CARNE OU VEGETAIS? OS BENEFÍCIOS DO VEGETARIANISMO PARA A SAÚDE E PARA O MEIO AMBIENTE

 

 

FOFONKA, Luciana¹

WEIRICH, Simone Machado²

 ¹Graduanda em Ciências Biológicas IERGS/UNIASSELVI. E-mail: simonem.w@hotmail.com

 ²Professora Orientadora IERGS/UNIASSELVI. E-mail: lufofonka@yahoo.com.br

 

 

 

RESUMO

 

O hábito de se alimentar de animais está profundamente enraizado em nossa cultura gaúcha carnívora e esse padrão alimentar regional, rico em proteína animal vem sendo questionado cada vez mais não só entre os médicos, mas também entre os ambientalistas. Neste contexto este estudo tem como objetivo geral analisar como a mudança de hábitos alimentares pode contribuir para atenuar os problemas ambientais. Tendo como objetivos específicos analisar os impactos ambientais negativos causados pela pecuária extensiva; Analisar como a dieta carnívora influencia na saúde mundial. E incentivar a população a adotar uma dieta vegetariana. Foram realizadas pesquisas bibliográficas e levantamento de dados em relatórios de organizações internacionais e instituições socioambientais. A produção de carne e seus derivados geram diversos impactos ambientais negativos como o desperdício de recursos hídricos, desmatamentos, efeitos sobre o ar atmosférico, perda da biodiversidade, processos de erosão do solo, entre outros. É fundamental que a sociedade reflita e se conscientize da importância de se reduzir o consumo de carne para a saúde e para o meio ambiente.

 

Palavras-chave: Carne. Meio Ambiente. Vegetarianismo.

 

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

A cada ano o planeta sofre com o esgotamento acelerado dos recursos naturais mediante ao caos que o meio ambiente está vivendo. Um dos problemas ambientais está relacionado à produção da carne e seus derivados, pois, geram diversos impactos ambientais negativos como o desperdício de recursos hídricos, desmatamentos, efeitos sobre o ar atmosférico, perda da biodiversidade, processos de erosão do solo, desertificação, poluição das águas, forte contribuição para o efeito estufa, entre outros.

Uma alternativa viável e interessante é conhecer os benefícios do vegetarianismo para a saúde humana, aliado ao uso sustentável e racional dos recursos naturais na utilização e obtenção desses alimentos. Conhecer e optar pelo vegetarianismo pode contribuir tanto para a saúde, como para a sustentabilidade do planeta.

O vegetarianismo é uma dieta alimentar que exclui da dieta todos os tipos de carne e seus derivados, assim sendo baseado no consumo de alimentos de origem vegetal, como legumes, verduras, frutas e grãos que na maioria das vezes são mais baratos que as carnes e muitos dos alimentos consumidos nas dietas vegetarianas são produzidos pelos próprios consumidores.

O presente estudo tem como objetivo geral analisar como a mudança de hábitos alimentares pode contribuir para atenuar os problemas ambientais. Tendo como objetivos específicos analisar os impactos ambientais negativos causados pela pecuária extensiva; Analisar como a dieta carnívora influencia na saúde mundial. E incentivar a população a adotar uma dieta vegetariana.

Tendo como metodologia uma ampla revisão bibliográfica, levantamentos de dados, estudos sistematizados em artigos científicos, em relatórios de organizações internacionais e instituições socioambientais.

 

 

2 O SURGIMENTO DO VEGETARIANISMO

 

O vegetarianismo surgiu na década de 60 do século XX, no entanto já existiam vegetarianos há muitos séculos, como, por exemplo, a cerca de 5 milhões de anos, o antepassado mais antigo do homem Australopithecus Anamensis, alimentava-se apenas de frutas, folhas e sementes. A palavra vegetariana vem do latim vegetus que significa “forte”. Também ha provas que 3200 antes de Cristo, grupos religiosos egípcios adotaram uma dieta sem carne, porque acreditavam que uma alimentação centrada nas plantas era o meio de chegar a uma reencarnação bem-sucedida (METELLO, 2017)

Outros pensadores da Grécia antiga também eram favor da dieta vegetariana como Sócrates, Platão e Aristóteles defendiam uma vida natural que não houvesse a matança de animais (THE VEGETARIAN SOCIETY OF UNITED KINGDOM, 2016).

