CENTRO DE CONSERVAÇÃO DA FAUNA SILVESTRE DE ILHA SOLTEIRA/SP (CCFS): UM RESGATE HISTÓRICO

Gabriela de Souza Peres Carvalho1, Elizete Aparecida Checon de Freitas Lima2, Lucio de Oliveira e Sousa3, Vanessa Veronese Ortunho4, Narah Vieira Peres5, Gaby Soares de Freitas6, Julia Medeiros Mercado7

1Graduanda em Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de Ilha Solteira, email: gspczootecnista@gmail.com

2Departamento de Biologia e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de Ilha Solteira

3Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira, Médico Veterinário

4Departamento de Biologia e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de Ilha Solteira

5Mestranda em Ciência e Tecnologia Animal, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de Ilha Solteira

6Mestranda em Ciência e Tecnologia Animal, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de Ilha Solteira

7Aprimoranda no Programa de Aprimoramento Profissional, Fundação Parque Zoológico de São Paulo



Resumo: O Centro de Conservação da Fauna Silvestre (CCFS) de Ilha Solteira/SP, criado pela CESP em 1979, inicialmente recebeu animais que tiveram seus habitats perdidos, ou afetados pelas inundações causadas por empreendimentos hidrelétricos. Atualmente, recebe animais apreendidos em decorrência de tráfico da fauna silvestre e de maus tratos, além de vítimas de atropelamentos. O objetivo do presente trabalho foi realizar um resgate histórico CCFS, de modo a permitir que as próximas gerações conheçam seu histórico e entendam sua importância, especialmente considerando a conservação da biodiversidade e a educação ambiental. Os dados foram coletados do arquivo morto e do acervo digital do CCFS, abrangendo o período desde sua abertura até 2016. Os resultados indicaram que o CCFS teve uma atuação expressiva na conservação de espécies da fauna nativa, mantendo intercâmbio com outras instituições no Brasil e em outros países. Muitos projetos de pesquisa foram desenvolvidos no CCFS, alguns deles em parceria com outras instituições. A atuação do CCFS como um espaço não formal de educação ambiental foi significativa, com o atendimento de 33.541 estudantes no período investigado. Além disso, mais de 400.000 pessoas visitaram o CCFS, desde sua criação, o que demonstra seu papel como importante espaço de lazer ao ar livre para a população de Ilha Solteira.

Palavras-chave: conservação da biodiversidade, educação ambiental, fauna silvestre.



Abstract: The Wildlife Conservation Center (CCFS) of Ilha Solteira/SP, created by CESP in 1979, initially received animals that had their habitats lost or affected by floods caused by hydroelectric projects. Currently, it receives animals seized as a result of trafficking in wildlife and maltreatment, as well as victims of road killings. The objective of the present work was to carry out a historical rescue of CCFS, in order to allow the next generations to know their history and understand its importance, especially considering biodiversity conservation and environmental education. The data were collected from the CCFS digital archives, covering the period from its opening until 2016. The results indicated that the CCFS had a significant role in the conservation of species of native fauna, maintaining interchange with other institutions in Brazil and in other countries. Many research projects were developed in CCSF; some of them in partnership with other institutions. The performance of the CCFS as a non-formal space for environmental education was significant, with the attendance of 33541 students in the period investigated. In addition, more than 400,000 people have visited the CCFS since its opening, which demonstrates its role as an important outdoor leisure space for the population of Ilha Solteira.

Key-words: biodiversity conservation, environmental education, wildlife.



Introdução

Os Zoológicos operam num mundo de crescentes ameaças ambientais e de redução da biodiversidade. Nos últimos dez anos, as alterações climáticas, a sobre exploração dos recursos naturais, o aumento do impacto negativo por parte de espécies invasoras e a degradação global do ambiente têm continuado. O valor e a vulnerabilidade das espécies e dos ecossistemas e a sua influência nos seres humanos tem sido pouco refletido, além disso a percepção do público tem estado focada em conflitos, secas, fome e migrações, em vez das causas de base ligadas à utilização dos recursos naturais (WAZA, 2005).

