Paulínia, 24 (Agência Brasil - ABr) - Dez anos depois do maior encontro de líderes do mundo, onde 114 Chefes de Estado estiveram reunidos por doze dias, no Rio de Janeiro, para discutir os problemas globais do meio ambiente, uma pequena cidade no interior paulista, foi palco de outra importante reunião ambiental. Paulínia, distante cerca de 35 quilômetros de Campinas, sediou de 2ª feira até ontem, o 1º Simpósio e Exposição Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em Municípios Industriais, que colocou na mesma mesa de debates 90 conferencistas entre cientistas, empresários, governantes e ambientalistas. Ao contrário da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Rio-92), que se realizou em uma capital e teve a participação quase que exclusiva de governantes estrangeiros, o evento de Paulínia foi o primeiro de grande porte realizado no Brasil depois da Rio-92, onde a participação da indústria saiu da berlinda para a linha de frente nas discussões sobre questões ambientais. "Trata-se de um momento histórico para a questão ambiental brasileira, pois o que aconteceu aqui, foi a demonstração de que dez anos após a Rio-92, o setor industrial instalado no país investiu cerca de US$ 10 bilhões em tecnologias para melhoria ambiental", diz o professor e geólogo Dorival Correia Bruni, presidente da Ong Instituto Ambiental Biosfera, responsável pela coordenação do evento. Para ele é pouco, diante do passivo ambiental legado por anos de poluição e exploração irracional dos recursos ambientais no país, mas é um indicativo de alguns avanços no cumprimento da Agenda 21, documento final da Rio-92 que estabeleceu critérios para o desenvolvimento sustentável no mundo. Do ponto de vista da indústria nacional, houve um avanço significativo com relação às políticas ambientais locais, empregadas na linha de produção. Mesmo instalado fora do eixo Rio-São Paulo, o Simpósio recebeu cerca de cinco mil pessoas, que participaram dos trabalhos e visitaram exposição paralela ao simpósio. Mais de 300 prefeitos e 200 representantes de indústrias estiveram presentes no evento que custou mais de R$ 1,5 milhão. A prefeitura de Paulínia, diretamente interessada na realização do evento em função da sua característica de município essencialmente industrial, garantiu 2/3 deste total. "O restante foi obtido junto a empresas da região que montaram estandes no Pavilhão de Exposição", informou o professor Dorival. O passivo no meio ambiente decorrente da atividade industrial sem planejamento e responsabilidade, no entanto, foi ressaltado como um obstáculo a ser vencido. "As polarizações sobre as questões ambientais continuam e não terminarão tão cedo", ressaltou Alejandro Rebolledo, pesquisador do México que participou da conferência sobre tratamento de resíduos sólidos nos municípios e desenvolvimento sustentável em indústrias. "As nações desenvolvidas ainda lutam em repensar seus modelos econômicos e continuam a exportar indústrias poluidoras para os países pobres", comenta. Os resíduos sólidos e industriais estão entre os principais problemas da maioria dos municípios brasileiros, onde menos de 10% deles possuem aterros sanitários. O modelo ideal para o Brasil, segundo o especialista Renato Vasconcelos, é a usina de reciclagem e compostagem que oferece um alto benefício social. "Ela desmancha o lixo em material reaproveitável, gera adubo orgânico para agricultura, evita o passivo ambiental gerado por aterros e cria milhares de empregos de baixa qualificação", explica o engenheiro. Vasconcelos acrescenta que "falta conscientização dos prefeitos, pois o problema é mais grave do que se imagina". De acordo com especialistas, várias cidades das regiões Norte e Nordeste estão mais atrasadas do que municípios africanos de países como Zaire e Marrocos. Um estudo apresentado no evento demostra que seriam necessários cerca de US$ 3,5 bilhões para a criação de uma estrutura mínima de tratamento de resíduos sólidos para municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. June Lombard, da África do Sul, presidente de uma organização internacional de gerenciamento de resíduos sólidos, admirou-se com modelos de tratamento de resíduos industriais que visitou, na região de Campinas. Ela esteve na Refinaria da Petrobrás em Paulínia -a maior do país - e comentou que não conhece nada semelhante na África do Sul. "Vi que muitas empresas da região tratam dos principais poluentes das águas que são resíduos químicos, metais pesados, detergentes e petróleo, mas muito pouco é feito pelos municípios com relação aos esgotos", lamenta. Enquanto há dez anos, na Rio-92, muitos governantes dos países mais pobres diziam "no money, no deal", ou seja, sem dinheiro não há acordo, hoje é possível enxergar mudanças significativas no cenário ambiental mundial que exigiu ajustes políticos, econômicos, tecnológicos e culturais. O Brasil, mesmo sendo um dos quatro países do mundo