 Devido à escassez de alimentos durante a Segunda Guerra Mundial, os britânicos foram estimulados a cultivar seus próprios alimentos, vegetais e frutas, estimulando o vegetarianismo. A preocupação com a falta de alimentos para a população cresceu e provocou a denominada Revolução Verde (1966) cujo objetivo era acabar com a fome no mundo por meio de um aumento da produção, graças as novas tecnologias como o melhoramento genético de sementes, emprego de novos defensivos agrícolas e a utilização de maquinas no campo (OLIVEIRA, NASSER, 2007).

 A Revolução Verde não atingiu seu objetivo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), uma a cada nove pessoas passa fome no mundo. E o uso de defensivos agrícolas vem sendo cada vez mais questionado sobre os riscos causados a saúde. Durante as décadas de 1980 e 1990 quando assuntos ambientais ganharam mais espaços nos noticiários a dieta vegetariana foi adotada por muitos, como forma de contribuição na conservação os recursos naturais (OLIVEIRA, NASSER, 2007).

 Com o surgimento mais recente de doenças como a da Vaca Louca e a Gripe Aviaria fortaleceram a oposição ao consumo de carne em países importadores do produto. Associado a não violência e ao respeito pelos animais juntamente com a preservação do meio ambiente, o vegetarianismo cresce ao redor do planeta.

 

 

2.1 OS BENEFICIOS DO VEGETARIANISMO PARA A SAÚDE HUMANA

 

Ao longo da nossa vida ingerimos 50 toneladas de comida, sabemos que se essa comida não for de boa qualidade a nossa saúde não será boa. Muitas doenças surgiram por consequências pelos maus hábitos alimentares. Com a correria do dia a dia as pessoas vem cada vez mais se alimentando de forma errada. O hábito de se alimentar de animais está profundamente enraizado em nossa cultura carnívora, portanto, mudar essa mentalidade pode ser um grande desafio.

  A transição para uma dieta com restrição de carne pode ser difícil para algumas pessoas, porém, os benefícios à saúde humana e a mudança positiva no estilo de vida são impactantes, pois, a dieta vegetariana apresentam baixa ingestão de gordura saturada.

Segundo a ONU (2013) sete em dez doenças que apareceram na última década poderia deixar de existir se o apetite por produtos de origem animal não fosse tão elevado em nossa sociedade. A tendência a novas doenças surgirem é maior com o aumento da população mundial, pois, aumentam as chances de novos vírus se espalharem como foram os casos das gripes suínas e aviaria.  Recentemente a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2014) anunciou que as carnes processadas são produtos cancerígenos (ou carcinogênicos), enquanto a carne vermelha ficou classificada como um produto provavelmente carcinogênico, ou seja, são produtos que podem causar câncer.

O risco de consumir estes produtos está associado a vários tipos de câncer como de próstata, câncer de mama, câncer de esôfago, câncer de estomago, câncer colo retal que afeta o intestino e o reto, que tem levado a óbito milhares de pessoas no mundo conforme dados e diversas doenças como diabetes, cálculos biliares, artrite, apendicite, hipertensão arterial, hemorroidas, obesidade, varizes e vários problemas cardiovasculares como infarto do miocárdio (OMS, 2014).

O índice de hospitalizações para quem é vegetariano é 22% menor do que aqueles que se alimentam de carne e estudos mostram que os vegetarianos têm uma expectativa de vida maior, segundo dados do NEIC (CENTRO INTERNACIONAL DE ECOLOGIA DA NUTRIÇÃO, 2011).

