PRÁTICAS EDUCATIVAS NA NATUREZA: CAMINHOS PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO HORTO FLORESTAL OLHO D’ÁGUA DA BICA, CUITÉ-PB

Autores: Dioginys Cesar Felix de Lima e Caroline Zabendzala Linheira

Dioginys Cesar Felix de Lima - Graduado em Licenciatura em Ciências biológicas pela Universidade Federal de Campina Grande Campus Cuité-PB. Email: dioginyscesar@gmail.com

Caroline Zabendzala Linheira – Mestre em Educação Cientifica e Tecnológica pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora Assistente da Universidade Federal de Campina Grande Campus Cuité-PB. Email: carolinezl.ufcg@gmail.com

RESUMO

Este trabalho trata do uso de trilhas interpretativas promovidas por um grupo de extensão que realiza atividades de Educação Ambiental interdisciplinar com estudantes da educação básica no espaço do Horto Florestal Olho D’Água da Bica, área de conservação de caatinga, localizado no munícipio de Cuité-PB. Derivado de um trabalho de conclusão de curso, aqui apresentamos três novos caminhos de práticas educativas/trilhas temáticas que criamos a partir da experiência do projeto de extensão. O presente estudo tem como objetivo a construção, execução e análise de estratégias de ecovivências para trilhas interpretativas no Horto Florestal. A pesquisa é de abordagem qualitativa, com uso dos instrumentos de caderno de campo, observação participante e uma avaliação das vivências realizada após a experiência da trilha, a fim, de obter informações do processo educativo proporcionado, sensibilização e analise de indicações do quê de significativo ficou após a experiência proporcionada aos estudantes. As práticas educativas por meio das trilhas temáticas criadas se revelaram como interessantes formas de conduzir as vivências em educação ambiental, seja no ato do brincar, conversar e aprender, o que transforma este espaço em um verdadeiro cenário pedagógico interdisciplinar. As novas estratégias de trilhas temáticas puderam proporcionar aos visitantes a oportunidade de vivenciarem um contato interativo, e livre, numa rica paisagem, que parece ter proporcionado um impulso de novos pensamentos, sensações, emoções, afeto, aprendizado e sensibilização para esse espaço partindo do vivenciado.

Palavras Chaves: Práticas Pedagógicas, trilhas interpretativas, ecovivências, interdisciplinaridade.

 

ABSTRACT

This work deals with the use of interpretative trails promoted by an extension group that performs activities of Interdisciplinary Environmental Education with students of basic education in the space of Horto Florestal Olho D'Água da Bica, area of ​​conservation of caatinga, located in the municipality of Cuité- PB. Derived from a course completion work, here we present three new paths of educational practices / thematic tracks that we create from the experience of the extension project. The present study has the objective of constructing, executing and analyzing ecoviency strategies for interpretive trails in Horto Florestal. The research is a qualitative approach, using the tools of field book, participant observation and an evaluation of the experiences realized after the experience of the trail, in order to obtain information of the educative process provided, sensitization and analysis of indications of what of significant Remained after the experience provided to the students. The educational practices through the thematic tracks created have revealed themselves as interesting ways of conducting the experiences in environmental education, whether in the act of playing, talking and learning, which turns this space into a true interdisciplinary pedagogical scenario. The new strategies of thematic tracks were able to offer visitors the opportunity to experience an interactive and free contact in a rich landscape that seems to have provided an impulse of new thoughts, sensations, emotions, affection, learning and sensitization to this space starting from the experienced.


Keywords: Pedagogical Practices, interpretive trails, ecoviencias, interdisciplinarity.

 

O INÍCIO DE UMA CAMINHADA

Um dos caminhos para que a educação ambiental aconteça, fora do âmbito escolar, é o contato mais direto, intenso e direcionado com a natureza. Nesse sentido, as chamadas trilhas interpretativas constituem estratégias pedagógicas que possibilitam o contato direto dos sujeitos com o meio natural. Segundo Vasconcellos (2006) as trilhas são caminhos através de um espaço geográfico, histórico ou cultural, repletas de informações e objetos que se constituem ambientes muito apropriados para o desenvolvimento da interpretação ambiental.  E o objetivo da interpretação é revelar os significados, relações ou fenômenos naturais mediadas por guias que possibilitam estreitar o contato direto dos estudantes ao meio natural.