Zoológicos, aquários e jardins botânicos podem operar no espectro total das atividades de conservação da biodiversidade, desde a reprodução ex situ de espécies ameaçadas, à investigação, educação e formação do público, além de também exercerem influência e advogar o apoio à conservação in situ. Esses espaços têm um “público-cativo” vasto e único, cujo conhecimento, compreensão, atitude, comportamento e envolvimento podem ser positivamente influenciados e mantidos. Dispõem de enormes recursos em termos de capacidades técnicas e de profissionais dedicados, porém não é só questão de salvar espécies e habitats, mas para que esses espaços sejam bem sucedidos necessitam também de cooperação e de uma abordagem global. A especialidade em coleções de animais vivos de todo o mundo, com uma rede de trabalho global, pode desempenhar um papel fundamental na promoção da cooperação para a conservação da biodiversidade numa escala global (WAZA, 2005).

A cidade de Ilha Solteira teve sua origem em 1968 como um núcleo habitacional, planejado para receber os trabalhadores que atuariam na construção da Usina Hidrelétrica (UHE) de Ilha Solteira, iniciada em 1965. Em 1979, a CESP (Companhia Energética de São Paulo), responsável na época pelo empreendimento, criou o Parque Zoológico de Ilha Solteira/SP. Em 1981, o presidente do extinto IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal concedeu o registro de estabelecimento de Criação de Animais Nativos, com finalidade cultural e científica.

Nomeado de Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira/SP pela CESP, inicialmente reabrigou os animais que tiveram seus habitats perdidos, ou afetados pelas inundações causadas por seus empreendimentos.

Atualmente, recebe animais provenientes do tráfico através do Corpo de Bombeiros e da Polícia Ambiental, e vítimas de atropelamentos e maus tratos. Também realiza trabalhos de educação ambiental através de visita monitorada, também oferecendo visitas abertas ao parque nos finais de semana.

Segundo a Companhia Energética de São Paulo (2017), o CCFS ocupa uma área de aproximadamente 18 hectares, coberta por remanescente das fisionomias Floresta Estacional Semidecidual (Mata de Planalto) e Savana Arbórea (Cerradão). As instalações compreendem uma área aberta à visitação pública com 34 recintos de tamanhos e características diversas, totalizando 17.136,55m². Há um Centro de Recepção e Triagem dos animais (CRT), com 22 recintos de tamanhos diversos (com 391,26 m²), onde os animais em tratamento veterinário, quarentena ou aguardando destinação são abrigados.

Ainda possui edificações de apoio, como escritórios, sala de preparação de alimentos, biotério, ambulatório veterinário, sala de cirurgia, sala de necropsia, quiosque para lanche e recepção dos visitantes, guarita de entrada de serviços, sanitários e guarita de entrada de visitantes.

O CCFS é filiado a Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (SZB), além de participar dos (PANS) Planos de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção: Onça Pintada (Panthera onca), Cervídeos, Lobo Guará (Crysocyon brachyurus) e Onça Parda (Puma concolor), sob coordenação do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).

Também fornece dados para Studbooks realizados pela AZA (Association of Zoos e Aquariums), que documentam o pedigree e histórico demográfico de cada animal dentro de uma população administrada entre as instituições associadas. O CCFS coopera com dados do Mutum de Penacho (Crax fasciolata), Tamanduá Bandeira (Myrmecophaga tridactyla), Bugio (Alouatta caraya) e Lobo Guará (Crysocyon brachyurus) e no início do Cachorro Vinagre (Speothos venaticus). Essa parceria de cunho internacional entre Zoológicos, deixam um legado para as próximas gerações, referências que podem ser utilizadas para auxiliar as espécies ao longo do tempo. Esses contatos são importantes para a conservação a nível mundial, instituições cooperando e trabalhando em prol do mesmo objetivo.