Em pesquisa realizada pelo IBOP (INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA, 2012) 15,2 milhões de Brasileiros se declaram vegetarianos, isso corresponde a 8% da população do país. Segundo a pesquisa, São Paulo é a cidade como maior número de vegetarianos, são mais de 792 mil pessoas; Em seguida vem o Rio de Janeiro com mais 630 mil vegetarianos e Porto Alegre, RS registra o menor índice de vegetarianos no país, apenas 6% da população.

Em 2013 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou os resultados da primeira Pesquisa Nacional de Saúde para verificar em quais estados Brasileiros houve o maior índice de câncer de intestino e colo retal e doenças cardiovasculares.  E o Rio Grande do Sul lidera o ranque, isso porque estamos falando de um Estado onde a cultura do churrasco é ainda muito forte.

Embora a porcentagem de vegetarianos venha se mantendo mais ou menos estável ao longo da história, há muitos restaurantes vegetarianos que ficam lotados na hora do almoço pelo menos nas classes médias urbanas. A preocupação em reduzir o consume de carne, na busca de uma alimentação mais saudável tem ganhado muitos seguidores.

 

 

2.2 OS TIPOS DE DIETAS VEGETARIANAS

 

Há diversos tipos de dietas vegetarianas, todas possuem a mesma filosofia de não ingerir carnes e utilizar alimento vegetais. São dietas vegetarianas os seguintes grupos (SLYWITCH, 2010) (quadro 1):

 

Ovolactovegetariano

Não comem nenhum tipo de carne, mas consomem ovo, leite e derivados.

Lactovegetariano

Não consomem carne e nem ovos, mas consomem leite e derivados.

Ovovegetariano

Não consomem carne e nem laticínios, mas consomem ovos.

Vegano

Não consomem nada de origem animal, nem roupas de couro, lã e seda.

Semi vegetariano

Aquelas pessoas que afirmam ser vegetarianas, mas abrem exceções para peixes ou aves não consomem carne vermelha.

Fonte: Slywitch,2010. Elaboração própria, 2016

Há ainda diversos grupos como os vegetarianos que utilizam alimentos crus conhecidos como crudívoros. Também há aqueles que utilizam alimentos orgânicos ou integrais e evitam tudo que é industrializado.

Cabe aqui salientar que as pessoas que consomem alimentos de origem animal e vegetal são chamadas de oníveros.

Geralmente quando se fala em dieta vegetariana há uma preocupação se haverá falta de algum nutriente. Independente da dieta onívora ou vegetariana, isso dependerá dos alimentos escolhidos. Slywitch (2010), especialista em nutrição afirma que a dieta vegetariana bem planejada é adequada a todos os estágios do ciclo de vida humana, inclusive durante a gestação e lactação, satisfazendo as necessidades nutricionais de bebês, crianças, adolescentes, sem prejudicar o crescimento.

 O indivíduo vegetariano tende a variar seus alimentos mais do que indivíduos onívoros assim diversificam mais suas fontes nutricionais demonstrando que a dieta vegetariana é estrita e não restrita. O principal cuidado que o vegetariano tem que ter é com a vitamina B12, pois, essa provém da dieta animal e derivados. No entanto não significa que os onívoros terão níveis excelentes, muitas vezes pode ser o contrário. O doutor Slywitch (2010), lembra que até o presente momento não foi encontrada nem uma dieta que não necessite de suplementação em, pelo menos uma fase da vida. O reino vegetal nos fornece todos os nutrientes que precisamos, com exceção da vitamina B12, a qual deve ser medida por um especialista da área e suplementada se houver necessidade.

 Todos os nutrientes presentes nos vegetais são absorvidos pelo organismo e é possível aumentar ou reduzir essa absorção. Os principais alimentos consumidos por vegetarianos e onívoros são cereais integrais, pois, no processo de refinação ocorre a remoção de fibras dietéticas, de ferro, zinco e de diversas vitaminas do complexo B, nas proteínas temos as leguminosas, as carnes e os derivados animais (ovos e laticínios).

