O ENSINO DA BIOLOGIA A PARTIR DE PRÁTICAS LABORATORIAIS

Elias Fernandes de Medeiros Júnior¹; Maria José Lopes da Silva¹

¹ Engenheiro de Pesca. Mestre em Aquicultura e Recursos Aquáticos Tropicais. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas-Campus São Gabriel da Cachoeira-AM. Email: elias.aqrat@gmail.com.

¹ Licenciada em História pela Universidade Federal do Pará-Campus Bragança. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas-Campus São Gabriel da Cachoeira-AM. Email: maryufpa2011@gmail.com

RESUMO

O presente relato de experiência é resultante do projeto ‘’ O ensino da Biologia sem fronteiras’’ desenvolvido no Instituto Federal do Amazonas-Campus São Gabriel da Cachoeira com a participação dos alunos dos cursos técnicos integrado em informática, administração e agropecuária e de uma aluna do curso subsequente em secretaria escolar que atuou como monitora. O trabalho teve como objetivo contribuir para o aprendizado dos alunos em relação a compreensão dos assuntos relacionados a disciplina de Biologia a partir de aulas práticas realizadas nos laboratórios de Biologia e Piscicultura. Entre os principais resultados destacamos que o rendimento escolar dos alunos encontra-se acima de 70% de aprovação na disciplina de Biologia, que 100% deles gostam da matéria, 80% já tiveram aulas no laboratório, 60% deles já haviam manipulado ou tido contato com o microscópio, 70% sabem o que são microrganismos e 60% ainda não haviam visualizado os microrganismos no microscópio e 100% deles disseram que as aulas de Biologia ficariam ainda mais interessante se houvesse mais aulas no laboratório. Durante as práticas realizadas no laboratório os alunos puderam visualizar microrganismos do reino protista e também acompanharam o desenvolvimento larval de curimatã (Prochilodus lineatus) uma espécie de peixe de ocorrência regional e que faz parte da dieta regional. Com esse projeto podemos verificar que as práticas de laboratório são de suma importância para o aprendizado dos alunos e que contribuem de forma significativa para sua formação profissional.

Palavras chave: Biologia. Educação. Microrganismos.

Introdução

A definição conceitual de Biologia refere-se a ciência que estuda a vida, reconhecida oficialmente como ciência na transição entre os séculos 18 e 19, a Biologia se apresenta bastante ampla, já que não estuda somente os indivíduos e espécies isoladamente, mas também sua origem, evolução, constituição, aspectos comportamentais, a forma com que se relacionam entre indivíduos da mesma espécie e de espécies diferentes, a interação entre os seres vivos e o ambiente, como funcionam seus organismos, dentre diversos outros aspectos (SÁ LIMA, 2017).

As atividades práticas tornam-se métodos de ensino capazes de despertar o interesse do educando, além de propiciar o senso crítico, preparando-os para atuarem de forma consciente no meio social. Sabe se que a educação passa e deve passar por um processo de operacionalização contínuo de atualização, revisão e acima de tudo por uma busca por formas diferenciadas onde o objetivo final seja a compreensão dos conteúdos que se queiram transmitir (SOARES & BAIOTTO, 2015).

Atualmente, as aulas práticas de laboratório vêm sendo utilizadas (ainda que de forma tímida) como complemento para ajudar na compreensão das aulas teóricas e para gerar nos alunos um entendimento mais abrangente dos conteúdos. As atividades práticas que não se limitam a ter um formato roteiro de instruções, com o qual os alunos chegam a uma resposta esperada, podem contribuir para o desenvolvimento de habilidades importantes no processo de formação do pensamento científico e auxiliar na fuga do modelo tradicional de ensino, em que o aluno é um mero expectador e não participa no processo de construção do seu conhecimento (LIMA & GARCIA, 2011).

KRASILCHIK (2008) argumenta que as aulas práticas são pouco difundidas, pela falta de tempo para preparar material e também a falta de segurança em controlar os alunos. Mas que, apesar de tudo reconhece que o entusiasmo, o interesse e o envolvimento dos alunos compensam qualquer professor pelo esforço e pela sobrecarga de trabalho que possa resultar das aulas práticas.

