PERCEPÇÕES SOBRE OS INSETOS POR ALUNOS DE ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE TERESINA-PI

RaelsonFilipy Martins Santos – Mestrando do curso de Pós-graduação em desenvolvimento e meio ambiente da Universidade Federal do Piauí (UFPI) – raelsonfilipy@gmail.com;

Leyliene Matias Machado – Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Ensino Superior do Piauí (FAESPI) – matiasleyliene@gmail.com;

Tony César de Sousa Oliveira – Mestrandodo curso de Pós-graduação em desenvolvimento e meio ambiente da Universidade Federal do Piauí (UFPI) – tonycsoliveira@hotmail.com.br;

Lúcia da Silva Fontes - Doutora em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade de São Paulo e Professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) – lfontes@ufpi.edu.br;

Adriana de Sousa Lima - Doutorandado curso de Pós-graduação em desenvolvimento e meio ambiente da Universidade Federal do Piauí (UFPI) – adrianbiologa@yahoo.com.

 

RESUMO

 

Esta pesquisa tem como objetivo principal levantar informações sobre as percepções etnoentomológicas que os estudantes do ensino médio do CETI Prof. Darcy Araújo possuem, de modo a coletar dados do conhecimento tradicional e cultural dos alunos em relação aos insetos. Visando o alcance desses objetivos, foi realizada uma pesquisa de campo qualitativa e descritiva. O instrumento utilizado na coleta de dados na pesquisa deu-se através de questionário com questões abertas e uma gincana aplicada com 29 alunos do Ensino Médio. A análise dos dados mostrou que em sua maioria, os discentes possuem ainda certa repugnância em relação aos insetos, tendo uma percepção que são ameaças ou inimigos e poucos reconheceram sua importância para a natureza. Termos como nojo, medo e raiva, por exemplo, ainda estão associados a esta classe de animais, e os mesmos foram observados em outros trabalhos realizados. Através da análise dos resultados obtidos conclui-se que o Professor e o livro didático são fundamentais nas desmistificação e construção de uma nova percepção para os estudantes.

 

Palavras-chave: Etnobiologia.Etnoentomologia. Percepção.

 

ABSTRACT

 

The work aims mainly on acquiring information regarding the ethnoentomological perceptions which the students from CETI Prof. Darcy Araújo have, and through this understand and look for ways to improve the teaching of entomology to the students of this modality in a way they can learn how important it is to identify organisms which belong to this class of animal. Intending to reach these goals, a qualitative and descriptive field research was conducted. The instrument used to gather data was a questionnaire with open ended questions and a gymkhana with 29 high school students. The data analysis showed that most students still feel repugnancy toward insects, perceiving the insects as a threat or enemies, and few recognized the insects’ importance to Nature. Terms such as disgust, fear and anger are still associated with this class of animals, the same terms have also been observed in other researches. Through the analysis of the obtained results we can conclude that the teacher and the textbook are fundamental to demystify and construct a new perception for the students.

 

 

Keywords: Ethnobiology. Etnoentomology. Perception.

 

INTRODUÇÃO

            Os insetos formam atualmente o grupo mais diversificado e abundante no planeta, e suportam grandes amplitudes térmicas. Algumas características garantiram o sucesso evolutivo deste grupo de animais, como a capacidade de voo, o tamanho pequeno, o exoesqueleto, são de fácil adaptação e sua reprodução. (LOPES; DAL-FARRA; ATHAYDES, 2015).

            Ruppert, Fox e Barnes (2005) enumeram diversas características que definem a Classe Hexapoda ou Insecta, como por exemplo: corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen; apresentam três pares de pernas, a maioria apresenta dois pares de asas, um par de antenas, sistema traqueal e excreção por túbulos de Malpighi. Brusca e Brusca (2007) ainda enumeram mais características, como por exemplo: corpo composto por 19 somitos, trocas gasosas através de espiráculos, trato digestivo com cecos gástricos, gonóporos se abrem na região terminal ou subterminal e dioicos com desenvolvimento direto ou indireto.

            Porém, como afirmam Lopes et al. (2013) as informações que inicialmente caracterizam a Classe Insecta para grande parte dos brasileiros não são as clássicas definições encontradas na literatura, e sim as referentes aos que possuem maior contato ou influência, não importando a sua taxonomia, fazendo com que outros táxons sejam incluídos nesta categoria. Em outras palavras, animais considerados pragas, nojentos, que se arrastam ou causam doenças são classificados como insetos, tais como: aranha, morcego, lagartixa, rato, cobra-de-duas-cabeças, dentre outros. (COSTA NETO, 2004).