Nessa perspectiva, o presente estudo derivado de um trabalho de conclusão de curso pretende discorrer sobre novas práticas educativas ao ar livre com o auxílio das trilhas interpretativas interdisciplinares, promovidas por um Projeto de Extensão denominado: Restauração do Horto Florestal Olho D’Água da Bica, em seu subprojeto: Educação Ambiental Interdisciplinar no Horto Florestal Olho D’água da Bica: Natureza, História e Arte realizadas no espaço do Horto Florestal Olho D’água da Bica, uma área de conservação de Caatinga com aproximadamente 75 hectares, localizado no município de Cuité-PB.

A partir da nossa prática no desenrolar do projeto de extensão, surgiu a necessidade de pensar novas estratégias de vivências, visando uma contribuição futura de práticas educativas em educação ambiental a serem realizadas neste espaço. A partir disso, planejamos, executamos atividades, e diante das experiências nos perguntávamos: Como os estudantes percebem a experiência da ecovivência? - Daí surgiu essa pesquisa.

Este estudo pretende, portanto, contribuir com o registo de informações acerca da educação ambiental e práticas educativas desenvolvidas no Horto Florestal e toma como objetivo geral a construção, validação e avaliação de estratégias de ecovivências para trilhas interpretativas no Horto Florestal. Para tal, foi necessário fundamentar as ecovivências como estratégias de educação ambiental interdisciplinar; caracterizar a natureza como cenário pedagógico; e analisar como os estudantes percebem a experiência das ecovivências.

PRIMEIRA PARADA: O HORTO FLORESTAL OLHO D’ÁGUA DA BICA

O Horto Florestal (Figura 01) é caracterizado pelos domínios da caatinga arbórea-arbustiva,  possui algumas espécies nativas de fauna e flora, presença de uma nascente, córregos, barragens, áreas úmidas, áreas de encosta, além de várias estruturas geomorfológicas, algumas com sítios arqueológicos onde podem ser encontradas inscrições rupestres (COSTA, 2009). Por consequências das atividades antrópicas no local exigem urgentes providencias para conter os maus usos e recuperar este espaço.

 

 

Figura 01: Referente a uma vista Parcial aérea do Horto Florestal.


Fonte: Google imagens, 2016.

A cultura, história e o uso social, apresentam uma grande riqueza de informações para o lugar, principalmente nos elementos presentes que são inspiração para artistas da região e historiadores, relatados por eles na graciosidade em falar da mata e do Olho D’água. Além, das diversas lendas e histórias existentes que cercam este espaço (LINHARES FILHO, 2013). O seu uso pela população cuiteense bem como seu arredor é de um caráter antigo; Esse uso está ligado a diversos benefícios, como o uso da água para banho, a qual segundo crenças nativas possui propriedades medicinais; para lavar roupas, cujo costume passado de geração a geração; além do uso do espaço para encenação da Paixão de Cristo que ocorre na época da Páscoa considerado pela população cuiteense um evento que faz parte de sua história e cultura recente (Figura 02).

 

Figura 02: Castelos utilizados na encenação da paixão de cristo.

Fonte: Autor do Trabalho, 2016.

 

A CAATINGA AMANHECEU EM FLOR: A EMERGÊNCIA DAS ECOVIVÊNCIAS

A partir das vivências e construção de saberes durante a experiência no projeto de extensão, surge o pensar para uma nova pesquisa, a partir de uma emergência percebida para o nascer de novas possibilidades de práticas educativas a serem realizadas ao ar livre no Horto Florestal. Trabalhar com práticas diferenciadas no cenário da Caatinga traz um olhar para toda a sua ecologia desde a convivência com a seca, a variação climática, o solo, entre outras condições presente neste Bioma, este que para muitos é apenas um local degradado quente e seco, nele existe alguma diversidade, com espécies nativas de fauna e flora, portanto, o local merece um olhar especial para que haja conservação das áreas preservadas e recuperação das áreas degradadas.

Diante do exposto, percebemos a emergência de incorporação das ações de educação ambiental no espaço, que visem proporcionar aos visitantes e a comunidade local um novo pensar para conservação e postura ambiental crítica, partindo de um reconhecimento da riqueza de sua história cultural, social e o Bioma Caatinga, com o apoio das contextualizações e interdisciplinaridade (LOUREIRO, 2004).

