PERCEPÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NA ESCOLA E NO COTIDIANO: ESTUDO DE CASO EM UMA ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA-PB

Rosilvam Ramos de Sousa1; Joedla Rodrigues de Lima2

1Engenheiro Florestal, Especializando em Ecologia e Educação Ambiental na Unidade Acadêmica de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Campina Grande, E-mail: rosilvam17@gmail.com

1Professora Dra. da Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Campina Grande, E-mail: joedlalima@yahoo.com.br

RESUMO: O trabalho teve como objetivo verificar a influência de atividade pedagógica na mudança de percepção sobre educação ambiental. A metodologia envolveu aplicação de questionário, aula teórico-prática e reaplicação do questionário. Não houve diferença entre as respostas antes e depois da atividade didática.

Palavras chave: Diagnóstico socioambiental. Meio ambiente. Sensibilização.

PERCEPTION ON SOCIO-ENVIRONMENTAL EDUCATION IN SCHOOL AND DAILY: A CASE STUDY IN A PUBLIC SCHOOL IN THE MUNICIPALITY OF OLHO D'ÁGUA-PB

ABSTRACT: The objective of this study was to verify the influence of pedagogical activity on the change of perception about environmental education. The methodology involved the application of a questionnaire, theoretical-practical class and reapplication of the questionnaire. There was no difference between the answers before and after the didactic activity.

Key words: Socio-environmental diagnosis. Environment. Sensitization.

1 INTRODUÇÃO

O meio ambiente vem sofrendo com as ações antrópicas desde o início das civilizações. Entretanto, a partir da Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, o homem passou a explorar a natureza num ritmo acelerado, inclusive desenvolvendo substâncias químicas não biodegradável, tornando impossível a absorção de todos os resíduos gerados e descartados, muitas vezes de forma imprópria, no meio ambiente.

A Revolução Industrial e o capitalismo não transformaram apenas a maneira que os produtos são fabricados, mas também a velocidade em que eles são consumidos e substituídos, marcando de um lado populações com alto padrão de consumo e por outro os bolsões de miséria.

Este nível de consumo, gera, pelo menos, duas consequências graves: o aumento irresponsável da exploração dos recursos naturais para a produção de novos produtos e o surgimento de grandes lixões onde se depositam os produtos descartados pela população de maneira geral.

No Brasil, a exploração desordenada dos recursos naturais não é uma prática nova, tendo seu início na colonização. As principais consequências foram o extermínio de mais de 90% de toda a Mata Atlântica original e a degradação da região nordeste brasileira (RAMALHO, 2014).

Em contrapartida, o cuidado ou a preocupação com os recursos e o desenvolvimento de ciências e metodologias voltadas para a compreensão sistêmica dos processos e seus efeitos sobre os ecossistemas, surgiu somente no século XX, após alguns desastres industriais causarem alterações no comportamento de alguns fenômenos naturais e do próprio ser humano, trazendo consequências graves para todos.

Umas das primeiras leis brasileiras, que surgiu com a intenção de proteger o meio ambiente das ações antrópicas, foi o Código Florestal Brasileiro de 1965 (Lei 4.771/65), onde está previsto a manutenção de reservas florestais, em pelo menos 20%, nas propriedades rurais.

O Capítulo VI, da Constituição de 1988, trata exclusivamente do meio ambiente, garantindo o direito a todo brasileiro ter acesso a um ambiente ecologicamente equilibrado, além de obrigar o poder público a promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino, como também, a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 2015).

Outra importante lei brasileira para a temática ambiental é a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), que, além de reforçar a importância da política dos quatro R’s (reduzir, reutilizar, reciclar e repensar), prevê a extinção de um dos principais poluidores do meio ambiente, os lixões, em todos os municípios brasileiros (BRASIL, 2012a). Porém, o que ocorre de verdade é a continuação desse problema, seja por falta de recursos dos municípios ou por falta de interesse dos governantes. O fato é que poucos municípios da federação cumprem a mesma.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, sobre meio ambiente, na introdução do documento, há a preocupação com a formação acadêmica no ensino fundamental, pois um aluno que tenha um excelente perfil acadêmico, não implica que tenha de igual modo uma consciência ambiental, expressa no sentido da interdependência de todos os seres vivos e não-vivos, da co-responsabilidade com a saúde ambiental, da importância da sustentabilidade para, ao se respeitar a capacidade de suporte dos ecossistemas, as gerações futuras também tenham direito à atender suas necessidades para, finalmente, desenvolver uma visão crítica das formas de apropriação dos recursos naturais e o que isto implica na qualidade de vida dos cidadãos (BRASIL, 1997).

