RIACHOS URBANOS DO RECIFE: EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA A REVITALIZAÇÃO

Renata Laranjeiras Gouveia1 e Vanice Santiago Fragoso Selva2

1Doutoranda em Desenvolvimento em Meio ambiente pela Universidade Federal de Pernambuco; renatalaranjeiras@gmail.com; (081) 99189-6238 2Doutora. Docente da Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. vaniceselva@gmail.com

Resumo

A relação do rio com a cidade sempre foi fator primordial para o estabelecimento das populações humanas. Recife é uma cidade banhada por rios, além dos seus afluentes. Estes corpos hídricos dentro da cidade deveriam desempenhar sua função ecológica, porém o que se percebe é que em sua grande maioria encontram-se poluídos e contaminados, devido o lançamento de esgotos in natura e pelo grande aporte de resíduos sólidos em seu interior. Tem crescido no mundo a procura por revitalizar os corpos hídricos, este artigo objetivou trazer a experiência em dois riachos urbanos do Recife: o riacho Vasco da Gama/Peixinhos e o Riacho do Serpro que escoam para os principais rios da cidade, o rio Beberibe e o Capibaribe, além de fortalecer a importância da educação ambiental para salvaguardar este recurso natural, ajudando nos processos de revitalização do recurso hídrico.

Palavras-chave: Educação ambiental; Revitalização; Riachos urbanos

Abstract

The relationship between the river and the city has always been a key factor in the establishment of human populations. Recife is a city bathed by rivers, in addition to its tributaries. These water bodies within the city should perform their ecological function, but what is perceived is that in the vast majority they are polluted and contaminated, due to the release of in natura sewage and by the great contribution of solid residues in its interior. There has been growing in the world the search to revitalize the water bodies, this article aimed to bring the experience in two urban streams of Recife: the Vasco da Gama / Peixinhos stream and the Serpro stream that flow to the main rivers of the city, the river Beberibe and Capibaribe, besides strengthening the importance of environmental education to safeguard this natural resource, helping in the processes of revitalization of the water resource.

Keywords: Environmental education; Revitalization; Urban streams

Introdução

A relação do rio com a cidade, desde épocas passadas é um fator de forte relevância para o desenvolvimento urbano, pois ter água disponível é primordial para o estabelecimento de povoamentos humanos. Com isso, nota-se que os rios não são apenas fornecedores de água, mas sim um recurso fundamental que atua tanto para irrigação como também é um meio de comunicação e uma via de transporte para mercadorias (COY, 2013).

Esta associação é evidente desde à colonização do Brasil, onde vários núcleos coloniais se estabeleceram às margens de cursos de água. Um exemplo de cidade que se compôs desta forma é Recife, capital do estado de Pernambuco, onde sua formação se deu entre os rios e os manguezais (BEZERRA; MELO, 2014).

A cidade do Recife iniciou seu processo de urbanização no século XVI, a partir da instalação dos engenhos que ocuparam sua planície estuarina. Pernambuco se tornou o centro da expansão Portuguesa através do litoral norte, de onde partiam as expedições para a colonização do Rio Grande e da Paraíba para o norte e no que viria a se tornar estados de Alagoas e Sergipe ao sul (MEDEIROS, 2011).

O processo de urbanização e de ocupação irregular de áreas de mananciais de rios tem uma evolução bastante relevante nos centros urbanos, onde origina alterações na dinâmica das populações que ali são integradas e também modifica o ciclo hidrológico de toda a bacia. Tais mudanças podem ser comprometedoras levando até a extinção destes ambientes (BASTOS; ABILHOA, 2004).

Os riachos urbanos são entendidos na ótica de Preuss (2013), como essenciais para o sistema de drenagem das águas precipitadas, através da manutenção de suas margens, paredes e fundos em condições naturais, pois estas permitem que haja infiltração, alimentando os aquíferos, diminuindo a velocidade e a quantidade do escoamento superficial. “Todas as características naturais dos riachos urbanos favorecem a qualidade da água, a biodiversidade, o clima, o solo, e consequentemente a sustentabilidade dos sistemas físicos, ecológicos e sociais da bacia hidrográfica (p.32)”. Manter o recurso natural o mais próximo do seu ambiente real, traz tantos benefícios ambientais como qualidade de vida para as populações.

A educação ambiental é uma ferramenta importante no sentido de aproximar as pessoas que moram nestes locais a terem um outro olhar em relação ao recurso aquático, para que eles não sejam mais considerados como canais que recebem lixo e esgoto.

Os riachos urbanos são fundamentais para a drenagem das águas pluviais, recarregam os aquíferos, reduzem a temperatura do ambiente local, também auxiliando o ecossistema e o efeito estético da paisagem para um lazer contemplativo. Com o passar do tempo, os rios e riachos que se encontravam dentro das cidades foram canalizados, com o intuito de facilitar a drenagem das águas precipitadas (GRUPO DE RECURSOS HÍDRICOS, 2012).

Este artigo objetiva descrever o processo de formação da cidade do Recife com especial atenção aos seus recursos hídricos, assim como analisar dois dos seus riachos urbanos: o riacho Vasco da Gama/Peixinhos e o Riacho do Serpro que escoam para os principais rios da cidade, o rio Beberibe e o Capibaribe, além de fortalecer a importância da educação ambiental para salvaguardar este recurso natural, ajudando nos processos de revitalização do recurso hídrico.

1 Desenvolvimento

1.1 A cidade do Recife e as suas águas

Os primeiros núcleos urbanos no Recife surgiram nas áreas extremas do Porto (CABRAL, PREUSS, FONSECA NETO, 2014; MEDEIROS, 2011). Com os engenhos e os caminhos para o interior, o crescimento ganhou um significativo aumento (MEDEIROS, 2011). De acordo com Melo (2007), o século XIX ocasionou mudanças na paisagem do Recife, pois os portos foram abertos às nações amigas no ano de 1808, incorporando o Brasil na rota internacional, acabando com o monopólio de Portugal.

