UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO







DIVERSIDADE DE ANFÍBIOS ANUROS DA MATA ATLÂNTICA DE UMA LOCALIDADE NA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO

Marcelo Corrêa dos Santos Batista1, Gabriel Limp Fiorentino2, Marcelo Soares3



1 – Graduando: Laboratório de Herpetologia, Centro de Estudos em Biologia – CEPBio, Universidade Castelo Branco – UCB (marcelokcsb@gmail.com);

2 – Mestrando: Programa de Pós-graduação em Biologia Animal, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ (gabriellimp@hotmail.com);

3 – Docente: Laboratório de Herpetologia, Centro de Estudos em Biologia – CEPBio, Universidade Castelo Branco – UCB (msoares@castelobranco.br).



RESUMO

O domínio da Mata Atlântica tornou-se reconhecido mundialmente por possuir uma elevada riqueza de espécies, considerado um hotspot para conservação da biodiversidade. As remanescentes de florestas atlânticas brasileiras atualmente encontram-se reduzidas a pequenas manchas de matas que se reunidas seu volume não ultrapassa os 8% da sua cobertura original. O município do Rio de Janeiro detém uma fauna de anfíbios significativa, principalmente áreas que encontram-se preservadas. O parque Estadual da Pedra Branca (PEPB), constitui um importante ponto de referência de preservação dos vestígios restantes de Floresta Atlântica no município do Rio de Janeiro, é reconhecido como a maior floresta urbana do mundo, apresentando seus 12,5 mil hectares de área. O bioma da Mata Atlântica abriga mais de quatrocentas espécies de anfíbios anuros. A localidade do Rio da Prata é próxima ao Parque da Pedra Branca e de forma preliminar relacionamos neste estudo nove espécies de anfíbios anuros, seis famílias e oito gêneros.



Palavras chave: Anfíbios; Mata Atlântica; Rio da Prata; Rio de Janeiro.

ABSTRACT

The domain of the Atlantic Forest has become recognized worldwide for possessing a high species richness, considered a hotspot for biodiversity conservation. The remnants of Brazilian Atlantic forests are now reduced to small patches of forest, which, when combined, do not exceed 8% of their original cover. The municipality of Rio de Janeiro has a significant amphibian fauna, mainly areas that are preserved. The Pedra Branca State Park (PEPB) is an important reference point for the preservation of the remaining remains of the Atlantic Forest in the municipality of Rio de Janeiro. It is recognized as the largest urban forest in the world, presenting its 12,500 hectares . The Atlantic Forest biome houses more than four hundred species of anuran amphibians. The locality of the River of the Silver is next to the Park of the White Stone and of preliminary form we related in this study nine species of anuran amphibians, being six families and eight genera.

Keywords: Amphibians; Atlantic Forest; Rio da Prata; Rio de Janeiro.

Introdução

De acordo com MYERS et al., (2000) o domínio da Mata Atlântica tornou-se reconhecido mundialmente por possuir uma elevada riqueza de espécies, considerado um hotspot para conservação da biodiversidade. Segundo Moura et al., (2012) encontra-se localizado numa das regiões mais populosas do Brasil, o bioma em questão sofreu intensa perda de sua cobertura original, resultante principalmente da redução de habitats naturais, proporcionada por ações do homem ao longo das últimas décadas.

As remanescentes de florestas atlânticas brasileiras atualmente encontram-se totalmente devastadas. Ocupavam na sua época de descoberta uma continua faixa, estreita e grosseiramente paralela à costa iniciando-se no Rio Grande do Norte, e indo até o Rio Grande do Sul, elas atualmente apresentam-se reduzidas a pequenas manchas de matas que se reunidas seu volume não ultrapassa os 8% da sua cobertura original. Enquanto que no sul e sudeste que é onde se encontra uma parcela mais representativa do que restou, neste as dificuldades no acesso ao que restou imposta pelo relevo tem auxiliado no processo de frenagem da sua dissecação. E no norte, o relevo que pouco interfere por ser mais suave tem facilitado uma exploração intensiva e completamente desorganizada (RODRIGUES, 1990).