 Para os onívoros a carne representa um alimento rico em proteínas. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos considera que os feijões e as ervilhas fornecem tanto ferro, zinco e proteínas quanto as carnes, além disso, as leguminosas são fontes de fibras alimentares que estão ausentes nas carnes (SLYWITCH, 2010).  Nas hortaliças encontramos as verduras e legumes e os vegetais amiláceos (batata e afins). Nas frutas a melhor opção consumir inteira e optar por produtos orgânicos.

O grupo dos óleos fornece energia e os lipídios que nosso organismo não produz, mas necessita: o ômega-3 e o ômega-6.   O doutor Eric Slywitch cita algumas alterações na saúde de uma pessoa que adota uma dieta vegetariana (SLYWITCH, 2010):

ü  Redução de 31% de mortes por doenças do coração em homens vegetarianos e 20% em mulheres vegetarianas.

ü  Redução de 50% do risco de diverticulite nos vegetarianos.

ü  Risco de diabetes 100% maior em onívoros quando comparados em vegetarianos.

ü  Risco de câncer de próstata 54% maior em onívoros.

ü  Risco de 88% maior de câncer de intestino grosso em onívoros.

ü  Redução da obesidade.

ü  Menor pressão arterial em vegetarianos (redução de 5 a 10 mmHg).

ü  Probabilidade duas vezes menor de pedras na vesícula em mulheres vegetarianas.

 

 

2.3 A PRODUÇÃO DE CARNE E OS IMPACTOS AO MEIO AMBIENTE

 

No século XX, o processo e industrialização atraiu a população da área rural para as cidades, enquanto o grande proprietário rural passou a investir na tecnologia de produção agrícola. A agricultura teve como fonte principal do progresso técnico, a mecanização e o desenvolvimento e produtos químicos e biológicos. A agricultura passou a adotar características empresarias e tornou-se um negócio que utiliza métodos artificiais, como os fertilizantes e pesticidas químicos, manipulação genética, irrigação, hormônios, antibióticos em baixa dosagem e outros processos para acelerar o crescimento de plantas além do potencial genético (CARTOCCI, NEUBERGER, 2008).

 

Estamos vivendo em um momento que não só a nossa saúde está ameaçada, mas a própria “saúde” do nosso planeta. As dietas alimentares baseadas em produtos animais são responsáveis direta e indiretamente por uma série de problemas ambientais, como o desperdício de recursos hídricos, desmatamentos, efeitos sobre o ar atmosférico, perda da biodiversidade, processos de erosão do solo, desertificação, poluição das águas, forte contribuição para o efeito estufa, entre outros.

A título de curiosidade, comparando a agricultura com a pecuária: precisa-se 100 acres de terra para produzir carne, e alimenta-se apenas 20 pessoas. Nesses mesmos 100 acres cultivando trigo (de forma sustentável), é possível alimentar 240 pessoas (COLEMAN, 2017).

 A metade das florestas tropicais do planeta foi transformada em pastos e uma boa parte foi transformada em fazendas que cultivam grãos e muitos desses grãos são destinados para criação de gado. Com isso os países pobres acabam produzindo grãos apenas para alimentar o gado e satisfazer a gula por carne para o ser humano.

 Outro assunto desconcertante é a carnificina que se comete contra os animais que também sentem dor. Milhões de pintinhos machos recém-nascidos são sacrificados todos os dias porque são considerados comercialmente inúteis e são transformados em adubos ou ração para outros animais (CURA PELA NATUREZA, 2016). Para muitas pessoas o ato de matar um animal é perturbador, no entanto muitos sustentam a indústria que o faz.