Segundo Almeida e Correia (2012), Recife é um arquétipo do confronto entre a cidade e o seu suporte físico, principalmente se tratando dos seus rios e as planícies. É chamada de cidade-anfíbia pela grande quantidade de água que o seu território contém. Para Carvalho (2012), antes mesmo da existência dos cidadãos de Recife, as águas já possuíam forte influência na configuração deste espaço.

As casas eram construídas de frente para o rio, com seu próprio cais de atracamento, com escadas para o encontro dos botes e das canoas, ocupando assim a margem esquerda do rio Capibaribe (MELO, 2007). Para o mesmo autor, o cais era um dos elementos mais representativos na paisagem do Recife no século XIX, por causa do grande fluxo fluvial dos barcos a vela, jangadas e canoas.

A construção das pontes e as aberturas de ruas se deu através do aterramento dos manguezais e dos canais marcando o século XIX. Com isso, se deu um melhoramento do abastecimento da água na região, além de ser criado um sistema de transporte na cidade com bondes, estradas e ferrovias, colaborando com o acesso aos engenhos.

Com a abolição da escravatura, os escravos libertos migraram para a cidade em busca de trabalhos e de melhores condições de vida, o que contribuiu para a construção de mocambos ou palafitas, além dos trabalhadores dos antigos engenhos que também migraram dos canaviais para a cidade (ALMEIDA; CORREIA, 2012). “Expulso dos alagados, favelizando-se, o mocambo passou a localizar-se na periferia da cidade e mesmo na periferia da planície do Recife” (MELO, 1978, p.74).

A cidade também recebeu muitos imigrantes que vieram do interior do Estado de Pernambuco, na década de 60, que ocuparam as áreas ribeirinhas, ocasionando inundações nos bairros localizados no centro e oeste da cidade (CABRAL, PREUSS, FONSECA NETO, 2014). Aumentou também a poluição dos rios através do lançamento de efluentes industriais que não recebiam nenhum tratamento nas usinas (ALMEIDA; CORREIA, 2012).

Segundo Medeiros (2011), a rede fluvial do estado de Pernambuco foi de grande importância para que os colonizadores se estabelecessem nas terras, pois era uma das vias principais para a entrada no continente. Também serviu para o estabelecimento dos engenhos e para a vazão da produção açucareira.

A cidade do Recife, de acordo com Carvalho (2004), tem uma relação muito antiga com as águas, desde a formação do seu sítio físico. Processos de deposição de sedimentos marinhos e fluviais marcam o início da transformação da planície em que foi construída, seja pelo aspecto estuarino do ambiente ou pelas movimentações de regressão e transgressão do mar. “Tais movimentos determinam o nível de base dos rios e canais da cidade” (CARVALHO, 2012, p. 89).

Para Medeiros (2011), Recife é conhecida por dois elementos marcantes de sua paisagem, os arrecifes e os rios, com destaque para os rios Capibaribe e o Beberibe. A interiorização da capitania de Duarte Coelho se deu através da conquista da várzea do rio Capibaribe, onde a indústria açucareira começa a se expandir por Pernambuco, tornando-se a maior produtora individual de cana de açúcar do mundo.

A sedimentação que ocorreu entre o oceano e os rios no período geológico mais recente resultou na planície do Recife, onde as águas influenciaram nos aspectos da hidrodinâmica devido à grande quantidade de riachos e rios. Como a cidade possuia áreas muito planas, há dificuldade no escoamento das águas, com dispersão das águas dos rios em diversos braços, gamboas e riachos (CARVALHO, 2004).

O seu complexo sítio urbano se formou a partir da deposição de sedimentos numa antiga baía rasa onde desaguavam os dois rios mais importantes, o Capibaribe e o Beberibe. A sucessão de transgressões e regressões marinhas ao longo do Pleistoceno superior culminou na formação de uma ampla planície flúvio-marinha em forma de anfiteatro, circundada por baixas colinas e tabuleiros esculpidos nos sedimentos terciários da Formação Barreiras. Essa conformação geomorfológica propiciou o condicionamento hidrodinâmico atual e a estruturação de uma densa e ramificada rede de drenagem (ALMEIDA; CORREIA, 2012, p.4).

Almeida e Correia (2012) complementam afirmando que esta configuração do sítio urbano foi relevante na formação da cidade, pois tinha as condições certas para a instalação de um porto, de fundamental importância para o comércio e para a defesa da colônia. No entanto, a grande densidade e ramificação do sistema de drenagem colocou graves dificuldades para expansão da cidade.

De acordo com Cabral, Preuss e Fonseca Neto (2014), Recife está erguido em uma planície de origem flúvio-marinha, em anos de acumulação sedimentar. A presença marcante dos rios em sua paisagem, tem como elementos principais: a bacia do rio Capibaribe, localizando na área mais central da cidade, a bacia do rio Beberibe (abrangendo a parte norte) e a bacia do rio Tejipió. Esta última bacia divide-se em três sub-bacias: Jordão (responsável pela drenagem da zona sul), Tejipió (drena a região centro-sul e oeste) e a Jiquiá, encarregado de drenar o restante da zona central. Segundo Carvalho (2012), esta configuração de origem flúvio-marinha ainda permanece sob os regimes dos movimentos marítimos, seja através das marés ou pelo avanço e recuo do nível do mar.

Recife teve seu crescimento, principalmente através do rio Capibaribe, e secundariamente pelo Beberibe. O Capibaribe tornou-se uma estrada para o escoamento do açúcar que era produzido nos engenhos, por meio de suas duas léguas navegáveis a partir da sua foz. Os engenhos foram se modificando, e os que se localizavam mais próximos ao porto, transformaram-se nos bairros da cidade (MEDEIROS, 2011).

De acordo com Melo (1978), o rio Capibaribe antes de chegar ao oceano descaminha-se e se desfaz em braços, envolvendo ilhas e águas represadas de gamboas e de alagados. Já o Beberibe, com uma descarga menor, vai rumo ao norte. Alguns riachos originários da própria planície (Tejipió, Jiquiá, Pina e Jordão) escoam para o sul, assim o fluxo cadenciado pela maré traz mais água, diminuindo as áreas de terras firmes. Para Carvalho (2004), apesar das águas terem sido um aspecto diferencial na cidade através da função portuária, elas também ajudaram no domínio dos ambientes secos, que foram aterrados para a construção da cidade.