 

FLORESCENDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL INTERDISCIPLINAR

O conceito Interdisciplinaridade é um conceito chave para que se possa compreender a educação ambiental como processo permanente a ser inserido nas propostas e ações educacionais, pois, ela fomenta sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas para uma leitura do mundo (CARVALHO, 2004).

A dimensão ambiental, contextualizada e adaptada à realidade interdisciplinar, deve ser vinculada aos temas ambientais locais e globais, partindo de uma consciência crítica e afetiva dos sujeitos, propondo o surgimento de um novo modelo de sociedade. Tornando um segmento multidisciplinar no processo educacional, aos quais os cidadãos que estão em plena formação de ideias e ideologias holísticas de meio ambiente possam visualizar a problemática ambiental de forma mais abrangente (ABÍLIO, 2011).

As práticas pedagógicas diferenciadas servem aos estudantes como uma ponte entre os conhecimentos vistos e a sua contextualização (BRASIL, 1998). Para isso, a interdisciplinaridade tem um papel fundamental para que seja articuladora do processo de ensino e de aprendizagem na busca por um novo modo de pensar (MORIN, 2011) e atitude de entendimento ou ousadia frente aos saberes de forma complexa e não fragmentada (FAZENDA, 2013).

 

EDUCAR PARA CONSTRUIR O SENTIMENTO DE AMOR À NATUREZA

Visamos construir um novo caminho de práticas educativas partindo da via da racionalidade e a emoção de ecovivências em trilhas interdisciplinares, buscando  estabelecer diálogos em uma perspectiva interdisciplinar, pois, acreditamos que as ecovivências podem consistir numa proposta de experimentação de conceitos, contextualização local, emoções, sentimentos e pensamentos, contribuindo assim de forma subjetiva e muito forte, para a conservação da natureza desse espaço e reformulações de pensamentos e atitudes dos estudantes (MENDONÇA, 2012). As ecovivências podem possibilitar novos olhares para a natureza, troca de saberes e aprendizado a partir do entender da vida cotidiana (GUTIERREZ; PRADO, 2008). Nesse sentindo, uma pedagogia ecovivencial, é caracterizada pela inseparabilidade entre a ecovivencialidade no meio em que estamos inseridos, com a postura amorosa, o que possibilita a busca de transformação e a emancipação dos indivíduos (SHULZ, 2014).

No sentido de educar para construir amor à natureza entendemos que as “emoções são dinâmicas corporais que especificam os domínios de ação em que nos movimenta” (MATURANA, 1998, p.92) assim, uma mudança emocional partindo da sensibilidade pode mudar o domínio de ações ou pensamentos.

É a partir da convivência que as dimensões do ser e do fazer vão se modulando mutuamente, junto com o emocionar e, a cada momento, influenciam as ações, os comportamentos e as condutas (MORAES, 2003).

São as emoções que podem modelar o operar da inteligência e que abrem e fecham os caminhos para possíveis consensos a serem estabelecidos em nossa vida cotidiana (MATURANA, 1999).

Seguindo os pressupostos de Paulo Freire (2011) das práticas educativo-progressiva, o ouvir, dialogar, reflexão da própria realidade e o aprender com o outro, se fizeram presentes, além de outros aspectos como: observar, caminhar e tocar, foram formas de possibilitar problematizações e transformações de novos pensamentos e atitudes para os nossos visitantes e também aos guias, ampliando assim o entendimento da relação homem-natureza.

 

BROTANDO O AMBIENTE METODOLÓGICO

A presente pesquisa é de abordagem qualitativa, que segundo Ludke e André (1986) tem o ambiental natural com fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento, caracterizando-se assim, como uma pesquisa descritiva e exploratória segundo Gil (2010). Nos inspiramos no método de pesquisa fenomenológico “que busca a interpretação do mundo através da consciência do sujeito formulada com base em suas experiências. ” (GIL, 2010, p. 39).  A cada trilha realizada no âmbito desta pesquisa, utilizávamos o instrumento de caderno de campo e a observação participante, para registrar as informações e relato do ocorrido durante a trilha.