Segundo Auricchio (1999), o zoológico também surge como um local de disseminação de informações sobre a fauna. A aprendizagem sobre a diversidade da vida animal pode ser significativa mediante oportunidades de contato com uma variedade de espécies observadas e conhecidas, ou seja, quanto mais contato com aquilo que se deseja proteger, maior a empatia, maior a sensibilização e, assim, aumentam-se as chances de obter sucesso com a conscientização ambiental.

O objetivo do presente trabalho foi realizar um resgate histórico do CCFS, de modo que sirva para as próximas gerações conhecerem e entenderem sua importância, especialmente considerando a conservação da biodiversidade e a educação ambiental.



Metodologia

Foram coletados os dados do arquivo morto e do acervo digital da recepção do Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira, abrangendo o período de sua abertura em 1979 até 2016.

A coleta dos dados no arquivo morto foi feita por meio de fotografias dos Relatórios Anuais de Atividades Desenvolvidas, separadas em pastas de acordo com o ano de cada relatório. O acervo digital também foi separado utilizando a metodologia já citada.

Os dados foram agrupados em tabelas de acordo com o ano e informação (Exemplo: Entrada e saída de animais, taxa de natalidade, taxa de mortalidade, animais provenientes de apreensão/resgate, entre outras) utilizando o Excel 2010, depois organizados em gráficos para facilitar a visualização.



Resultados e Discussão

Para facilitar a compreensão e visualização dos números, os dados foram agrupados da seguinte maneira: 1. Educação ambiental, 2. Entrada e saída de animais e 3. Conservação e Pesquisas.



  1. Educação ambiental



  1. Visita aberta: onde o parque fica aberto aos finais de semana para que a população visite os animais. Há placas educativas no caminho da visita que auxiliam na conscientização do visitante.

  2. Visita técnica: é uma oportunidade para alunos de graduação de toda a região (onde situam-se uma universidade pública e faculdades privadas com cursos de Agronomia, Ciências Biológicas, Medicina Veterinária e Zootecnia). Esta modalidade contempla ao estagiário 120 horas de experiência, onde pode executar atividades de limpeza dos recintos, prática de preparo de alimentação dos animais do plantel, distribuição das refeições, atividades de manejo para reprodução e manutenção dos animais vivos e acompanhar os procedimentos de contenção física e métodos veterinários, trabalho de coleta de material biológico, alunos durante visita monitorada e atividades de EA. Além de conhecer sobre equipamentos gerais utilizados em manejo de animais, produtos anestésicos para contenção química de animais e mecanismos e funcionamento da zarabatana (utilizada para contenção química de animais de grande porte).

Figura 1 – Autora durante Visita técnica no ano de 2014, auxiliando em atividades de EA, onde criança com necessidades especiais pode ver a diferença de temperatura do metabolismo de mamíferos e répteis através do corpo.

Fonte: arquivo pessoal.



  1. Visita monitorada: nesta modalidade os visitantes têm a oportunidade de conhecer animais da fauna regional em recintos e outros em vida livre pelas trilhas que cortam parte da vegetação de cerrado. Durante a trilha é relatado o modo de vida dos animais, seu hábitat natural, os perigos enfrentados pela espécie, a história individual de alguns, relatando a maneira como o animal chegou ao centro: resgate, apreensão, maus tratos, queimadas, entre outros.



As atividades são divididas em três partes: Projeto Contação de Estórias, lanche e Visita monitorada aos recintos. No momento Contação de Estórias as crianças se reúnem para ouvir contos, fábulas e lendas do folclore nacional. Alternadas as histórias as crianças ouvem música de temática ambiental abordando assuntos como água, fauna, flora, lendas, povos tradicionais, entre outros. Os músicos contratados são cadeirantes que incentivam a pluralidade e inclusão social. Após o lanche, o público visita os recintos, onde os educadores falam sobre curiosidades das espécies no centro e apreciam a beleza da fauna. O projeto ocorre ao ar livre, com contato com vegetação do cerrado nativo.

Figura 2 – Projeto Contação de Estórias, com participação dos músicos locais Denis e Danilo e Hugo Brasarock.

Fonte: arquivo pessoal.