A expansão do espaço urbano se deu através de fortes modificações nos estuários e nas planícies, considerando as paisagens múltiplas da cidade, como os manguezais, deltas irregulares, arrecifes e as restingas (ALMEIDA; CORREIA, 2012).

Segundo Cabral, Preuss e Fonseca Neto (2014), Recife tem particularidades geográficas que precisam ser levadas em consideração em se tratando do manejo e drenagem de suas águas pluviais. A cidade tem baixas cotas de seu território em relação ao nível do mar; influência nos níveis das marés; lençol freático próximo à superfície e aflorante na época das chuvas; além de áreas planas, sendo estas as características que complicam seu sistema de drenagem.

O Capibaribe se destaca por ser o principal curso de água da bacia hidrográfica, sendo o ele o sistema hídrico mais importante da cidade. Foi às suas margens que muitos bairros surgiram, sendo originados de engenhos como Monteiro, Apipucos, Poço da panela, Madalena, Torre, dentre outros (SILVA et al., 2014).

No século XX se intensificou o processo de urbanização modificando o espaço da cidade do Recife, tanto horizontalmente quanto verticalmente levando a alterações nos ecossistemas naturais, como soterramento de manguezais, canalização de riachos, dentre outros (CABRAL, PREUSS, FONSECA NETO, 2014)

Com a chegada de Maurício de Nassau e a ampliação do aterramento das águas, para ampliação do território, foi necessária a criação do primeiro “plano de drenagem” da cidade do Recife. As pontes não foram os únicos elementos construídos pelos holandeses no Recife, eles também realizaram as obras dos primeiros canais da cidade. Data de 1639 a criação deste plano com a projeção de obras de novas pontes e canalização de braços de marés (CARVALHO, 2004).

Historicamente os riachos/canais do Recife foram muito importantes para o desenvolvimento da cidade, no entanto, ao longo do século XX passaram por um intenso processo de degradação” (CABRAL, PREUSS, FONSECA NETO, 2014, p.6).

A ótica higienista possuía a preocupação de expulsar o mais rápido possível as águas empoçadas, para evitar com isso a proliferação de doenças. Com isso, os canais urbanos foram retificados e revestidos com seções gradativamente maiores para uma maior vazão das águas das chuvas (FEAM, 2006). Este fato ocasionou uma menor impermeabilização das águas nos solos, trazendo outros problemas ecológicos para a cidade.

Recife teve seu sistema de drenagem afetado por causa das canalizações dos riachos urbanos, ocupação de suas margens, pelo destino inadequado dos resíduos sólidos, saneamento precário e uma alta taxa de impermeabilização do solo (CABRAL, PREUSS, FONSECA NETO, 2014). Os caminhos das águas abriram espaços para os ambientes secos, aterrados para a ampliação da cidade (CARVALHO, 2012, p.90).

Melo (1978) destaca que por se tratar de uma topografia horizontal e de altitude baixa, Recife possui diversos problemas acerca da drenagem dos esgotos sanitários e de suas águas pluviais, além da ocorrência de outro problema, o das cheias que atingem a cidade. Carvalho (2004, p.23) ressalta “que as inundações só se tornam risco ambiental quando o homem não respeita os caminhos das águas e modifica a planície de pulsação dos rios e riachos”

Recife conviveu com o risco periódico de cheias até o final da década de 1970. No ano de 1973 foi inaugurada a barragem de Tapacurá, acreditando que seria o suficiente para se evitar os alagamentos (OLIVEIRA, 2006).

A última enchente de proporções desastrosas ocorreu no ano de 1975, mostrando o grande problema de drenagem existente na cidade e assim, uma série de medidas foram tomadas para minimizar este problema (CARVALHO, 2004). A referida enchente ocorreu nos dias 17 e 18 de julho, onde o pico da vazão do rio foi estimado em 3400 metros cúbicos por segundo. A chuva muito intensa no Recife a jusante do controle de São Lourenço da Mata ocasionou muitos prejuízos e grandes tragédias. De acordo com Oliveira (2006) 80% da população ficou inundada, 25 municípios da bacia do rio Capibaribe sofreram com as águas, que ocuparam casas, comércios, campos de futebol e tantos outros estabelecimentos. Vieram a óbito 107 pessoas e milhares ficaram desabrigadas, deixando o Recife isolado do resto do país nestes dias.

Depois do fato ocorrido viu-se a necessidade de construção de uma nova barragem, pois a de Tapacurá já não era mais suficiente, construiu-se então a barragem de Carpina com capacidade de armazenamento de 270 milhões de metros cúbicos de água, com o objetivo de conter as águas do rio Capibaribe e amenizar as enchentes da cidade do Recife (GRUPO DE RECURSOS HÍDRICOS DA UFPE, 2014). A Figura 1 mostra um grande estádio de futebol da cidade completamente alagado nos dias que foram acometidos pela última cheia.

Segundo Menezes e Sá Carneiro (2014), as cheias aceleraram o processo de degradação de locais com moradias irregulares (pois ao se estabelecerem em áreas de risco e impróprias para moradias, esta população fica sujeita as ações da natureza), obtendo uma atenção dos governantes para o rio Capibaribe, através de projetos direcionados a limpeza de manutenção dos canais para que a água pudesse escoar com mais facilidade. Os principais prejudicados com as enchentes são os moradores. “As águas já não seguem mais os caminhos naturais graças à intervenção humana no espaço” (CARVALHO, 2004, p.30).



Figura 1. Vista do estádio do Arruda localizado na cidade do Recife- PE inundado devido à cheia de 1975. Fonte: Riachos Urbanos (https://riachosurbanos.blogspot.com.br)



Carvalho (2012) afirma que a planície já tem a peculiaridade de apresentar uma drenagem menos eficiente, somando a este fato a forte urbanização com diminuição de áreas permeáveis, torna a cidade vulnerável a sofrer fortes alagamentos.