Após as novas propostas metodológicas de trilhas realizadas, partimos para nossa investigação seguindo a nossa indagação inicial: Como os estudantes percebem a experiência da ecovivência? E para isso, escolhemos utilizar um instrumento de avaliação das vivências, este, em folhas A4 coloridas, letras com fontes não convencionais e bordas, na tentativa de não parecer um tipo tradicional de avaliação, algo que remetesse às provas, para assim tentar extrair elementos importantes com traços de subjetividade. Esta atividade continha três perguntas e poderia conter desenhos, frases ou textos, a fim de obter informações do processo educativo proporcionado, sensibilização e análise de indicações do quê de significativo ficou depois da experiência proporcionada. Assim, foram aplicados, a posteriori, entre 8 a 15 dias após a trilha realizada, não aplicamos ao final de cada trilha, na tentativa de não ocorrer o bloqueio de dados novos e inesperados. A análise dos resultados das observações, fotos, desenhos, frases e textos foram feitas inspiradas nas estratégias de análise de conteúdo propostas por Bardin (1977).

As trilhas analisadas neste trabalho foram realizadas durante os meses de abril a junho de 2016, e constituem um recorte tendo como foco o Ensino Fundamental II. As atividades foram organizadas de acordo com a disponibilidade das escolas, tínhamos horários disponíveis de segunda à sexta nos períodos da manhã e tarde para visitação e os professores das escolas entravam em contato com os guias do projeto de extensão via rede sociais para agendar as visitas das turmas. É importante ressaltar que devido ao clima e o ambiente, disponibilizamos horários em que a temperatura estivesse mais amena.

Feito o recorte, atendemos sete turmas do Ensino Fundamental II, entre turmas do 6º ano ao 8º ano, de três escolas (Escola Municipal de Ensino Fundamental Julieta de Lima e Costa; Escola Estadual de Ensino Fundamental André Vidal de Negreiros, e a Escola Instituto Pequeno Doutor), totalizando a participação de 150 estuantes.

As propostas de trilhas temáticas foram baseadas partindo da nossa concepção de educação ambiental interdisciplinar, por todo referencial teórico apresentado, e também inspiradas nos estudos de vivências com a natureza de Mendonça (2015) e Cornell (2008), que preconizam e oferecem sugestões de atividades lúdicas, jogos e dinâmicas para serem realizados em ambientes naturais. Com isso, criamos as novas propostas que apresentaremos a seguir.

1. Trilha Ver, Ouvir e Sentir: A trilha foi criada com o objetivo de sensibilizar os novos visitantes através de sensações do próprio corpo, no início das ecovivências dávamos instruções e um roteiro sobre as atividades que seriam realizadas no decorrer da trilha, entre elas está a leitura da paisagem, ouvir os sons da caatinga, sentir a temperatura das árvores, ver as cores da Caatinga e o bingo natural.

2. Trilha dos Elementos: A trilha foi criada com o objetivo de que os novos visitantes pudessem visualizar o ecossistema como um todo, através de seus fatores bióticos e abióticos. Ao fim do passeio, fazíamos associações dos elementos presentes do Horto Florestal com os elementos da natureza: água, terra, fogo e ar possibilitando a visualização do ecossistema como um todo. Seguido de uma dinâmica denominada: teia de saberes da Caatinga.

3. Trilha às Cegas: A trilha teve o objetivo de sensibilizar os estudantes através de alguns sentidos como o tato e a visão. Com os olhos vendados, guiados por uma corda amarrada entre as árvores, em um trecho da trilha, os estudantes passaram por ele tocando e apreciando o meio natural.

A Dinâmica das ecovivências na extensão acontecia em três momentos distintos: Pré Trilha, Trilha Guiada e Pós Trilha.

 

COLHENDO O FRUTO COM EMOÇÃO: DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS AOS SABERES EMANADOS DA NATUREZA

 

Os resultados serão apresentados a partir de cada modalidade de trilha temática apresentadas anteriormente, vale ressaltar que as trilhas tiveram números de participantes e turmas diferentes. 

A Trilha Ver, Ouvir e Sentir, foi realizada com 80 estudantes, sendo que 26 estudantes do 7º e 6º ano da Escola Instituto Pequeno Doutor, 27 estudantes da turma do 6º ano “B” da Escola de Ensino Fundamental Julieta de Lima e Costa, 27 estudantes da turma do 7º “A” da Escola de Ensino Fundamental André Vidal de Negreiros.

Segundo os registros de caderno de campo, observamos que os visitantes se mostraram atentos, curiosos, e participativos, alguns estudantes demostraram ainda conhecimentos prévios de algumas espécies, tais como aves e plantas nativas, e a sua grande maioria demostrava bastante interesse e entusiasmo ao realizar cada atividade proposta.