Segundo Heyer et al., (1994) o conhecimento sobre a composição dos grupos de vertebrados de uma área é fator de importância primordial em projetos para a sua conservação. Assim, a identificação das espécies de anfíbios e o estudo de suas particularidades ecológicas revelam-se decisivos para o sucesso das ações que buscam conservar a biodiversidade. Estes grupos são bastante conspícuos, o que viabiliza os estudos ecológicos e os levantamentos de biodiversidade. Além disso, os inventários herpetológicos oferecem uma visão macro da distribuição de um grande número de espécies, o que otimiza os esforços para a compreensão dos padrões de distribuição das espécies em função de diferentes variáveis ambientais (SILVANO & PIMENTA, 2003). Um enorme conjunto de dados relativos à riqueza, densidade e composição das comunidades de anfíbios pode ser reunido por meio de pesquisas rápidas com levantamentos bibliográficos e inventários em campo (HEYER et al., 1994).

Cintra et al., (2007) afirma que o município do Rio de Janeiro detém uma fauna de anfíbios significativa, principalmente áreas que se encontram preservadas. O parque Estadual da Pedra Branca (PEPB), constitui um importante ponto de referência de preservação dos vestígios restantes de Floresta Atlântica no município do Rio de Janeiro. Tal parque é reconhecido como a maior floresta urbana do mundo, apresentando seus 12,5 mil hectares de área, onde encontramos o ponto mais alto do município do Rio de Janeiro, que atingi 1.024m acima do nível do mar. De acordo com Costa et al., (2009) as suas trilhas e seus atrativos ecoturísticos, que estão localizados em meio aos vestígios de Mata Atlântica apresentam um número de visitante cada vez maior.

Segundo Haddad et al., (2008) no processo de evolução dos seres vivos no nosso planeta, os animais da classe dos anfíbios foram os primeiros vertebrados a conquistar os ambientes terrestres, possivelmente durante o período geológico Devoniano, há cerca de 370 milhões de anos. Apesar do longo tempo de evolução, esses animais mantiveram sua grande dependência em relação aos ambientes aquáticos ou úmidos para sua sobrevivência e reprodução. O bioma da Mata Atlântica abriga mais de quatrocentas espécies de anfíbios anuros, e a maior riqueza quanto às espécies ocorre nos ambientes de florestas úmidas. Por dependerem de ambientes úmidos, os anfíbios dificilmente conseguem sobreviver em locais modificados pelo homem.

A classe Amphibia é composta atualmente por 6.347 espécies conhecidas às quais compreendem as ordens: Anura, Caudata e Gymnophiona. A ordem Anura engloba sapos, rãs e pererecas, os animais que não apresentam cauda em sua fase adulta. É a ordem com maior número de representantes, perfazendo, no momento, um total de 5.602 espécies, que habitam principalmente a região tropical. A anurofauna brasileira é uma das mais ricas do mundo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Herpetologia, contamos com 804 espécies, o que representa em torno de 15% da fauna mundial (JARED & ANTONIAZZI, 2009).

A partir do trabalho de Izecksohn & Carvalho-e-Silva (2010) compreende-se três ordens viventes que compõem a classe Amphibia que são facilmente distinguidas: a) os Gymnophiona, conhecidos como “cobras-cegas”, não possuem patas com corpo longo e cilíndrico; b) os Urodela, “salamandras”, têm corpo alongado, com patas e cauda; e c) os Anura, “sapos”, “rãs” e “pererecas”, possuem corpo mais curto e patas, com as posteriores mais longas e adaptadas para o salto, e apresentam cauda apenas em sua fase larval. Os anuros são os únicos anfíbios que apresentam voz, que é utilizada principalmente pelos machos para atrair as fêmeas prontas para a reprodução. No Hemisfério Sul, os anuros formam os anfíbios com mais representantes, e o Brasil é muito rico em formas, com quase novecentas espécies já registradas.

Em seu trabalho Jared & Antoniazzi (2009) ressaltam que apesar de as cobras-cegas serem relativamente abundantes, são poucos os contatos por possuírem hábitos fossoriais. Sendo assim o maior contato que temos em termo de anfíbios são os anuros.

Atualmente todos os anfíbios adultos são carnívoros e, dentro de cada grupo, relativamente poucas especializações morfológicas estão associadas aos hábitos alimentares diferentes. Os anfíbios comem quase tudo que são capazes de capturar e engolir. Nas formas aquáticas, a língua é larga, achatada e relativamente imóvel, mas alguns anfíbios terrestres podem protrai-la para capturar presas para sua alimentação. O tamanho da cabeça é importante para determinar o tamanho máximo da presa que pode ser capturada, e espécies simpátricas de salamandras normalmente apresentam tamanhos de cabeça marcadamente diferentes, sugerindo que trata-se de uma característica que diminui a competição por comida (POUGH et al., 2008).