Solos cobertos por asfaltos causam impermeabilização, dificultando a infiltração das águas pelo escoamento superficial, aumentando também a velocidade de escoamento das águas para as bacias. Este fato faz com que seja mais rápida a concentração do volume de água que escoam para os principais canais de drenagem, amplificando o risco de inundação (CARVALHO, 2004).

Mudanças na dinâmica em qualquer parte da bacia resultarão em mudanças no comportamento da drenagem, aumentando o risco de inundações” (CARVALHO, 2004, p.40).

De acordo com Cabral, Preuss e Fonseca Neto (2014), o processo de ocupação urbana da cidade do Recife ocorreu de maneira desordenada, sem uma política governamental eficaz que se preocupasse com o controle da urbanização, esgotamento sanitário, suprimento de água potável, disposição dos resíduos sólidos e infraestrutura para a drenagem das águas pluviais.

Os esgotos domésticos começaram a ser lançados nos rios sem qualquer tratamento, pois até a década de 1980 não tinham sido feitos investimentos para o tratamento e um sistema de esgotamento sanitário eficaz (SILVA et al., 2014). Para Melo (2007), as condições higiênicas foram se deteriorando com o adensamento populacional, sem este sistema de eliminação dos dejetos e das águas servidas. Só diante da proliferação de doenças como a cólera, febre amarela, que causaram uma epidemia é que serviços para a coleta de lixo e escoamentos do esgoto e das águas servidas obtiveram uma nova destinação devido a contratação de uma empresa especializada. Porém, as águas servidas continuaram a serem lançadas diretamente nos rios.

Almeida e Correia (2012) complementam indicando que este fato é um grave problema de saúde pública e que impacta nos gastos com a saúde e na vulnerabilização social.

No ano de 1987 foi contratada a empresa de coleta de esgotos chamada “Recife Drainage Company” e em 1909, Saturnino de Brito elaborou um plano de saneamento para a cidade do Recife (FARIA, 2015). De acordo com Carvalho (2004, p.53), “as políticas de drenagem têm como característica, na maioria das vezes, atuarem pontualmente”.

Segundo Menezes e Sá Carneiro (2014) a falta de reconhecimento dos cidadãos sobre a importância dos corpos d’águas do Recife, bem como um planejamento ineficiente e uma fiscalização deficitária são pontos importantes causadores de degradação e esquecimento dos canais da cidade. Para Carvalho (2004) as variáveis: canais de drenagem, moradores e a gestão pública gera uma interdependência responsável pela realidade socioespacial do Recife. Os canais são lembrados apenas em épocas de maiores chuvas, pois o ainda deficiente sistema de drenagem mostra a sua ineficiência, principalmente para quem reside próximo a cursos de água.

É necessário haver um meio de ligação entre os canais (recursos hídricos), os moradores do seu entorno e a gestão e pública e planejamento de ações de educação ambiental que salvaguardem tanto as pessoas quanto os corpos hídricos, no intuito de se alcançar uma sustentabilidade urbana.

Compreender que a drenagem é responsável por interligar os bairros do Recife é fundamental para a gestão das cidades, portanto, conhecer a rede de drenagem e a bacia hidrográfica é premissa para o entendimento e soluções dos problemas ambientais que estão no espaço urbano (CARVALHO, 2004).

Os riachos que se localizavam nas cidades cada vez mais foram sendo esquecidos pelas populações residentes, pois ao serem canalizados e retificados acabaram perdendo o contato com as pessoas, deixando de ser um local onde até poderia se banhar.

De acordo com Cabral et al. (2015), foi na segunda metade do século XX que os cursos de água foram reduzidos por consequência da grande urbanização, o que acarretou em degradação dos riachos localizados nas cidades.

Os riachos urbanos atuam na drenagem das águas pluviais, equilibram as características ecológicas da cidade, melhora o conforto térmico e atua na mobilidade.

Em Recife, os riachos foram canalizados e retificados e acabaram recebendo a nomenclatura de “canais”. A cidade é cortada por vários deles, de norte a sul, de leste a oeste. Foi percebendo a situação em que os corpos hídricos se encontram, que a atenção começou a ser direcionada para eles. Fundamentais para o equilíbrio do ecossistema e uma melhor qualidade de vida, os rios e riachos começaram a receber obras de requalificação.

Nota-se, de acordo com Coy (2013) que quase todas as cidades Europeias que eram localizadas na beira de rios, tiveram esse recurso esquecido, necessitando de uma revalorização deste tão precioso recurso natural. Assim, áreas degradadas foram transformadas em lugares de grande atratividade, onde o desenvolvimento urbano atraiu seu foco. Para o mesmo autor “a abordagem desta contribuição é uma abordagem geográfica, dando ênfase à organização espacial na interface rio-cidade, às lógicas atuais da produção do espaço urbano, assim como aos atores envolvidos (p. 1)”.

A requalificação dos corpos hídricos, nos dias de hoje, tende a ter um caráter mais amplo, pois não apenas se preocupa com a melhoria da qualidade da água, mas trata-se de uma inserção dos rios e córregos na paisagem urbana para que a memória deste recurso possa se interligar com os espaços públicos, agregando valor para os serviços ambientais prestados (SILVA-SANCHEZ; JACOBI, 2012). Para Pataky, Zsuffa e Hunyady (2013), as propostas de intervenções são para restaurar as condições hidrológicas seriamente comprometidas da bacia, pois são estas condições que determinam como se encontram os ecossistemas e a qualidade dos serviços prestados por ele.

De acordo com Preuss (2013), para que ocorra uma melhora na gestão das águas pluviais urbanas é fundamental que os riachos urbanos possam compor a paisagem natural novamente. Portanto, se faz necessário uma mudança de paradigmas para que se preserve e se restabeleça as funções originais destes corpos d’água, pois a revitalização de um rio urbano deriva de práticas sustentáveis em seus afluentes, os riachos.

1.2 Riachos urbanos do Recife

A cidade possui 98 canais (riachos urbanos), de acordo com o Cadastro de Canais (2016), realizado pela Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana da Cidade do Recife (EMLURB) que escoam para bacias e sub-bacias de concentração formada pelos seguintes rios: Capibaribe, Jordão, Tejipió, Jiquiá, Beberibe, Moxotó, Morno, Camaragibe, Jaboatão, distribuídas pelos bairros de consolidação mais antiga: norte, centro e sul da área urbana (Figura 2).