            Mesmo não sendo muito reconhecido, o papel ecológico dos insetos é fundamental. Conforme elucidam Lopes, Dal-Farra e Athaydes (2015) este grupo possui papel imprescindível para a manutenção da vida no planeta, participando da reciclagem de nutrientes e auxiliando no equilíbrio ecológico. Além disso, inúmeras pesquisas com hexápodes foram fundamentais para estudos na medicina, genética e biologia do desenvolvimento.

            Apesar de ancestral, o campo de pesquisa sobre a Classe Insecta é novo, sendo os estudos pioneiros datados do século XIX com diferentes autores registrados. No século XX, um estudo realizado sobre a importância dos insetos para os índios na Califórnia por Essig (1934) definiu as categorias de interesse entomológico (COSTA NETO, 2004). Porém, o termo “Etnoentomologia” apareceu na literatura apenas em 1952, com a publicação do trabalho de Wyman e Bailey sobre controle de pragas por índios Navajo (COSTA NETO; RESENDE, 2004). 

            No que diz respeito às representações sociais sobre os insetos é perceptível na infância que a criança já tem a oportunidade de ter os primeiros aprendizados entomológicos direta ou indiretamente por parte da família, e se for de conotação negativa, ela o assimilará (LOPES et al., 2013). Levando em consideração as representações sociais, os conhecimentos etnoentomológicos são produtos socioculturais notadas em diferentes áreas, como por exemplo, teatro, música, religião, mídia etc; resultando num ciclo de informações errôneas sobre os insetos (COSTA NETO, 2002). As percepções etnoentomológicas atualmente estão mais voltadas para as informações vinculadas pela mídia e o distanciamento na relação homem-inseto (CAJAÍBA; SILVA, 2014).

            Costa Neto (2004) afirma que “O conjunto de conhecimentos tradicionais voltados aos insetos traduz-se em um recurso valioso que deve ser considerado no processo de desenvolvimento das comunidades e em estudos de inventário da entomofauna local”. Ou seja, o conhecimento tradicional é importante não apenas para compreender as representações sociais em relação a um determinado grupo de organismos, mas também para um levantamento faunístico de insetos de determinado local.

Portanto, percebendo que ainda há confusões em relação à caracterização dos organismos pertencentes à Classe Insecta e ao pouco reconhecimento do seu papel ecológico, pretende-se fazer uma caracterização das percepções que os alunos do ensino médio de uma escola pública do município de Teresina possuem em relação aos insetos com base no conhecimento tradicional e cultural que possuem.

 

METODOLOGIA

            A pesquisa foi realizada no Centro de Ensino de Tempo Integral Professor Darcy Araújo, localizado no município de Teresina, e participaram 29 alunos do ensino médio, 15 cursando o 2º ano e 14 cursando o 1º ano.

            Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico com artigos e livros referentes à percepções sobre os insetos para estruturar melhor a pesquisa e os procedimentos de coleta de dados. Após isso, foi explicado aos alunos o que seria pesquisado e a importância do trabalho e lhes foi entregueo termo de consentimento livre esclarecido. Participaram da pesquisa apenas os discentes que entregaram o termo assinado pelos responsáveis ou por eles (no caso, os que já atingiram a maioridade).

Foi preparada uma folha de respostas para cada voluntário, não havendo nela figuras e perguntas, apenas o espaço para as respostas. Os alunos não se identificaram e foram colocados apenas a série, gênero e idade. As figuras e perguntas foram colocadas em apresentação Power Point 2013, que foi exposta durante a aplicação.

Inicialmente foram projetados 10 slides com imagens de animais, sendo cinco insetos e os outros cinco pertencentes a outros táxons na seguinte ordem: barata, cachorro, jabuti, gafanhoto, mosquito, coelho, pássaro, besouro, abelha e galinha. Os alunos deveriam (em uma palavra) descrever o que sentiam em relação ao animal mostrado (TRINDADE; SILVA JÚNIOR; TEIXEIRA, 2012).

Em seguida, semelhante ao trabalho de Cajaíba e Silva (2014), foi realizado um questionamento aberto no qual os discentes deveriam definir o que para eles é um inseto, deixando-os livres para responder com termos científicos ou empíricos, para posteriormente analisar o que foi definido.