Reconhecendo a importância do processo educativo para uma ação responsável do ser humano, a educação ambiental (EA) deve ser abordada em todas as disciplinas nas escolas públicas de ensino fundamental dos anos iniciais e finais em todo o país. Diante disto, surge uma indagação: será que o conceito de educação ambiental está sendo apresentado e discutido nas escolas? Embora a abordagem desse tema seja garantida por lei, em algumas escolas não é dado o destaque que esse assunto requer.

Diante do exposto, esse trabalho teve como objetivo verificar a influência de atividade pedagógica na mudança de percepção sobre sustentabilidade ambiental em suas vidas e na escola envolvendo estudantes do Ensino Fundamental dos Anos Finais na Escola Municipal Manoel Procópio de Araújo, localizada na zona rural do município de Olho d’Água–PB, antes e após sensibilizá-los sobre a importância do tema.

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Caracterização da área da pesquisa

O município de Olho d’Água está localizado na mesorregião do sertão paraibano e microrregião de Piancó (Figura 1), inserido no bioma caatinga, semiárido nordestino, inserido numa área de 596,1 km2, população de 6931 habitantes e uma densidade demográfica de 11,6 habitantes/km2. A cidade está situada a 258 m de altitude e as coordenadas geográficas são Latitude 7º 12’ 22” Sul, e Longitude 37º 45’ 12” Oeste (BRASIL, 2012b). O Índice de Desenvolvimento Humano do Município (IDHM) é de 0,572, o que é considerado baixo. A economia está voltada para o comercio varejista e serviço público (ATLAS BRASIL, 2013).

Figura 1 – Localização do município de Olho d’Água-PB.

Fonte: IBGE, 2017.

No município há três escolas que oferecem o ensino no nível fundamental dos anos finais, sendo duas municipais e uma estadual. O trabalho foi realizado na Escola Municipal do Ensino Fundamental Manoel Procópio de Araújo, localizada na comunidade Distrito de Socorro, zona rural do município de Olho d’Água-PB (Figura 2). Essa escola foi escolhida por ser a única da zona rural a oferecer o Ensino Fundamental dos Anos Finais e também pela ausência de pesquisa neste sentido.



Figura 2 – Vista geral da Escola Municipal Manoel Procópio de Araújo.

Fonte: Sousa, 2017.

O público alvo foi constituído por oitenta e quatro alunos matriculados no Ensino Fundamental dos Anos Finais (do 6º ao 9º ano). A pesquisa foi realizada durante os meses de maio e junho de 2017.

2.2 Coleta dos dados

A metodologia empregada foi dividida em três etapas: aplicação de questionário, aula teórico-prática e reaplicação do questionário. A atividade se inseriu como ensino ambiental informal e foi desenvolvida no pátio da escola, com todas as turmas juntas, contando com recurso audiovisual como auxiliar no processo de discussão do tema, e como motivador foram utilizadas imagens das condições ambientais do entorno da escola e atividade extraclasse, uma visita ao depósito dos resíduos sólidos urbanos do município de Olho d’água/PB, todas as estratégias utilizadas visavam estimular a curiosidade e senso crítico das turmas. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do Ministério da Saúde, sob o número: 63.961816.5.0000.5182.

O questionário utilizado continha 19 itens objetivos adaptados de DIRSU/UFU (2012) relativas à caracterização do comportamento do indivíduo frente ao meio ambiente. As questões 1 a 6 avaliaram os conhecimentos sobre problemática ambiental, origem dos alimentos fornecidos na merenda escolar e sobre conhecimentos ministrados sobre a temática ambiental. As questões 7 a 19 continham, cada, cinco alternativas, variando de discorda totalmente; discorda parcialmente; não concorda nem discorda; concorda parcialmente e concorda totalmente (Anexo A).