Observamos também que ao fazermos descrições das lendas do local os estudantes ficavam encantados, o que nos fazia dialogar bastante com eles, seguindo dessa forma os pressupostos das práticas educativo-progressista de Paulo Freire (2011) dando autonomia aos estudantes, partindo do entender que educar exige respeito aos saberes dos visitantes, valorizando e qualificando as suas experiências e saberes.

Ao realizar as atividades: leitura da paisagem, ouvir os sons da Caatinga (Figura 03) (que sempre com os olhos fechados a concentração tomava conta e os sons da natureza emergiam), sentir a temperatura das árvores (Figura 04), observar quantas cores tem a Caatinga, além das explicações, toque, emoção e novas descobertas, foram sinônimos para que essa ecovivência passasse a ser ainda mais gratificante, tornando o Horto Florestal como um verdadeiro cenário pedagógico ao ar livre. Possibilitando assim, um aprendizado a partir da emoção (MATURANA, 1999).

 

Figura 03: Estudantes realizando a atividade os Sons da Caatinga.

Fonte: Autor do Trabalho, 2016.

 

Figura 04: Estudantes sentindo a temperatura das árvores.

Legenda: Figura A - Estudantes da Escola Estadual André Vidal de Negreiros realizando a atividade Temperatura das árvores; Figura B – Estudantes da Escola Municipal Julieta de Lima e Costa realizando a atividade Temperatura das árvores.

Fonte: Autor do Trabalho, 2016.

 

Moraes (2001 apud SCHULZ 2014a) argumenta que os sentidos são mediadores, portadores de imagens, sons, ou vibrações que o cérebro encarrega de fazer interpretações a partir do aprendizado primário estes que são os experimentados. Nesse sentido, o contato direto e sensível na natureza revela-se cada vez mais importante para que as propostas de ação não partam de motivações e fatos compreendidos de maneira abstrata (MENDONÇA, 2012).

Feitas as análises das avaliações realizadas após a trilha, os estudantes descreveram alguns pontos que parecem ser relevantes, além de alguns desenhos do Cantinho da Reflexão e do Lago, o que nos leva a perceber que estes espaços foram os mais expressivos para eles (Figura 05). E para Vygotski (1998), a atividade de desenho infantil compreende tanto os aspectos cognitivo e o emocional, pois é a significação da realidade que é objetivada e expressada na forma do desenho, ou seja, a expressão do desenho é a forma de como as crianças percebem o seu meio.

 

Figura 05: Alguns desenhos feitos pelos estudantes participantes da Trilha Ver, Ouvir e Sentir.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

 

  Foi ainda possível organizar em algumas categorias as descrições dos estudantes quanto à vivência. Uma das categorias que denominamos foi sentimentos e sensações, no qual a grande maioria dos estudantes relataram que a vivência tinha sido divertida, bonita, inesquecível, maravilhosa e alegre, outro elemento que apareceu foi a preocupação com o descarte de resíduos e preservação ambiental, além da história do lugar, mencionado principalmente, pelas lendas que rodeiam o espaço; A seguir podemos observar alguns recortes das descrições feitas pelos estudantes no quadro 01.

 

 

Quadro 01: Referente ao recorte das descrições dos estudantes que participaram da Trilha Ver, Ouvir e Sentir.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

 

As descrições nos levam a crer que a ecovivência proporcionada, surtiu algum efeito positivo nos estudantes, gerando pensamentos de senso crítico e postura amorosa, para com à natureza como propõe Shulz (2014). Além disso tiveram algum aprendizado partindo da corporeidade, sensações, emoções e experiências que tiveram, como bem aponta Mendonça (2012) quando descreve, que as vivências na natureza de forma lúdica podem contribuir de forma subjetiva para a reformulação de pensamentos e atitudes.

A Trilha dos Elementos criada com o objetivo de que os novos visitantes pudessem visualizar o ecossistema como um todo, através de seus fatores bióticos e abióticos, junto aos quatro elementos da natureza (terra, água, ar, fogo), foi realizada com 30 estudantes, do 8º ano “A” e “B”, da Escola Instituto Pequeno Doutor.