            Após isso, na etapa seguinte foi perguntado aos estudantes quais as fontes de informações que eles obtém informações sobre a classe Insecta, também um questionamento aberto, conforme encontrado em Trindade, Silva Júnior e Teixeira (2012).

 Por último foi realizada uma gincana numa sala de aula contendo 4 bancadas com 3 imagens de animais cada, viradas com a face voltada para baixo e numeradas de 1 a 3. Cada estudante passou por cada uma das bancadas individualmente e deveriam anotar na ordem o nome do animal e o grupo ao qual ele pertence (inseto, aracnídeo, mamífero, réptil, por exemplo) no espaço separado no formulário. As imagens estavam distribuídas da seguinte forma e ordem: Bancada 1 – aranha (aracnídeo), borboleta (inseto), mosca (inseto); bancada 2 – caramujo (gastrópode), potó (inseto), carrapato (aracnídeo); bancada 3 – cavalo-do-cão (inseto), formiga (inseto), rato (mamífero) e bancada 4 – joaninha (inseto), cobra (réptil), escorpião (aracnídeo).

A escolha dos animais para a realização desta etapa procurou colocar animais que são mais conhecidos na região do Piauí, de modo que não fossem desconhecidos para os estudantes.

Após a obtenção das respostas foi feita a análise das mesmas as quais são representadas nos resultados em porcentagem (%) através de gráficos e tabelas. Assim, esta pesquisa está estruturada tanto na abordagem quantitativa quanto qualitativa, utilizando dados estatísticos probabilísticos baseados em respostas dadas em entrevista estruturada com estudantes de ensino médio. 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Os resultados obtidos com esta pesquisa foram analisados de acordo com as folhas de resposta recolhidas após a aplicação. Ao todo participaram da pesquisa 29 voluntários, 15 deles cursando o 2º ano do ensino médio e 14 cursando o 1º ano com idades variando entre 14 a 18 anos.

Assim como no trabalho de Trindade, Silva Júnior e Teixeira (2012) as respostas foram analisadas e categorizadas de acordo com as expressões de natureza depreciativa, apreciativa, ambivalentes e sem sentido. Foram contabilizadas as citações de acordo com sua categoria e a porcentagem a ela correspondente.

Os resultados obtidos quando solicitado que atribuíssem um sentimento às fotos de insetos e outros grupos de animais projetados, encontram-se na tabela 1. Os insetos obtiveram 89,6% de citações de natureza depreciativa enquanto os demais animais obtiveram apenas 12,4%. E quanto a natureza apreciativa apenas 5,6% das citações foram apreciativas para os insetos enquanto para os outros grupos foi de 60,7%. Fica evidente que a classe Hexapoda ainda é má interpretada pelos alunos demonstrando aversão a este grupo de animais.

 

Tabela 1

Categorização das respostas dos alunos com relação aos sentimentos que possuem em relação aos insetos e aos outros animais apresentados

 

Categorização das Expressões

Grupo dos Insetos

Grupo dos demais animais

 

 

          Citações (%)

 

          Citações (%)

Expressões de natureza depreciativa

 

89,6

 

12,4

Expressões de natureza apreciativa

 

5,6

 

60,7

Expressões ambivalentes

 

4,8

 

13,8

Expressões sem sentido

 

0,0

 

13,1

Total

 

100,0

 

100,0

Fonte: Santos, 2015

     Essa contradição nos resultados foi semelhante ao trabalho de Trindade, Silva Júnior e Teixeira (2012)porém os valores encontrados na Tabela 1 foram mais elevados para citações de natureza depreciativa para os insetos, correspondendo a 78,8%, em contradição com apenas 7,4% para os outros animais. Enquanto as expressões de natureza apreciativa atingiram porcentagens mais baixas, 12,4% para os insetos e 77,8% para os outros grupos. Provavelmente a diferença no número de voluntários seja o fator responsável por essa diferença, visto que ambos os trabalhos foram aplicados com alunos da mesma modalidade de Ensino.

            De acordo com os resultados obtidos, e como já citado, a maioria das expressões depreciativas foram relacionadas aos insetos, prevalecendo termos como: nojo, medo, raiva, eca e estranho, dentre outros. O contrário ocorreu com os outros animais que, em boa parte, apresentaram expressões apreciativas por exemplo: fofo, amor, lindo, feliz, carinho, dentre outros. Os dados obtidos foram condizentes com o de Trindade, Silva Júnior e Teixeira (2012), cujas expressões com mesmo sentido foram encontradas, como a prevalência de nojo e medo para a classe Insecta e expressões de sentimentos semelhantes às outras classes de animais.

