SABERES FITOTERÁPICOS NA COMUNIDADE DE REMANESCENTES DE QUILOMBO DE PEDRAS NEGRAS- SÃO FRANCISCO DO GUAPORÉ – RONDÔNIA – BRASIL


Alexandre Zandonadi Meneguelli1

Sylviane Beck Ribeiro2

Gilmar Alves Lima Júnior3

Adriane Pesovento4

Eduardo de Almeida Spirotto5


1Doutorando em Biotecnologia pela Universidade Católica Dom Bosco- UCDB. Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Rondônia, campus Rolim de Moura. Especialista em Zoologia, Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal –FACIMED. Graduado em Ciências Biológicas Licenciatura pelo Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná – CEULJI/ULBRA.

2 Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Rondônia, campus Rolim de Moura.

3 Doutorando em Botânica. Mestre em Botânica. Graduado em Biologia. Professor do Instituto Federal de Rondônia, campus de Ji-Paraná.

4 Doutora em Educação. Professora do Departamento de História da Universidade Federal de Rondônia, campus Rolim de Moura.

5 Graduado em Engenharia Florestal.


RESUMO: O objetivo deste trabalho foi diagnosticar as principais propriedades terapêuticas das plantas medicinais na comunidade de remanescentes de quilombo de Pedras Negras no município de São Francisco do Guaporé estado de Rondônia. A espacialidade estudada justifica-se tendo em vista a singularidade de uma comunidade que produz e reproduz saberes ancestrais e convive de modo harmonioso com o meio, encontrando nele meios de subsistência, e também, de cura. O estudo foi desenvolvido no período de julho a dezembro do ano de 2014, com 17 informantes faixa etária entre 18 e 86 anos de idade. Para realizar o estudo, adotou-se como instrumento para a coleta de informações os entrevistas e questionários com questões abertas e fechadas. As informações foram analisadas e transformadas em dados. Optou-se por seguir o fator de consenso do informante (FCI) proposto por Trotter e Logan (1986). No total foram citadas 110 espécies de uso terapêutico, destacando a Dimorphandra gardineira (faveira) atribuída a ela nove propriedades terapêuticas pelos informantes e Alternanthera brasiliana (terramicina) com total de uso em seis sistemas corporais.


Palavras-chave: Plantas medicinais. Comunidades tradicionais. Amazônia.

 

HERBAL KNOWLEDGE IN REMAINING QUILOMBOS COMMUITIES IN PEDRAS NEGRAS, SÃO FRANCISCO DO GUAPORÉ- RONDÔNIA- BRAZIL


ABSTRACT:The objective of this study was to diagnose the main therapeutic properties of medicinal plants in the Pedras Negras Quilombo Community  in São Francisco do Guaporé, state of Rondônia. The spatiality studied is justified given the singularity of a community that produces and reproduces ancestral knowledge and coexists harmoniously with the environment, finding on it means of subsistence and also of healing. The study was carried out in the period from July to December 2014 eighteen and eighty-six years old. The study used interviews and questionnaires with open and closed questions as a tool for collecting information. The informations were analyzed and transformed into data. It was decided to follow the informant consensus factor (ICF) proposed by Trotter and Logan (1986). In total 110 species were cited for therapeutic use, highlighting the Dimorphandra gardineira (field bean) and assigned to it nine therapeutic properties by informants and Alternanthera brasiliana(Terramycin) with total of use in six body systems.

 

 

Keywords: Medicinal Plants. Traditional Communities. Amazon.




1 INTRODUÇÃO


Em se tratando de biodiversidade, a Amazônia é caracterizada por ter uma das maiores do mundo, devido a sua espacialidade, com ampla fauna e flora a ser investigada e cuidada de forma sustentável. Muitas espécies vegetais com finalidades fitoterápicas desse ecossistema ainda são desconhecidas pelo mundo cientifico, todavia, amplamente utilizadas de forma ancestral pelos habitantes que vivem as margens do suntuoso rio Guaporé. No entanto ainda são necessárias novas pesquisas em Ciências Ambientais que corroborem para a ampliação desses saberes em meio acadêmico.

Numerosas situações marcaram a trajetória da arte de curar, porém, torna-se difícil delimitá-las com exatidão, já que a medicina esteve por muito tempo associada a práticas mágicas, místicas e ritualísticas, cabe notar que entre muitos povos não ocidentalizados (indígenas, remanescentes quilombolas, entre outros) não há uma dissociação entre corpo e mente, ou seja, a prerrogativa cartesiana de separação do sujeito e o objeto, corpo e alma, para mencionar a perspectiva cristã ocidental, não encontra correspondência entre muitos grupos humanos.