Segundo Izecksohn & Carvalho-e-Silva (2010) dos anfíbios anuros, a parcela mais importante do estudo, com seus hábitos franca e predominantemente noturnos a grande maioria, muitas vezes secretivos, outras apresentado exemplos acabados de estratégias, hábitos e colorido camuflantes, são às vezes de difícil observação. Por outro lado, suas emissões sonoras, dadas principalmente por seu canto nupcial, sempre preenchem de variados sons as noites, que acabam denunciando sua presença e atividade. Alie-se a isso que os anfíbios anuros apresentam os mais diversificados modos de reprodução conhecidos entre todos os vertebrados, além de ocuparem uma importante posição na teia alimentar. De um lado são grandes predadores de artrópodes, principalmente insetos, e mesmo de pequenos vertebrados, de outro, são presas de importância para a alimentação de mamíferos, aves, répteis e mesmo de outros anfíbios e até de artrópodes. O ciclo de vida, em geral constituído de uma larva aquática, denominado girino, e uma fase adulta exposta ao ar, torna os anfíbios anuros um dos grupos que mais são afetados pelas agressões ao meio ambiente, o que tem acarretado à extinção ou, pelo menos, ao desaparecimento de muitas espécies em determinadas regiões.

As modificações que são propiciadas pela crescente urbanização acabam resultando geralmente em uma redução significativa da diversidade original. O levantamento da fauna em parques e em áreas de vegetação remanescentes numa metrópole é um passo primordial para realizar a analise da diversidade atual em meio urbano. A análise da fauna atual pode nos propiciar subsídios para estimarmos a adaptabilidade às profundas modificações e prover assim medidas adequadas à conservação da diversidade remanescente (ESBÉRARD, 2009).

O presente trabalho teve por objetivo iniciar o inventário da fauna de anfíbios anuros do Rio da Prata, localidade em Campo Grande, no Rio de Janeiro, próxima ao Parque Estadual da Pedra Branca. Este estudo visa auxiliar as ações de gestão que buscam a conservação da biodiversidade do Parque Estadual da Pedra Branca, pois o conhecimento sobre a composição dos grupos de vertebrados de uma área é fator de importância primordial em projetos para a sua conservação.

Metodologia

Área de Estudo

O Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) localiza-se, nos bairros de Campo Grande, Jacarepaguá, Taquara, Camorim, Vargem Pequena, Vargem Grande, Recreio dos Bandeirantes, Grumari, Padre Miguel, Bangu, Senador Camará, Jardim Sulacap, Realengo, Santíssimo, Senador Vasconcelos, Guaratiba e Barra de Guaratiba, município do Rio de Janeiro, abrange uma área total de 12.492 hectares CINTRA et al., (2007).

O PEPB é considerado a maior floresta urbana do mundo, portanto, abriga um grande contingente de espécies da fauna e flora, entretanto são poucos os trabalhos nesta região. Os trabalhos de campo foram realizados em Rio da Prata, Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro, localidade próxima ao Parque Estadual da Pedra Branca (ilustração 01). A região é um ponto de remanescente da Mata Atlântica, que sofreu intensa degradação devido às atividades agrícolas no passado, mas atualmente apresenta melhor estado de conservação devido há mudanças na legislação ambiental e maior fiscalização por parte das autoridades responsáveis, mas ainda há bolsões agrícolas.

Ilustração 01: Mapa demonstrando área de estudo próximo ao PEPB. Fonte: Google Earth.



Métodos de Amostragem

As excursões ao campo foram realizadas mensalmente completando o ciclo anual 2016/2017. Com 12 campanhas não periódicas, todas com duração de dois dias, que soma um total de 24 dias. Os trabalhos foram realizados através de busca ativa (ilustração 02) desde á tarde até o amanhecer, com o objetivo de alcançar o maior número de microhabitats possíveis. Sendo os pontos de observações clareiras, margem de riachos e poças d’água temporárias, que foram observados cuidadosamente. Os exemplares avistados foram fotografados, identificados e catalogados.

Resultados e Discussões

Foram registradas nove espécies de anfíbios anuros (tabela 1). As espécies identificadas pertencem a seis famílias distintas (ilustração 03), Hylodidae e Hylidae foram as famílias mais numerosa seguidas da família Bufonidae. A família Lepetodactylidae, aqui pouco representada, apresenta elevado número de espécies no Brasil, sendo uma família exclusiva da região Neotropical.