Nos matadouros para identificar os bois, eles são marcados com ferro em brasa no rosto. Seus chifres são arrancados com alicate e sem anestesia e durante o transporte os bois ficam amontoados praticamente uns sobre os outros as duras condições da viagem muitas vezes provocam a morte de muitos animais durante o transporte.  Outro método usado é içar o boi e cortar sua garganta.  Muitas vezes o animal recobre a consciência durante esse processo, muitos continuam vivos até depois de sangrarem (INSTITUTO NINA ROSA, 2005).

No manejo de suínos, os rabos dos animais são cortados sem anestesia, pois, os porcos ficam tão estressados pelo confinamento, que eles começam a morder os rabos uns dos outros e muitos acabam se tornado canibais. Além dos rabos, suas orelhas e dentes também são cortados sem o uso de anestesia, assim como a castração (INSTITUTO NINA ROSA, 2005).

Além das crueldades desse processo também é importante salientar o uso de substâncias químicas na produção das carnes e derivados. Existe uma grande quantidade de toxinas presentes nas carnes, muitas delas são adicionadas para ajudar no aspecto e sabor. Uso de pesticidas que entre outros males são suspeitos de causar câncer.

E também o uso de antibióticos, pois, há muitas doenças que acometem o gado, sendo necessário o uso desses medicamentos para a cura dos animais. Mais da metade da produção de antibióticos no Brasil e nos Estados Unidos é destinada aos animais e a taxa de infecção por estafilococos resistente a penicilina saltou de 13% em 1960 para 90% em 1988. Essas substancias químicas passam para a carne e para o leite. Os antibióticos consumidos indiretamente acabam criando resistência às bactérias.

 Além dos problemas relacionados à saúde, se verificam muitos impactos ambientais negativos na produção de carne. Cientistas americanos estimam que mais de 500 milhões de toneladas de metano são liberadas a cada ano na criação de gado, e que as criações de outros ruminantes produzem aproximadamente 60 milhões de tonelada de metano em todo o mundo, isso significa 12% do total de todas as fontes de emissão de gases poluentes na atmosfera (DUARTE,2008).

 A indústria da carne vem expandindo-se à custa de desmatamento, da poluição das águas e do ar, degradação do solo, destruição da biodiversidade e esgotamento dos recursos naturais que já excede 50% a capacidade de reposição do planeta. De acordo com Diniz (2010), em 2030, se mantivermos o atual ritmo será necessário um segundo planeta Terra para satisfazer nossa população que não para de crescer.

 

2.3.1 Desmatamento e Desperdício de Água

 

O desmatamento de florestas prejudica diretamente e indiretamente diversos fatores chaves para a vida na terra. Ao desmatar uma mata ciliar as nascentes e mananciais são prejudicados e o solo sofrerá um processo de erosão levando sedimentos para o rio gerando assoreamentos.

Diversas pesquisas e estudos comprovam que a indústria pecuária na Amazônia é o maior vilão do desmatamento. Segundo o Greenpeace em média a cada 18 segundos um hectare de floresta é derrubado na Amazônia para ser transformado em pasto. O próprio governo Brasileiro admite que a pecuária é responsável por 80% do desmatamento, acima até mesmo da mineração e da extração de madeiras (DINIZ, 2010).

As áreas desmatadas são áreas onde houve a expansão de novas fronteira agrícolas que são mais expressivas no estado do Pará (IMAZON, 2014).

Em 30 anos o Rio Grande do Sul perdeu em Mata Atlântida o equivalente a duas cidades de Porto Alegre, segundo levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo INPE. Apontam que foram desmatados 160 hectares do bioma no Estado entre 2014 e 2015, área de 300% maior do que o ano anterior. Dos 13.857,127 hectares de vegetação original do estado, restam apenas 7.9% (INPE, 2015).