Figura 2. Mapeamento dos riachos urbanos na cidade do Recife



Através do Cadastro dos Canais realizado pela Emlurb no ano de 2016 foi realizado um mapeamento da situação em que se encontram os riachos da cidade Recife no sentido de classificar em: riachos que foram revestidos, riachos sem revestimentos e riachos que se encontram cobertos, seja por moradia ou por ruas.

A figura 3 faz uma comparação entre os riachos que estão revestidos e os que se encontram sem revestimento. Luna (2013) conceitua os canais revestidos como aqueles que contém algum material que faz uma barreira impermeável acima do solo, enquanto que os sem revestimentos são aqueles em que a água é conduzida na própria superfície do solo natural.

Dos 98 riachos cadastrados pela EMLURB (2016), 76 se encontram com algum tipo de revestimento. O revestimento executado pela URB se dá na forma de pré-moldados com uma faixa de geotêxtil, além de revestimento de concreto, alvenaria de pedra e gabião, revestindo assim, tanto as paredes quanto o fundo do canal.

O sistema de macrodrenagem do Recife possui 132,79 km de extensão total. Desse total, 74,44km (56%) contam com revestimento, 3,48km (3%) estão cobertos e 54,31km (41%) ainda não são revestidos (ABF/EMLURB, 2016).

Os canais com revestimento são encontrados em toda a cidade do Recife, independente de classe social, seguindo a ótica higienista, que leva em consideração a canalização e retificação dos canais com intuito de dar maior celeridade as passagens das águas para evitar assim, veiculação de determinadas doenças.

Porém essa canalização fez com que até os fundos dos riachos fossem concretados, impedindo assim a infiltração da água nos lençóis freáticos, trazendo alagamento para as cidades, além de impedir que o recurso hídrico realize seu papel natural. De acordo com o Grupo de Recursos Hídricos da Universidade Federal de Pernambuco (2012), os riachos urbanos são fundamentais para a drenagem das águas pluviais, recarregam os aquíferos, reduzem a temperatura do ambiente local, também auxiliando o ecossistema e o efeito estético da paisagem para um lazer contemplativo.

Os rios recebem um olhar mais atencioso pela sociedade e pelos órgãos públicos, porém não adianta cuidar dos rios sem antes tratar dos seus afluentes, os riachos. As águas dos riachos correm em direção aos rios levando consigo toda a poluição e contaminação contidas neles.

Muitos recursos financeiros já foram destinados a obras de requalificação das áreas de riachos (canais). Serviços de manutenção, revestimento, pavimentação, drenagem e urbanização podem ser encontrados na cidade, porém muitos serviços foram iniciados e tiveram as obras paradas.

1.2.1 Bacia do Rio Beberibe e o Riacho Vasco da Gama/ Peixinhos

O Rio Beberibe possui uma área de 65 km2 de extensão e o perímetro da sua bacia apresenta 75 km. Nasce no município de São Lourenço da Mata, dentro da Região Metropolitana do Recife. A Bacia Hidrográfica ao todo mede 79,0km2, porém é um rio que atravessa diversas cidades. A porção localizada no Recife compreende 55,4km2 do seu curso, em Olinda responde por 13,3 km2. Paulista e São Lourenço da Mata também contam com as águas do rio, com 9,4km2 e 0,9km2 respectivamente (ABF/EMLURB, 2013).

A bacia é dividida em três partes diferentes: 1-Beberibe superior: é a parte da drenagem do curso principal, tendo inúmeras nascentes perenes não poluídas e recobertas de vegetação; 2-Beberibe médio: se encontra entre a BR-101 e a confluência com o rio Morno. Este apresenta vale aberto, com margens planas que recebe os excessos hídricos quando ocorre uma maior quantidade de chuvas, tendo as margens bastante ocupadas e estando seus moradores em constante risco de inundação. 3-Beberibe inferior: é a porção com mais habitação da bacia, os níveis de adensamento populacional e de impermeabilização se encontram próximos aos limites de saturação (RECIFE, 2013).

O rio Beberibe é um dos maiores rios encontrados dentro da cidade do Recife, em sua bacia há 19 riachos urbanos complementando sua malha hídrica. Segundo Pernambuco (2012) apresenta uma malha estreita, com largura de aproximadamente 6 metros, em quase totalidade do seu percurso, alargando-se apenas perto da foz. Corre paralelo ao mar na direção sul, no final do seu curso, até a foz, onde junto com o rio Capibaribe desembocam no Oceano Atlântico.

O Governo do Estado de Pernambuco direcionou montantes para obras na bacia do Beberibe, principalmente de dinheiro vindo do PAC Beberibe (Programa de Aceleração do Crescimento).

A Bacia do Rio Beberibe, apresenta-se totalmente comprometida e com assentamentos em áreas de grande risco ambiental, abrangendo áreas onde se concentram os piores bolsões de pobreza e os piores indicadores sociais do Recife” (ALMEIDA; CORRÊA, p.18, 2012).

De acordo com a ABF/EMLURB, (2016) o controle da drenagem urbana deve levar em consideração a bacia como um todo e não apenas trechos isolados, pois precisa evitar a transferência de impactos a jusante, valorizando mecanismos naturais de escoamento na bacia hidrográfica, além de preservar os canais naturais, quando possível, e prezar pela integração dos estudos de planejamento setorial de drenagem urbana com os de esgotamento sanitário e de resíduo sólido.

A área em que se encontra a bacia do Rio Beberibe tem uma população de aproximadamente 590 mil habitantes (7.300 hab/km2), sendo assim com alta densidade demográfica e urbanizada. Também se verifica a existência de grande concentração de assentamentos de baixa renda em áreas de risco, morro e alagado, além de uma infra-estrutura urbana precária (PERNAMBUCO, 2012). De Freitas et al. (2015) ao analisar as águas do Rio Beberibe constatou um grande número de protozoários patogênicos e helmintos, demonstrando um grave caso de saúde pública para as pessoas que tem contato direto com estas águas.