a dispor de uma moderna legislação ambiental, está 20 anos atrás da recente modernização implementada no parque industrial de Portugal, uma exigência pós-Rio-92 da Comunidade Européia. "Nossa legislação é boa, mas oferece muitas brechas, por isso é mais fácil uma indústria recorrer de um autuação ambiental do que investir em tecnologias produtivas limpas", destaca o professor Bruni. A situação se torna mais grave devido à deficiência do monitoramento ambiental em todo o país. Durante o simpósio, foi apresentado um modelo adotado pela Espanha, há poucos anos, e que vem surtindo grandes resultados no monitoramento ambiental. Uma rede de satélites ambientais ligada a 500 estações terrestres monitora em tempo real 50 parâmetros químicos e dez físicos. "Se é feita uma descarga química em algum rio é perfeitamente possível identificar o responsável", conta June Lombard. O Brasil foi citado, em uma das conferências sobre monitoramento ambiental, como um dos países detentores desta tecnologia e que poderia monitorar as regiões metropolitanas com um custo/benefício extremamente alto. Entre as decisões finais do evento, ficou definido a criação de um Centro Nacional de Prevenção e Remediação de Acidentes Ambientais, que terá como objetivo principal o treinamento e capacitação de pessoal de órgãos ambientais e industriais. A intenção é que o centro fique localizado no estado de São Paulo e seja mantido por empresas por meio de cotas condominiais, além de agências ambientais. O centro deve estar funcionando no primeiro semestre de 2003 e custará cerca de R$ 60 milhões para instalação da área física. O prefeito de Paulínia, Edson Moura, ofereceu a área para sediar o centro, já que a cidade é um dos maiores pólos-petroquímicos do país e constantemente registra episódios de danos ao meio ambiente, sejam eles de indústrias ainda em atividade ou de outras que já desativaram suas linhas de produção, como foi o caso da fábrica de pesticidas da Shell, que leva os rejeitos dos produtos químicos para depósito da empresa na Vila Carioca, zona sul de São Paulo. O depósito havia sido interditado pela prefeitura, no último dia 20, porque o alvará de funcionamento estava vencido desde 1985. A Shell conseguiu, oito horas depois, liminar na Justiça suspendendo a interdição. O depósito apresenta problemas de contaminação e os moradores vizinhos receiam que sua saúde possar estar em risco. (Caius Lucilius) Evento internacional muda a visão empresarial sobre preservação do meio ambiente Paulínia, 24 (Agência Brasil - ABr) - Dez anos depois do maior encontro de líderes do mundo, onde 114 Chefes de Estado estiveram reunidos por doze dias, no Rio de Janeiro, para discutir os problemas globais do meio ambiente, uma pequena cidade no interior paulista, foi palco de outra importante reunião ambiental. Paulínia, distante cerca de 35 quilômetros de Campinas, sediou de 2ª feira até ontem, o 1º Simpósio e Exposição Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em Municípios Industriais, que colocou na mesma mesa de debates 90 conferencistas entre cientistas, empresários, governantes e ambientalistas. Ao contrário da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Rio-92), que se realizou em uma capital e teve a participação quase que exclusiva de governantes estrangeiros, o evento de Paulínia foi o primeiro de grande porte realizado no Brasil depois da Rio-92, onde a participação da indústria saiu da berlinda para a linha de frente nas discussões sobre questões ambientais. "Trata-se de um momento histórico para a questão ambiental brasileira, pois o que aconteceu aqui, foi a demonstração de que dez anos após a Rio-92, o setor industrial instalado no país investiu cerca de US$ 10 bilhões em tecnologias para melhoria ambiental", diz o professor e geólogo Dorival Correia Bruni, presidente da Ong Instituto Ambiental Biosfera, responsável pela coordenação do evento. Para ele é pouco, diante do passivo ambiental legado por anos de poluição e exploração irracional dos recursos ambientais no país, mas é um indicativo de alguns avanços no cumprimento da Agenda 21, documento final da Rio-92 que estabeleceu critérios para o desenvolvimento sustentável no mundo. Do ponto de vista da indústria nacional, houve um avanço significativo com relação às políticas ambientais locais, empregadas na linha de produção. Mesmo instalado fora do eixo Rio-São Paulo, o Simpósio recebeu cerca de cinco mil pessoas, que participaram dos trabalhos e visitaram exposição paralela ao simpósio. Mais de 300 prefeitos e 200 representantes de indústrias estiveram presentes no evento que custou mais de R$ 1,5 milhão. A prefeitura de Paulínia, diretamente interessada na realização do evento em função da sua característica de município essencialmente industrial, garantiu 2/3 deste total. "O restante foi obtido junto a empresas da região que montaram estandes no Pavilhão de Exposição", informou o