Realizada com grandes grupos, com classes das escolas da cidade e da região. É realizada uma visita ao parque, onde os educadores falam sobre as espécies, a importância de protegê-las e questões ambientais como: economizar água, reciclagem e compostagem.

Nesse projeto o público faz uma visita noturna ao CCFS em noites de lua cheia aproveitando a luz natural, com intuito de despertar o interesse pelo conhecimento das espécies de hábito noturno do cerrado mantidas em cativeiro e provocar a sensibilização da proteção ambiental no público.

As palestras ocorrem através de agendamento, o educador geralmente aborda a temática que está sendo trabalhada em sala de aula pelo professor, abrangendo os mais diversos temas como: água, coleta seletiva, compostagem e ações humanas que auxiliam o meio ambiente.

De acordo com Auricchio (1999), a aprendizagem sobre a diversidade da vida animal, pode ser significativa mediante oportunidades de contato com uma variedade de espécies observadas e conhecidas, dando sentido à proposta da sensibilização e contato direto com os animais por meio das visitas ao CCFS, gerando um resultado positivo de impacto e conscientização. Nesse sentido, observa-se que a EA tem sido operada através do modelo naturalista e crítico, de forma que o contato com a natureza e os animais e a preocupação de formar um cidadão consciente caminham para a formação de uma consciência e cidadania ambiental.

Segundo Legan (2007), a educação ambiental acontece na vivência da prática com o ambiente, descobrindo nosso impacto e nosso potecial de restauração, assim Carvalho et al. (2017), relatam que o ambiente fora de sala de aula e o contato direto com os animais, permitem um maior interesse das questões ambientais por parte dos alunos que estão construindo sua consciência e cidadania ambiental. Em diálogos com turmas escolares que participaram de Visita monitorada de EA, foi notado iniciativas tornando-se mais constantes, maior união da turma, menos dispersão e maior participação por parte dos alunos.

A atuação do CCFS como um espaço não formal de educação ambiental foi significativa, com o atendimento de 33.541 estudantes, no período de sua implementação em 1995 até 2016. Além disso, mais de 400.000 pessoas visitaram o CCFS, desde sua criação, o que demonstra seu papel como importante espaço de lazer ao ar livre para a população de Ilha Solteira.



  1. Entrada e saída de animais

Toda vez que um animal chega ao local, é feita uma ficha que contém informações como: número de identificação, biometria, tratamentos, reprodução, alimentação. Sendo este animal, examinado, tratado e identificado, é feita sua transferência para um recinto no CRT, caso esse animal ainda necessite de algum tratamento; ou para um recinto no parque, caso não haja necessidades especiais. Os animais do CRT, permanecem ali até ser providenciada a destinação ou até a conclusão de tratamentos e traumas.

As saídas podem ocorrer por óbito, transferência ou doação para outra instituição, fuga e predação. Se a saída for por óbito, é realizada a necropsia do animal para descobrir a causa da morte e este parecer é relatado na ficha. Em seguida, o descarte pode ser feito através da compostagem ou no plástico de cor branca (procedimento mais utilizado) para que a empresa contratada recolha.

O objetivo de programas de reintrodução é soltar indivíduos retirados do ambiente selvagem ou criados em cativeiro, dentro de uma área de sua ocorrência histórica onde essa espécie está em declínio ou não existe mais (Kleiman, 1996; Primack e Rodrigues, 2001).

A Entrada de animais foi dividida em: Apreensões/Resgate, que são animais provenientes das operações das Polícias Militar e Ambiental e do Corpo de Bombeiros; Nascimentos, que são os animais nascidos em cativeiro nas dependências do CCFS, e Outros (doação de populares, transferência ou doação de outros centros e zoológicos).

Figura 3Total de Entrada de Mamíferos, Aves e Répteis.

Fonte: elaborado pela autora.

Observa-se que o número total de Entradas de mamíferos foi superior entre 1990 e 1991; aves entre 2000 e 2002 foi superior ao número de répteis e mamíferos. O número de aves volta a crescer drasticamente em 2009, onde permanece até atualmente superior aos demais. Nos intervalos dos outros anos, o número de animais foi semelhante.