Primeira Etapa – Inicialmente aplicou-se o questionário sobre a percepção destes alunos quanto à sustentabilidade ambiental em suas vidas e na escola, antes da interferência educativa.

Na análise quali-quantitativa desta pesquisa, as respostas foram sistematizadas e representadas percentualmente em figuras e tabelas analisadas com base nos resultados de pesquisas semelhantes.

Segunda Etapa – Após a análise dos dados de percepção dos alunos, com ênfase nos pontos frágeis em sua concepção sobre o tema, foi desenvolvida uma atividade didática dialogada, para todos os alunos do Ensino Fundamental dos Anos Finais, contemplada com a exibição de vídeos sobre o problema do lixo, bem como questões sobre a poluição e degradação do meio ambiente, enfocando a área no entorno da escola, que apresenta um déficit de árvores e de resíduos sólidos jogados a céu aberto (Figura 3).

Figura 3 – Resíduos sólidos jogados a céu aberto na comunidade Distrito de Socorro, município de Olho d´Água-PB (2017).

Fonte: Sousa, 2017.

A atividade didática privilegiou a exposição dialogada, enfocando o problema, com emprego de figuras apresentando lixões e outros lugares degradados pela ação do homem, inclusive a situação do entorno da escola e também abordando a importância dos aterros sanitários, comparando-os mostrando as vantagens, as desvantagens de cada um e os problemas acarretados em sua saúde para incentivar a reflexão e discussão, os diálogos e os debates, propiciando oportunidades para que os alunos verbalizassem suas concepções, confrontando-as com as informações científicas, corrigindo-os, quando necessário, com relação aos conceitos inadequados sobre a sustentabilidade, previamente manifestados em suas respostas de percepção.

Para tornar a ação educativa mais consistente, foi desenvolvida uma ação extraclasse, opcional, para os alunos que quiseram participar, desde que tivessem autorização dos responsáveis. Foi realizada uma visita ao lixão da comunidade rural do Distrito de Socorro, com o objetivo de sensibiliza-los, mostrando que o mesmo não é a melhor forma de descarte do lixo e uma caminhada no entorno da escola destacando os problemas ambientais e a arborização.

Etapa 03 – Ao final da realização das atividades educativas e a visita ao lixão, foi aplicado o mesmo questionário avaliativo de sua percepção prévia sobre o tema, para verificar quais conhecimentos eles incorporaram, a partir das informações tratadas em sala de aula e visualizadas em campo. Foi utilizada a mesma metodologia para a análise quali-quantitativa das respostas.

No processamento das questões, foram analisadas as respostas similares e as que apresentaram mudanças após as atividades de sensibilização, representando-as em forma de figuras e tabelas. Os dados foram analisados usando a estatística descritiva.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi realizada com os alunos que tiveram a autorização do responsável, perfazendo 67,9% (n=57) dos matriculados no Ensino Fundamental dos Anos Finais. Os participantes foram formados por 56,1% (n=32) do gênero masculino e 43,9% (n=25) do gênero feminino, com idade variando entre 11 e 17 anos.

As respostas ao questionário antes da aula dialogada mostram que os alunos reconheceram os principais problemas ambientais presentes em comunidades pobres, que são sujeira nas ruas, esgoto a céu aberto e poluição dos mananciais hídricos, entretanto, mesmo em menor número, alguns relacionaram desemprego, violência e presença de fossa séptica. Após a referida aula, os três conceitos iniciais foram fixados em um número ainda maior de estudantes, mostrando a importância de tratar do tema em sala de aula (Figura 4).

Figura 4 – Respostas dos alunos ao questionamento “Quais destas situações podemos considerar um problema ambiental?”.

É de extrema importância que a compreensão das problemáticas ambientais que o mundo contemporâneo enfrenta, sejam promovidas em todas as instituições, inclusive nas escolas, debatendo a responsabilidade individual e a relevância da conduta coletiva na execução de uma cidadania responsável (MOÇO et al., 2016).