O riacho Vasco da Gama/Peixinhos, também conhecido como Canal do Arruda é o maior canal de drenagem da zona norte da cidade do Recife e é exemplo da situação alarmante em que estes corpos hídricos se encontram. Suas águas vão de encontro com o Rio Beberibe, levando toda a poluição e contaminação contidas nele.

Apesar da Prefeitura da Cidade do Recife direcionar esforços para sua limpeza e manutenção, suas margens são utilizadas de forma desordenada e como resultado disto, o que pode ser visto é um riacho fétido, com um incremento de resíduos sólidos em seu interior. Este riacho se encontra quase que completamente revestido por concreto, apenas um trecho de 30 metros não possui revestimento.

Gouveia (2014) retratou as condições deste riacho, mostrando que a população que mora no seu entorno o percebe como um ambiente sujo, mas que não se sentem na responsabilidade de cuidar deste recurso natural, passando sempre o compromisso para a Prefeitura da cidade. Gouveia, Selva e Fernandes (2017) indicam que uma gestão ambiental adequada quanto a operacionalização da coleta dos resíduos e um trabalho de educação ambiental com a comunidade do entorno do riacho Vasco da Gama/Peixinhos seria de importância para o melhoramento da situação em que se encontra o riacho.

Um trabalho de educação ambiental crítica e emancipatória, fazendo com que esses moradores percebam que ter um recurso natural próximo à sua casa pode trazer tantos benéficos é fundamental, pois percebe-se que esses moradores o percebem apenas como um meio de levar os esgotos e as águas das chuvas.

A prefeitura deu início às obras de revitalização deste riacho, porém não foi finalizado. O projeto contemplaria a o revestimento do canal e a pavimentação da drenagem na Avenida Professor José dos Anjos, além da requalificação de calçadas e implantação de ciclovias, pista de cooper nas margens do riacho, áreas de lazer, de esportes, mesas para jogos, mini quadras, equipamento de ginástica e playground. Também seria criada uma área de convivência para os moradores da região e jardins.

Porém o que se observa neste riacho é um local poluído, com resíduos dispostos de maneira irregular nas margens e dentro do corpo hídrico. Estes equipamentos de lazer e de contemplação supracitados não foram instalados e nem as ciclovias e pista de cooper foi instalada nas suas margens (Figuras 3 e 4).

Figura 3. Riacho do Arruda com uso irregular das suas margens. Recife/PE

Fonte: Gouveia; Selva; Fernandes (2017)



Figura 4. Riacho do Arruda com resíduos sólidos em seu interior. Recife/PE

Foto: Renata Gouveia 10/06/14



1.2.2 Bacia do Rio Capibaribe e o Riacho do Serpro

Outro rio de suma importância para cidade do Recife é o Capibaribe. Este rio tem suas nascentes no município de Jataúba, com uma área total de 7.400km2 de extensão. A parte deste curso d’água que está localizada na cidade do Recife representa apenas 5% do total desta bacia hidrográfica, sendo responsável por 334,9 km2 de rio. O Rio Camaragibe e o Riacho Dondon são os seus afluentes dentro do Recife. A Bacia do rio Capibaribe localiza-se na zona central da cidade e também nos seguintes bairros: Aflitos, Prado, Torre, Madalena, Casa Forte, Cordeiro, Caxangá e outros que abrange parcialmente (ABF/EMLURB, 2013).

Apresenta alta variabilidade espacial e temporal do regime pluviométrico, parte da sua bacia localizada no Agreste do Estado de Pernambuco possui um regime chuvoso que dura quatro meses, sendo junho o mês com maiores precipitações, apresentando uma condição que transita entre a semiaridez e um clima subúmido. Já a porção que está localizada na Zona da Mata apresenta clima úmido e a precipitação é sempre superior a 1000 mm anuais (ASSIS; LACERDA; SOBRAL, 2012).

Com o tempo, o Capibaribe passou por muitas intervenções que fez com que ele ao chegar na área da Região Metropolitana do Recife apresente um regime fluvial perene, atenuado em termos de vazões de água doce que são descarregadas no seu estuário (ABF/EMLURB, 2013). Apresenta regime fluvial intermitente nos seus alto e médio cursos, tornando-se perene somente a partir do município de Limoeiro, no seu baixo curso.

O rio Capibaribe possui 28 afluentes dentro da cidade do Recife, riachos estes que já receberam muitos mutirões de limpeza e investimentos para melhoria da situação, mas infelizmente ainda é notável a situação de descaso e poluição nestes riachos urbanos.

O riacho do Serpro localiza-se no bairro de Parnamirim, na Avenida João Tude de Melo, iniciando na Avenida Parnamirim e terminando no Rio Capibaribe. A porção do riacho que fica entre a Avenida Parnamirim e o viaduto se encontra revestido por gabião, enquanto que se encontra sem revestimento, em leito natural a porção localizada entre o viaduto e o rio Capibaribe (GEOSISTEMAS/URB, 2009b).

Neste projeto a intervenção proposta foi a limpeza da área que ainda se encontra em leito natural e à urbanização de suas margens no trecho que passa por baixo do viaduto e segue até a Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti.

Nota-se que a situação que se encontra o riacho do Serpro na porção localizada embaixo do viaduto ainda é de muita precariedade. Nesta parte o riacho se encontra em seu leito natural, porém apresentando resíduos nas suas margens e no seu interior. Algumas famílias moram neste local da forma mais precária possível, tendo sido notada a presença de colchões e de roupas (Figura 5).

Os resíduos sólidos poderiam ser coletados pela comunidade e se transformarem em renda para os mesmos, destacando novamente a importância de trabalhos de educação ambiental com eles. Além de gerar renda, vai ajudar na preservação do riacho.

Figura 5. (A) e (B) Vista do Riacho do Serpro, na porção localizada embaixo do viaduto. Recife/PE

Foto: 17/01/18 Renata Gouveia



Nesta mesma porção do riacho, notou-se que as pessoas residentes das proximidades utilizam os equipamentos que foram colocados através da urbanização, sendo assim, tem-se equipamentos para exercícios, parque para as crianças, bancos para conversas e mesas com bancos para a prática de jogos e lanches, corroborando com os projetos de revitalização para riachos urbanos (Figura 6 A e B).