Durante a trilha observamos que os estudantes estavam em sua grande maioria eufóricos e se divertindo. A interação entre os guias, os visitantes e os professores foi um fator que prevaleceu fortemente durante toda caminhada. Ao final da trilha realizamos a dinâmica teia dos saberes da Caatinga, mostrando aos visitantes que todo o ambiente está conectado como se fosse apenas um, e por mais que algum impacto ambiental seja pequeno, sempre iremos afetar em algo no todo. A dinâmica ocorreu de forma divertida, ocorrendo bastante interação até o termino do percurso (Figura 06).

 

Figura 06: Estudantes realizando a dinâmica teia de saberes da Caatinga.

Fonte: Autor do Trabalho, 2016.

 

Feito as análises das avaliações realizadas após a trilha, os estudantes em sua maioria expressaram a presença humana nos desenhos, ao contrário de outras turmas, o que nos leva a pensar que, possivelmente, este tipo de trilha fez com que os estudantes se sentissem como parte do meio ambiente (Figura 07). 

 

 

 

Figura 07: Alguns desenhos feitos pelos estudantes participantes da Trilha dos Elementos da Natureza.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

 

Além disso, descreveram alguns pontos que parecem ser relevantes sobre a vivência, como a interação entre guias e visitantes, desde respostas positivas quanto aos guias e a vivência, até a maneira de visualizarem a interpretação da natureza na forma de uma conversa e perceber a dinâmica na forma de brincadeira, como assim descreveram, outros elementos que apareceram foram as lendas do lugar e elementos presentes na natureza, podemos observar a seguir no recorte feito das descrições no quadro 02.

 

 

 

Quadro 02: Referente ao recorte das descrições dos estudantes participantes da Trilha dos Elementos da Natureza.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

 

 A brincadeira e as conversas, entendidas assim pelos visitantes, interpretamos de forma positiva, pois, acreditamos que o ensino-aprendizagem não se dá apenas de forma abstrata. Gutiérrez e Prado (2008) afirmam que promover momentos de experiencialidade com o meio ao qual estamos inseridos, no contexto da Ecopedagogia, é promover a aprendizagem no sentido das coisas, sentido esse que não é dado apenas pelas verdades mediadas e os discursos proferidos, mas primordialmente pela vivência sentida pelos visitantes, a partir da vida cotidiana, do entender da sua localidade, ou seja, por suas próprias experiências o que pode se torna um aprendizado.

A Trilha às Cegas criada para sensibilizar os estudantes através do tato e da visão foi realizada com 20 estudantes do 7º ano “D” da Escola Municipal Julieta de Lima e Costa.

Com base na observação participante, durante a trilha observamos que os estudantes estavam tímidos na chegada, porém, atentos às instruções dadas pelos guias, e deslumbrados com a vista local. No decorrer da trilha os estudantes estavam agitados e um pouco dispersos, quando fizemos as interpretações da natureza a grande maioria demostrou saber nomes populares de algumas espécies, mais uma vez, seguíamos os pressupostos de Paulo Freire (2011) compartilhando saberes e problematizando elementos presentes que surgiam, gerando mais perguntas e muito diálogo.

Quando chegamos ao espaço que delimitamos (uma área da mata mais fechada), os estudantes formaram pares e passaram pelo espaço delimitado de olhos vendados (Figura 08), tocando pedras, galhos, folhas secas e árvores, sentindo o cheiro da mata que estava bem agradável. Estava no período de chuvas. Os estudantes ficaram espalhados após o passar do espaço que delimitamos, e o deixamos em um momento livre, com bastante euforia durante o restante do percurso, o passeio contou com bastante alegria.

 

 

 

Figura 08: Estudantes passando pela mata de olhos vendados.

Fonte: Autor do Trabalho, 2016.

 

Feito as análises das avaliações realizadas após a trilha, observamos que um terço dos estudantes desenharam castelos, já conhecíamos a turma especifica por outros caminhos, e sabemos que a maioria dos estudantes desta turma residem na zona rural, com isso, acreditamos que os mesmos não conheciam este local e em especial os castelos que foram a grande novidade para estes estudantes, por já conviverem com o meio natural, os castelos foram o elemento que mais chamaram a  atenção dos mesmos (Figura 09).

 

Figura 09: Desenho dos estudantes que participaram da trilha às cegas.

Fonte: Autor do Trabalho, 2016.