Assim, ao estudar os usos das plantas medicinais entre povos considerados “tradicionais” deve-se levar em conta uma cosmologia própria de existência, que está além da propriedade química ou farmacológica observada pela ciência moderna.

Os usos que cada comunidade faz destas plantas são próprios ao povo, ao seu meio e aquilo que a natureza lhes oferece. Não significa dizer que ao imbricar, corpo e mente nos usos adotados, deixem de existir conhecimentos botânicos, pelo contrário, é na congruência desses elementos culturais que se verifica uma simbiose entre pessoas e ambiente.

Entre alguns povos, a flora, assim como a fauna, são compreendidas como elementos sagrados, não havendo, portanto, um modelo dissociativo entre homem e natureza. Isso não significa dizer que o estado de natureza se faça presente, mas que a filosofia dessas populações não separa o que a medicina convencional (alopatia) costuma denominar separação sujeito-objeto ou ciência e meio ambiente.

Consideradas ou não seres espirituais, as plantas, por suas propriedades (terapêuticas ou tóxicas), adquiriram fundamental importância na medicina popular entre diversas culturas (MARTINS et al., 2003).

As relações ecológicas entre a espécie humana e as plantas são tão antigas quanto à própria origem da humanidade, onde a utilização dos recursos naturais torna-se necessário para garantir a sobrevivência no ambiente. Ao longo de toda história cultural, foram desenvolvidas diferentes formas de conhecimento e de pesquisas dos recursos, o que contribuiu para a configuração tanto dos ambientes, quanto da cultura dos diversos povos que habitaram e ainda habitam em diferentes locais (GANDOLFO, 2010).

No Brasil, as primeiras referências sobre as plantas medicinais são atribuídas ao padre José de Anchieta e a outros jesuítas que aqui viveram durante os tempos coloniais e souberam valer-se dos saberes botânicos para tornar a existência dos europeus na América menos nociva, frente às patologias que enfrentavam (LAMEIRA; PINTO, 2008).

As populações indígenas faziam uso das plantas, e mesmo com o processo de redução populacional desses povos, eles passaram muitas informações acerca do uso das plantas para fins medicinais, que certamente foram transmitidas aos imigrantes europeus e aos negros escravizados (LAMEIRA; PINTO, 2008), ressalta-se que também foram transmigrados saberes africanos para a América, em especial para o Brasil. As sementes e mudas de plantas viajavam com os africanos e em terras americanas ganharam espaço e usos praticados e refeitos a luz da dinâmica cultura que aos poucos ia se construindo no Novo Mundo.

Até meados do século XX, o Brasil era um país essencialmente rural, com amplo uso da flora medicinal, tanto a nativa quanto espécies introduzidas de outros países pelo processo de imigração populacional (HARRI; MATOS, 2002).

Muito desse conhecimento perdido ao longo do tempo, seja pela redução da taxa populacional de alguns povos, pela introdução de novos hábitos nas sociedades que sempre privilegiam os produtos que tem origem em outras regiões com maior facilidade de acesso aos serviços da medicina moderna (AMOROZO, 2002).

Amorozo (1996) relata em seus estudos que a transmissão oral de conhecimento está relacionada ao convívio direto das pessoas mais jovens com os mais velhos, pertencentes a uma comunidade, o que requer um contato familiar intenso e transmissão do conhecimento prolongado entre diferentes gerações.

No Brasil, a dimensão da importância de pesquisas etnobotânicas é dada pela sua alta diversidade cultural e biológica, as quais se encontram interligadas, sendo, o país, signatário de diversidade em múltiplos aspectos. No que concerne ao bioma, independente da região, detém cerca de 20% de todas as espécies de plantas descritas no mundo. Estas são fontes de recursos materiais, genéticos, simbólicos e econômicos para subsistência e reprodução sociocultural desses povos e comunidades (ALBUQUERQUE; LUCENA, 2004).

As plantas medicinais são hoje consideradas parte estratégica para o fortalecimento da agricultura familiar, geração de emprego e renda, uso sustentável da biodiversidade brasileira, avanço tecnológico e para a melhoria da atenção à saúde da população brasileira. Sendo que os produtores rurais que pertencem à agricultura familiar agroecológica, remanescentes de quilombolas, indígenas e extrativistas, poderiam ter maiores incentivos governamentais para a inserção dessas práticas em suas propriedades, através da assistência técnica e a criação de novas linhas de créditos para fomento da produção (BRASIL, 2006).

Compreender o conhecimento fitoterápico tradicional utilizado pelos moradores da comunidade de remanescentes de quilombolas de Pedras Negras, São Francisco do Guaporé no estado de Rondônia pode ampliar os usos de tal medicina ao mesmo tempo que produz conhecimento cientifico tomando por base os saberes tidos como tradicionais.


