MANEJO DO BANCO DE SEMENTES NA RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS PELA EXPLORAÇÃO DE OPALAEM PEDRO II, PIAUÍ, BRASIL

 

Cleidinea de Sousa Carvalho1,4, Tony César de Sousa Oliveira2, André Bastos da Silva2, Muryllo dos Santos Nascimento2, Suely Silva Santos2, Vanessa Fernanda da Silva Sousa2 e Maria da Conceição Prado de Oliveira3

 

1. Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí.

2. Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portella, Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste.

3. Doutora em Ecologia. Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portella, Departamento de Biologia.

4. E-mail para correspondência: cleidineacarvalho@gmail.com

 

RESUMO: neste trabalho abordou-se o manejo do banco de sementes na recuperação de áreas degradas pela exploração de opala em Pedro II/PI, com o objetivo de definir estratégias de restauração de áreas alteradas pela ação antrópica, já que o interesse na recuperação ambiental tem enfatizado a recomposição da diversidade de espécies. Para isso, foram realizadas duas visitas em Pedro IIcom a finalidade de se entender a forma como é realizado o manejo por parte dos garimpeiros quanto à exploração de lavras de opala e selecionar áreas com diferentes níveis de alteração causados pela ação dessa exploração a fim de observar esses locais. Os resultados obtidos a partir das entrevistas dos membros da cooperativa APL e as observações in loco levam a concluir que para exploração das lavras de opala os garimpeiros removem a vegetação nativa e fazem verdadeiras crateras que, posteriormente, são fechados com material estéril, sem o devido cuidado, prejudicando a recuperação da vegetação nativa comprometendo a formação do banco de sementes do solo. Tais resultados mostraram que compreender a forma como ocorre o manejo do banco de sementes mediante a ação antrópica é essencial para desencadear alternativas viáveis, como a transposição do banco de sementes do solo, para acelerar o processo de sucessão após o fechamento das crateras abertas para exploração de gema de opala, com o material estéril.

 

Palavras-chave: recuperação de áreas degradadas; manejo do solo.

 

MANAGEMENT OF SEED BANK IN DAMAGED AREAS RECOVERED BY OPAL'S EXPLORATION IN PEDRO II, PIAUÍ, BRAZIL

 

ABSTRACT: this scientific work addressed to the management of seed bank in the recovering of damaged areas by opal mining in Pedro II PI, in order to define restoration strategies of modified areas by human actions, once that the interest in the environmental restoration has emphasised the recuperation of the species diversity. For this reason, it was realised two visits on Pedro II which has as main purpose understanding how is realised the opal mines' exploration management by the miners and select areas with different levels of modification promoted by the human influenced; in order to observe this places. The results obtained from interviews with members of APL cooperative and the observations in loco have claim that in order to explore the opal mines the miners are removing the native vegetation which leds to the appearance of craters that after are closed with sterile material without the appropriate care, damaging the native vegetation recuperation, compromising the soil's seed bank formation. Those results have shown that the right understanding how occur the seed bank management by human action is essential to develop viable  alternatives as the transposition of the soil's seed bank to accelerate the process of succeeding after the craters has been closed to the exploration of the opal gem with the sterile material.

 

Keywords: recovering of damaged areas; soil management.

 

INTRODUÇÃO

 

Em áreas que sofrem perturbações ambientais, o banco de sementes do solo representa um importante fator no processo de sucessão de espécies que estão atuando nessas áreas, sobretudo em áreas que sofreram impactos. Assim, o entendimento dos processos de regeneração natural de florestas é importante para o sucesso do seu manejo, o qual necessita de informações básicas em qualquer nível de investigação (DANIEL; JANKAUSKIS, 1989).

Para Thompson (1992) a ação do banco de sementes de solo tem um importante papel no processo de recuperação de áreas que sofreram perturbações, onde esse papel é bem definido e está intimamente conectado com essas perturbações, uma vez que uma área sofre uma perturbação, como uma abertura de clareiras, o banco de sementes é ativado, associado com a chuva de sementes que cai sobre tais áreas (RICHARDS 1998), refazendo a cobertura do solo.

O conceito de áreas degradadas vem sendo modificado ao longo dos tempos, podendo significar tanto uma área explorada que perdeu suas características de solo, vegetação e até mesmo sofreu mudanças de relevo, quanto uma área com degradação bem mais leve que sofreu apenas explorações seletivas (PINTO, 2003).

Segundo Curi (2013) uma atividade de mineração gera consequências impactantes associados à movimentação do solo superficial. Desta forma, um conjunto de ações deve ser proposto no sentido de nuclear funções biológicas capazes de facilitar a recomposição da natureza(REIS et al., 2003), e atrair a diversidade local para a área degradada levando em conta uma concepção de restauração.

