ECALOGIA – O FINGIMENTO AMBIENTAL QUE DÁ NOJO


09/03/2018

Piero Ruschi

Cada vez mais a sociedade global vivencia a era da sustentabilidade ecológica. No entanto, por mais que estejamos acostumados com esse termo em nosso cotidiano, o verdadeiro compromisso prático e o próprio uso teórico da legítima sustentabilidade encontram-se tão distantes da realidade, que macroanálises lúcidas da situação ambiental apontam para conjecturas de sustentabilidade falaciosas. 

 

Surpreendentemente, apesar dos resultados sustentáveis serem de difícil visualização cronológica em cenários globais, o poder de penetração do contexto sustentável foi avassalador. Hoje, o assunto chega até a encabeçar metas de ensino das principais universidades de “business” do mundo em pautas como: “desafio de buscar sustentabilidade”ou “como tornar uma empresa sustentável” – o que, por sua vez, evidencia o contraste com sua “prima” legitimamente ecológica, a incipiente “educação ambiental” nas escolas.

 

O fato é que, a menos que a procedência seja chinesa, os negócios vivenciam uma grande necessidade de serem vistos como ecologicamente sustentáveis. 

 

Então, de um lado temos a necessidade de um selo verde ecologicamente sustentável e, do outro lado, os complexos níveis de arbitrariedade intrínsecos à frágil teia ecológica beneficiada por supostas práticas sustentáveis, ou seja, essa combinação cria fragilidade na legitimação do “selo sustentável”. Isso representou a junção da fome com a vontade de comer; bem mais que suficiente para desgastar o termo “ecologicamente sustentável”, tanto que hoje utiliza-se apenas a abreviação ECO. 

 

Em nosso Estado, os exemplos da falta de compromisso com essa bandeira são diversos, indo desde o maior crime ambiental do Brasil (derramamento de lama tóxica no Rio Doce) ao mais antigo (supressão de vegetação de Mata Atlântica). E pelo meio do caminho, tem de tudo: o conhecido pó de minério de ferro; a famosa BR 101 capixaba, administrada pela ECO 101, que s quer respalda a ecologia viária dos trechos das reservas florestais; e até falsidade na participação social em conselhos ambientais. A negligência ambiental é tão repulsiva que não citarei mais exemplos, a fim de poupá-lo, estimado leitor.

 

Enfim,o uso indevido de conotações ecológicas para satisfazer a sustentabilidade contemporânea (que na verdade é uma pseudo-sustentabilidade) é uma barbárie, pois abre portas para que a indefesa natureza continue sendo violentada. 

 

Diante da ineficiência dos selos verdes em qualificar ações ecologicamente sustentáveis, segue aqui a proposta de dois vocábulos para identificar as falácias da sustentabilidade ecológica: 

 

Ecalogia/'ɛ.ka.lo.gi.a/

 

Substantivo composto proveniente da combinação de “eca” + “ecologia”.

 

1. relativo ao uso da conotação ecológica (beneficio das relações entre os seres vivos ente si ou com o meio ambiente) para mascarar a prática do descaso ambiental.

2. prática de falácia ambiental causadora de repugnância, mal-estar, aversão, nojo.

 

Ecalógico (a)/'ɛ.ka.’lo.gi.ko/

 

adjetivo 

 

1. relativo à ecalogia. 

2. relativo à falsa proteção do meio ambiente.

3. que finge proteger, beneficiar ou não prejudicar o ambiente.

4. que simula ser ecologicamente sustentável.



Fonte: http://seculodiario.com.br/37927/14/ecalogia-ij-o-fingimento-ambiental-que-da-nojo