2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Caracterizações da área de estudo na comunidade de remanescentes de quilombo de Pedras Negras

Criada Através do Decreto N.º 6954, DE 14 DE JULHO DE 1995, D.O.E/RO de 19/07/1995 nos Municípios de Costa Marques e Alta Floresta, Estado de Rondônia, a Reserva Estadual Extrativista Pedras Negras com área de 124.408,9756 ha (Cento e vinte e quatro mil, quatrocentos e oito hectares e noventa e sete ares e cinquenta e seis centiares), e após a criação do município de São Francisco do Guaporé a mesma passou a pertencer a esta municipalidade no Estado de Rondônia, reserva esta que passou a integrar a estrutura do Instituto de Terras e Colonização do Estado de Rondônia - ITERON, como espaço territorial destinado à exploração autossustentável e a conservação dos recursos naturais renováveis, por população agroextrativista (RONDÔNIA, 1995).

Segundo Teixeira (2013), o povoado de Pedras Negras, é um dos mais antigos núcleos de ocupação colonial o Vale do Guaporé, tendo-se registros da presença de europeus desde a primeira metade do século XVIII. Após a fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade, 1752, por Dom Antônio Rolim de Moura, o sítio das Pedras viria a ser um ponto de instalação de um destacamento militar e, posteriormente, posto alfandegário.

A região de Pedras Negras é habitada por negros egressos da escravidão, proveniente de Vila Bela da Santíssima Trindade. Com o advento da borracha e a consolidação de economias extrativistas paralelas como a poaia e a castanha, Pedras Negras prosperou e tornou-se um ponto de referência na produção regional.

De acordo com informações da Fundação Cultural Palmares no ano de 2004 iniciou-se o procedimento de auto reconhecimento da comunidade como população remanescente de quilombos, ao mesmo tempo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA foi obrigado a iniciar a demarcação territorial, sendo que a mesma ainda se encontra em processo de tramitação.

Figura 1. Localização da comunidade de remanescentes de quilombo de Pedras Negras, São Francisco do Guaporé, Rondônia, Brasil


2.2 População de estudo

A pesquisa foi realizada, no período de julho a dezembro de 2014, na comunidade de remanescentes de quilombo de Pedras Negras, a qual possui como característica ancestral, relacionadas pela formação da região por negros escravizados que formaram várias comunidades no Vale do Guaporé. A comunidade e formada por 31 famílias com um grupo populacional de 131 moradores.


2.3 Levantamento etnobotânico

O primeiro contato com a comunidade de remanescentes de quilombo de Pedras Negras foi no mês de maio de 2014 e apresentado o projeto ao Chefe da Divisão Administrativa da Comunidade, abordando os principais objetivos na área de estudo, em seguida realizou-se visitas às residências dos moradores da comunidade de remanescentes de quilombolas de Pedras Negras.

Essa pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade Federal de Rondônia-UNIR com número de parecer 770.700 de 06 de junho de 2014.

No momento em que foi apresentado o projeto de pesquisa a cada família, visando garantir a participação livre e de forma voluntária, caso houvesse consenso em participar foi solicitado ao informante à assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

As informações coletadas durante a pesquisa obedeceram algumas etapas, tais como:

a) Contato com os moradores da comunidade;

b) Realização da entrevista com roteiro semi-estruturado;

c) Realização da entrevista com uso de gravador;

d) Observação participativa (escola, posto de saúde, residências, igreja, festividades e espaços de lazeres);

e) Locais percorridos juntos aos informantes da pesquisa (margens do Rio Guaporé, área de vegetação e quintais dos moradores);

f) Coleta de material botânico e registros fotográficos.

A metodologia utilizada para a coleta de dados, foi entrevistas semi-estruturadas, visando coletar informações relacionadas à utilização e os saberes de plantas medicinais. As entrevistas foram feitas na residência dos informantes e outras localidades como posto de saúde, área de lazer. O local era sempre determinado pelo informante, afim de não interromper seus afazeres diários e também por ser o local onde o mesmo se sentiria mais a vontade para responder as perguntas. E em seguida foi realizado registros fotográficos e coleta do material botânico.


2.4 Análise estatística dos dados

Para identificar os sistemas corporais (categorias de doenças) que apresentam maior importância, foi utilizada a técnica proposta e adaptada de Trotter e Logan (1986). Fator de Consenso do informante (‘Informant Cosensus Factor’ – ICF): Esta técnica busca identificar as indicações terapêuticas que apresentam a maior importância relativa local, e agrupam doenças relacionadas com diversos sistemas, sendo utilizada a seguinte fórmula: FCI= (nur- nt) / (nur-1), onde: FCI= fator de consenso do informante; nur = o número de citações de usos em cada sub-categoria; nt= número de espécies usadas nesta sub-categoria.

