PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE PROFESSORES EM ESCOLAS VIZINHAS A UMA ÁREA NATURAL PROTEGIDA: CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

1Elizete Aparecida Checon de Freitas Lima;2Carolina Buso Dornfeld;3Tássia Brito Rodrigues; 4Pedro Lacal da Cunha Minin

1,2 UNESP,Campus de Ilha Solteira, SP, Brasil; 3Licenciada em Ciências Biológicas, UNESP,Campus de Ilha Solteira, SP, Brasil; 4 Graduando em Ciências Biológicas, UNESP,Campus de Ilha Solteira, SP, Brasil.

Emails: elizete.lima@unesp.br; carolina.dornfeld@unesp.br; pedro.lacal@hotmail.com, tassia@live.com

Resumo: O presente trabalho buscou investigar a percepção e conhecimento sobre áreas naturais protegidas por parte de professores que atuam em três escolas situadas no entorno do Parque Estadual do Aguapeí (PEA), uma importante Unidade de Conservaçãolocalizada na Região Oeste do Estado de São Paulo. Também foi investigado se os professores dessas escolas abordavam o tema “áreas naturais protegidas” em sua prática docente. Os dados mostraram que apenas parte dos professores tinha conhecimento da existência do PEA, mesmo atuando em escolas localizadas em municípios abrangidos territorialmente por ele, indicando ser necessário, em primeiro lugar, um trabalho de informação e sensibilização dos mesmos.

Palavras-chave: educação ambiental, formação continuada docente, áreas protegidas.

Abstract: The objective of this work was to investigate the perception and knowledge about protected natural areas by teachers who work in three schools located around the State Park of Aguapeí (PEA), an important Conservation Unit located in the West Region of the State of São Paulo . It was also investigated whether the teachers of these schools addressed the theme "protected natural areas" in their teaching practice. The data showed that only part of the teachers were aware of the existence of the PEA, even though they work in schools located in municipalities covered by it, indicating that it is necessary firstly to work on information and awareness of them.

Key words: environmental education, continuing teacher education, protected areas.

1. Introdução

A importância da educação ambiental (EA) na atuação docente é ressaltada na Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) de 1999, a qual determina sua inclusão em todos os níveis de ensino, numa perspectiva transdisciplinar. A PNEA fornece, ainda, as bases legais para a inserção da EA nos cursos de formação de professores, indicando que a dimensão ambiental deve integrar todos os currículos de formação de professores (Brasil, 1999). Entretanto, tem sido relatada falta de coerência entre as concepções de EA nas diferentes Diretrizes Curriculares dos cursos de licenciatura (Pereira, 2014), demandando um ajuste de tratamento da temática ambiental na formação dos professores.

Diante desse contexto, Augusto e Amaral (2015) afirmam que a formação continuada cumpre um papel importante em preencher as lacunas presentes na formação inicial de professores em EA. De modo similar, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental também reforçam a importância da formação continuada docente, indicando que os sistemas de ensino devem “instituir práticas permanentes que incentivem e dêem condições concretas de formação continuada, para que se efetivem os princípios e se atinjam os objetivos da EA” (Brasil, 2012, p.7).

Um aspecto importante a ser considerado na formação de professores é qual o modelo a sustenta, tendo em vista, seus reflexos na prática pedagógica (AMARAL, 2014). Na busca por uma formação docente que se traduza numa EA crítica e contextualizada, deve ser disponibilizada aos professores a oportunidade de conhecerem e refletirem sobre o contexto em que atuam. Ao levarem para seus alunos discussões sobre assuntos de sua realidade, os professores criam oportunidades para que eles se posicionem sobre essas questões e também compreendam aquelas mais distantes do seu cotidiano (KATO; CARVALHO; KAWASAKI, 2011). Assim, trabalhos que investigam a percepção e o conhecimento prévio dos professores sobre o meio que os cercam, representam subsídios valiosos para programas formativos, assentados numa concepção de EA contextualizada. Pode-se considerar, inclusive, que a própria atitude reflexiva induzida pelas questões apresentadas no decorrer da investigação, já integra o próprio processo formativo.

Sendo assim, a formação continuada de professores em EA é de especial relevância no contexto das escolas localizadas no entorno de áreas naturais protegidas(De Fiori, 2006; Bezerra et al., 2008; Barbosa, 2015; Almeida; Topa; De Fiori, 2017).