Na Figura 4, estão representadas as Entradas de Apreensão/Resgate de Mamíferos, Aves e Répteis de 1979 até 2016.

Figura 4Total de Entrada de Apreensão/Resgate de Mamíferos, Aves e Répteis.

Fonte: elaborado pela autora.



O número de aves apreendidas/resgatadas é muito superior ao de répteis e mamíferos. A segunda categoria mais prejudicada são os mamíferos.

Na Figura 5, estão representadas as Entradas de Nascimento de Mamíferos, Aves e Répteis de 1979 até 2016.

Figura 5Total de Entrada de Nascimento de Mamíferos, Aves e Répteis.

Fonte: elaborado pela autora.

Os répteis são a categoria em que mais registrou-se nascimentos, seguido por mamíferos e aves respectivamente. É muito difícil adequar um cativeiro pensando em todas as condições que somente o habitat natural fornece a determinada espécie, além de outros fatores que podem levá-la a não se reproduzir no cativeiro (como exemplo, os distúrbios comportamentais). O nascimento de um filhote é o ápice do sucesso da conservação ex situ, significando que todos os fatores estão sendo favoráveis e que a todas as necessidades do animal estão sendo supridas.

Na Figura 6, estão representadas as Entradas de Outros de Mamíferos, Aves e Répteis de 1979 até 2016.

Figura 6Total de Entrada de Outros de Mamíferos, Aves e Répteis.

Fonte: elaborado pela autora.

Representada pela categoria Outros (podendo ser: doação de populares, transferência ou doação de outros centros e zoológicos), mostra que aves são o maior número.

Na Figura 7, estão representadas o Total de Saídas de Mamíferos, Aves e Répteis de 1979 até 2016.

Figura 7Total de Saídas de Mamíferos, Aves e Répteis.

Fonte: elaborado pela autora.

O total de saídas é maior com os répteis entre 1990 e 1993 quando comparamos com as outras categorias, no início dos anos 2000 e 2011, aves foi a categoria com mais saídas.

Na Figura 8, estão representadas as Saídas de Óbito de Mamíferos, Aves e Répteis de 1979 até 2016.

Figura 8Total de Saída de Óbito de Mamíferos, Aves e Répteis.

Fonte: elaborado pela autora.



Aves são a categoria que mais se obteve óbitos, tendo ápice no ano de 2001. Após queda em 2002, as aves voltam a ser a categoria com mais óbitos em 2011.

Na Figura 9, estão representadas as Saídas de Reintrodução de Mamíferos, Aves e Répteis de 1979 até 2016.

Figura 9Total de Saída de Reintrodução de Mamíferos, Aves e Répteis.

Fonte: elaborado pela autora.



As Saídas por Reintrodução, em sua maioria são de aves, a partir de 2012. O CFFS não possui nenhum tipo de monitoramento dos animais reintroduzidos, faz-se um processo adaptativo e realiza-se a soltura.

Na Figura 10, estão representadas as Saídas de Outros de Mamíferos, Aves e Répteis de 1979 até 2016.



Figura 10 Total de Saída de Outros de Mamíferos, Aves e Répteis.

Fonte: elaborado pela autora.



Outros tipos de saída (doação de populares, transferência ou doação de outros centros e zoológicos), de 1979 até 1989 não houve saídas dessa categoria. Os répteis dominam devido a alta taxa de natalidade e restrição de espaço do CCFS para abrigá-los. Em sua maioria, esses animais são doados a outras instituições. A segunda categoria que mais saiu por Outros tipos, foram os mamíferos.

O número de Óbitos aumentou conforme o CCFS começou a receber animais apreendidos ou resgatados, no início dos anos 90. Segundo Rocha (1995); Lopes (2000) apud Renctas (2001), o tráfico é a terceira atividade ilícita do mundo, depois das armas e das drogas. O Brasil participa cerca de 5% a 15% do total mundial. No mesmo período, iniciaram-se também as Reintroduções. A CESP (responsável pelo centro na época) desabilitou antigas áreas (Fazenda São Gabriel, localizada na cidade de Castilho/SP e Fazenda Cezalpina em Brasilândia/MS), reflorestando as áreas e utilizando-nas para tal finalidade.