Alguns dos Estados brasileiros que ainda apresentam as maiores áreas de remanescentes florestais estão entre os campeões de desmatamento. Minas Gerais, que tem a maior área de floresta (2,8 milhões de hectares), voltou a liderar o ranking, com perda de 7.702 ha (37% a mais que os 5.608 do período 2013-2014). O Rio Grande do Sul, perdeu 160 hectares de floresta, uma área 300% maior do que a registrada no ano anterior (2013-2014), quando foram devastados apenas 40 ha. Nos últimos 30 anos, o Brasil teve 1.887 milhões de hectares de Mata Atlântica suprimidos, o equivalente a 12,4 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. A maior parte (78%) dessa perda de vegetação ocorreu entre 1985 e o ano 2000 e as taxas estão em queda desde 2005 (INPE, 2015).

Um outro grande problema é a questão da água potável, que está cada vez mais escassa. Para produzir um 1 kg de carne são necessários 43.000 litros de água e para produzir 1 kg de soja, apenas 2.000 litros de água; Para produzir 1 kg de trigo 900 litros de água; Para produzir 1 kg de batatas 630 litros de água (DUARTE,2008). Além de espaço físico estima-se que será necessário aproximadamente o dobro de recursos, como água, para sustentar o crescente número de animais para o consumo (DINIZ, 2010).

O Brasil é a maior potência mundial em volume de água doce, concentrando cerca de 12% de todo o estoque global em seus rios e reservatórios subterrâneos, sendo que aproximadamente 56% dessa água é utilizada em atividades agropecuárias. A criação de animais e produção de seus subprodutos para o consumo faz o um uso ineficiente dos recursos hídricos.

A criação de animal é responsável pelo consumo de um terço de toda água doce do planeta, pela ocupação de 45% da superfície terrestre, por 91% do desmatamento da Amazônia, e é a causa principal da extinção das espécies e da destruição de habitat (MARGULIS, 2004).

 Segundo a ONU (2014) mais de 2 bilhões de pessoas um (um terço da humanidade) já enfrentam escassez de água e, até 2025, esse número deve saltar para 4 bilhões (DUARTE,2008).

Para demonstrar a ineficiência na gestão de recursos hídricos podemos comparar a quantidade de água gasta na produção de carne e de outros tipos de alimentos. A produção de 1 kg de carne de hambúrguer exige 12 vezes mais água que a produção de 1 kg de pão, 64 vezes mais água que a produção de 1 kg de batata, e 86 vezes mais água que a produção de um 1 kg de tomate (DUARTE,2008).

A criação de animais para o consumo também utiliza muita água para dessedentar os animais. Estima-se que uma galinha bebe 0,1 litro de água por dia, um bode bebe 8 litros, um porco bebe 15 litros, um boi bebe 35 litros e um vaca leiteira, bebe 40 litros por dia. No Brasil existem mais de 205 milhões de bois, enquanto que a população Brasileira tem cerca de 202 milhões de pessoas.

Além de todo o desperdício de água, há o problema da desertificação dos oceanos. Estudos apontam que isso se deve ao processo da pesca predatória realizada por meio de uma rede de pesca gigantesca, onde a cada 450 gramas de peixe capturado, capturam-se 2,2 kg de outras espécies desnecessariamente. Essas capturas desnecessárias são chamadas de capturas acessórias e elas são responsáveis por matar milhares de animais marinhos como os golfinhos, tartarugas marinhas, tubarões entre outros. Não estamos permitindo que os peixes tenham o tempo necessário para se reproduzirem e se multiplicarem, portanto, estima-se que por volta do ano de 2048 não haverá mais peixes no mar (WORM et al., 2006).

Uma outra questão é a poluição dos recursos hídricos provocada por diversos criadouros que produzem efluentes em excessos como sangue, gordura, vômito, vísceras, urina e fezes, que impregnam a água com hormônios, antibióticos, material tóxico proveniente de inseticidas, defensivos agrícolas e fertilizantes (DUARTE, 2008). Como não há um tratamento adequado desses efluentes eles acabam sendo infiltrados no solo, são despejados em lagos artificiais, naturais ou em rios contaminando a água. A título de curiosidade, uma vaca produz mais resíduo que um humano adulto e geralmente esse resíduo não recebe nenhum tratamento (WORM et al., 2006).

