PERCEPÇÃO DOS ÍNDIOS DE UMA ALDEIA DA ETNIA TERENA SOBRE A BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO JOÃO DIAS, AQUIDAUANA, MATO GROSSO DO SUL: resgate da cultura por meio da educação ambiental.



Andrew Vinícius Cristaldo da Silva¹, Camila da Silva Freitas², Dhébora Albuquerque Dias², Marciany Cintra Gimenez², Marco Aurélio de Lara²

¹Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada, Universidade de São Paulo.

²Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.



Resumo: O presente trabalho tem por objetivo avaliar a percepção ambiental dos indígenas da etnia terena da aldeia Limão Verde, em relação ao seu uso e ocupação da bacia hidrográfica do córrego João Dias. A água é um dos elementos essenciais para a saúde humana, e sempre estudada e compreendida nos diversos ramos do conhecimento. Estudar e inserir a água à disponibilidade humana nos leva a alcançar ações tecnológicas, sociais, culturais e políticas, e isso nos faz refletir e lembrar em relação ao seu uso, manejo e gestão. Realizou-se o trabalho na aldeia localizada no município de Aquidauana, estado de Mato Grosso do Sul. Houve entrevistas semi-estruturadas, conversas e diálogos com os entrevistados, e entrevistas estruturadas. O córrego João Dias foi o objeto de estudo, uma vez que é o único corpo hídrico do local, fundamental para a sobrevivência dos indígenas. No total, 30 indígenas foram entrevistados, o que representa aproximadamente 3% da população da aldeia. O antigo índio da aldeia Limão Verde tenta conservar e repassar todas as culturas deixadas pelos seus descendentes, em contrapartida, o índio atual, parece estar incorporando a cultura do homem branco. Não atribuindo valor ao meio ambiente em que vivem. Deve haver a tentativa de resgate de tradições, seja por meio de Educação Ambiental, levando em consideração a reestruturação da cultura deste povo.

Palavras-Chaves: Córrego. Índios. Meio Ambiente. Percepção.



Abstract: The present work aims to evaluate the environmental perception of the indigenous people of the ethnic group terena of the village Limão Verde, in relation to your use and occupation of the hydrographic basin of the stream João Dias. Water is one of the essential elements for human health, and always be studied and understood in the different branches of knowledge. Study and enter the water availability for human in the it takes to achieve actions technological, social, cultural and political, and this makes us reflect and remember in relation to its use, handling and management. Reviewed the work in the village located in the municipality of Aquidauana, state of Mato Grosso do Sul. There were semi-structured interviews, conversations and dialogues with the respondents, and structured interviews. Stream João Dias has been the object of study, since it is the only water body of the site, critical to the survival of the indigenous peoples. In total, 30 indigenous people were interviewed, which represents approximately 3% of the population of the village. The old indian of the village Limão Verde attempts to conserve and pass on all of the cultures left by their descendants, in contrast, the indian current, seems to be incorporating the culture of the white man. Not assigning value to the environment in which they live. Should there be a rescue attempt of the traditions, whether by means of Environmental Education, taking into account the restructuring of the culture of this people.

Key Words: Stream. Indians. Environment. Perception.





Introdução

É fato considerar que a água é um dos elementos mais essenciais na saúde e vida humana (se não, o mais importante), sendo estudada, nos mais variados campos de conhecimentos, tais como física, química, biologia, história, higiene, saneamento, religião, medicina, nutrição e economia, dentre outras vertentes. Estudar e inserir a água à disponibilidade humana nos leva a alcançar ações tecnológicas, sociais, culturais e políticas, e isso nos faz refletir e lembrar em relação ao seu uso, manejo e gestão.

É universal na vida social, pois sem água não há vida e a humanidade não sobrevive sem ela. A busca por água e a tentativa de dominá-la e colocá-la a disposição do homem leva ao desencadeamento de processos políticos, sociais, tecnológicos e culturais (JUNIOR, 2006).

A bacia hidrográfica do córrego João Dias nasce no morro Santa Bárbara, situado na serra de Maracaju (FIGURA 1), em terras pertencentes à aldeia Limão Verde. Possui 28 km de extensão. No médio curso, percorre propriedades rurais, que exercem atividade agropecuária, e no baixo curso, atravessa o setor urbano da cidade de Aquidauana, onde se encontram instalados siderúrgicas, o cemitério, o aterro sanitário (CAPPI; BARROS; PEREIRA, 2012), enfim, percorrendo a área urbana da cidade, e desaguando no rio Aquidauana.

