As atividades práticas são uma forma de trabalho do professor, e querer utilizá-las, ou não, é um decisão pedagógica que não depende apenas do docente, seu preparo ou condições dadas pela escola. Os professores, ao decidirem como desenvolver, suas aulas, realizam julgamentos pessoais sobre como devem agir, avaliando crenças, valores e conhecimentos adquiridos na formação e no exercício profissional. Se o professor valoriza as atividades práticas e acredita que elas são determinantes para a aprendizagem de ciências, possivelmente buscará meios de desenvolvê-las na escola e de superar eventuais obstáculos (ANDRADE & MASSABNI, 2011).

O presente trabalho teve como objetivo realizar aulas práticas nos laboratórios de Biologia e Piscicultura com o propósito de contribuir para o aprendizado do aluno em relação a compreensão dos assuntos relacionados a disciplina de Biologia.

Desenvolvimento

O trabalho foi realizado no IFAM-Campus São Gabriel da Cachoeira-AM, foram selecionados alunos dos cursos técnicos de informática, administração e agropecuária para participarem do projeto intitulado ‘’ O Ensino da Biologia sem Fronteiras’’, também foi selecionado uma aluna do curso técnico de secretaria escolar para atuar como monitora das atividades que foram desenvolvidas durante o projeto. Inicialmente foi verificado o rendimento dos alunos na disciplina de Biologia para a partir daí traçar atividades práticas que poderiam auxiliá-los na compreensão dos assuntos ministrados pelos professores. Para sabermos a opinião dos alunos sobre os tópicos relacionados ao ensino da Biologia foi aplicado um questionário com cinco perguntas objetivas e uma subjetiva (Tabela 1).

Tabela 1. Questões propostas aos alunos antes das práticas laboratoriais.

1. Você gosta da disciplina de Biologia?

 

 

 

2. Você já teve aulas no laboratório de Biologia?



3. Você já teve contato com o microscópio?



4. Você sabe o que são microrganismos?




5. Você já visualizou microrganismo no microscópio?


6. Na sua opinião como as aulas de Biologia poderiam ficar mais interessantes?



Como prática laboratorial optamos por ensinar os alunos a manipular o microscópio, suas principais funções e funcionalidades. Para que os alunos tivessem contato com o ‘’mundo’’ dos microrganismos, realizamos o cultivo de microrganismos pertencentes ao reino protista (Figura 1). Nessa prática utilizamos uma garrafa pet envolvida em filme plástico da cor preta, folhas de alface verde e água natural. A solução obtida ficou em repouso por cinco dias. Passado esse período ela foi aberta e uma alíquota foi coletada e inserida em uma placa de Petri para observação dos microrganismos presentes na amostra.

Figura 1. Alunos utilizando o microscópio para visualização de microrganismos.

No laboratório de Piscicultura e Reprodução de Peixes da instituição os alunos acompanharem o desenvolvimento larval do curimatã (Prochilodus lineatus) uma espécie de peixe que ocorre nos rios da região e que faz parte das dietas das populações locais. O projeto possibilitou aos alunos uma visão mais abrangente sobre o universo no qual a Biologia encontra-se inserida, pois a associação entre teoria e prática é uma combinação perfeita para a consolidação do conteúdo vivenciado em sala de aula. A contextualização do ensino da Biologia a partir de um contexto regional permite aos discentes terem uma melhor compreensão da própria realidade.

As informações referentes ao desempenho dos alunos na disciplina de Biologia permitiram verificar que mais de 70% dos alunos selecionados estavam com o rendimento escolar acima da média isso demostra que os alunos têm interesse e gostam da disciplina de Biologia. Os alunos participaram das atividades desenvolvidas nos laboratórios mostrando interesse. Nas aulas práticas em laboratório os alunos tiveram contato com o mundo microscópio no qual os seres vivos estão inseridos conseguindo visualizarem seres vivos pertencentes ao reino protista como os paramécios. Também visualizaram o desenvolvimento larval do curimatã, observando o coração, os ocelos, a formação das nadadeiras, da coluna vertebral entre outras estruturas ontogenéticas.