            Quando solicitado que definissem o que é um inseto para os discentes, foram dadas respostas distintas, mas que foram classificadas em três categorias: Os que acertaram ou chegaram próximo da definição científica, os que responderam associando apenas a sentimentos e que responderam incorretamente (FIGURA 1).

Fonte: Santos, 2015.

           

            Nota-se que a maioria dos alunos (72,4%) conhecem bem a definição do que seja um inseto, o que mostrou ser uma surpresa, pois o esperado era que a maioria associasse a sentimentos de repudia. Foram citadas características peculiares deste grupo de animais, como também exemplos de organismos pertencentes a esta classe ou classificação taxonômica, como observado nos depoimentos abaixo:

 

“é um animal que pertence a classe insecta, e que na maioria das vezes me causam medo ou me assustam, mais são importantes para o meio ambiente.” (Aluno A, 2º ano)

 

“E um bicho de varios jeito como, formiga, abelha de diferentes jeitos, formas e etc...” (Aluno B, 1º ano)

 

“Um inseto é um animal da família dos insetos ele é formado por um exoesqueleto forte e resistente” (Aluno C, 1º ano)

 

            Como observado, os discentes possuem uma definição fragmentada com características como as citadas por Ruppert, Fox e Barnes (2005) como também por Brusca e Brusca (2007), mas correta do que seja um inseto, os reconhecem como pertencentes à classe Insecta, citam o seu esqueleto externo e sua importância para o meio ambiente, como em outras definições, alguns sujeitos citaram que são importantes para a polinização.

            Em contrapartida foram encontrados resultados já esperados: que quando associados a sentimentos, que os alunos citassem algo com repudia ou indiferença, como observado nas citações abaixo:

 

“É um animal que dependendo do inseto posso gostar ou ter medo, nojo, ou simplismente não sentir nada.” (Aluno D, 1º ano)

 

“Um bicho angustiante e perturbador” (Aluno E, 1º ano)

 

“É um bicho que me causa alergia quero distância” (Aluno F, 2º ano)

 

“Um ser pequeno, que nos dão alergia, são unicelulares, que dar agunias quando pica!” (Aluno G, 1º ano)

 

            Observando as respostas dadas pelos alunos D, E e F, por exemplo, notou-se o esperado, como citações de raiva, medo, nojo e repudia, ao contrário dos alunos A, B e C que citaram características morfológicas e taxonômicas. O aluno G foi o único que, apesar de uma definição envolvendo sentimentos, cometeu um equívoco ao citar que os insetos são unicelulares. Isto está de acordo com o que foi relatado nos trabalhos de Silva e Costa Neto (2004) e Almeida (2007) no que diz respeito às percepções negativas, ao qual foram atribuídas palavras semelhantes para as percepções negativas. Porém, conforme afirmam Modroet al., (2009) também há visões positivas, como encontradas nesta pesquisa, e as opiniões positivas contribuem bastante para estudos etnofaunísticos.

             Com relação ao levantamento das fontes as quais os estudantes obtém informações sobre os insetos, de modo a compreender as diferentes vias e meios de informações pelos quais eles instruem-se, as respostas dadas foram divididas em 5 classes, sendo elas: mídia (tv, rádio, internet, etc), livro, escola, família e outros. Os dados obtidos encontram-se na figura 2.

 

Fonte: Santos, 2015.

           

            Ao observar os resultados obtidos, pôde-se notar que a mídia (34,50%) e os livros (37,50%), segundo os estudantes, são as principais fontes de informações sobre os insetos, porém, a porcentagem dada pela influência familiar (6,90%) mostrou que a família não é tão significativa na passagem de informações. Por outro lado, a importância dada pelos alunos ao livro mostra o quão importante e influenciador é a utilização do livro didático, o que revela que este material didático deve ser cada vez mais aprimorado, de modo que os estudantes possam ter um conhecimento mais amplo e científico a respeito da classe Hexapoda.

            No entanto, Trindade, Silva Júnior e Teixeira (2012) encontraram dados diferentes desta pesquisa, uma vez que, de 100 alunos 86% das citações afirmaram que a mídia é a mais influente na obtenção de informações, em contrapartida os livros obtiveram 79% e a escola 83%. Mas, apesar da diferença de porcentagens os três meios mais influenciadores foram os mesmos. Como também afirma Gruzman (2003), os insetos são colocados isolados do seu ambiente e de forma fragmentada nos livros didáticos, e isso não permite que os estudantes percebam a perspectiva ecológica, limitando-se apenas à morfologia e taxonomia, tornando necessária uma reformulação dos livros didáticos.