Figura 1: vista aérea da Aldeia Indígena Limão Verde




No perímetro rural, observa-se a ausência da vegetação (FIGURA 2), enquanto em outras áreas, a vegetação é mantida em pequenos fragmentos, entretanto as atividades antrópicas já alteraram de forma contundente a vegetação (FINA; HAMERSKI; MOREIRA, 2012).


















Figura 2: ausência de vegetação ao redor do Córrego João Dias



A relação do índio com a natureza sempre foi relatada como harmoniosa e de respeito, no entanto, ao se adaptarem aos costumes dos outros povos (“homem branco”), os indígenas mudaram os seus próprios, como sua relação com a água (JUNQUEIRA, 2004). O respeito e todas as crenças em torno da água tem se perdido, pois, os jovens muitas vezes não querem aprender sobre sua própria cultura, preferindo as tecnologias que estão disponíveis a eles hoje em dia (AZANHA, 2005).

As águas do córrego João Dias são utilizadas para a dessedentação de animais, recreação e poucas vezes para a pesca. Entretanto, a falta de planejamento e gestão do recurso hídrico deixa-se a desejar, prejudicando o ecossistema aquático. É realizado também, projetos de educação ambiental, tendo a bacia hidrográfica do córrego João Dias como tema gerador de discussão. Derbocio et al. (2012) afirma que há necessidades de participação ativa da população em relação a educação ambiental, uma vez que, com tais práticas, torna-se mais fácil a compreensão e posterior preservação do córrego. Esse córrego, bem como os demais, sofre riscos ambientais graves devido a fortes ações antrópicas, tais como ausência de mata ciliar, assoreamento, ocupação do gado em áreas particulares e urbanização, De acordo com Barbosa (2011), as relações antrópicas dos indígenas com a paisagem natural são mais harmônicas que as relações praticadas pelo homem branco, mas também são visíveis as ações de impactos no córrego.



Metodologia

O Estado do Mato Grosso do Sul possui a segunda maior população indígena do Brasil, o que corresponde a 77.025 indígenas, perdendo apenas para a Amazônia, com uma população de 135.877 indígenas. O povo Terena, nas regiões de encontro entre o Cerrado e Pantanal, nas cidades de Aquidauana, Anastácio, Campo Grande, Miranda, Rochedo, Sidrolândia, Dois Irmãos do Buriti e Nioaque. Aquidauana abriga em seu território uma população de 6.058 indígenas (FUNASA, 2007), que corresponde a 15% da população total.

Considerando os objetivos propostos, adotou-se como principal método de pesquisa a entrevista, utilizando como ferramenta de avaliação o uso de questionários. Elencando a entrevista com o saber do povo indígena, têm-se então bases sólidas de resultados de conhecimentos em relação à cultura e meio ambiente de um povo.

Foram feitas entrevistas semi-estruturadas, conversas e diálogos com os entrevistados, e entrevistas estruturadas, onde se colocou uma série de questões que abrangem diversos temas em relação aos recursos hídricos. O córrego João Dias foi o objeto de estudo, uma vez que é o único corpo hídrico do local, fundamental para a sobrevivência dos indígenas, que necessita ter estudos aprofundados e onde o índio utiliza-o para diversos fins, transcorridos nesta pesquisa. No total, 30 indígenas foram entrevistados, o que representa aproximadamente 3% da população da aldeia.



Resultados e Discussão

As escolas da aldeia Limão Verde realizam projetos de educação ambiental, voltados para a preservação do córrego João Dias, entretanto devem-se realizar projetos de educação ambiental para a sociedade em geral, assim, alcançar-se-ia melhores resultados em relação à preservação do meio ambiente.

O córrego João Dias é o único corpo hídrico da aldeia Limão Verde. É de fundamental importância para os indígenas. De acordo com a pesquisa, a maioria dos entrevistados utiliza o córrego para alguma finalidade. Em relação ao uso e ocupação do solo, nota-se que este apresenta diversos problemas, onde é visível, aos redores do córrego, extrema falta de mata ciliar, e grande número de plantações feitas pelos indígenas. A pesca já não existe mais, uma vez que a corrente de água do córrego é insuficiente para a permanência de peixes. Os mais jovens gostam de tomar banho na nascente do córrego, os mais antigos lavam roupa no local (FIGURA 3).






















Figura 3: Nascente do córrego João Dias. Fonte: CARDOSO, 2016.