No município de Pedro II, localizado no norte do Piauí, encontra-se a única reserva de opala nobre do Brasile esta é responsável pela produtividade mundial desse minério, juntamente com as reservas australianas. Tendo em vista que a extração e produção das lavras de opala (gema utilizada na produção de jóias e artesanato) por muitas décadas foram realizadas de forma irregular que segundo alguns critérios socioambientais serão regulamentados, a APL (Arranjo Produtivo Local da Opala) tem como um dos seus objetivos a recuperação de áreas degradadas.

Desta forma, a avaliação do potencial de regeneração pode fornecer relevantes informações para a tomada de decisões sobre as ações mais apropriadas na restauração ecológica de uma área degradada (PADOVEZI, 2005). Com o objetivo de definir estratégias de restauração de áreas alteradas pela ação antrópica, neste trabalho foi abordado o manejo do banco de sementes na recuperação de áreas degradadas pela exploração de opala em Pedro II.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

 

A pesquisa foi desenvolvida no município de Pedro II, estado do Piauí, localizado na microrregião de Campo Maior, compreendendo uma área de 1.948 km2. A sede municipal (latitude: 04°25’29”S; longitude: 41 °27’31”W) dista cerca de 195km da capital Teresina (CPRM 2004). O clima da região é tropical alternadamente úmido e seco, com duração do período seco de seis meses e temperaturas médias que variam de 18ºC a 28ºC. A vegetação encontrada no local é caatinga arbustiva, campo cerrado e parque (CEPRO, 2010).

 

Visitas às localidades

 

Foram realizadas duas visitas em Pedro II, uma no período chuvoso e a outra no período seco. Ambas tiveram como finalidade realizar visitas in loco importantes para entender como os garimpeiros realizam o manejo do solo em áreas com diferentes níveis de alteração causados pela exploração das lavras de opala e o tratamento do local pós-exploração. Além disso, na primeira visita foram realizadas reuniões e conversas individuais com os membros da cooperativa Arranjo Produtivo Local da Opala (APL) e, na segunda, foram realizadas coletas de solo para a avaliação do banco de sementes.

 

Descrição das áreas estudadas

 

Foram selecionadas três áreas com duas repetições cada com distâncias de aproximadamente 11 km. A primeira área selecionada foi uma área preservada (figura 1, A) a qual não houve extração das lavras de opala; a segunda área se encontrava em pleno funcionamento de exploração, onde o solo apresentou-se revolvido com abertura de crateras (figura 1, B); e uma terceira área onde já ocorreu a exploração e encontra-se abandonada (figura 1, C).

Figura 1. A-C. A. Área preservada. B: Área em processo de mineração. C: Área de realocação de rejeitos. Fonte: pesquisa direta.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Nos últimos anos tem aumentado o interesse de pesquisadores e empresas dos setores de mineração, geração de energia e florestal em buscar novas alternativas de recuperação de áreas degradadas num contexto ecológico. Os interessados na recuperação ambiental têm enfatizado a recomposição da diversidade de espécies e a sustentabilidade dos ecossistemas recuperados, o que vem sendo tratado como restauração ecológica (CHOI, 2004; MARTINSet al.,, 2007, 2009; VIEIRA; SCARIOT, 2006).

Os resultados obtidos a partir das entrevistas com os membros da cooperativa APL e as observações in loco levam a concluir que para exploração das lavras de opala os garimpeiros removem a vegetação nativa e fazem verdadeiras crateras que posteriormente serão abandonadas para o processo de restauração. Tal manejo ocorre sem o devido cuidado, pois essas crateras são fechadas com material estéril, ou seja, um solo que sofreu profundas modificações quanto às suas composições química, biológica e estrutural.

Esse manuseio de solo danifica o horizonte “A”, perdendo sua matéria orgânica a qual é a principal consequência da degradação, retardando o processo sucessional (REIS et al., 2003), além de prejudicar a recuperação da vegetação nativa (Figura 2). Isso pode ser observadono estudo de Oliveira (2014) sobre banco de sementes, no qual o manejo não permitiu a emergência de plântulas, cujos fatores podem estar relacionados à remoção e abertura de crateras no solo (figura 2, A), ou pelas características de entorno e a realocação desses solos (figura 1, C), as quais podem inibir a dispersão e a chuva de sementes na região, prejudicando a composição do banco de sementes do solo.

 

 

Figura 2. A-D. A. Área em processo de exploração de gema de opala. B: depósito de material estéril. C. área em regeneração. D: área após fechamento da cratera para exploração de opala. Fonte: pesquisa direta.

 

Para Vieira (2004), são necessárias ações para recompor a camada fértil do solo de áreas na quais não há sementes no banco e pouca possibilidade de chegada de propágulos por meio da dispersão. Uma das alternativas proposta seria a transposição de pequenas porções (núcleos) de solo não degradado, o que representa grandes probabilidades de recolonização da área com microorganismos, sementes e propágulos de espécies vegetais pioneiras. Esta técnica consiste na retirada da camada superficial do horizonte orgânico do solo (serapilheira mais os primeiros 5 cm de solo) de uma área com sucessão mais avançada (REIS et al., 2003).