Para Jacobi (2003), há a necessidade de uma discussão mais incisiva sobre como mudar a maneira de pensar e agir da população com relação às questões ambientais. Além disso, o referido autor acredita que a reflexão sobre a multiplicidade ambiental compreende uma instigante oportunidade para surgimento de novos agentes sociais que, dentro de um processo educativo, se apropriem da natureza com uma visão sustentável.

Antes da aula dialogada, 42,1% dos alunos reconhecem que a solução para os problemas ambientais depende das pequenas ações de todos. Após a mesma, esse percentual sofreu uma pequena queda, passando para 41,2% e houve aumento considerável no número de alunos que não sabia de quem é a responsabilidade por essas soluções, passando de 1,8% antes para 11,8% depois da interferência (Figura 5). Esses percentuais evidenciaram que a atividade didática não modificou o perfil de resposta apresentado. Especificamente quanto a esta questão eles demonstraram maior confusão a respeito da pergunta. Avaliando-se as outras respostas não se verificou mudanças significativas no padrão de respostas.

Em contrapartida, Xavier, Silva e Almeida (2015) aplicando a mesma metodologia em relação ao problema dos resíduos sólidos, obtiveram mudanças significativas no entendimento dos participantes, evidenciando que a aplicação de aula expositiva dialogada surtiu efeito positivo no entendimento racional do tema.

O Art. 225 da Constituição Brasileira de 1988 disserta que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para o uso comum da população, essencial para uma boa qualidade de vida, estabelecendo que o poder público e a coletividade são responsáveis pela defesa e preservação do mesmo para as atuais e futuras gerações (BRASIL, 2015).

Figura 5 − Respostas dos alunos ao questionamento “Na sua opinião, a solução dos problemas ambientais depende de quem? ”.

Das pequenas ações de todos, no seu dia-a-dia (1), Das decisões dos governos e das grandes empresas (2), De todos, empresas, poder público e cidadãos (3) e Não sei (4).

Quanto à forma de se apresentar os temas relacionados ao meio ambiente, a Figura 5a mostra que os alunos sentiam a necessidade da ocorrência de eventos frequentes na escola que abordassem os assuntos ligados ao meio ambiente (45,2%), mas para 29,8% dos discentes é importante que esse tema seja debatido em todas as disciplinas. Após a aula (Figura 6b), eles perceberam a importância desse tema ser tratado de forma interdisciplinar no dia-a-dia da sala de aula (35,3%), sem abrir mão dos eventos fora da mesma (39,2%).

Figura 6 − Respostas dos alunos ao questionamento “Na sua opinião, como deveriam ser abordados os assuntos ligados ao Meio Ambiente aqui na escola? ”.

Em todas as disciplinas (1), Como uma disciplina (2), Em eventos e outros projetos acadêmicos (3) e Não sei (4).

Segundo Ayres e Bastos Filho (2007) e Mantovani (2006), os assuntos relacionados ao meio ambiente não podem ser tratados em apenas uma disciplina, pois são temas que têm natureza interdisciplinar, portanto devem fazer parte do currículo de todas as disciplinas, como também, das atividades extraclasse desenvolvidas na escola.

Os alunos mostraram-se preocupados com a quantidade e qualidade da arborização da comunidade onde a escola está inserida quando foram questionados. Antes de qualquer interferência, sobre quais ações ambientais poderiam ser implementadas pela escola, 49,1% responderam que a ação mais importante seria a plantação de árvores no Distrito de Socorro (Figura 7). Esse percentual passou para 62,7% após a sensibilização feita durante a aula dialogada, com apresentação de fotos da comunidade, principalmente no entorno da escola, em que ficou claro o déficit de árvores naquele local.

Figura 7 − Respostas dos alunos ao questionamento “Com relação à Educação Ambiental, quais ações sustentáveis você considera mais importantes para a E. M. Manoel Procópio implementar? ”.

Organização de eventos sobre temas ambientais (1), Plantação de árvores no Distrito de Socorro (2) e Existência de grupos voltados para discutir a temática sustentabilidade (3).