No Brasil, o termo Áreas Protegidas é utilizado para designar as Unidades de Conservação (UC), as terras indígenas, as terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas, além das Áreas de Preservação Permanentes e Reservas Legais de propriedades rurais. A Unidade de Conservação, por sua vez, corresponde a um “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”, de acordo com a Lei Federal 9985/2000 (BRASIL, 2000). É esperado que nas escolas localizadas no entorno da UC,os vínculos estabelecidos entre os educadores e as áreas protegidas possam ser estendidos aos educandos, por meio de uma abordagem integrada ao cotidiano e à proposta pedagógica da escola (ALMEIDA; TOPA; DE FIORI, 2017).

Nesse sentido, o presente trabalho buscou investigar a percepção e conhecimento sobre áreas naturais protegidas por parte de professores que atuam em escolas situadas no entorno do Parque Estadual do Aguapeí (PEA), uma importante Unidade de Conservação localizada na Região Oeste do Estado de São Paulo. Também foi investigado se os docentes abordavam o tema “áreas naturais protegidas” em sua prática docente, uma vez que um Parque Estadual integrava o contexto geográfico das escolas em que atuavam.

Essa investigação foi conduzida no contexto de um projeto de extensão universitária,centrado na realização de encontros formativos com docentes de escolas localizadas no entorno do PEA, com o objetivo de favorecer uma prática docente em EA crítica e contextualizada, tendo o PEA como foco principal. Os encontros formativos docentes foram realizados no ano de 2016, em três escolas: duas localizadas no Município de Monte Castelo (SP) e uma localizada no Município de São João do Pau d’Alho (SP), ambos localizados no entorno do PEA.

Área de estudo

O Parque Estadual do Aguapeí (PEA) foi criado em 1998 com a finalidade de proteção de uma das últimas áreas úmidas no estado de São Paulo. Abrange área dos municípios de Castilho, Nova Independência, Guaraçaí, São João do Pau d´Alho, Monte Castelo e Junqueirópolis e está localizado na região oeste do estado (Figura 1).

Figura 1: Localização do Parque Estadual do Aguapeí e municípios do entorno. Fonte: CESP <https://goo.gl/LAKwWz >

Essa região apresenta ainda dois outros parques estaduais: o Parque Estadual do Rio do Peixe (PERP) e o Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD) (Figura 2). A região do PEA apresenta características de fauna e flora que lembram o Pantanal mato-grossense e, juntamente com o PERP, abriga população representativa de cervo-do-pantanal no estado de São Paulo, uma das últimas populações da espécie na Mata Atlântica (SÃO PAULO, 2010). O Parque está interligado a uma área de várzea de cerca de 14 mil hectares onde o Rio Aguapeí desemboca. Nessa área, contigua ao PEA, foi criada pela Companhia Energética de São Paulo (CESP) a Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Foz do Aguapeí. A junção das duas UCs forma um importante corredor de biodiversidade (APOENA, 2017).

Figura 2: Localização do PEA (1), PEMD (2) e PERP (3) na Região Oeste de SP. Fonte: SIGAM – SMA/SP <https://goo.gl/8eNuP9>

O município de Monte Castelo apresenta uma estimativa para população em 2017 de 4.190 residentes e em 2010 apresentava IDH 0,741, que se aproxima aos 0,754 do IDH do Brasil (IBGE, 2017a). Há duas escolas públicas de Ensino Básico no município, sendo que ambas as instituições participaram desta pesquisa. Em uma das instituições, é oferecido o Ensino Fundamental II (EF II) e o Ensino Médio (EM) (Escola 1), já a outra instituição é oferecido somente o Ensino Fundamental I (EF I) (Escola 2). Segundo o IBGE (2017a), em 2015 havia 428 matrículas no EF e 135 matrículas no EM.

O município de São João do Pau d’Alho apresenta uma estimativa para população em 2017 de 2.103 residentes e em 2010 apresentava IDH 0,750, que se aproxima aos 0,754 do IDH do Brasil (IBGE, 2017b). Há um estabelecimento de ensino onde é oferecido o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio e a instituição foi utilizada nesta pesquisa (Escola 3). Segundo o IBGE (2017b), em 2015 havia 198 matrículas no EF e 77 matrículas no EM. Optou-se por identificar as escolas como Escola1, Escola 2 e Escola 3 para preservar a identidade dos participantes da pesquisa.