Conversando com os órgãos competentes do resgate da fauna (Polícia Ambiental e Bombeiros), pode-se constatar que por fatores de cunho financeiro e técnico, vários centros que possuiam condições e licença para receber animais e tratá-los vem sendo fechados. Sem o CCFS, as localidades mais próximas com tal prestação de serviço seriam Bauru e Botucatu (ambas no estado de São Paulo), sendo a primeira a 371,4 km e a segunda a 465,2 km de distância de Ilha Solteira.



  1. Conservação e Pesquisas

O primeiro programa instalado no CCFS foi o Programa de Reprodução em Cativeiro e Conservação do Cachorro Vinagre (Speothos venaticus). A primeira fêmea foi doada pelo Zoológico de Fernandópolis em 1985 e outros três animais foram trazidos do Zoológico Nacional dos Estados Unidos em Washington/DC que tinha interesse em construir uma parceria, assim iniciaram o primeiro programa brasileiro de reprodução da espécie. Foi uma maneira mitigatória a respeito do impacto causado pelos empreendimentos da CESP.

Em 1994, teve fim o Programa de Reprodução e Conservação do Cachorro Vinagre, devido a região ser endêmica de Leishmaniose e alguns animais já estarem infectados. Além disso, a população do CCFS tinha alto grau de endogamia, prejudicando a formação e desenvolvimento de filhotes. Na época, eram poucos animais da espécie em zoos brasileiros, sendo a grande maioria sem plano de manejo ou não aceitou realizar o empréstimo para a formação do casal. A decisão da finalização desse projeto, foi apoiada pelo IBAMA e no mesmo ano iniciaram-se pesquisas sobre a criação, manutenção e desenvolvimento de Cervo do Pantanal em cativeiro, a fim de readequar o programa utilizado na época pela CESP (não havia programa de análise), auxiliando o manejo e otimizando a sobrevivência das populações cativas. Um dos principais pontos interessantes de tal ação foi obter o conhecimento sobre a capacidade de adaptação e colonização dos ambientes por animais reintroduzidos.

Os convênios e parcerias entre as instituições de ensino (UNESP, FEA – Fundação Educacional de Andradina, FUNEC – Fundação Municipal de Educação e Cultura de Santa Fé do Sul, UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, etc) da região de Ilha Solteira/SP tem grande importância para a comunidade acadêmica que pode através das atividades do CCFS, enriquecer sua experiência e agregar com ideias inovadoras e projetos que beneficiam a EA, o BEA (Bem Estar Animal) e otimizem processos com o foco conservacionista e ecológico. Além disso, contribuem com pesquisas que agregam valor na comunidade científica.

O Quadro 1, discorre sobre alguns trabalhos encontrados na literatura de atividades realizadas no local.



Quadro 1 Trabalhos encontrados na literatura de atividades realizadas no CCFS.

Ano

Título

Autores

Instituição

Tipo

1986

Quadro de Dermatose Psicogênica em Speothos venaticus (Cachorro do mato vinagre)”.

BUSCHINELLI, M. C. P.

CCFS

Artigo

1987

Notas preliminares sobre a implantação do centro de triagem de animais silvestres do Parque Zoológico de Ilha Solteira”.

DIAS, J. H. P.

CHARITY, S. E.

BUSCHINELLI, M. C. P.

AUDI, A.

CCFS

Artigo

1988

Programa de reprodução em cativeiro de Cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus)”.

BUSCHINELLI, M. C. P.

CHARITY, S. E.

DIAS, J. H. P.

CCFS

Artigo

1990

Contribuição para o conhecimento do Bugio vermelho (Alouatta fusca) reprodução no Zoológico de Ilha Solteira/SP”.

LEITE FILHO, J. B.

PIEDADE, H. M.