Nas duas respostas preponderantes (Figura 7), abre-se um importante canal a se desenvolver as ações de EA. Saito (2009) assevera que a educação ambiental deve ser problematizadora e desenvolver-se com base nos conflitos vividos pelas comunidades locais, para depois se expandir para os níveis mais abrangentes, nacionais e internacionais, numa perspectiva sistêmica.

Com relação à merenda escolar, os alunos demonstraram a sua preferência por alimentos produzidos na própria cozinha da escola, 57,9% dos estudantes apontaram esta como sua preferência antes da atividade, chegando a 62,7% após a mesma (Figura 8). É importante ressaltar que, depois desta atividade, a direção escolar, junto com a equipe que prepara a merenda investiram mais na produção de alimentos na própria cozinha da escola.

Figura 8 − Respostas dos alunos ao questionamento “Com relação à merenda da E. M. Manoel Procópio, você acha que a escola deveria dar preferência a:”.

Alimentos produzidos na própria cozinha (1), Alimentos industrializados (2), e Não sabe (3).

A preferência por alimentos naturais e/ou que sejam produzidos na própria cozinha da escola é o mais correto, pois segundo Almeida et al. (2013), alimentos industrializados apresentam uma grande quantidade de gorduras saturadas, sódio e outros componentes que apresentam algum risco a saúde, como também, contribuem com a geração de resíduos sólidos gerados no processo de industrialização.

Para diminuir o consumo de materiais relacionados ao funcionamento da escola, antes da aula dialogada, os alunos achavam importante a implantação de medidas como a utilização de material de limpeza sem químicos que agridam o meio ambiente (63,2%), a utilização da água da chuva para limpeza e irrigação um possível jardim e/ou horta que poderia ser implementada na escola (43,9%) e o uso de papel reciclado (42,1%), respectivamente. Após a aula houve uma mudança na prioridade, sendo o uso de papel reciclado a ação mais importante a ser implantada (60,8%), segundo os mesmos (Figura 9).

Segundo Brasil (2017), a cada tonelada de papel que é reutilizado e/ou reciclado, são economizados cerca 10 mil litros de água e evitado a derrubada de 17 árvores adultas, além de diminuir a quantidade de lixo que chega aos aterros sanitários, aumentando assim a sua vida útil.

A EA vem se tornando uma ferramenta indispensável para que se possa atingir o desenvolvimento sustentável, pois ela responsabiliza e demonstra o poder de cada indivíduo de modificar, para melhor, o ambiente o qual está inserido (JACOBI, 2003: SANTOS et al., 2017).

Figura 9 − Respostas dos alunos ao questionamento “Com relação ao consumo, quais ações sustentáveis você considera mais importantes para a E. M. Manoel Procópio implementar (escolha 2 opções)?”.

Uso do papel reciclado (1), Fazer rascunhos reutilizando o verso de papeis impressos (2), Utilizar a água da chuva para limpeza e irrigação dos jardins e hortas (3), Lâmpadas e equipamentos com baixo consumo de energia (4), Material da limpeza sem químicos que agridam o meio ambiente (5) e Outra ação (6).

Saito (2009) ressalta que, há uma crise socioambiental mundial que se conecta a uma crise socioambiental no Brasil e a EA deve pro-ativamente contribuir na resolução desta crise, entretanto sem se deter no discurso que nossa relação com o ambiente natural depende apenas de nosso nível de afetividade, de amor à natureza, mas desenvolver-se com senso crítico, entendendo que estes problemas que se interligam tem relação com o modelo de dominação em vigor.

Quanto ao posicionamento dos alunos, apresentado na Tabela 01, pode-se fazer as seguintes considerações:

Os discentes apresentaram o seguinte perfil, de acordo com suas respostas: Apresentaram interesse nas questões ambientais, sendo o maior percentual de concordância, acima de 90%; sentem-se responsáveis para proteger o meio ambiente (87,7 e 88,2%), que o espaço escolar é importante para tais discussões (84,2 e 72,5 %).