Procedimentos Metodológicos

A pesquisa nas escolas foi realizada por meio da aplicação de um questionário, composto por 9 questões fechadas e 7 abertas. O questionário foi aplicado num horário de planejamento pedagógico dos professores(Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo), os quais foram informados sobre a natureza da pesquisa e sobre o caráter voluntário de participação no processo de investigação. As questões abordaram o conhecimento dos professores sobre as áreas naturais protegidas existentes na região onde a escola está situada e,a compreensão deles sobre a importância de tais áreas. A análise qualitativa dos questionários foi efetuada por meio da Análise de Conteúdo de BARDIN (2016) e utilizando a análise textual por categorização das respostas, conforme proposto por MORAES (2007).

Após a aplicação do questionário, foi iniciada uma atividade de formação, composta pela apresentação do tema “Áreas Naturais Protegidas”, ressaltando-se a localização da escola num dos municípios abrangidos pelo PEA. Na sequência, iniciou-se uma discussão sobre as unidades de conservação e seu papel frente à situação ambiental da região. Discutiu-se, ainda, como o tema poderia ser abordado no contexto da sala de aula, envolvendo, inclusive, a adaptação do material educativo sobre o PEA, produzido pela equipe coordenadora do projeto de formação dos professores, com o objetivo de subsidiar a prática docente.

Assim, realizou-se um encontro formativo – como foi denominado o conjunto formado por apresentação inicial, aplicação do questionário, palestras e discussões – em cada escola. Os encontros foram conduzidos na forma de exposição dialogada, com bastante interação entre os participantes, durante e após a apresentação das palestras. Nas duas últimas escolas visitadas, a gestora do Parque Estadual do Aguapeí, a Bióloga Natália Poiani Henriques, participou das atividades, realizando uma atividade de formação específica sobre o PEA e esclarecendo dúvidas a respeito das visitas ao mesmo, que foram planejadas para terem início no ano de 2017.

Resultados

O perfil dos grupos de professores das escolas estudadas está representado na Tabela 1. A idade média dos docentes está na faixa etária de 31 a 50 anos de idade, com predomínio do gênero feminino. A modalidade de ensino em que os docentes atuam variou de acordo com o tipo de estabelecimento de ensino. Nas Escolas 2 e 3 são oferecidos os anos finais do EF e EM, então pouco mais da metade dos professores participantes (53,8%) na Escola 2 e a grande maioria dos professores da Escola 3 (84,6%) atuam nas duas modalidades. Já na Escola 1 é oferecido apenas EF I então todos os docentes atuam somente nessa modalidade.

Tabela 1: Perfil de Docentes do EF e EM de três escolas dos municípios de Monte Castelo e São João do Pau d'Alho, SP.

Municípios

Escolas

Idade (anos)

%

Gênero

%

Nível de ensino em que leciona

%

Monte Castelo

1

20-30

0,0

Feminino

84,6

EF

15,4

31-40

69,2

EM

23,1

41-50

15,4

Masculino

15,4

EF+EM

53,8

51-60

15,4

Não respondeu

7,7

2

20-30

14,3

Feminino

100

EF

100

31-40

50,0

41-50

28,6

Masculino

0

51-60

7,1

São João do Pau d'Alho

3

20-30

30,8

Feminino

84,6

EM

7,7

31-40

15,4

EF + EM

84,6

41-50

46,2

Masculino

15,4

51-60

7,7

Coordenação

7,7

Fonte: Dados da pesquisa. Legenda: EF = Ensino Fundamental; EM = Ensino Médio.

Em média, a maioria dos professores (68%) afirmou saber da existência de alguma UC na região em que sua escola está situada, sendo que esse número variou entre 46%, na escola 3; 62% na escola 1 e 93% na escola 2. Alguns professores citaram o nome de apenas uma UC, enquanto outros citaram o nome de duas UCs ou até de três delas.

