agregados miúdos.

Materiais

T1

T2

T3

T4

T5



Areia Natural


100%


70%


50%


30%


0%



Areia de brita


0%


30%


50%


70%


100%

Determinou-se um traço com 1:1,8:2,3:0,6 (cimento: areia: brita: água), à partir da fixação de um concreto com resistência característica à compressão axial de, aproximadamente, 20,0 MPa, com os materiais utilizados nos experimentos, já caracterizados anteriormente. A partir deste traço (1: 1,8: 2,3: 0,6), calculamos as quantidades dos materiais componentes dos Tratamentos acima especificados, conforme Alves, (1980), e conforme as proporções acima fixadas, temos:

Conforme cálculo efetuado para a determinação do volume de cimento por m³ de concreto, passou-se a calcular as quantidades solicitadas para cada material em T1:

- Cálculo do volume do corpo de prova de concreto para a determinação, de acordo com o traço, das quantidades de cada material por corpo de prova:

    b) Quantidade de Brita (pedrisco):

    c) Quantidade de água:

    d) Quantidade de cimento CP II – F- 40:

Através dos cálculos efetuados, chega-se à Tabela – 5, que complementa a Tabela 4:

Tabela 5. Porcentagem calculada para cada material.



Materiais




T1



T2



T3



T4



T5



Areia Natural




100%



(18,29 kg)




70%



(12,80 kg)



50%



(9,15 kg)



30%



(5,49 kg)



0%



Areia de Brita




0%








30%



(5,49 kg)



50%



(9,15 kg)



70%



(12,80 kg)



100%



(18,29 kg)



4 Resultados

Concluído o rompimento dos corpos de prova de concreto de todos os tratamentos, obtiveram-se os seguintes resultados apresentados na Tabela 6.

Tabela 6. Valores das resistências (Mpa) para cada corpo de prova.

Idades

T1

T2

T3

T4

T5







07

27,96

22,15

24,12

29,34

29,18

07

26,79

22,23

24,97

30,07

30,54

07

26,23

22,66

25,15

29,98

29,93

07

25,93

21,87

25,46

29,69

28,23







14

27,37

28,01

28,98

31,83

31,15

14

26,81

29,04

28,09

30,54

32,73

14

28,60

28,21

27,85

32,46

29,68

14

27,60

29,02

27,42

33,29

28,20







21

31,48

30,37

29,44

33,66

34,45

21

32,87

28,13

29,75

35,15

36,56

21

33,80

29,90

28,67

33,04

38,05

21

31,77

31,32

29,34

32,28

36,25







28

33,00

31,67

29,44

37,40

36,89

28

34,75

29,89

29,76

39,98

37,27

28

33,22

29,39

29,81

36,13

37,02

28

34,65

28,79

29,97

37,27

36,56



Na Tabela 7, observa-se a análise de variância, onde percebe-se que quanto a idade de rompimentos dos corpos de prova, quanto os diferentes traços experimentais e quanto a interação idade e traços foram responsivas ao teste F. Dessa forma, sendo a interação (idade*traços), diferente de zero, toda a apresentação dos resultados na forma de tabela foram em cima da interação e estes dados podem ser observados na Tabela 8.

Tabela 7. Análise de variância

Fonte de variação

G.L.

Q.M.

F

Idade

3

200,94040

192,6335**

Traços (concreto)

4

116,09914

111,2996**

Idade x traços

12

7,83427

7,5104**

Resíduo

60

1,04312


Total

79









Obtidos os resultados dos tratamentos, estes foram submetidos ao teste de Dunnett nível de 5% de probabilidade e as médias apresentadas na Tabela 7.

Tabela 8. Médias dos tratamentos

Idades\Trat.

T1

T2

T3

T4

T5

7

26.7275 B

22.2275 D

24.9250 C

29.7700 A

29.4700 A

14

27.5950 C

28.5700 C

28.0850 C

32.0300 A

30.4400 B

21

32.4800 B

29.9475 C

29.3000 C

33.5325 B

36.3275 A

28

33.9050 B

30.6550 C

29.4950 C

37.6950 A

36.9350 A



Médias seguidas pela mesma letra na linha não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Dunnett ao nível de 5% de probabilidade.