CCFS

Artigo

1991

Quimiprofilaxia e quimioterapia em antas Tapirus terrestres (Linné, 1758) acometidas por tuberculose”.

BUSCHINELLI, M. C. P

CCFS

Artigo

1991

Esqueletopia do cone medular em Cutias (Dasyprocta azarae)”.

NEVES, W. C.

CARVALHAL, R.

BECHARA, J. N.

BUSCHINELLI, M. C. P.

FERREIRA, M. C.

CCFS

Artigo

1991

Esqueletopia do cone medular de Quatis (Nasua narica)”.

FERREIRA, M. C.

CARVALHAL, R.

BUSCHINELLI, M. C. P.

NEVES, W. C.

MIGLINO, M. A.

CCFS

Artigo

1991

Levantamento de protozoários parasitas intestinais de Cervo do Pantanal (Blastocerus dichotomus)” e “Levantamento de helmintos parasitas do Cervo do Pantanal (Blastocerus dichotomus)”.

GOMES JR., J.

STARKE, W. A.

ZOCOLLER, M. C.

CCFS e Unesp – Ilha Solteira

Artigo

1991

Estudos preliminares sobre a dispersão de sementes de espécies arbóreas por animais silvestres”.

BUSCHINELLI, M. C. P.

MENDONÇA, P. R.

SILVEIRA, S. L.

CCFS

Artigo

1992

I Workshop sobre Conservação e Manejo de Cachorro Vinagre.

COORDENADORA: BUSCHINELLI, M. C. P.

CCFS e SZB

Workshop

1996

Programa de aleitamento artificial de Cervos do Pantanal (Blastocerus dichotomus) no Parque Zoológico de Ilha Solteira – CESP”.

PINTO, M. A. P.

PANDOLFI, J. R. C.

BOVOLENTA, S.

MENDONÇA, P. R.

LIMA, A. V.

MENDES, S.

MORATO, R. G.

CCFS

Artigo

1996

Educação ambiental para funcionários da CESP utilizando o psicodrama pedagógico".

PINTO, M. A. P.


CCFS

Artigo

1996

Educação ambiental para visitantes de finais de semana em Zoológico”.

SANTANA, J. L.

PINTO, M. A. P.


CCFS

Artigo

1996

Embarque e transporte de Cervos do Pantanal (Blastocerus dichotomus) – Relato de Experiência”.

PANDOLFI, J. R. C.

BOVOLENTA, S.

PINTO, M. A. P.

MENDONÇA, P. R.

MENDES, S.

LIMA, A. V.

CASSARO, K.

CCFS e Fundação Parque Zoológico de São Paulo

Artigo

1996

Estudo das causas de óbito de Cervos do Pantanal (Blastocerus dichotomus), no Parque Zoológico de Ilha Solteira – CESP”.

PANDOLFI, J. R. C.

CCFS

Artigo

1998

Avaliação das condições veterinárias e de manejo dos pequenos felinos neotropicais em cativeiro no Estado de São Paulo”.

ADANIA, C. H.

DINIZ, L. S. M.

GOMES, M. S.

FILONI, C.

SILVA, J. C. R.

A coleta de material foi feita em 22 zoológicos brasileiros.

Artigo

2011

Detecção sorológica e molecular de Leishmania spp. em animais selvagens do zoológico de Ilha Solteira, SP, Brasil”.

JUSI, M. M. G.

STARKE-BUZETTI, W. A.

OLIVEIRA, T. M. F. DE S.

TENÓRIO, M. DA S.

SOUSA, L. DE O. DE

MACHADO, R. Z. 

Unesp – Ilha Solteira

Artigo

2011

"Avaliação do bem-estar de um bugio (Alouatta caraya) cativo durante enriquecimento social e ambiental: indicadores comportamentais”.

CHIQUITELLI NETO, M.

KANDA, C. Z.

DORIA, E. C.

ZAMARRENHO, L. G.

GONÇASLVES, F. H. P.

Unesp – Ilha Solteira

Artigo

2012

O ensino de ciências em ambiente de educação não-formal: o caso do Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira (SP)”.