O valor máximo que uma subcategoria pode atingir e um (1). As doenças foram agrupadas no total de 17 categorias consistindo em uma análise, mas clara: transtornos do sistema digestório; transtorno do sistema respiratório; doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo; doenças infecciosas e parasitarias; lesões: envenenamento e outras consequências de causas externas; neoplasias; desordens mentais e comportamentais; doenças do sangue e órgãos hematopoiéticos; transtorno do sistema geniturinário; transtorno do sistema sensorial (olhos); transtorno do sistema sensorial (ouvidos); gravidez parto e puerpério; transtorno do sistema circulatório; doenças da pele e do tecido celular e sub cutâneo; transtorno do sistema nervoso; doenças das glândulas endócrinas da nutrição e do metabolismo e afecções ou dores não definidas.


3 RESULTADOS


Aceitaram participar, da pesquisa, 17 moradores da comunidade. Com relação ao perfil sócio demográfico dos informantes 64,70% eram do sexo feminino e 35,30 % do masculino, e a faixa etária de 18 a 39 anos (35,29%) de 40 a 59 anos (35,29%) de 60 a 79 (17,64%) e maior que 80 anos de idade (11,76%), e 100% eram católicos. No que diz respeito ao conhecimento etnobotânico 100% afirmaram que usam as plantas medicinais no seu dia a dia.

Em relação á escolaridade, 29,41% dos informantes são alfabetizados, 17,64% concluíram o ensino fundamental, 23,52% possuem ensino médio completo e 11,76% cursam o ensino superior, o que equivale a duas funcionárias da escola: uma professora e outra agente administrativa.

De todos os informantes 64,70% residem na comunidade a mais e 25 anos muitos deles desde quando nasceram através disso e possível também confirmar a origem da comunidade.

No total foram citadas 110 espécies de uso terapêutico, destacando a Dimorphandra gardineira (faveira) atribuída a ela nove (9) propriedades terapêuticas pelos informantes e Alternanthera brasiliana (terramicina) com total de uso em seis (6) sistemas corporais.

Destaca-se também (Tabela 01), que de acordo com dados do fator de consenso dos informantes, a categoria com maior valor foi transtornos do sistema respiratório com FCI=0,7. Em seguida destacam-se as demais: doenças da pele e do tecido celular subcutâneo (0,66); transtorno do sistema digestório (0,56); lesões: envenenamento e outras consequências de causas externas (0,53); doenças infecciosas e parasitárias (0,5); transtorno do sistema geniturinário (0,46); doenças do sangue e órgãos hematopoiéticos (0,42); desordens mentais e comportamentais (0,4); transtornos do sistema sensorial (ouvidos) (0,33); doenças das glândulas endócrinas, nutrição e metabolismo (0,2); afecções ou dores não definidas (0,17), transtorno do sistema nervoso (0,14); transtorno do sistema circulatório (0,13) e doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo; neoplasias; gravidez, parto e puerpério e transtorno do sistema sensorial (olhos) apresentaram FCI=0


Tabela 1: Fator de Consenso dos Informantes sobre as plantas citadas pelos membros da comunidade de remanescentes de quilombo de Pedras Negras, São Francisco do Guaporé- RO. FCI: Fator de Consenso dos Informantes, DCC: Doença mais citada na categoria, NEC: Número de espécies citadas por categorias.


Categoria da doença

FCI

DCC

NEC

Transtorno do sistema digestório

0,56

Má digestão

34

Transtorno do sistema respiratório

0,7

Gripe

28

Doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo

0

Reumatismo

3

Doenças infecciosas e parasitárias

0,5

Malária

26

Lesões: Envenenamento e outras consequências de causas externas

0,53

Ferimento

16

Neoplasias

0

Câncer

2

Desordens mentais e comportamentais

0,4

Calmante

4

Doenças do sangue e órgãos hematopoiéticos

0,42

Anemia

5

Transtornos do sistema geniturinário

0,46

Infecção urinária

25

Transtornos do sistema sensorial (olhos)

0

Limpar a vista

3

Transtornos do sistema sensorial (ouvidos)

0,33

Dor de ouvido

3

Gravidez, parto e puerpério

0

Antiabortivo

1

Transtornos do sistema circulatório

0,13

Hipertensão

14

Doença da pele e tecido celular sub cutâneo

0,66

Queda de cabelo

3

Transtornos do sistema nervoso

0,14

Dor de cabeça

7

Doenças das glândulas endócrinas, nutrição e do metabolismo

0,2

Diabetes

5

Afecções ou dores não definidas

0,17

Febre

15


4 DISCUSSÕES


De acordo com dados obtidos as mulheres foram tiveram maior participação durante a pesquisa, esse fato também estar relacionado devido ser a mulher, em grande parte, a responsável pela administração domiciliar da família, cuidado com os filhos e ter a maior permanência em suas residências. Já os idosos apresentavam maior conhecimento sobre as plantas, inclusive sobre as espécies nativas que estão presente na região do Vale do Guaporé.