O local que antes não tinha nada, trouxe um espaço de lazer e convivência muito interessante para a comunidade local. Infelizmente os próprios moradores ainda não cuidam do riacho que margeia sua comunidade. É necessário ações de educação ambiental com estes moradores para que eles possam ter o sentido de pertencimento do recurso natural e da área que foi criada com o intuito de melhoria da qualidade ambiental e de vida.

O Rio Don em Toronto (Canadá) só foi revitalizado quando a comunidade percebeu que precisavam ser agentes transformadores da realidade, através da ampliação de oportunidades de interação com o rio e projetos que resgatavam sua história (MEDEIROS; MEDEIROS; ROMEIRO, 2014).



Figura 6. (A) e (B) Vista dos equipamentos de lazer e convivência no riacho do Serpro. Recife/PE

Foto: 17/01/18 Renata Gouveia



Muitos riachos tem o seu nível de água já na altura das ruas, juntando dias de marés mais altas com fortes chuvas na região se torna quase impossível que não se alague as ruas. Assim como destaca Silva et al. (2014), agrava essa situação o processo tardio de implantação de um sistema de saneamento básico eficiente

É importante que haja “valorização da caminhada e do uso da bicicleta para recriar um ambiente mais naturalizado, esquecido pela cidade neste processo de desprezo pela natureza, devido a pavimentação do solo e desenho urbano em função do automóvel” (LANGRENEY; RIOLI, 2012, p.120).

O estado de São Paulo obteve sucesso na revitalização do rio Sorocaba, mostrando que são necessárias ações integradas como recuperação das margens, criação de bacias de contenção, tratamento de esgotos, construção de residenciais, além de parques e ciclovias (LANGRENEY; RIOLI, 2012).

Cavalheiro e Nishijim (2012) salientam em sua pesquisa que estes projetos de revitalização precisam estar atrelados a trabalhos de educação ambiental com a comunidade, pois enfoca também as ações socioambientais e não apenas as obras de infra-estrutura. São necessários, portanto, estudo sociocultural e ações preservacionistas e mitigatórias adequadas a realidade de cada comunidade estabelecida perto dos riachos.

Silva et al. (2016) em sua pesquisa na cidade do Recife afirmam que a falta de empoderamento das pessoas é decorrente de uma educação que não problematiza, pouco reflexiva, que não promove o protagonismo e não atua no senso de responsabilidade coletivo e individual, deixando este papel mais uma vez para o Estado.



3 Considerações Finais

Percebe-se que existem obras acontecendo em riachos da cidade do Recife, mas infelizmente não se nota a participação da comunidade nos processos de revitalização. Os riachos estão sujos, seja por esgoto que são lançados in natura em seu interior e por elevados aportes de resíduos sólidos dentro e nas margens dos riachos;

A população não tem o sentido de pertencimento com o corpo hídrico, pois foi verificado no momento das visitas de campo, os próprios moradores jogando seus resíduos no riacho, apesar da Prefeitura realizar a coleta deste material, a responsabilidade não pode ser individualizada, mas sim compartilhada;

A Prefeitura do Recife em suas obras de revitalização concreta o fundo e as margens dos riachos, diminuindo com isso a impermeabilização da água. Se pelo menos o fundo do riacho ficasse sem revestimento, a água poderia infiltrar e alimentar os lençóis freáticos, além de ajudar na dispersão da água em períodos de muita pluviosidade da região;

É necessário um trabalho de gestão e educação ambiental com os moradores das áreas de riachos, para que eles possam ter um sentido de pertencimento com o corpo hídrico e assim possam usufruir destes locais com responsabilidade, preservando o ambiente.



Referências Bibliográficas

ABF/EMLURB. Elaboração de estudos de concepção para gestão e manejo de águas pluviais e drenagem urbana do Recife. Relatório de Caracterização da área de influência. Paulista, 2013

ABF/EMLURB. Elaboração de estudos de concepção para gestão e manejo de águas pluviais e drenagem urbana do Recife. Relatório do Diagnóstico do Sistema de Drenagem Existente. TOMO I, Paulista, 2016

ALMEIDA, L. Q.; CORRÊA, A. C. B. Dimensions of denial of urban rivers in brazilian cities: the case of occupation of the drainage network of the plain of Recife, Brazil. Geo UERJ - Ano 14, nº. 23, v. 1, 1º semestre de 2012 p. 114-135 ISSN: 1415-7543 E-ISSN: 1981-9021

ASSIS, J. M. O.; LACERDA, F. F.; SOBRAL, M. C. M. Análise de Detecção de Tendências no Padrão Pluviométrico na Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe. Revista Brasileira de Geografia Física 02, 320-331, 2012

BASTOS, L. P.; ABILHOA, V. A utilização do índice de integridade biótica para avaliação da qualidade de água: um estudo de caso para riachos urbanos da bacia hidrográfica do Rio Belém, Curitiba, Paraná. Revista Estudos de Biologia, v. 26, n.55, p. 33-44, Abr./Jun. 2004.

BEZERRA, O. G.; MELO, V. L. M. O. Valores da paisagem: os significados dos rios e manguezais da cidade do Recife. Paisagem e Ambiente: ensaios - n. 34 - São Paulo - p. 93 - 106 - 2014

CABRAL, J. J. S. P.; PREUSS, S. L. C.; FONSECA NETO, G. C. Capibaribe e seus afluentes na planície de recife: visão Multidisciplinar de um rio urbano e sua importância para O sistema de drenagem das águas pluviais. Anais... XII Simpósio de Recursos Hidrícos do Nordeste. Rio Grande do Norte, Natal, 2014

CABRAL, J. J. S. P.; CERQUINHA, G.; GUSMÃO, M. B. R.; CARVALHO, A. F. Início da mudança de paradigma em relação aos cuidados com os rios e riachos urbanos em Recife. Anais... XXI Simpósio Brasileiro de Recursos hídricos. Brasília, DF, 2015

CAVALHEIRO, L. W.; NISHIJIMA, T. Uma revisão bibliográfica reflexiva sobre a abordagem dos riachos degradados na escola sob a perspectiva das situações de estudo na educação ambiental. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. REGET/UFSM, v (5), n°5, p. 658 - 669, 2012.