            Na última etapa, na qual foi realizada uma gincana, os resultados foram contabilizados de acordo com os números, em porcentagem, de acertos quanto ao nome do animal representado pela figura que se encontrava na bancada, como também dos táxons aos quais pertencem (Tabela 2).

            Os dados obtidos quanto ao reconhecimento dos insetos foi satisfatório e mostrou que os que foram selecionados são bem conhecidos por parte dos discentes. Curiosamente, o que se pôde perceber foi que quando não reconheciam o animal representado, os estudantes colocaram o nome de algum animal semelhante ao que estavam observando.

            Alguns alunos não reconheceram o inseto conhecido popularmente como “cavalo-do-cão” e muitos o denominaram como formiga. O equívoco é compreensível, pois ambas espécies pertencem a mesma ordem (Hymenoptera), porém, classificados em famílias diferentes. Isso leva mais uma vez a afirmação de Gruzman (2003), pois como o foco dos livros didáticos está voltado para morfologia e taxonomia, os estudantes agrupam naquilo com que mais acham semelhante.

 

Tabela 2:

Porcentagem de acertos nas respostas dadas pelos alunos na etapa da gincana

 

Animal

Acertos do nome do animal (%)

Acertos do grupo ao qual pertence (%)

Aranha

100,0

89,6

Borboleta

89,6

93,1

Mosca

93,1

93,1

Caracol

72,4

31,0

Potó

89,6

86,2

Carrapato

89,6

24,1

Cavalo-do-cão

44,8

75,9

Formiga

79,3

86,2

Rato

79,3

62,1

Joaninha

89,6

89,6

Cobra

89,6

79,3

Escorpião

89,6

72,4

Fonte: Santos, 2015.

           

            Quanto a taxonomia, os resultados foram diferentes do esperado, pois esperava-se que o número de equívocos fosse maior, mas alguns erros taxonômicos já eram previstos. Por exemplo, a classificação de aranha, escorpião e carrapato como insetos, sendo tais espécies classificadas como aracnídeos.

            Algumas respostas fornecidas foram preocupantes e revelam que é necessário uma mudança na forma de abordagem dos conteúdos de zoologia. Por exemplo, apenas 24,1% dos alunos responderam corretamente que o carrapato é um aracnídeo, e a maioria o considerou como inseto. Apenas 31,0% dos estudantes responderam que o caracol é um molusco ou gastrópode, e foram encontrados erros preocupantes, pois muitos os classificaram como anfíbio ou inseto (Tabela 2). Isso revela uma má fixação dos conteúdos de zoologia por parte dos estudantes, e que é necessário mudanças no ensino de Biologia, de modo que garantam o aprendizado para que o discente seja capaz de diferenciar e categorizar corretamente os animais. 

 

CONCLUSÃO

 

                       Os dados apresentados demonstraram que os alunos do CETI Professor Darcy Araújo possuem ainda certa repugnância em relação aos insetos, tendo uma percepção que são ameaças ou inimigos e poucos reconheceram sua importância para a natureza. Termos como nojo, medo e raiva, por exemplo, ainda estão associados a esta classe de animais, conforme observado em outros trabalhos realizados que serviram como base para este trabalho.

Ao realizar a pesquisa em âmbito escolar foi possível estabelecer a influência que as informações repassadas para gerações ainda têm sobre os estudantes apesar de já terem concluído o 7º ano do ensino fundamental, e também que as categorias etnotaxonômicas ainda são diferentes das categorias lineanas, cujos animais pertencentes a outros grupos são classificados como insetos.

A elaboração desta pesquisa também possibilitou notar a importância do livro didático e do Professor de Ciências e Biologia na desmistificação de certos conhecimentos errôneos e na construção de uma nova percepção sobre os insetos, tendo o conhecimento prévio dos alunos como base na busca de metodologias adequadas para a construção do conhecimento científico.

           Estudos como este que foi realizado são importantes para compreender como os insetos são representados socialmente por estudantes e também é possível levantar o conhecimento tradicional que os mesmos possuem e como tais informações são repassadas, compreendendo as relações sociais com um determinado grupo de organismos.

 

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