As espécies identificadas neste estudo contribuirão para o inventário da fauna de anfíbios anuros da região do Rio da Prata (ilustração 04), que é um ponto de remanescente da Mata Atlântica, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. De acordo com Izeckson & Carvalho-e-Silva (2010) a importância da criação e organização de uma lista contendo as espécies de anfíbios anuros que existem no município do Rio de Janeiro é enfatizada por outros pesquisadores desde 1946, que acrescentaram muito nesse contexto com trabalhos individuais.

Cintra et al., (2007) afirma que as projeções históricas do Rio de Janeiro demonstram que a Mata Atlântica cobria totalmente o estado com aproximadamente 97% de sua área. Com as intensas modificações no cenário do Rio de Janeiro com uso do solo nos 400-500 anos, a área original sofreu mudanças e sua Mata foi reduzida a 20%. A presença de espécies sensíveis às mudanças no ambiente nos proporciona uma melhor visão sobre o estado de conservação desta região da Mata Atlântica, que demonstra não possuir mudanças drásticas que possam de algum modo atingir o habitat destes animais, mesmo havendo o desmatamento para fins agrícolas como a monocultura de banana, caqui, milho, mandioca e murta.

Pelo fato dos anfíbios serem abundantes e funcionalmente importantes em muitos hábitats terrestres e aquáticos em regiões tropicais, subtropicais e temperadas, eles são componentes significantes da biota da Terra (SILVANO & PIMENTA, 2003). Várias espécies de anfíbios possuem ampla distribuição e potencialmente podem servir como espécies-chave para avaliar longas mudanças geográficas ou globais no ambiente. Outras espécies são especialistas de hábitat ou têm distribuição restrita, e podem acusar uma perturbação local (HEYER et al., 1994).

De acordo com Haddad et al., (2008) a Mata Atlântica é um bioma que abriga mais de quatrocentas espécies de anfíbios anuros, e a sua grande riqueza de espécies ocorre diretamente nos ambientes de florestas úmidas (Floresta Ombrófila Densa), dado pela sua dependência de água. A necessidade por água tem grande relação com seu modo reprodução (tabela 2), que na maioria das espécies tem pelo menos um dos estágios de desenvolvimento ligado diretamente com o meio aquático, com exceção para algumas espécies que possuem desenvolvimento direto como podemos ver na tabela 3, que descreve de forma breve os modos de reprodução de cada espécie.

No geral, as intervenções humanas levam a um empobrecimento da estrutura e da diversidade da vegetação (LIDDLE & SCORGIE, 1980). Tal mudança também altera o hábitat de diversas espécies animais, causando o desaparecimento de especialistas em favor de generalistas (VAN ROOY & STUMPEL, 1995). Os anfíbios anuros presentes na localidade do Rio da Prata apresentam diversidade no modo de reprodução e no habitat em que são encontrados (tabela 2), mesmo alguns tendo modificações devido à presença humana, tal diversidade torna-se um ponto importante para a preservação desta área a fim de preservar os anuros.

A disponibilidade e partilha de recursos reprodutivos (CARDOSO et al., 1989), a heterogeneidade de habitat e micro-habitat (VASCONCELOS et al., 2009), o modo reprodutivo e comportamento de cada espécie (HADDAD & PRADO, 2005), são fatores que explicam a estruturação e distribuição de espécies de anfíbios anuros em diferentes ecossistemas ou habitats. Para a região Neotropical, incluindo a Mata Atlântica, os estudos evidenciam uma riqueza maior em brejos e poças, principalmente as de hidroperíodo curto, onde são comumente encontradas espécies generalistas e de odos reprodutivos que envolvem deposição de ovos sob a água e girinos heterotróficos de ambientes lênticos, enquanto que microhábitats como córregos, riachos e chão de floresta, apresentam riquezas ligeiramente menores agregando espécies com hábitos e modos reprodutivos mais especializados (CARDOSO et al., 1989). Atualmente são conhecidos 39 modos reprodutivos entre os anfíbios anuros, nas espécies encontradas também se obteve um número significativo de modos de reprodução (tabela 3).