Reconhecendo a importância destes posicionamentos como sendo uma abertura para maiores intervenções, Silva e Calixto (2017) desenvolveram atividades transversais teórico-práticas em EA, dentro de uma visão crítica com adolescentes do ensino médio em situação de vulnerabilidade social. As atividades práticas ocorreram em áreas próximas a escola e cidades circunvizinhas explorando a crítica ao modelo vigente e as ações necessárias para se alcançar a sustentabilidade ambiental, com a finalidade de despertar a consciência da relação entre o sujeito e o meio ambiente. Atividades no entorno da escola, são muito utilizadas pela facilidade que se constitui a atividade, pois, principalmente em escolas públicas ou pequenas escolas particulares, são poucos os recursos para as atividades de educação ambiental.

Considerando que atuar em EA representa compromisso com um futuro menos crítico ambientalmente e, neste sentido, mais sustentável, Bolzan e Gracioli (2012), desenvolveram atividades numa escola rural do Rio Grande do Sul, junto a filhos de pequenos agricultores, envolvendo arborização e construção de pequenas hortas. Ao mesmo tempo em que desenvolviam as atividades, discutiam cada tema, inclusive, reaproveitando materiais para construção das hortas e a importância das espécies nativas. Por ser este um tema vivido pelos alunos eles se sentem naturalmente motivados, pois suas experiências são trazidas e trabalhadas em grupo.


Tabela 1 – Posicionamento dos alunos diante de algumas afirmações, dentro de cinco alternativas, variando de discordo totalmente ou parcialmente (DTP); não concordo não discordo (NCD) e concorda totalmente ou parcialmente (CTP), antes e depois da aula dialogada. Escola Municipal Manoel Procópio de Araújo. Distrito de Socorro, município de Olho d´Água-PB (2017).


Antes

Depois

Afirmações

DTP (%)

NCD (%)

CTP (%)

DTP (%)

NCD (%)

CTP (%)

01

Todos nós temos que ter interesse nos assuntos ambientais.

3,5

3,5

93,0

7,8

0,0

92,2

02

É tarefa de todos proteger o meio ambiente.

3,5

8,8

87,7

5,9

5,9

88,2

03

Posso proteger o meio ambiente economizando água e energia.

5,3

10,5

84,2

7,8

9,8

82,4

04

Devemos deixar a torneira aberta enquanto escovo os dentes.

80,7

5,3

14,0

72,5

11,8

15,7

05

É muito importante abordar a questão ambiental nas escolas.

8,8

7,0

84,2

13,7

13,7

72,5

06

Não devemos desligar as luzes e ventiladores ao sair da sala.

66,7

5,3

28,1

62,7

9,8

27,5

07

Devemos fechar a torneira de água da pia do banheiro quando a encontrarmos ligada.

3,5

3,5

93,0

5,9

5,9

88,2

08

Não devemos imprimir ou fazer cópia em frente-e-verso.

50,9

19,3

29,8

49,0

19,6

31,4

09

Devemos jogar lixo sempre nas lixeiras.

1,8

0,0

98,2

5,9

7,8

86,3

10

As áreas verdes e arborização do Distrito de Socorro devem ser aumentadas.

1,8

10,5

87,7

5,9

11,8

82,4

11

As áreas verdes e praças presentes no Distrito de Socorro devem ser utilizadas para estudo, convivência e/ou descanso.

7,0

7,0

86,0

13,7

17,6

68,6

12

A escola não é o lugar para aprender a conservar as florestas.

59,6

10,5

29,8

45,1

15,7

39,2

13

Aqui na região as matas estão diminuindo.

14,0

5,3

80,7

7,8

9,8

82,4

Quanto às áreas verdes, acima de 80% dos entrevistados concordam que o Distrito deve ter mais áreas verdes e que devem ser utilizadas para estudos, ambiente de lazer e descanso, aproximadamente o mesmo percentual reconhece que as matas estão diminuindo. Quanto ao ambiente escolar ser o espaço para aprender a conservar as florestas, os entrevistados na primeira entrevista, em torno de 60%, concordam que este é um ambiente de aprendizado, mas depois das atividades, este percentual caiu em seis por cento, exigindo que se retrabalhe esta questão. Sugerindo que reconheceram a importância de se estudar as florestas no seu ambiente natural e não no espaço fechado da sala de aula.

