PROJETOS DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR NAS ESCOLAS BUSCAM MUDAR HÁBITOS FAMILIARES

 

 JULIANA FONTOURA

 

Para garantir que crianças e adolescentes se alimentem de maneira mais saudável, poder público e instituições de ensino vêm adotando medidas que restringem a entrada de alimentos que podem ser nocivos à saúde no ambiente escolar. Alguns exemplos são leis que proíbem a venda de refrigerantes e frituras dentro dos colégios e a decisão de substituir lanches trazidos de casa por refeições preparadas na própria instituição.

 

Apesar disso, para que os bons hábitos alimentares sejam realmente enraizados – combatendo, assim, problemas como a obesidade – muitas escolas de educação infantil têm apostado em projetos mais amplos, que ensinem a importância de comer bem. E o foco não são só as crianças: para que elas possam se alimentar melhor, os pais também precisam passar por um processo de reeducação.



“Escola e pais devem trabalhar juntos. A escola irá reforçar a alimentação saudável através de um cardápio variado e que contemple os nutrientes vitais para o desenvolvimento da criança. Se isso também for aplicado em casa, é possível que as crianças se tornem agentes promotores da sua saúde e de sua família”, diz Sabrina Bairão, coordenadora pedagógica da escola de educação infantil do Colégio Palmares, o Gente Nossa, localizado em São Paulo.

 

Conscientização e informação

 

Um dos primeiros passos para estimular uma alimentação saudável para além dos muros da escola é oferecer informações relevantes às famílias. Na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Professora Marisa Ricca Ximenes, de São Paulo, os educadores contam com a ajuda das redes sociais. “Nós compartilhamos na nossa página do facebook alguns artigos sobre alimentação saudável”, conta Andresa Sanchez, coordenadora pedagógica da escola. “É uma forma de comunicação que usamos para compartilhar conhecimento.”

 

A iniciativa complementa um projeto de formação dos pais que inclui conversas e atividades em reuniões, além de palestras ministradas por nutricionistas. O retorno das ações, segundo Andresa, vem sendo bastante positivo. “No decorrer do tempo a gente procura perguntar para as crianças como elas estão se alimentando, o que elas têm feito de diferente, e percebemos que teve uma mudança de hábito.”

Orientação

 

Além da conscientização acerca da alimentação feita fora da escola, as instituições de ensino também se preocupam com aquilo que os pequenos levam para comer na hora do lanche. A escola de educação infantil Favinho & Mel, localizada no Rio de Janeiro, aconselha as famílias com relação ao que mandar na lancheira das crianças.

 

A nutricionista da escola, Patrícia Grantham, conta que os pais podem escolher entre mandar o lanche de casa ou permitir que os filhos consumam as refeições fornecidas pela própria escola. No caso de ficarem com a primeira opção, recebem uma lista de sugestões que contempla 22 opções de lanches que se alinham com a proposta alimentar da instituição.

“Também costumo orientar os pais para que deem uma olhada no cardápio e mandem lanches semelhantes ao que serviremos. Com isso, evitamos a entrada de alimentos extremamente processados, com excesso de açúcar, sal e gordura, bem como os conservantes e corantes”, explica a nutricionista. A medida, além de garantir que a própria criança se alimente melhor, também evita que os colegas ‘passem vontade’ de comer o que ela levou.

 

Em outras escolas, há a orientação dos pais para que não enviem lanche para os filhos – assim, a criança consome aquilo que é preparado dentro da instituição de ensino, sob supervisão de um nutricionista. É o que acontece com as escolas de educação infantil da rede municipal de São Paulo. No caso da Emei Marisa Ricca Ximenes, cardápio e alimentos são fornecidos por uma empresa terceirizada. “O cardápio não tem frituras, refrigerantes e sempre inclui frutas, grelhados, legumes, arroz e feijão. É bem balanceado”, conta a coordenadora pedagógica Andresa.

 

Algumas escolas particulares também têm recorrido à medida. A escola de educação infantil do Colégio Palmares, o Gente Nossa, é um exemplo. “Os únicos momentos em que a família é autorizada a trazer alimentação de fora são as comemorações de aniversário, e é permitido somente o bolo”, explica Sabrina Bairão, coordenadora pedagógica.

 

Para a gastrônoma Luiza Fiorini, especializada em alimentação infantil, essa é uma boa maneira de garantir que as crianças comam bem, já que, hoje, os pais não costumam ter tempo para cozinhar. “Com a falta de tempo, os industrializados tomam conta. É mais fácil colocar um suco de caixinha na lancheira do filho do que preparar um natural”, afirma.

 

Engajando os pais

 

Mas é importante, também, que as escolas busquem mudar essa realidade. Para isso, é preciso oferecer artifícios para que os pais possam aprender – como aulas e oficinas. Essa é uma das funções da gastrônoma Luiza Fiorini nas escolas em que trabalha em Belo Horizonte. “Além da falta de tempo, muitos pais não sabem cozinhar. Por isso, é preciso envolvê-los nos projetos, engajá-los. Uma boa opção é oferecer aulas de culinária, para eles aprenderem a preparar lanches mais saudáveis.” Com o aprendizado dos pais, a restrição aos alimentos vindos de casa pode diminuir.

 

Também é possível direcionar as oficinas às crianças, já que elas levam o que aprendem para casa. No Gente Nossa, essa é uma forma de chegar aos pais. “Observamos e recebemos relatos das famílias de que as aulas de culinária auxiliam na introdução de novos alimentos e estes passam a fazer parte do cardápio da criança”, conta Sabrina Bairão, coordenadora pedagógica. “A criança tem uma força muito grande de convencimento. A partir do momento em que ela é ensinada, ela leva isso para a família”, explica a gastrônoma Luiza Fiorini.

 

Além da preparação, o cultivo dos alimentos também tem importância na hora de conscientizar e engajar os pais. Convidá-los a participar do plantio de uma horta é uma boa opção. Essa iniciativa foi aplicada na escola Favinho & Mel – e os resultados têm sido positivos. “Todos colaboraram enchendo os recipientes com pedrinhas, areia, terra preta, colocando o tecido, plantando mudas e sementes”, conta Lucimeire Costa, coordenadora pedagógica da escola. Depois da iniciativa, segundo a coordenadora, muitas famílias relataram que os filhos passaram a se interessar mais pelos alimentos frescos.

 

 

 

Fonte:

http://www.revistaeducacao.com.br/projetos-de-educacao-alimentar-nas-escolas-buscam-mudar-habitos-familiares/