Nas nove espécies encontradas foi possível observar oito modos reprodutivos, com sua maioria ligada ao ambiente aquático, entre tanto a espécie Haddadus binotatus não apresenta necessidade deste meio para sua reprodução por obter desenvolvimento direto em ambiente terrestre. A diversidade nos modos de reprodução atua na disposição destes animais no campo, sendo isto uma barreira que ajuda a diminuir a competição por habitat e até alimento. Cada espécie possui um conjunto de tolerâncias a condições físicas que determinam sua amplitude potencial na ausência de outros organismos ou barreiras para dispersar (PEHEK, 1995).



Rhinella icterica (Spix, 1824)

Família: Buffonidae

Nome popular: Sapo cururu

Ilustração 06: Espécie Rhinella icterica (Spix, 1824). Foto: Marcelo Batista.


Sapo de porte muito grande apresenta enormes glândulas paratóides atrás dos olhos. O macho apresenta coloração cinza amarelado enquanto que a fêmea é bege ou parda-clara, com grande mancha enegrecida no dorso, que se divide longitudinalmente por uma faixa clara. Possui hábitos florestais, mas também pode ser encontrado vivendo em áreas desmatadas, junto às habitações humanas, caçando insetos que ficam nos pontos de luz. Os seus hábitos reprodutivos incluem vocalização com um tom grave. Apesar de estar se tornando uma espécie escassa no município do Rio de Janeiro, é ainda muito abundante em municípios próximos. Os machos em certa época foram caçados intensamente por laboratórios, para serem utilizados em testes de diagnósticos precoce de gravidez.



Rhinella ornata (Spix, 1824)

Família: Bufonidae

Nome popular: Sapo cururuzinho

Ilustração 07: Espécie Rhinella ornata (Spix, 1824). Foto: Marcelo Batista


Sapo de porte grande, que possui glândulas paratóides relativamente grandes localizadas atrás dos olhos. Apresenta hábitos florestais, mas pode ser encontrado longe da mata, próximo as moradias. Possui vocalização de tom grave. É uma espécie relativamente comum em todo o estado do Rio de Janeiro.




Haddadus binotatus (Spix, 1824)

Família: Craugastoridae

Nome popular: Rã-do-folhiço

Ilustração 08: Espécie Haddadus binotatus (Spix, 1824). Foto: Marcelo Batista



Rã de porte médio a grande, com dilatações nas extremidades dos dedos e artelhos, possui colorido bege, cinzento ou pardo, com padrão variado, quase sempre apresentando um par de manchinhas negras no meio do dorso. Diferencia-se das demais espécies do gênero encontradas no Rio de janeiro por apresentar, em suas mãos, o primeiro dedo maior do que o segundo. Apresenta vocalização com notas assobiadas, que são emitidas rapidamente. Habita o chão da mata, entre a serapilheira, e põe seus ovos, que são relativamente grandes, sob troncos caídos na mata. Possui desenvolvimento direto, nascendo rãzinhas já metamorfoseadas. É uma espécie estritamente florestal, e distribui-se por todo Sudeste brasileiro



Thoropa miliaris (Spix, 1824)

Família: Cycloramphidae

Nome popular: Sapo bode

Ilustração 09: Espécie Thoropa miliaris (Spix, 1824). Foto: Marcelo Batista



Rã de grande porte apresenta um colorido mimético a rochas molhadas, que pode ser encontrada no chão úmido da mata, mas sua reprodução ocorre em lajes molhadas, mesmo quase à beira-mar, onde podem ser observados os ovos e os girinos. Estes se mantêm aderidos à rocha, deixando o dorso exposto ao ar. Possui vocalização consta de notas trêmulas. Sua ocorrência se estende por todo o Sudeste brasileiro.



Aplastodiscus albofrenatus (A. Lutz, 1924)

Família: Hylidae

Nome popular: Perereca verde

Ilustração 10: Espécie Aplastodiscus albofrenatus (A. Lutz, 1924) Foto: Marcelo Batista


Perereca de porte médio e colorido verde, estritamente florestal. Normalmente vocaliza em bromélias, com exceção de algumas noites que desce para emitir seu canto nupcial na vegetação baixa das margens ou em pedras dos córregos. Sua vocalização consta de notas espaçadas, um tanto metálicas, que se repetem por longo tempo. Seus ovos possuem coloração branca, e são depositados nas pedras dos córregos de forma que fiquem acima da superfície da água. Os girinos, um tanto alongados, podem ser observados no fundo dos córregos. Esta espécie ocorre no estado do Rio de Janeiro, onde podemos observar outras espécies muito semelhantes.