Quanto às pequenas atitudes pessoais eles se mostram receptivos a economizar água e energia (84,2 e 82,4%), desligar luzes e ventiladores, se for sair da sala; fechar a torneira na hora da escovação dos dentes, jogar lixo no lixo, neste último caso o número de entrevistados com dúvida, aumentou depois da atividade didática, o que não seria esperado. Quanto à imprimir frente e verso do papel, em torno da metade dos entrevistados acham que deve fazer isto. Quanto à deixar a torneira aberta quando escova os dentes, a porcentagem de alunos que discordaram total ou parcialmente foi de 80,7% antes, e depois da vivência, passou para 72,5%, provavelmente refletiram melhor sobre sua prática cotidiana. Uma das formas de se fixar essas ações seria criar um banner com as atitudes expressas por eles, discutir nas reuniões de pais e procurando manter a motivação para permanecerem com estas atitudes, inclusive acionar o apoio do Programa Saúde na Escola (PSE) do Ministério da Saúde.

4 CONCLUSÃO

Após aplicação da metodologia proposta e discussão dos resultados pode-se concluir que não houve grande diferença entre as respostas antes e depois da atividade didática, com exceção da compreensão que as áreas verdes podem ser uteis para atividades didáticas.

Na reflexão em torno de seus hábitos e da presença da sustentabilidade ambiental na sua escola, os alunos mostraram interesse no tema ambiental. Eles consideram que os maiores problemas ambientais que enfrentam é a sujeira nas ruas, esgoto a céu aberto, poluição do manancial hídrico e após a vivência, aumentou percentualmente o mal cheiro. Entretanto, os mesmos inseriram, em menor percentual, o desemprego, a violência e o uso de fossa séptica na categoria de problemas ambientais.

Os alunos entrevistados reconhecem que é importante discutir o tema meio ambiente, dentro e fora da sala de aula, incluindo o assunto florestas, especificamente. Quanto à arborização, eles reconhecem o aumento no desmatamento, que o município deve ter mais áreas verdes e se sentem corresponsáveis pelo cuidado com as áreas verdes.

Os entrevistados responderam que preferem alimentos produzidos na cozinha da escola, em relação aos industrializados; para a escola ter um perfil sustentável marcaram primordialmente três ações: material de limpeza com menos químicos nocivos à saúde e ao meio ambiente, uso de papel reciclado, utilizar água de chuva para irrigar hortaliças e jardins.

Fica evidente a necessidade de uma ênfase ainda maior sobre esse tema, pois a pesquisa mostra que em apenas um debate não é possível mudar a percepção e o comportamento destes pequenos cidadãos.

Seria interessante que nesta escola fosse inserida oficinas voltadas ao debate ambiental, como por exemplo: a implantação de uma horta, fazendo com que as crianças produzam parte do alimento que é servido na escola; oficinas de reutilização e reciclagem de materiais; e que fosse mais explorada a atividade extraclasse, mostrando os problemas da própria comunidade, auxiliando-os na tomada de consciência ambiental.

5 AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Joedla Lima, pelo suporte, apoio, compreensão e incentivo.

À comunidade escolar da Escola Manoel Procópio de Araújo, representada pela sua direção.

Ao corpo docente do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Educação Ambiental.

Ao Programa de Pós-graduação em Ecologia e Educação Ambiental, pela oportunidade.


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SANTOS, C. R.; SANTANA, T. C.; AZEVEDO, R. B. R.; PINHEIRO, P. S. L.; SILVA, S. N. Reciclagem de papel e o desenvolvimento de ações sustentáveis: uma parceria entre o Pibid Interdisciplinar em Educação Ambiental e a Com-VIda Escolar. Revbea, São Paulo. v. 12, n. 2, p. 114-126, 2017. Disponível em: <http://www.sbecotur.org.br/revbea/index.php/revbea/article/view/4972/3265>. Acesso em: 27de agosto de 2017.