A serapilheira é essencial na restauração da fertilidade do solo em áreas em início de sucessão ecológica (EWEL, 1976), além de funcionar como uma manta que facilita a entrada de sementes, durante a chuva de sementes, e a sua incorporação ao banco de sementes do solo. Um dos objetivos das técnicas de restauração ecológica é o aproveitamento do potencial de resiliência (auto-regeneração) das áreas a serem recuperadas e da máxima quantidade e diversidade de material vegetal, isto é, os propágulos e restos vegetais disponíveis na área ou em outras áreas (MARTINS et al, 2007, 2009).

 

CONCLUSÃO

 

Ficou evidenciado que o manuseio do solo após o fechamento das crateras abertas com o material estéril no processo de exploração de gema de opalas prejudica a formação do banco de sementes na regeneração dessas áreas degradas.Portanto,o estudo do manejo do banco de sementes do solo pela ação da exploração de minério de opala mostrou-se essencial para compreender alguns processos na regeneração dessas áreas, a fim de promover estratégias adequadas e alternativas viáveis, como a transposição da serapilheira, para manutenção de sementes de solo na formação do banco de sementes sem que a sua recomposição natural e seu processo de dispersão seja prejudicada.

 

REFERÊNCIAS

 

CEPRO. FUNDAÇÃO CEPRO. Diagnóstico dos Municípios. Teresina: Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais. 2010.

 

CHOI, Y. D.. Theories for ecological restoration in changing environment: toward "futuristic" restoration. EcologicalResearch, v.19, n.1, p.75-81,2004.

 

CPRM. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí: diagnóstico do município de Pedro II. Organizaçãodo texto [por] Robério Bôto de Aguiar [e] José Roberto de CarvalhoGomes - Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2004.

 

CURI,A.Análise Qualitativa daSustentabilidade AmbientaldaMineração: Mito e Realidade.Disponível em: 3.cetem.gov.br> .Acesso em12 fev. 2013.

 

DANIEL, O.; JANKAUSKIS, J.. Avaliação de metodologia para o estudo do estoque de sementes do solo. SÉRIE IPEF, Piracicaba, v. 41-42, p.18-26. 1989.

 

EWEL, J. J. Litter fall and leaf decomposition in a tropical forest succession in eastern Guatemala.JournalofEcology, v.64, n.1, p.293-308, 1976.

 

MARTINS, S. V. et al. A contribuição da ecologia florestal no desenvolvimento de modelos e técnicas de restauração florestal de áreas degradadas. Revista Ação Ambiental, v.10, n.36, p.10-13, 2007.

 

MARTINS, S. V. et al. Sucessão ecológica: fundamentos e aplicações na restauração de ecossistemas florestais. In: MARTINS, S. V. (Ed.) Ecologia de florestas tropicais do Brasil. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, p.19-51. 2009.

 

OLIVEIRA, J. C. O impacto da mineração de opala na riqueza e diversidade de espécies no banco de sementes do solo, no município de Pedro II-PI. Teresina: UFPI – 2014. 15p.

 

PADOVEZI, A. O processo de restauração ecológica de APP’s na microbacia do Campestre, Saltinho – SP: uma proposta de diálogo entre conhecimentos. Dissertação de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Recursos Florestais, ESALQ, Piracicaba. 2005.

 

PINTO, M. M. Recuperação de Áreas Degradadas.2003[online] Disponível na Internet via URL: . Site acessado em 05/05/2017.

 

REIS, A.; BECHARA, F.C.; ESPÍNDOLA, M.B.; VIEIRA, N.K.; SOUZA, L.L. Restauração de áreas degradadas: a nucleação como base para incrementar os processos sucessionais. Natureza e Conservação 1v., p. 28-36. 2003.

 

REIS A.; BECHARA, F. C.; ESPÍNDOLA M. B. ; VIEIRA, N. K. Restauração de Áreas Degradadas: A Nucleação como Base para os Processos Sucessionais. Revista Natureza &Conservação. v. 1, n. 1. 2003.

 

RICHARDS, P. W. The tropical rain forest: an ecological study. Cambridge University Press.Cambridge, p. 115-116, 1998.

 

THOMPSON, K. The Functional Ecology of Soil Seed Banks. In: FENNER, M. Seeds: the ecology of regeneration in plant communities. CAB International, Wallingford, U.K, p. 231-258. 1992.

 

VIEIRA, N. K..O papel do banco de sementes na restauração de restinga sob talhão de Pinus elliottiiEngelm. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas. Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal. 2004.