Duarte (2008, p. 51), afirma que “a simples inadequação no processo de manejo, armazenamento e disposição desses resíduos podem contaminar o solo e as águas tornando-os impróprios para qualquer uso, e gerar graves problemas de saúde pública, humana e ambiental”.

 

 

2.3.2 Efeitos sobre o ar atmosférico

 

Segundo a ONU (2016) 18% dos gases do efeito estufa que levam ao aquecimento global, são oriundos da produção animal, enquanto 13% são produzidos por todo o setor de transporte. Ou seja, a produção animal gera mais gases estufas do que todos os carros, trens, navios, aviões somados. Entretanto, este dado foi recalculado pelo instituto World Watch em 2009, que conclui que a pecuária e seus subprodutos respondem por no mínimo 51% dos gases causadores do efeito estufa (GOODLAND, ANHANG, 2009). Esse número se deve não só aos gases emitidos pelos próprios animais, mas ao desmatamento provocado para abrir espaço para cultivar soja e outros grãos para alimentar esses animais, além da respiração e de todos os excrementos produzidos por estes animais (SLYWITCH,2010)

Estima-se que os gases do efeito estufa que contribuem para o aquecimento global são oriundos da pecuária: 9% de gás carbono; 65% de oxido nitroso (que é 296 mais agressivo que o gás carbono), 37% de metano, 64% de amônia (que contribui expressivamente para a chuva ácida). O problema da elevação das temperaturas é muito sério, aumentando a imprevisibilidade do clima, ocasionando em extremos de temperaturas sem precedentes que podem destruir diversos cultivos de produtos levando a escassez econômica e de alimentos na região (WWF, 2015).

Se fosse cessada a prática do desmatamento as emissões globais poderiam ser diminuídas em até 12%, evitando que 50 bilhões de toneladas de carbono fossem lançadas na atmosfera, evitando uma imensa perda de biodiversidade, junto da extinção de diversas espécies. Tudo isso gera um efeito em cadeia que causa um desequilíbrio crescente nos ecossistemas, prejudicando toda a espécie viva do planeta (DUARTE, 2008).

 

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Comer não deve ser apenas uma questão de matar a fome, essa decisão sobre que tipo de alimento colocar no prato tem implicações econômicas, ambientais, éticas, culturais, fisiológicas, históricas e religiosas. A opção por uma dieta onívora ou vegetariana também deve levar em consideração todo o processo de produção dos alimentos.

Verificou-se a partir desse estudo os variados impactos ambientais negativos que a produção de carne gera à saúde humana e ao meio ambiente, apontando como uma possibilidade o vegetarianismo a partir de cultivos sustentáveis, como a agricultura ecológica ou a orgânica.

O vegetarianismo contribui para a diminuição do risco de doenças cardiovasculares, regulação da pressão arterial, diminuição dos níveis de colesterol ruim, melhora no sono entre outros. São muitos os benefícios, porém, se você decidir optar por uma dieta vegetariana procure inicialmente um médico nutricionista que fará uma dieta balanceada com orientações para que tenhas todos os nutrientes indispensáveis à boa saúde.

Todo o esclarecimento é necessário, a sociedade precisa ler mais e debater sobre as questões relacionadas à saúde e ao meio ambiente. A informação é a chave principal para a construção da consciência ambiental.

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

CARTOCCI, e NEUBERGER, 2008 Produção e industrialização de alimentos Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Universidade de Brasília. Brasília, Brasil. 85p.

 

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 INSTITUTO DO HOMEM E MEIO AMBIENTE DA AMAZONIA, IMAZON.2014. Desmatamento e degradação florestal em novo repartimento. Pará ,20014

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