EXISTE SOLUÇÃO?

Cláudio Loes

Quando olhamos para o futuro ele parece sombrio, na maior parte das vezes, porque muito pouco tem sido feito para todos termos uma vida melhor. Porque no fundo é isto que importa para podermos enganar a morte e perpetuar a espécie humana. Talvez, como Diógenes que procurava um homem honesto, precisemos fazer o mesmo e ir além, procurando soluções para os nossos problemas.

Somos a espécie que reconhece o problema e que também pode buscar a solução. Você não verá uma conferência que não a realizada por humanos para tratar dos problemas. Somos, também, aquela que mais pesa para todo o conjunto no momento. Temos a todo o momento espécies que aumentam muito a sua população porque as condições são favoráveis e depois elas definham e até podem desaparecer.

Aqui, a ideia não é entrar nas questões profundas sobre o que estaria ligado com a busca de soluções. Vou ficar somente com uma que é a busca da solução a partir do reconhecimento de um problema. Parto, também, do princípio que se buscarmos uma vida melhor para nós, será difícil não levar em conta todas as outras espécies. Porque se, de fato, você busca estar bem, não é possível estar bem se outros não estão bem.

Em maio de 1985 os cientistas Joe Farman, Brian Gardnier e Jonathan Shanklin, alertaram para a existência de um buraco na camada de ozônio em cima da Antártida, na revista científica Nature. O buraco está relacionado ao acúmulo de gases CFCs, usados em sistemas de refrigeração e ar-condicionado e em solventes industriais.

Lembro que nesta época diziam que isto poderia ser invenção dos ingleses, porque a Nasa não tinha detectado nada com seus satélites de monitoramento. A finalidade da camada de ozônio, ozônio estratosférico, é filtrar a radiação solar em alguns comprimentos de onda, capazes de causar certos tipos de câncer. Sendo o melanoma um dos piores.

Em 1987, o Protocolo de Montreal firmava um comprometimento dos países signatários para substituir os CFCs (clorofluorcarboneto, composto baseado em carbono que contém cloro e flúor). E uma notícia de 2010 no Jornal Estadão afirmava que “a expectativa dos cientistas é de que em 2080 a camada de ozônio na Antártida volte aos níveis de 1950”. E uma notícia do Independent de 2013 já afirmava que “A camada de ozônio está se recuperando lentamente, mas não retornará ao seu estado no início dos anos 80 até cerca de 2070, devido à longa vida útil dos CFCs na atmosfera”.

Como este caso devem existir centenas de outros alertando para os mais diversos problemas. Inclusive dizia-se que seria um grande problema para a indústria de refrigeração, porque eram muitas as exigências. Coletar os gases, não deixar mais vazar para a atmosfera num conserto, entre outros.

Agora, no início de novembro de 2018, estive em contato com técnicos de instalação de ar-condicionado. Estavam instalando e resolvi ficar incomodando com perguntas. A primeira coisa que se observa hoje em dia é que não é mais necessário ter um buraco enorme na parede para instalar. São dois aparelhos, um interno e outro externo, conectados por canos de cobre e fios de controle eletrônico.

Quando fizeram tudo e ligaram os dois aparelhos, observei que não traziam o tal botijão com gás. Aí explicaram que a máquina traz o gás e que os registros precisam somente ser abertos corretamente. A mesma coisa acontece quando precisa de troca ou manutenção. Se não for problema de vazamento nos tubos que conduzem o gás, a própria máquina recolhe o gás, fecha-se o registro e faz-se o serviço.

A tecnologia envolvida impressiona. Os CFCs foram substituídos por HCFCs, também um clorofluorcarboneto, menos nocivo para a camada de ozônio, mas como tinha cloro, foi substituído pelos HFCs. Os hidrofluorcarbonetos, HFCs, por não ter cloro, não prejudicam a camada de ozônio. Porém, com o tempo os HFCs se tornaram um contribuinte de peso pela sua interação com outros gases do efeito estufa.

Assim, em outubro de 2016, em Quigali, capital de Ruanda, foi fechado um acordo com quase 200 países, visando eliminar progressivamente os HFCs. Este acordo prevê calendários de transição e metas. Um dos resultados do acordo foi a confirmação de certos países para financiarem o compromisso de transição e já existindo diversas empresas europeias que substituíram os HFCs por hidrocarbonetos de baixo potencial estufa, em especial o ciclopentano e o isobutano.

Podemos perceber que nenhuma solução é simples. Como não temos muita escolha, o melhor é nos adaptarmos. Existiram muitos problemas e outros tantos teremos. Voltamos para a questão inicial. Existe solução?

Sim, e ela pode ser adotada em escala global, como no exemplo a que trouxe para ilustrar. A indústria se adaptou, depois criou outro problema e agora já existe solução para dois problemas simultâneos, o do buraco da camada de ozônio e o do aumento da temperatura pelos gases de efeito estufa.

Daqui vejo o futuro

Ainda longe.

Isto faz parte.

Sempre será melhor.

Pode estar longe, como no poema acima. O nosso exemplo é de 1985, são 32 anos. No entanto, podemos ver o futuro daqui e isto nos levará a buscar sempre aquilo que será melhor para nós e todos os seres vivos.

Porque estamos em constante evolução, podemos ter algum retrocesso, muitas mortes devido aos mais diversos problemas criados por nós mesmos e outros por não nos adaptarmos. Lembrando que o crescimento infinito não é possível num planeta finito, mas a evolução infinita, com novos pensamentos, ideias, adaptações e outros, sim. Está aí a nossa solução mais ampla.