No aspecto religioso todos os moradores são católicos, sendo também justificado pela presença marcante da Igreja Católica nessa região e pela festa do Divino Espirito Santo que completou no ano de 2014 um total de 120 anos de tradição cultural religiosa das comunidades do Vale do Guaporé.

Tendo em vista, que todos os informantes relatam que fazem uso das plantas medicinais em suas residências, e possível notar que as questões tradicionais são transferidas dentro da comunidade de forma significante, e que também por estar em local com algumas dificuldades de acesso a saúde pública como atendimento médico, faz com que continuem usando ás plantas com propriedades terapêuticas, e por acreditarem que e possível ter uma melhor qualidade de vida utilizando as plantas medicinais de forma preventiva e na cura de determinadas patologias.

Em relação ao nível de escolaridade muitos deles não tiveram a oportunidade de frequentar a escola até os níveis mais elevados do sistema educacional, mas todos são alfabetizados, entre os mais idosos alguns foram alfabetizados por escolas católicas que existiam no Vale do Guaporé, e outros estudaram na zona urbana e depois retornaram as suas famílias que estavam na comunidade. Atualmente na própria comunidade já tem uma escola que oferta até o ensino médio aos moradores.

A Região do Vale do Guaporé e composta por uma grande diversidade de vegetais, essa riqueza associada ao conhecimento tradicional da população faz com possam ter alto número de espécies com propriedades terapêuticas como no caso em destaque a Dimorphandra gardineira (faveira) espécie utilizada no controle de ferimentos, diarreia, infecção em geral, inflamação de garganta, gastrite, má digestão, úlcera, infecção urinária, infecção de útero, e Alternanthera brasiliana (terramicina) citada para o uso das seguintes enfermidades: ferimentos em geral, infecções urinária, afecções em geral, antibiótico, ferimento, infecção em geral, inflamação de garganta, problemas respiratórios em geral.

Dados dos informantes demonstram através do fator de consenso (FCI) que a categoria que apresentou a maior taxa foi os transtornos do sistema respiratório. Resultados esses que são influenciadas pela alta incidência de enfermidades como a gripe que pode se manifestar em toda a população rapidamente independente da faixa etária. Onde em estudos realizado sobre a diversidade de uso dos recursos medicinais na área de proteção ambiental da Serra da Ibiapaba localizada no município de Cocal no Estado do Piauí, sendo encontra o fator de consenso dos informantes do transtorno do sistema respiratório com 0,66, no total foram citadas 237 indicações de uso durante o estudo na localidade (CHAVES ; BARROS, 2012).

Através desses valores e possível mencionar que essas espécies precisam de mais estudos com aprofundamento cientifico e laboratorial. Segundo Oliveira; Barros; Moita Neto (2010) pode se afirmar que as espécies agregadas nessas categorias são culturalmente as mais importantes para a comunidade uma vez que consisti em uma alternativa de cura.


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


E possível considerar que existe uma grande diversificação no uso das espécies vegetais utilizadas pelos moradores da comunidade de remanescentes de quilombo de Pedras Negras, e o número de propriedades terapêuticas atribuídas nas espécies desde a prevenção até a cura de doenças.

A prática da medicina tradicional no local de estudo é considerada conservacionista e ao mesmo tempo e possível observar que existe a continuidade da identidade com o etnoconhecimento tradicional local que anteriormente era a única forma de tratamento e cura de doenças.


6 AGRADECIMENTOS


O primeiro autor agrade a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela concessão da bolsa de pesquisa. Ao recurso financeiro concedido pelo ‘Projeto estudo da flora da bacia do Rio Guaporé’, do Instituto Federal de Rondônia – IFRO campus de Ji-Paraná coordenado pelo Professor Mestre Gilmar Alves Lima Júnior. Aos moradores da Comunidade de Remanescentes de Quilombo de Pedras Negras, São Francisco do Guaporé localizada no Estado de Rondônia pela receptividade e pelo acolhimento durante a pesquisa.


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