Scinax trapicheiroi (B. Lutz, 1954)

Família: Hylidae

Nome popular: Perereca de riacho

Ilustração 11: Espécie Scinax trapicheiroi (B. Lutz, 1954). Foto: Marcelo Batista



Perereca de médio porte, encontrada na vegetação próxima à margem de córregos ou em suas rochas, na mata de encosta e nas paredes dos reservatórios de água e represas. Possui colorido básico que se assemelha ao das pedras úmidas, tendo um fundo dorsal cinza ou bege e apresentam um triângulo enegrecido sobre sua cabeça, cujo vértice posterior se une a uma mancha de mesma cor em forma de W. Na região do sacro, há outra mancha escura, em forma de meia-lua, transversalmente. Suas pernas são atravessadas por faixas escuras, como é típico das espécies do grupo. A voz se constitui de um coaxar fraco. A desova é feita nas águas límpidas dos remansos dos córregos na mata, e os girinos se caracterizam pela presença de lúnulas douradas à frente dos olhos.


Crossodactylus gaudichaudii (Duméril & Bibron, 1841)

Família: Hylodidae

Nome popular: Rãzinha de riacho

Ilustração 12: Espécie Crossodactylus gaudichaudii (Duméril & Bibron, 1841). Foto: Marcelo Batista



Rã de porte médio, hábitos diurnos e noturnos vive sobre as pedras dos córregos. Possui o dorso liso e em geral acobreado. Tem espinhos negros na base dos polegares. Sua vocalização consiste em uma série de notas, que se assemelha á um débil cacarejo. O adulto, como é normal nos hilodíneos, salta na água no menor sinal de perigo e fica imóvel no fundo. Realiza a desova sob as pedras nos córregos, e seus girinos se desenvolvem nesse ambiente. Ocorre no Sudeste brasileiro.


Hylodes nasus (Lichtenstein, 1823)

Família: Hylodidae

Nome popular: Rã de corredeira

Ilustração 13: Espécie Hylodes nasus (Lichtenstein, 1823). Foto: Marcelo Batista



Rã de porte médio, normalmente encontrada nas pedras dos córregos das florestas e com hábitos diurnos. Não apresenta espinhos nos polegares, mas, como as espécies do gênero Crossodactylus, possuem as pontas dos dedos e artelhos dilatadas transversalmente. Os machos apresentam um par de sacos vocais que se exteriorizam quando vocalizam. Sua voz consiste em um trinado prolongado, lembrando um gorjeio. Seus hábitos reprodutivos parecem ser semelhantes aos das espécies de Crossodactylus. Esta espécie só tem sido registrada no estado do Rio de Janeiro



Physalaemus signifer (Girard, 1853)

Família: Leptodactylidae

Nome popular: Rãzinha do folhiço

Ilustração 14: Espécie Physalaemus signifer (Girard, 1853). Foto: Marcelo Batista



Rã de porte pequeno, de cor bege, com desenho dorsal mais escuro constituído de duas pontas de flecha. Sua região inguinal é, frequentemente, de cor salmão e tem, de cada lado, uma glândula negra. Realiza vocalização emitindo curtos gemidos insistentemente repetidos, em locais a serem inundados, ou em margem de poças, nas florestas ou em suas bordas, iniciando precocemente (fim do inverno) a atividade reprodutiva anual, que pode se prolongar até o verão. Faz seus ninhos de espuma sob folhas mortas úmidas sobre a lama. Seus girinos podem resistir algum tempo na espuma aguardando que as chuvas alaguem o local. Pode ser encontrada nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.


Conclusões

Neste estudo foram identificadas, de forma preliminar, nove espécies de anfíbios anuros de seis famílias e oito gêneros na localidade do Rio da Prata, Campo Grande, Rio de Janeiro – RJ.

A realização de um inventário de fauna de anfíbios na localidade de Rio da Prata é importante, pois possivelmente ocorrem de forma similar no Parque Estadual da Pedra Branca.

A identificação das espécies de anfíbios e o estudo de suas particularidades ecológicas revelam-se decisivos para o sucesso das ações que buscam conservar a biodiversidade. Este estudo provavelmente auxiliará em processos decisivos para o sucesso das ações que buscam conservar a biodiversidade do Parque Estadual da Pedra Branca.

Agradecimentos

Ao Dr. Hélio Ricardo da Silva do Laboratório de Herpetologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ, pela identificação das espécies.

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