As UCs citadas pelos professores foram o Parque Estadual do Aguapeí (PEA), o Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD) e o Parque Estadual do Rio do Peixe (PERP), demonstrados na Figura 2. O PEA foi o mais citado dentre os professores que afirmaram ter conhecimento da existência de UCs na região (67% de um total de 27 professores), seguido pelo PEMD (56%) e pelo PERP (15%). Entretanto, quando se considera o total de professores respondentes nas três escolas (40), tem-se que apenas 45% deles tinha conhecimento da existência do PEA, apesar dessas escolas estarem situadas em municípios que integram parte do território dessa UC.

Nas escolas1 e 3, a UC mais citada pelos professores foi o PEA (39%), seguido pelo PEMD e pelo PERP(Tabela 2). Na escola 2, o PEA era menos conhecido pelo grupo de professores do que o PEMD, localizado no Município de Teodoro Sampaio, bem mais distante do município de Monte Castelo, onde a escola está situada. Em torno de 71% dos professores dessa escola mencionaram o PEMD, lugar que alguns deles, teriam visitado, juntamente com seus alunos. O PEA foi mencionado por 57% dos respondentes e não foi visitado por nenhum deles.

Tabela 2 – Citações deUCspelos professores nas três escolas investigadas.

Escolas

UC

%

Escola 1n=13

PEA

39

PEMD

15

PERP

15

Escola 2n=14

PEA

57

PEMD

71

PERP

14

Escola 3n=13

PEA

39

PEMD

23

PERP

0

Fonte: Dados da pesquisa. Legenda: PEA = Parque Estadual do Aguapeí; PEMD = Parque Estadual do Morro do Diabo e PERP = Parque Estadual do Rio do Peixe.

Os professores que citaram o PEMD e mencionaram já o terem visitado apontando os seguintes motivos para a visita: "Educação ambiental com visitação e orientação de biólogos da UC e coleta e observação de espécies botânicas" e "incentivar jovens para a preservação do meio ambiente". A percepção dos docentes sobre essa UC foi positiva e os principais motivos citados como justificativa incluíram: "possuem trabalho de conservação e educação ambiental com divulgação" e “temos que trabalhar a preservação do meio ambiente, conscientizar os jovens da importância".

Apesar de não terem visitado o PEA, os professores que citaram ter conhecimento de sua existência, afirmaram ter uma percepção positiva dessa UC. Os principais motivos apresentados para tal percepção incluíram a preservação da fauna e flora e a importância para o meio ambiente/fauna e flora que o local representa. Nenhum dos professores, entretanto, mencionou ter realizado algum tipo de prática docente envolvendo direta ou indiretamente o PEA.

Os professores que citaram o PEMD e mencionaram já o terem visitado apontaram os seguintes motivos para a visita: "Educação ambiental com visitação e orientação de biólogos da UC e coleta e observação de espécies botânicas" e "incentivar jovens para a preservação do meio ambiente".

A quantidade de professores que relatou conhecimento a respeito da existência do PEA pode ser considerada pequena, tendo em vista o fato de suas escolas estarem localizadas em municípios abrangidos por essa unidade de conservação. Esse distanciamento dos professores em relação às unidades de conservação existentes na região próxima à escola tem sido identificado também em outros estudos (Barbosa, 2015; Martins, 2015; Almeida; Topa; De Fiori, 2017) e pode explicar, dentre outros fatores, a quase ausência de inclusão do PEA na prática educativa dos professores nas escolas investigadas.

Considerando-se que um dos aspectos que caracterizam uma EA crítica é justamente sua capacidade de levar o sujeito a refletir sobre sua realidade e sobre seu posicionamento frente aos problemas ambientais de seu cotidiano (Carvalho, 2012), um programa formativo com os professores deve envolvê-los num processo de sensibilização em relação ao ambiente em seu entorno. A possibilidade de incluir-se o PEA como componente do cotidiano escolar passa, portanto, pela sensibilização dos professores a respeito de sua importância e relevância no contexto educativo de seus alunos.

Durante os encontros formativos realizados, os professores relataram que o PEA não estava aberto à visitação pública, mas que assim que estivesse, teriam interesse em visitá-lo, inclusive levando seus alunos. Os professores comentaram, ainda, a importância desse processo formativo para eles, no sentido de levar informações sobre uma unidade de conservação tão próxima à escola e que eles não estavam utilizando como local de trabalho pedagógico com seus alunos.