professor Dorival. O passivo no meio ambiente decorrente da atividade industrial sem planejamento e responsabilidade, no entanto, foi ressaltado como um obstáculo a ser vencido. "As polarizações sobre as questões ambientais continuam e não terminarão tão cedo", ressaltou Alejandro Rebolledo, pesquisador do México que participou da conferência sobre tratamento de resíduos sólidos nos municípios e desenvolvimento sustentável em indústrias. "As nações desenvolvidas ainda lutam em repensar seus modelos econômicos e continuam a exportar indústrias poluidoras para os países pobres", comenta. Os resíduos sólidos e industriais estão entre os principais problemas da maioria dos municípios brasileiros, onde menos de 10% deles possuem aterros sanitários. O modelo ideal para o Brasil, segundo o especialista Renato Vasconcelos, é a usina de reciclagem e compostagem que oferece um alto benefício social. "Ela desmancha o lixo em material reaproveitável, gera adubo orgânico para agricultura, evita o passivo ambiental gerado por aterros e cria milhares de empregos de baixa qualificação", explica o engenheiro. Vasconcelos acrescenta que "falta conscientização dos prefeitos, pois o problema é mais grave do que se imagina". De acordo com especialistas, várias cidades das regiões Norte e Nordeste estão mais atrasadas do que municípios africanos de países como Zaire e Marrocos. Um estudo apresentado no evento demostra que seriam necessários cerca de US$ 3,5 bilhões para a criação de uma estrutura mínima de tratamento de resíduos sólidos para municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. June Lombard, da África do Sul, presidente de uma organização internacional de gerenciamento de resíduos sólidos, admirou-se com modelos de tratamento de resíduos industriais que visitou, na região de Campinas. Ela esteve na Refinaria da Petrobrás em Paulínia -a maior do país - e comentou que não conhece nada semelhante na África do Sul. "Vi que muitas empresas da região tratam dos principais poluentes das águas que são resíduos químicos, metais pesados, detergentes e petróleo, mas muito pouco é feito pelos municípios com relação aos esgotos", lamenta. Enquanto há dez anos, na Rio-92, muitos governantes dos países mais pobres diziam "no money, no deal", ou seja, sem dinheiro não há acordo, hoje é possível enxergar mudanças significativas no cenário ambiental mundial que exigiu ajustes políticos, econômicos, tecnológicos e culturais. O Brasil, mesmo sendo um dos quatro países do mundo a dispor de uma moderna legislação ambiental, está 20 anos atrás da recente modernização implementada no parque industrial de Portugal, uma exigência pós-Rio-92 da Comunidade Européia. "Nossa legislação é boa, mas oferece muitas brechas, por isso é mais fácil uma indústria recorrer de um autuação ambiental do que investir em tecnologias produtivas limpas", destaca o professor Bruni. A situação se torna mais grave devido à deficiência do monitoramento ambiental em todo o país. Durante o simpósio, foi apresentado um modelo adotado pela Espanha, há poucos anos, e que vem surtindo grandes resultados no monitoramento ambiental. Uma rede de satélites ambientais ligada a 500 estações terrestres monitora em tempo real 50 parâmetros químicos e dez físicos. "Se é feita uma descarga química em algum rio é perfeitamente possível identificar o responsável", conta June Lombard. O Brasil foi citado, em uma das conferências sobre monitoramento ambiental, como um dos países detentores desta tecnologia e que poderia monitorar as regiões metropolitanas com um custo/benefício extremamente alto. Entre as decisões finais do evento, ficou definido a criação de um Centro Nacional de Prevenção e Remediação de Acidentes Ambientais, que terá como objetivo principal o treinamento e capacitação de pessoal de órgãos ambientais e industriais. A intenção é que o centro fique localizado no estado de São Paulo e seja mantido por empresas por meio de cotas condominiais, além de agências ambientais. O centro deve estar funcionando no primeiro semestre de 2003 e custará cerca de R$ 60 milhões para instalação da área física. O prefeito de Paulínia, Edson Moura, ofereceu a área para sediar o centro, já que a cidade é um dos maiores pólos-petroquímicos do país e constantemente registra episódios de danos ao meio ambiente, sejam eles de indústrias ainda em atividade ou de outras que já desativaram suas linhas de produção, como foi o caso da fábrica de pesticidas da Shell, que leva os rejeitos dos produtos químicos para depósito da empresa na Vila Carioca, zona sul de São Paulo. O depósito havia sido interditado pela prefeitura, no último dia 20, porque o alvará de funcionamento estava vencido desde 1985. A Shell conseguiu, oito horas depois, liminar na Justiça suspendendo a interdição. O depósito apresenta problemas de contaminação e os moradores vizinhos receiam que sua saúde possar estar em risco. (Caius Lucilius)