SILVA, N. R.; CALIXTO, P. M. Educação ambiental na escola: valorizando o sujeito e o ambiente. Revista Thema, Pelotas/RS, v. 14, n. 2, p. 25-36, 2017. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.15536/thema.14.2017.25-36.402>. Acesso em: 26 de agosto de 2017.

XAVIER, A. L. S.; SILVA, E. ; ALMEIDA, E. P. O. Influência da educação ambiental na percepção de alunos do ensino público de Pombal. Espacios, Caracas, v. 37, n. 8, 2016. Disponível em: <http://www.revistaespacios.com/a16v37n08/163708e1.html>. Acesso em: 26 de agosto de 2017.



Anexo A – Questionário apresentado aos alunos da Escola Municipal Manoel Procópio de Araújo. Distrito de Socorro, município de Olho d´Água-PB (2017).

U NIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Aluno (a): Série:

Sexo: Masculino ( ); Feminino ( ).


Questionário Socioambiental


1 – Marque um X na respostas corretas:

Quais destas situações podemos considerar um problema ambiental?

( ) Desemprego ( ) Sujeira nas ruas ( ) Esgoto a céu aberto ( ) Presença de fossa séptica nas escolas ( ) Mal cheiro ( ) Violência ( ) Pobreza

( ) Desmatamento ( ) Águas dos açudes poluídas ( ) Animais soltos nas ruas

( ) Queimadas

2 – Na sua opinião, a solução dos problemas ambientais depende de quem?

( ) Das pequenas ações de todos, no seu dia-a-dia

( ) Das decisões dos governos e das grandes empresas

( ) De todos, empresas, poder público e cidadãos

( ) Não sei

3 – Na sua opinião, como deveriam ser abordados os assuntos ligados ao Meio Ambiente aqui na escola?

( ) Em todas as disciplinas ( ) Como uma disciplina

( ) Em eventos e outros projetos acadêmicos ( ) Não sei

4 – Com relação à Educação Ambiental, quais ações sustentáveis você considera mais importantes para a E. M. Manoel Procópio implementar?

( ) Organização de eventos sobre temas ambientais;

( ) Plantação de árvores no Distrito de Socorro;

( ) Existência de grupos voltados para discutir a temática sustentabilidade;

5 – Com relação à merenda da E. M. Manoel Procópio, você acha que a escola deveria dar preferência a:

( ) Alimentos produzidos na própria cozinha;

( ) Alimentos industrializados ;

( ) Não sabe.

6 – Com relação ao consumo, quais ações sustentáveis você considera mais importantes para a E. M. Manoel Procópio implementar (escolha 2 opções)?

( ) Uso do papel reciclado;

( ) Fazer rascunhos reutilizando o verso de papeis impressos;

( ) Utilizar a água da chuva para limpeza e irrigação dos jardins e hortas;

( ) Lâmpadas e equipamentos com baixo consumo de energia;

( ) Material da limpeza sem químicos que agridam o meio ambiente;

( ) Outra ação: Qual?

7 – Abaixo estão algumas afirmações onde vocês vão dizer se concordam ou se discordam.

1

Discorda totalmente

2

Discorda em parte

3

Não concorda nem discorda

4

Concorda em parte

5

Concorda totalmente


Ordem

Afirmações

1

2

3

4

5

01

Todos nós temos que ter interesse nos assuntos ambientais.

02

É tarefa de todos proteger o meio ambiente.

03

Posso proteger o meio ambiente economizando água e energia.

04

Devemos deixar a torneira aberta enquanto escovo os dentes.

05

É muito importante abordar a questão ambiental nas escolas.

06

Não devemos desligar as luzes e ventiladores ao sair da sala.

07

Devemos fechar a torneira de água da pia do banheiro quando a encontrarmos ligada.

08

Não devemos imprimir ou fazer cópia em frente-e-verso.

09

Devemos jogar lixo sempre nas lixeiras.

10

As áreas verdes e arborização do Distrito de Socorro devem ser aumentadas.

11

As áreas verdes e praças presentes no Distrito de Socorro devem ser utilizadas para estudo, convivência e/ou descanso.

12

A escola não é o lugar para aprender a conservar as florestas.

13

Aqui na região as matas estão diminuindo.