LOPES, E. A. M.

SILVA, P. S.

DORNFELD, C. B.

Unesp – Ilha Solteira

Artigo

2013

Detecção e caracterização das espécies de Leishmania spp. em canídeos”.

LEAL, A.A.C

Unesp - Araçatuba

Especialização (Residência Médica em Diagnóstico Veterinário - Patologia Clínica Veterinária)

2014

Registro de animais abandonados e mutilados em área de plantio de cana açúcar na região de Ilha Solteira/SP”.

ALDRIGUI, L. G.

SOUSA, L. O.

ANTONIETTI, N. C.

SANTOS, L. M. S.

CARDOSO, A. S.

FILARDI, R. S.

Unesp – Ilha Solteira

Artigo

2014

Monitoramento no fornecimento de papas alternativas para filhotes de Papagaio Verdadeiro (Amazona aestiva)”.

CAETANO, R. P.

DOMINGUES, R. M.

MELLO, E. S.

SOUSA, L. O.

OUROS, C. C.

COLEONE, F. F.

NOVELLI, T. I.

LAURENTIZ, A. C.

Unesp – Ilha Solteira

Artigo

2014

Hemoparasite in Anaconda Species of at Conservation Center Wildlife Ilha Solteira – SP”.

ORTUNHO, V. V.

SOUSA, L. O.

LOBO, R. R.

REIS, V. D.

CARVALHO, G. S. P.

FUNEC e Unesp – Ilha Solteira

Artigo

2015

Anatomia e segmentação pulmonar de tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758) de vida livre”.

SANTOS, L. M. S.

Unesp – Ilha Solteira

Artigo

2015

Anatomia e topografia dos rins em Ara ararauna (Linnaeus, 1758)”.

PERES, N. V.

MELO, A. P. F.

ANTONIETTI, N. C.

SANTOS, L. M. S.

SOUSA, L. O.

LINARDI, J. L.

Unesp – Ilha Solteira

Artigo

2015

Sexagem de mamíferos a partir da cromatina sexual de células do bulbo piloso”.

MOREIRA, F.M.A.

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal)

2016

Características anatômicas e topografia do canal alimentar de Amazona aestiva (Psittaciformes: Psittacidae)”.

SILVA, G.N.

Unesp – Ilha Solteira

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Zootecnia)

2016

Enriquecimento ambiental em recinto de Ara macao (Psittaciformes) com síndrome de bicamento de penas”.

MERCADO, J. M.

Unesp – Ilha Solteira

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Zootecnia)

2016

Origem do plexo braquial em maracanã (Aratinga leucophthalma, Müller, 1776)”.

DOMENICONI, D.

Unesp – Ilha Solteira

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Zootecnia)

2016

Avaliação da eficiência nutricional e econômica de dietas para papagaios verdadeiros (Amazona aestiva) em cativeiro.

SOUSA, L.O.


Unesp – Ilha Solteira

Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Animal)

Fonte: elaborado pela autora.



Conclusão

O CCFS desde sua abertura, tem sido essencial na produção de ciência e conhecimentos não só para a região, mas também a nível nacional e internacional. As diversas instituições ao longo dos anos que realizaram parcerias ou convênios, tem apresentado diversos resultados na literatura, através dessas pesquisas.

A realização dos Studbooks, realizando parcerias de cunho internacional entre Zoológicos, deixam um legado para as próximas gerações, referências que podem ser utilizadas para o auxílio das espécies in situ ao longo do tempo. Esses contatos são importantes para a conservação a nível mundial, instituições cooperando e trabalhando em prol do mesmo objetivo.

A EA tem sido operada através do modelo naturalista e crítico, de forma que o contato com a natureza e os animais e a preocupação de formar um cidadão consciente caminham para a formação de uma consciência e cidadania ambiental.

O CCFS é referência na região atraindo visitantes de diversas cidades, assim se faz importante também para a economia do município, pois se encontra numa área com restaurantes, além de ser uma forma de lazer para os populares.



Bibliografia

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