Algumas experiências de formação continuada docente, em escolas situadas no entorno de unidades de conservação conseguiram resultados positivos, no sentido de incorporar esses espaços no cotidiano escolar. Bezerra et al (2008), por exemplo, relataram em seu trabalho que, após a realização de ações de sensibilização com os professores, passou a existir uma demanda por parte deles para que houvesse uma re-elaboração do projeto político pedagógico da escola, incluindo um calendário ambiental com visitas periódicas à ESEC Caetés. De modo similar, Barbosa (2015) também alcançou resultados positivos em um trabalho formativo com professores, envolvendo a sensibilização dos mesmos, em relação ao Parque Estadual Serra do Brigadeiro. A autora observou a incorporação do Parque em projetos educativos realizados pelo grupo com seus alunos.

Um dos aspectos que podem dificultar a incorporação de temas relativos ao cotidiano escolar na prática docente, como é o caso do PEA, é o modo como está organizado o currículo escolar. Conforme relatado por Almeida; Topa; De Fiori (2017), os professores entrevistados em sua pesquisa mencionaram que o modelo de organização curricular dificultava a abordagem de questões referentes ao contexto local. Entretanto, todos os educadores entrevistados afirmaram que a APA Itupararanga, onde a escola estava inserida, poderia “apresentar contribuições pedagógicas para a educação formal no contexto local”.

Nos encontros formativos realizados nas três escolas do entorno do PEA, foram discutidas as razões que dificultavam a incorporação dessa área protegida no trabalho docente e as possibilidades de modificar essa situação. Não foi mencionada a organização curricular como um fator que dificultava a abordagem do PEA na prática docente. A falta de conhecimento sobre o mesmo e o próprio fato de não perceberem que ele poderia ser objeto de sua prática educativa foram os fatores relatados.

Os professores ressaltaram como o processo formativo os fez pensar na possibilidade de incluir o PEA e outras UCs em seu trabalho pedagógico. Foram discutidas as maneiras de concretizar essa abordagem educativa contextualizada localmente, englobando as várias disciplinas. Na escola de Ensino Fundamental I, em que a maioria dos docentes era polivalente, percebeu-se que uma abordagem mais interdisciplinar da educação ambiental foi mais facilmente aceita pelo grupo como factível de ser implementada. A riqueza da discussão, alcançada permite inferir ser esse um caminho a ser seguido ao longo de um processo formativo docente. Nesse sentido, a organização na forma de encontros que possibilitem uma discussão dos problemas locais, por um grupo de docentes de várias disciplinas, mostrou ser adequada como um passo inicial num modelo de programa de formação continuada docente, com foco na educação ambiental crítica.

Conclusões

O cotidiano escolar nem sempre permite aos professores a oportunidade necessária para a reflexão acerca de sua prática pedagógica, incluindo o pensar sobre a relevância de incorporar nela, elementos do contexto local. Esse fato, ressaltado nos encontros formativos realizados nesse trabalho, permite inferir a importância de que a formação docente continuada seja planejada de modo a permitir uma prática pedagógica contextualizada e crítica. O fato de que apenas parte dos professores tinha conhecimento da existência do PEA, mesmo atuando em escolas localizadas em municípios abrangidos territorialmente por ele, mostra que é necessário, em primeiro lugar, um trabalho de informação e sensibilização dos mesmos. Mas, é fundamental, também, que esse trabalho de sensibilização aconteça num contexto de reflexão sobre o significado do instrumento político de proteger áreas naturais relevantes para a conservação da biodiversidade. Nessa reflexão devem ser incluídos os vários aspectos sociais, econômicos e políticos envolvidos na temática, ampliando uma discussão por vezes baseada apenas na visão naturalista da conservação ambiental. Nesse caminho, inevitavelmente, deve-se discutir a incorporação do tema da conservação das áreas naturais protegidas no currículo escolar, partindo de uma análise conjunta do mesmo com os professores. Desse modo, eles podem perceber o espaço que já existe para intervenção curricular e, ainda, as possibilidades de concretizar a contextualização no ensino das ciências ambientais, incorporando suas dimensões naturais, sociais, econômicas e políticas.

Referências

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Agradecimentos: À Pró Reitoria de Extensão Universitária da UNESP, pela concessão de auxílio financeiro para realização do projeto que originou o presente artigo e às escolas participantes do projeto.