Verificamos que 100% dos alunos gostam da disciplina de Biologia, 80% já tiveram aulas no laboratório, 60% deles já haviam manipulado ou tido contato com o microscópio, 70% sabem o que são microrganismos e 60% ainda não haviam visualizado os microrganismos no microscópio e 100% deles disseram que as aulas de biologia ficariam ainda mais interessante se houvesse mais aulas no laboratório. Berleze & Andrade (2013) discutem que a experimentação desperta um forte interesse nos alunos, que se deixam motivar para o aprendizado da disciplina de biologia, desmitificando esta em ser uma disciplina que possui infinidade de termos complexos e de difícil memorização.

O trabalho de Seniciato & Cavassan (2004) apontou que as aulas de Biologia desenvolvidas em ambientes naturas têm sido apontadas como uma metodologia eficaz tanto por envolverem e motivarem crianças e jovens nas atividades educativas, quanto por constituírem um instrumento de superação da fragmentação do conhecimento. Malafaia, Bárbara e Rodrigues (2010) verificaram que a área de maior interesse relacionada a Biologia por parte dos alunos, foi as áreas de saúde, genética e anatomia humana.

Para Soares & Baiotto (2015) é preciso que os professores desenvolvam aulas diferenciadas, permitindo aos alunos se interessarem pelos conteúdos, despertando a curiosidade, o senso crítico e investigativo, pois, através desta, podem entender e elaborar novos conceitos, aliando o que é ensinado com o que é evidenciado no dia a dia. O papel do professor não é apenas o de transmitir informações, mas de criar condições para que os alunos aprendam num ambiente de compromisso, em que os alunos vão para a sala de aula por puro interesse e não por obrigação (PRIGOL & GIANNOTTI, 2008).

Conclusão

As aulas práticas realizadas no laboratório de biologia e na piscicultura contribuíram para o aprendizado dos alunos, pois permitiu a eles conhecer um pouco mais do mundo microscópico no qual os microrganismos estão inseridos associado o conteúdo ministrado em sala de aula com as informações obtidas no laboratório.

REFERÊNCIAS

Andrade, M. L. F.; Massabni, V. G. O desenvolvimento de atividades práticas na escola: um desafio para os professores de ciências. Ciência e Educação, v. 17, n.4, p. 835-854, 2011.

Berleze, J. E.; Andrade, M. A. B. O uso de aulas práticas no ensino da biologia. In. Desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE, 2013.

KRASILCHIK, M. Prática de ensino de Biologia. São Paulo: Edusp, 2008.

Lima, D. B.; Garcia, R. N. Uma investigação sobre a importância das aulas práticas de Biologia no ensino médio. Cadernos do Aplicação, Porto Alegre, v 24, n.1, jan/jun, 2011.

Malafaia, G.; Bárbara, V. F.; Rodrigues, A. S. L. Análise das concepções e opiniões de discentes sobre o ensino da biologia. Revista Eletrônica de Educação, v.4, n.2, nov, 2010.

PRIGOL, S.; GIANNOTTI, S. M. A importância da utilização de práticas no processo de ensino aprendizagem de ciências naturais enfocando a morfologia da flor. 1º Simpósio Nacional de Educação XX Semana Pedagógica, 2008.

Sá Lima, M. A. C. Biologia. Disponível em: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/. Acessado em 17 de agosto de 2017, as 10:11 horas.

Seniciato, T.; Cavassan, O. Aulas de campo em ambientes naturais e aprendizagem em ciências- Um estudo com alunos do ensino fundamental. Ciência e Educação, v. 10, n.1, p. 133-147, 2004.

Soares, R. M.; Baiotto, C. R. Aulas práticas de Biologia: suas aplicações e o contraponto desta prática. Revista Dialogus, v. 4, n.2, 2015.