5 Discussão

Foi perceptível que nas peneiras iniciais até a peneira # 6,3 (Tabela-3), não houvesse material retido face as características pulverulentas apresentadas pelo pó de pedra. A partir da peneira # 4,8 iniciou-se a retenção de parte do material, ainda que em pequena quantidade, ao passo que na peneira seguinte # 2,4, ou seja, promovendo uma redução em 50% do diâmetro da malha, observou-se um aumento de aproximadamente 90% de material retido quando comparado a retenção na peneira anterior. A partir da peneira # 1,2 percebe-se a normalidade das porcentagens de retenção nas malhas seguintes.

O resultado da análise de variância encontra-se na Tabela 7. Verifica-se que houve efeito significativo estatisticamente para os dois fatores estudados e para a interação entre ambos. A significância estatística para interação demonstra que os diferentes traços apresentam resistência diferente conforme o tempo de prova.

Devido a presença de interação entre os fatores, foi realizado o desdobramento dos graus de liberdade visando identificar quais dos tratamentos se comportam de forma diferente dependendo da idade.

Após a aplicação do Teste de Dunnett ao nível de 5% de probabilidade, foi dado Início às discussões sobre os resultados apresentados, desde os ensaios de granulometria da areia natural (Tabela-1) e do pó de pedra (Tabela 3), até à discussão das Tabelas 7 e Tabela 8, que tratam sobre o experimento fatorial e o processo estatístico à que foram submetidos os resultados das resistências dos tratamentos nas quatro idades. Iniciando pela Tabela 5, granulometria da areia natural utilizada como agregado miúdo do concreto, verifica-se que esta possuía 2,5% de material pulverulento, normal, tendo em vista a origem dessa areia e a normalidade de seu módulo de finura de 2,925. Porém, em análise ao pó de pedra (Tabela-3), nota-se que como foram excluídos somente os materiais passantes na # 200, ainda se observa com bastante materiais finos, fator que decidiu o aumento do fator água/cimento de 0,5 para 0,6.

Todos os corpos de prova obtiveram resistência à compressão maior do que 20 MPa, inicialmente fixado, mesmo nas menores idades. O T4 (30% de areia natural + 70% de areia de brita), já apresenta valores maiores que T1(100% de areia natural), em todas as idades. O tratamento T5 (100% de areia de brita), apresenta valores maiores que T1 (100% de areia natural) em todas as idades, consolidando resistências com maiores valores.

Em análise mais detalhada no Test de Dunnett, verifica-se que, em relação às letras maiúsculas na 1ª linha (7 dias), os tratamentos 4 e 5 possuem a mesma letra maiúscula A e facilmente nota-se que ambas diferem em no máximo 5%. Outro exemplo acontece na 2ª linha (14 dias), onde os tratamentos 2 e 3 possuem a mesma letra maiúscula C e não diferem em valor maior que 5%. Dessa forma temos mais outros exemplos que dá maior crédito ao Teste de Dunnett. Da mesma maneira também pode ser verificado com as mesmas letras minúsculas verticalmente.

No estudo apresentado, efetuou-se uma análise sobre o comportamento da areia de brita nos concretos de cimento Portland. Tal estudo teve origem pela percepção da grande quantidade de areia natural extraída anualmente dos rios e que em algum momento, o impacto ambiental provocado por essa extração nos levará a uma catástrofe sem precedentes, explicitado minunciosamente na apresentação deste trabalho. Antecedendo a esta análise, as empresas dosadoras de concreto (concreteiras), já previam, há algum tempo, que a exagerada exploração da areia natural teria fim e algumas já veem utilizando o pó de pedra na elaboração dos concretos de cimento Portland, evidente que não, sem um estudo técnico prévio, de acordo com engenheiros destas Empresas. Por outro lado, a mudança imediata para a areia de brita como agregado miúdo dos concretos de cimento, irá provocar um aumento brusco do consumo deste material, sem que haja uma demanda das pedreiras para suprir o total requerido.