Ao serem questionados sobre quem eles acreditam que deve cuidar do córrego, a grande maioria respondeu que apenas os moradores da aldeia devem fazer isso. Outros responderam que o governo tem essa obrigação, uma vez que acreditam no poder do governo em verificar problemas na aldeia, e uma pequena parte disse que isso é de responsabilidade de todos. Do total de entrevistados, 100% se sentem responsáveis pela limpeza e preservação da nascente do córrego João Dias. Entretanto, o fato de se sentirem responsáveis não significa que isso ocorre. Do total de entrevistados, 70% acreditam que a comunidade está pouco preocupada com a proteção do córrego, enquanto que 20% acreditam que a comunidade não está preocupada e apenas 10% (o que representa alguns idosos) diz ter maior preocupação com o córrego. O índio Terena tem o conhecimento de que se sente responsável em preservar o seu ambiente, mas ao mesmo tempo entendem que existe pouca preocupação dos entrevistados, 50% acreditam que o córrego será destruído pelo mau uso. Escolheram essa alternativa, indígenas das diferentes idades e níveis escolares. Diante disso, pode-se afirmar que os índios têm a consciência de que, se não haver preservação dos recursos naturais, brevemente haverá destruição total do seu meio ambiente. Entretanto é difícil a mobilização e sensibilização ambiental, por parte dos moradores da aldeia.

Os índios com mais de 30 anos perceberam grandes mudanças no córrego João Dias. É visível que o efeito da urbanização e a expansão agrícola são um dos principais fatores antrópicos que geram impacto no córrego João Dias. De acordo com Cappi (2012), a diversidade de uso dos solos da bacia pode comprometer a quantidade e a qualidade de suas águas. A mata ciliar, em inumeráveis lugares foi substituída por pastagem para gado, ou retirada para facilitar o acesso da água para o gado, contribuindo para o desequilíbrio e mudança do recurso hídrico.



Conclusões



O presente trabalho teve como finalidade discutir a importância do recurso hídrico para o indígena da aldeia Limão Verde. O antigo índio da aldeia Limão Verde tenta conservar e repassar todas as culturas deixadas pelos seus descendentes, tais como a preservação do Cerrado e Pantanal, o uso dos recursos naturais corretamente, sem agredir o ambiente, em contrapartida, o índio atual, mencionado no trabalho como o índio contemporâneo, parece estar incorporando a cultura do homem branco. A água é, e sempre será, fundamental para os indígenas, entretanto, deve-se haver sensibilização ambiental por parte dos índios modernos. Tais transformações e mudanças ocorridas na bacia hidrográfica do córrego João Dias, é visto, pela maioria dos indígenas mais velhos, como culpa dos mais novos, ou como uma causa natural. Os indígenas mais jovens têm o conhecimento em relação à degradação do recurso hídrico, entretanto deve-se haver a tentativa de resgate de tradições, seja por meio de Educação Ambiental formal e ou informal, levando em consideração a reestruturação da cultura deste povo, sem prejudicar, ou até mesmo retardar a sua economia, seu modo de vida, em geral.



Agradecimentos

Agradecemos os índios da Aldeia Limão Verde, em Aquidauana, estado de Mato Grosso do Sul pelo auxílio na pesquisa.



Referências Bibliográficas



AZANHA, G. As terras indígenas Terena no Mato Grosso do Sul. Revista de Estudos e Pesquisas, v.2, n.1, p.61-111, 2005.

BARBOSA, E. H. B e BACANI, V. M. Avaliação paramétrica de terreno e o uso da terra e cobertura vegetal da bacia do Córrego João Dias, Aquidauana, MS. Anais. Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto – SBSR, Curitiba-PR, 2001. P. 1208.

BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Diretrizes de educação em saúde visando à promoção da saúde: documento base - documento I/Fundação Nacional de Saúde - Brasília: Funasa, 2007. 70 p.

CAPPI, N; BARROS, A. PEREIRA, R. H. G. Qualidade química e sanitária das águas do córrego João Dias, Aquidauana, MS. A bacia hidrográfica do córrego João Dias: análise ambiental integrada – Campo Grande, MS. Ed.: UFMS, 2012. 205 p.

DERBOCIO, A. M. et al. A percepção ambiental da comunidade do bairro Nova Aquidauana, Aquidauana, MS, como ferramenta para despertar a educação ambiental. A bacia hidrográfica do córrego João Dias: análise ambiental integrada – Campo Grande, MS. Ed.: UFMS, 2012. 205 p.

FINA, B.G; HAMERSKI, A. MOREIRA, P. A. Estudo florístico em fragmento de mata de galeria ao longo do córrego João Dias. A bacia hidrográfica do córrego João Dias: análise ambiental integrada – Campo Grande, MS. Ed.: UFMS, 2012. 205 p.

FORTES JUNIOR, H. F. S. Poéticas líquidas: a água na arte contemporânea. 2006. Tese (Doutorado em Artes Plásticas) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: . Acesso em: 11.06.2013.

JUNQUEIRA, C. Dinâmica cultural. Revista de Estudos e Pesquisas, v.1, n.1, p.205-239, 2004.