CARVALHO, L. E. P. O domínio das águas, o Recife se faz no tempo. Mnemisone, vol. 3, n.1, 2012

CARVALHO, L. E. P. Os descaminhos das águas no Recife: os canais, os moradores e a gestão. 147f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004

COY, M. A interação rio-cidade e a revitalização urbana: experiências Européias e perspectivas para a América Latina. Revista Franco-Brasileira de Geografia. n. 18, 2013

DE FREITAS, D. A.; DE PAIVA, A. L. R.; DE CARVALHO FILHO, J. A. A.; DA SILVA PEREIRA CABRAL, J. J.; ROCHA, F. J. S. Occurrence of cryptosporidium spp., giardia spp. and other pathogenic intestinal parasites in the beberibe river in the State Of Pernambuco, Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Open Access Volume 48, Issue 2, 2015, Pages 220-223

EMLURB. Cadastro de Canais: álbum do Sistema de macrodrenagem da cidade do Recife- R01, EMLURB, 2016

FARIA, T. J. P. Os projetos e obras do engenheiro Saturnino de Brito e mudança na paisagem urbana. Geografia Ensino & Pesquisa, v. 19, n.especial p. 115-122, 2015

FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE. Orientações básicas para drenagem urbana / Fundação Estadual do Meio Ambiente. —- Belo Horizonte: FEAM, 2006. 32p.

GEOSISTEMAS/URB. Elaboração dos Estudos e projetos executivos do sistema viário, de macrodrenagem e dos parques do Projeto Capibaribe Melhor. Projetos de Engenharia, Relatório Executivo Canal do Serpro, 2009

GOUVEIA, R. L. Análise da percepção socioambiental acerca dos resíduos sólidos em duas comunidades da cidade do Recife, Pernambuco. 89f. Dissertação (Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável). Universidade de Pernambuco, Recife, 2014

GOUVEIA, R. L.; SELVA, V. S. F.; FERNANDES, M. L. B. Revitalização do riacho (canal) Vasco da Gama/Peixinhos, Recife-PE, enfrentamento da problemática socioambiental. In: MESSIAS, A. S.; COSTA, L. (org.). Rios urbanos limpos: possibilidades e desafios. Recife: FASA, 2017

GRUPO DE RECURSOS HÍDRICOS. A importância dos riachos urbanos. UFPE, 2012. Disponível em: http://riachosurbanos.blogspot.com.br/search?updated-min=2012-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2013-01-01T00:00:00-08:00&max-results=1 Acesso em: 20 dez. 2015.

LANGRENEY, B.; RIOLI, R. Q. B. Recuperação de córregos urbanos da Barra Funda como contribuição para a mobilidade sustentável. Revista LABVERDE, n°5, 2012

LUNA, H. A. Manutenção em canais de irrigação revestidos em concreto. 142f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2013

MEDEIROS, M. C. A lógica de planejamento Português na capitania de Pernambuco – 1535 a 1554. 285f. Tese (Doutorado em Arqueologia). Universidade do Porto, Portugal, 2011

MEDEIROS, J. M. M.; MEDEIROS, M. M.; ROMERO, M. A. B. A Gestão para a Conservação da Água. Dois Estudos de Casos: Riacho Fundo, Brasília e Rio Don, Toronto. Interfaces Brasil/Canadá. Canoas, v.14, n.2, 2014

MELO, M. L. Metropolização e subdesenvolvimento: o caso do Recife. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Departamento de Ciências Geográficas. Ed. UFPE, 1978

MELO, V. M. As paisagens do rio Capibaribe no século XIX e suas representações. Paisagem Ambiente: ensaios - n. 23 - São Paulo - p. 253 - 263 - 2007

MENEZES, P. C.; SÁ CARNEIRO, A. R. UMA COMPREENSÃO SISTÊMICA DA PAISAGEM DO RECIFE: Ordenamento da paisagem através dos corpos de água. In: Anais... 3° Colóquio Ibero-Americano Paisagem cultural, Patrimônio e projeto - desafios e perspectivas, Belo Horizonte, 2014

OLIVEIRA, M. C. “Tapacurá estourou!” Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. 2006 Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 5 mai. 2017.

PATAKY, B.; ZSUFFA, I.; HUNYADY, A. Vulnerability assessment for supporting the revitalisation river floodplains. Environmental Science & Policy 34, p. 69 – 78, 2013.

PERNAMBUCO. Saiba mais sobre o rio Beberibe. Secretaria de Infraestrutura, 2012 http://www.sirh.srh.pe.gov.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=417

PREUSS, S. L. C. A revitalização de riachos urbanos na busca de cidades sustentáveis: o caso do riacho Parnamirim em Recife- PE. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil, Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos). Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2013.

SILVA, S. S. L.; LOGES, V.; CAMPELLO, A.; MONTEIRO, C.; ALENCAR, A.; CAVALCANTI, R.; MACHRY, S. Como conciliar planejamento e projeto urbanos em áreas de preservação permanente. O Parque Capibaribe, uma nova proposta de cidade para o Recife-PE. Anais... III Seminário Nacional sobre o tratamento de Áreas de Preservação Permanente em meio urbano e restrições ambientais ao parcelamento do solo. ISSN 2358-318, Universidade Federal do Pará, Belém, 2014

SILVA, A. K. P; FERNANDES, M. L. B.; RODRIGUES, M. S.; GOUVEIA, R. L. Uma análise das contribuições da educação ambiental para o desenvolvimento sustentável nas grandes cidades: o caso da cidade de Recife, Pernambuco-Brasil. Revista da Ciência da Administração, versão eletrônica v.13, 2016

SILVA-SÁNCHEZ, S.; JACOBI, P. R. Políticas de recuperação de rios urbanos na cidade de são paulo possibilidades e desafios. R. B. Estudos urbanos e regionais, v. 14, n. 2, 2012.