A construção civil, face ao grande volume de concreto solicitado pelas obras ora em andamento, não pode cruzar os braços e esperar que seja iniciada uma normatização para a substituição proposta. Sabe-se que os estudos efetuados até o presente, indicam a viabilidade da proposta da substituição da areia natural pela areia de brita. A análise que aqui se efetuou vem confirmar o acerto para a substituição. Não se pode esperar que a produção de pó de pedra, pelas pedreiras, seja igual à demanda do volume de areia natural hoje utilizada na construção civil. Deve-se iniciar o processo, mesmo que ainda não tenhamos esses volumes iguais. Mas, mesmo assim, por pouco que se utilize de areia de brita, já se contribui para a diminuição da quantidade explorada de areia natural, diminuindo os impactos ambientais provocados pela extração da areia, e a consequente sustentabilidade do setor, provocada pelo aproveitamento da areia de brita, atual resíduo do processo de britagem. (GODOY et al., 2009), não existe um só conceito de desenvolvimento sustentável.

Segundo Almeida; Sampaio (2002), estes foram importantes na comparação dos comportamentos de alguns materiais, quando submetidos às variadas situações. A ocorrência verificada na análise do pó de pedra quando submetido ao traço determinado em ensaios, apresentou-se com a necessidade de elevação do fator água/cimento de 0,5 para 0,6, com um Slump Test de 17,0 cm, com riscos de diminuição da resistência do concreto. Mas, a permanência de quantidades de materiais pulverulentos na areia de brita, tendo em vista que foi subtraído apenas os materiais passantes na #200, favoreceu a obtenção de resistências do concreto com valores acima do esperado (20,0 MPa). Segundo (LOTTI, 2015), construir sustentavelmente significa, reciclar e reutilizar os materiais. As características dos materiais se diferem.

Reportando-se a Silva; Demétrio; Demétrio (2015), estes afirmam que quanto à resistência à compressão simples, os concretos convencionais simples, com pó de brita apresentaram valores satisfatórios em relação aos de referência. Conclui-se que os concretos fabricados com agregado miúdo de pó de brita, podem ser empregados no dia-a-dia, levando em consideração apenas as propriedades estudadas nesse trabalho. No entanto, é sugerido que o estudo desse tema seja um pouco mais analisado, avaliando-se outras propriedades que não foram contempladas nesse trabalho, como por exemplo: a composição química dos materiais envolvidos, a retração por secagem, avaliação do comportamento do concreto por um período de tempo mais longo (superior a 28 dias) e analisar a durabilidade e resistência do material concreto, com o uso de outras diferentes formas de substituições da areia natural.

Conforme Almeida; Luz (2009), mesmo com estas restrições tecnológicas e econômicas, a areia de brita tende a ser obtida dominantemente em processamento por via seca atendendo o mercado de argamassas. Entretanto, nos casos em que a rocha submetida à cominuição ofereça um comportamento granulométrico com geração de filer abaixo do mencionado limite de 12%, a areia dela resultante poderá ser destinada aos diferentes segmentos de aplicação na construção civil, com grandes vantagens em relação à areia quartzosa natural. Cumpre ressaltar que o mencionado comportamento granulométrico, no processo de cominuição, é encontrado em algumas formações gnáissicas e basálticas.

Mais alguns estudos referidos ao tema, como o reportado por Barbosa; Coura; Mendes (2008), revelam em uma de suas conclusões que os traços contendo agregados miúdos triturados atingiram maiores resistências, destacando-se as misturas confeccionadas com o RMT (Rejeito de Mármore Triturado), por possuírem maior densidade de massa no estado endurecido e, consequentemente, menor teor de ar aprisionado.

O IBGE trará até o final deste ano, com certeza, volumes maiores de consumo de areia natural na construção civil. Os subsídios aqui formalizados, proporcionam estudos mais aprofundados sobre a utilização da areia de brita, em substituição a areia natural nos concretos de cimento Portland, como uma opção para a diminuição do impacto ambiental proporcionado pela extração da areia natural. Eis uma alternativa sustentável. Para além dos resultados científicos aqui expostos, a contribuição maior desta pesquisa é que através da educação ambiental, onde uma vez implantada na formação dos engenheiros civis, cada vez mais teremos um equilíbrio entre o desenvolvimento e o meio ambiente, de forma a garantir uma qualidade de vida agradável à geração atual, bem como, preservar o direito das gerações futuras de usufruir de um meio ambiente equilibrado.

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