 

            Descreveram ainda alguns pontos relevantes: novamente descrevem sentimentos e sensações, onde grande maioria dos estudantes relataram que a vivência foi divertida, disseram ter amado, sentir as plantas, ouvir os sons dos passarinhos e andar vendado. Outro elemento que apareceu foi a preocupação com o meio ambiente, como não matar animais, importância das árvores, Caatinga, a história do espaço e respostas positivas da vivência apareceram minimamente, podemos observar alguns dos recortes feitos a seguir no (Quadro 03).

Quadro 03: Referente ao recorte das descrições dos estudantes participantes da Trilha às cegas.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

 

Diante do recorte das descrições apresentadas, uma nos chamou mais atenção a do Estudante F quando mencionado “Eu vi que para descobrir as coisas como a gente descobriu lá, não precisava ser inteligente, só precisava da atenção de cada um de nós”, com isso, pudemos interpretar que nossa prática enquanto guias e educadores da natureza se deu pela não opressão daqueles sujeitos, uma vez que, juntos descobrimos e compartilhamos saberes na tentativa de fomentar sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas para uma leitura da nossa localidade e do mundo como assim preconiza Carvalho (2004).

            Mais uma vez, as trilhas temáticas foram percebidas e descritas pelos estudantes com respostas positivas. A atividade realizada pode ter energizado o corpo e a mente deles (CORNELL, 1997) surtindo em uma fascinante experiência.

            As práticas educativas por meio das trilhas temáticas criadas se revelaram como novas formas de conduzir as vivências em educação ambiental no Horto Florestal, seja no ato do brincar, conversar e aprender, o que transforma este espaço em um verdadeiro cenário pedagógico interdisciplinar. Tais vivências possibilitam ainda, ser uma nova estratégia de ensino-aprendizado, rompendo o modelo tradicional de ensino, permitindo a formulação de pensamentos de pertencimento local, possibilitando novas atitudes e valores. As novas estratégias de trilhas temáticas podem proporcionar aos visitantes a oportunidade de vivenciarem algo mais interativo, livre e paisagístico, que nos parece ter proporcionado um impulso de novos pensamentos, sensações, emoções, afeto, e sensibilização para esse espaço partindo do vivenciado.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

As vivências na natureza por meio das trilhas interpretativas se mostraram como uma boa ferramenta para o ensino-aprendizagem nos ambientes do Horto Florestal, alcançando assim, os objetivos da educação ambiental e do projeto de extensão. Dentro desta perspectiva, as vivências possibilitaram aos visitantes um contato direto ao meio natural, troca de saberes, aprendizado e respeito a todas formas de vida. Como também, um novo olhar a partir da experiência para os aspectos presentes, desde o social, a características ambientais e culturais presentes no espaço. Conseguindo de fato, realizar as trilhas temáticas interdisciplinares, a partir da leitura e da percepção da realidade ambiental local, visualizando os saberes como um todo e não fragmentados, indo além, usando também a afetividade, emoção e sensibilização como vimos, na busca da formação do pensamento ecológico e crítico em nossa sociedade.

Nesse sentido, podemos afirmar que a ecovivência Trilha Ver, Ouvir e Sentir revela-se como uma boa possibilidade de mostrar que toda natureza tem coisas interessantes, basta ficar atento e senti-la a partir dos nossos próprios sentidos corporais; A Trilha dos Elementos pareceu estimular a percepção do homem como parte do meio ambiente; Já a Trilha ás Cegas permitiu um maior trabalho coletivo, sensações, compartilhamento de saberes entre guias e visitantes e outras novas percepções, porém, é importante ressaltar que estas foram nossas percepções a partir das vivências ocorridas para este estudo, uma vez que, cada grupo de visitantes tem sua identidade, com momentos e experiências diferenciadas que com isso as trilhas temáticas criadas podem surtir em relatos dos mais variados.

O uso do Horto Florestal se mostrou como um verdadeiro cenário pedagógico para as mais variadas possibilidades de interpretação ambiental, podendo-se dizer que no espaço podem ocorrer inúmeras outras novas estratégias de educação ambiental futuramente.

Podemos afirmar que o papel do guia durante as atividades de interpretação ambiental deve ser desenvolvido, a partir do desejo de uma autoformação como educador da natureza, tendo em mente horizontes da melhor qualidade ambiental e da vida, expandindo nossas ações e reflexões a respeito do meio ambiente, pensando não somente nas mudanças racionais, mas, sobretudo nas mudanças emocionais, para que assim, a interação com a natureza possa ocorrer na sua pureza e magnitude.

 

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