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Se os
oceanos morrerem...
Jorge Alvarez
Von Maack
O perigo que nos ameaça é de um novo tipo. É causado pelo homem e somente
as medidas adotadas pelo homem poderão remediá-la. Por isso alertamos que o
ciclo da vida e a água são inseparáveis. Vemos claramente que, se queremos
salvar a humanidade, nosso dever é antes de tudo salvar os oceanos.
Por um irritante paradoxo, a humanidade coloca hoje esta questão precisamente
quando está recém-começando a compreender o mar. Na atualidade, depois de
milhares de anos de ignorância e superstição, os homens de nossa geração
começam, enfim, a estudar a maneira de explorar e aproveitar racionalmente os
imensos recursos que oferecem esses 70% de espaço aquático da superfície
terrestre. Mas, ao mesmo tempo estão comprometidos em uma corrida contra o
relógio para salvar os oceanos das depredações que eles mesmos levam a
cabo.
Se os oceanos de nossa terra morressem - isto é, se de algum modo, a vida de
repente desaparecesse, seria a mais formidável, mas também a mais definitiva
das catástrofes na atormentada história do homem e dos animais que com ele
compartem este planeta.
Assim, desprovido de vida, o oceano começaria a deteriorar-se. O cheiro
procedente das matérias orgânicas em decomposição seria tão insuportável,
que bastaria para alijar o homem de todas as regiões costeiras.
Mas não se fariam esperar outras conseqüências ainda mais graves.
Recordemos que o oceano é o principal elemento estabilizador da terra: mantém
o equilíbrio exato entre os diferentes sais minerais e os gases que
constituem nosso corpo e do qual depende nossa existência. Sem vida nos
mares, gases tóxicos contidos na atmosfera, começariam a aumentar
inexoravelmente.
Superada uma certa proporção de CO², o efeito chamado "de
estufa", entraria em jogo: o calor, irradiado pela terra para o espaço,
sendo mantido sob a estratosfera originária, uma brusca elevação de
temperatura do globo ao nível do mar. As calotas polares se fundiriam em
ambos os pólos, enquanto o nível dos oceanos subiria cerca de 30 metros. Em
poucos anos todas as cidades costeiras se inundariam. Para evitar afogar-se,
1/3 da humanidade se veria obrigada a refugiar-se em colinas e montanhas,
incapazes de prover sua subsistência. Entre outros efeitos da morte dos
oceanos, a superfície das águas se cobriria de uma espessa crosta de resíduos
orgânicos, que influiria na evaporação, reduziria as precipitações e
provocaria uma seca geral e, por fim, a fome.
Tudo isso não seria senão o princípio da fase última do desastre. Isolado
nas montanhas e famintos, submetidos a violentas tempestades e estranhas
epidemias, rotos todos os laços familiares, os sobreviventes começariam a
sofrer a falta de oxigênio devido à separação das algas do plâncton e a
redução da vegetação terrestre. Confinados na estreita franja da terra que
separaria os mares mortos das regiões montanhosas estéreis, a espécie
humana experimentaria uma intolerável agonia. Talvez, 30 ou 50 anos depois da
morte dos oceanos, o último homem do planeta, quando a vida orgânica se
limitaria só a bactérias e alguns insetos necrófagos, exalaria seu último
suspiro...
Olhando a realidade, hoje estamos experimentando a fragilidade dos equilíbrios
marinhos. À medida que se joga no mar quantidades sem cessar de crescentes tóxicos
resíduos sólidos e líquidos, a situação piora.
Os oceanos podem absorver estas cargas contaminantes?
A resposta está sendo dada pelos mares Indico e Báltico, quase mortos; o Mar
do Norte, cujos recursos pesqueiros declinam tragicamente; o Mediterrâneo,
gravemente afetado, e os recifes agonizantes del mundo inteiro.
O mar está longe de ser a lixeira passiva que todos pensamos. Dadas suas
propriedades dinâmicas, físicas e químicas a água do oceano é capaz de
tratar só algumas das substâncias tóxicas ou contaminantes que recebe desde
que seja "biodegradáveis".
Se o homem existe é unicamente porque o planeta que o abriga "A
Terra" é o único corpo celeste, que se saiba, ainda tem vida. Ela é
assim porque se trata de "um planeta de água", sendo a água mesma,
talvez, tão escassa como a vida no universo; talvez seja sinônimo da vida
mesma.
A água não só é escassa, não só infinitamente preciosa, mas um elemento
sumamente original, cujas combinações físicas e químicas oferecem
numerosas particularidades. Por esta natureza única do elemento liquido,
assim como a termodinâmica do interconectado sistema aquático mundial, cujos
motores são o sol e a água, é a causa do nascimento da vida. O oceano é água,
é a vida.
É fundamental que mudemos nossa atitude a respeito ao mar. Deixemos de vê-lo
como um mistério, uma ameaça, uma imensidade na qual qualquer interferência
por nossa parte não teria importância; um lugar sombrio e sinistro, cheio de
segredos e de maravilhas. Não nos limitemos a imitar os estudiosos de outros
tempos que sulcavam e observavam os mares só para elaborar listas de mamíferos,
de aves, de medusas, de temperaturas, de correntes e movimentos migratórios
da biomassa.
Hoje preferimos passar revista aos grandes temas da vida do oceano, falar de
suas pulsações, seus dramas e seus ciclos estacionais; mostrar como o mar
"proativamente provê eficientemente, sem buscar a excelência e sem
necessidade de reengenharia e qualidade total", o sustento de multidões
de seres vivos; como harmoniza os ritmos físicos e biológicos da erra
inteira, e conhece o que o prejudica como o que o beneficia.
Os oceanos possuem um ecossistema único e insubstituível razão pela qual
continuaremos até as últimas conseqüências com nossa campanha
ambientalista, para que o oceano do Peru - e dos demais países - deixe de ser
impune cloaca e as praias não se tornem lixeiras das cidades.
Evitemos um irreversível atentado contra a vida e a saúde da população,
como tem sucedido em cidades ribeirinhas do Japão, e que possamos já estar
consumindo, peixes, mariscos e algas, com perigosas concentrações de cádmio,
chumbo, mercúrio, zinco, cromo, entre alguns metais pesados, além de
perigosos químicos e resíduos tóxicos, que por acumulação no organismo,
provocam diversas doenças neurológicas, tumores cancerosos, malformações
embrionárias, vírus e diversas afecções cutâneas.
Hoje nenhuma "tecnologia de ponta" e país civilizado desperdiça o
recurso água, a recicla totalmente para consumo humano, animal, vegetal e
outros, inclusive em "aqüicultura". Porque por sua futura escassez,
a tornará "o ouro dos povos...".
Jorge Alvarez Von Maack é presidente do
INA -Instituto Nacional de Arqueologia Marítima, Ecologia e Ambiente - Peru.
Fonte:
Revista Água Online: