BIODIGESTOR: EXPLICAÇÕES DIDÁTICO METODOLÓGICAS AO ALCANCE DA ESCOLA COMO PÚBLICO ALVO
Doutor em Psicobiologia/UFRN e Pós Doutorando no PRODEMA/UFPB
Gil Dutra Furtado
Professor da UFPB/PRODEMA
Mestra em Linguística e Ensino/UFPB
Ailza de Freitas Oliveira
Professora de Artes Cênicas na PMJP
Mestranda no PRODEMA/UFPB
Êmille Natane de Araújo Barbosa
Funcionária da UFPB
Mestranda no PRODEMA/UFPB
Vanessa Oliveira Fernandes
Vanessa.oliveirafernandes@gmail.com
Gestora em Educação Ambiental no Governo da PB
Resumo
Os autores visam, com o presente artigo, explicar de forma didática e lúdica, a estudantes iniciantes nas teorias da Educação Ambiental, sobre o biodigestor, sua função, tipos e formas de utilização. A metodologia é pautada nas Artes Cênicas.
Iniciando a Reflexão
Com a latente necessidade mundial de otimização das fontes naturais utilizadas pelo homem, o ser humano consciente, ruma em busca de melhorias para seu saudável convívio com o desenvolvimento e o meio ambiente.
Ao longo dos anos, estudos acerca de equipamentos, técnicas e tecnologias que aprimorem este convívio entre o ser humano e o meio em que habita foram desenvolvidos, entre eles, os que buscam a utilização dos resíduos agrícolas, sejam eles, animais e/ou vegetais.
Estamos habituados com a audição repetitiva de alguns termos novos, e até modais, referentes às práticas positivas nas questões ambientais. Vários destes termos, que são reproduzidos no cotidiano, têm seus conceitos difusos, ou até mesmo desconhecidos, para a grande maioria da população. Podemos nos lembrar de biomassa, biogás, biofertilizante e biodigestor. Sendo este último o tema que norteará nosso capítulo.
Os termos supracitados giram em torno da problemática dos resíduos gerados pela agroindústria. Nossa atual sociedade evoluiu ao longo do tempo, bem como, a forma de utilizarmos os recursos naturais. Estamos em um ciclo produtivo que retira da natureza a matéria prima para a produção de alimentos e bens de consumo, e retorna a mesma, os resíduos produzidos durante o processo de produção até depois do consumo (YOKOMIZO et al, 2009).
Estes resíduos causam grandes problemas ao meio ambiente, entre eles podemos destacar a contaminação do solo e de corpos aquáticos (Valle, 2004). Isto tem levado a interdição de muitos estabelecimentos rurais e industriais fiscalizados pelo Ministério Público (CAMPOS et al, 2006).
Antes de discorrer sobre o tratamento de resíduos é necessário falar sobre o aproveitamento direto do resíduo. Santana (2005) cita a utilização de alguns resíduos de laranja e maracujá como: casca seca para ração animal e farinhas, albedo seco para alimentos peletizados, pectinas para vários alimentos, polpa usada para bebidas e vesícula de suco para sucos e iogurtes. Outro exemplo é a utilização de resíduo de laranja na fabricação de biscoito por Tozatti et al (2013). Também é possível a sua utilização como fonte de carbono em bioprocessos para obtenção de produtos químicos e de produtos de maior valor agregado (SOCCOL & VANDENBERGHE, 2003). Quando o resíduo não tem reaproveitamento ele deve ser tratado, a biodigestão é uma das alternativas.
Discorreremos a diante, em busca de conceituar os termos supracitados, ao tempo em que pontuaremos sua importância de uso, e formas de auxiliar nas questões ambientais e nas práticas dos seres humanos referentes à utilização de resíduos agrícolas.
No entanto, para didatizarmos de forma lúdica e atrativa tal processo explicativo ao entendimento das crianças, jovens e adultos, estudantes que vislumbramos neste trabalho, como nosso público alvo, utilizaremos como metodologia explicativa o teatro de bonecos. Toda a magia da manipulação entra em cena compondo um cenário explicativo que convida ao aprendizado dinâmico.
Uma Proposta Prática
O registro a seguir traz um texto cênico sugerido como etapa inicial na explicação deste conteúdo de forma prática em escolas e/ou demais locais de aprendizagem:
CONVERSA DE BEIRA DE CALÇADA
Maria: ZEfaaaaa, Zefaaaa
ZEfa: Fala Muié... que alvoroço danado é esse criatura?
Maria: Mulher nem te conto....
Zefa: Agora conte!!!
Maria: Eu soube que vão instalar um geringonça lá na prefeitura
Zefa: Como assim mulher? Explica essa historia direito...
Maria: É pra fazer uns testes ainda, mas vão instalar esse treco lá pra botar os restos de comida que a gente joga fora... é um povo estranho da universidade que vai fazer os testes...
Zefa: Armaria mulher como tu é assombrada! Tou sabendo já! É o BIODIGESTOR!!!
Maria: É esse nome mermo! O que é isso muié e serve pra que?
Zefa: Ouvi dizer que é pra fazer energia... Seu Ramiro lá da guarda municipal me disse que o prefeito tava dando brabo esses dias por causa das conta de luz da prefeitura! Principalmente nas escolas que tavam gastando demais... Aí o povo da universidade veio com essa geringonça aí pra ver se presta!
Chega Kika
Kika: E ai meninas? Tudo em ordem?
Maria: tudo mulher... tais sabendo da novidade já?
Kika: Não!!! Conta conta!!! Adoro babado! Domingo descobri um babado grande, mas depois eu conto!
Maria: O que houve no domingo, Conta também!!!
Zefa: Vixe mulher que horror, fazendo suspense com os babado! Mas é sobre um negoço estranho que vão butar lá na prefeitura... um tal de BIODIGESTOR
Kika: Ahhhhh, ouvi falando na rádio onti de manhã, mas num entendi nada!!!! É o que mermo hein?
Maria: essa Zefa é matuta mermo!!! É um BIODIGESTOR, serve pra um monte de coisas, e parece ser uma coisa legal, se der certo mermo como tão falando é capaz da prefeitura nem usar mais a energia da energisa.
Kika: Vixe, bom demais então, porque essa energia da energisa ta cada vez mais cara!
Maria: Pois é mulher, Seu Ramiro disse a Zefa que o prefeito tava tiririco com o preço das conta da prefeitura, tudo alta demais!
Kika: Oia... os meninos disseram na radio que vai ter uma palestra do povo da universidade lá na escola da praça hoje pra explicar tudin diretinho...
Zefa: Eita, vai ser bom então,porque com esse nome difícil faz até medo, foi igual quando butaram os alto falante na praça quando eu era menina, fazia um medo... a gente nem sabia onde os homi tavam escondido falando...
(Kkkkkkkkkk risadas das meninas)
Zefa: Depois mãe explicou tudin, mas os pirralhos tudin tinham medo dos alto falante. E o padre ainda dizia que era as alma que falavam neles!
Maria: Oww povo besta, nammm mulher tamo no século XXI, tem tudin na internet.
Kika: Mas minha gente, vamo la então na palestra ver o que é esse bicho tal de BIODIGESTOR
Zefa: Vamo vamo!!! Agora fique curiosa pra ver isso, como é heinn? É muito grande?
Maria: Sei não visse, nunca vi um!
Zefa: Ouxi, tu num vive na internet, na internet tem tudinn!!! Ahhhhh
Kika: Ahhh mulher, deixe de ser chata, vamo la ver a palestra! Senão num conto o babado que descobri domingo!
Maria: Eitaaa, vamo simbora... no caminho tu conta!
Zefa: Vamo vamo logo, vai começar já já e vai ter lanche depois!
A encenação deste texto é sugestão para iniciarmos uma conversa sobre os temas por ora abordados com um público alvo de escolas.
Devidamente registrado o texto dramatúrgico, retomaremos então, ao quarteto de termos técnicos anteriormente citados que pretendemos nos aprofundar neste trabalho: biomassa, biogás, biofertilizante e biodigestor. Lembrando que biodigestor é nosso fio condutor.
Explicando os Termos Técnicos
O primeiro termo que detalharemos é o que move nosso trabalho. De maneira direta e simplificada podemos definir o biodigestor como “um reservatório onde se coloca a biomassa misturada com água” (CERPCH, 2015, p. 02), onde ocorre a biodigestão. Ainda no mesmo referencial teórico, a biomassa e definida como “restos orgânicos encontrados na natureza” (CERPCH, 2015, p. 02).
Dessa forma, os resíduos sólidos oriundos da agricultura e/ou da indústria são denominados de biomassa quando ao deixarem de ser descartados no meio ambiente, passam a compor matéria prima para a realização da biodigestão, ao serem inseridos no biodigestor e acrescidos de água.
O processo de biodigestão partindo da utilização de esterco de gado ou porco acontece conforme a ilustração abaixo demostra.
Figura 1: Esquema do processo de funcionamento do biodigestor
Fonte: AEQ, 2015, p. 14
Para situarmos historicamente a origem dos biodigestores, e as ideias que fundamentam sua criação, corroboramos com Couto, quando coloca que:
A ideia do biodigestor nasce na Índia por necessidade energética do país durante e depois da Segunda Guerra Mundial, onde através da criação de dois institutos de pesquisas (o primeiro, o Instituto de Pesquisas Agrícolas em 1939 e o segundo o Gobar Gas Institute em 1950) tornou-se possível a implantação de quase meio milhão de biodigestores naquele país. (COUTO, 2011, p. 06).
Após a implantação do modelo indiano em nosso país, temos como mais utilizados uma tríade de modelos, pois o modelo de marinha e o indiano acompanham as instalações do modelo chinês, Brasil afora. O modelo indiano é o mais utilizado pelos brasileiros, por se tratar de um modelo de construção economicamente mais viável. Sua formatação, segundo Deganutti (2002, p. 03) consiste em possuir pressão operacional em constância, onde o gasômetro movimenta-se no sentido vertical, ampliando seu volume, ao tempo em que mantém a pressão interior constante, independente do volume de gás produzido ser ou não consumido de forma imediata.
Figura 2: Modelo indiano de Biodigestor
Fonte: AEQ, 2015, p. 06
Segundo o autor, o modelo indiano é interessante por possuir uma campânula como gasômetro, a qual pode estar mergulhada sobre a biomassa em fermentação, ou em um selo d'água externo, e uma parede central que divide o tanque de fermentação em duas câmaras. A função da parede divisória faz com que o material circule por todo o interior da câmara de fermentação...O fato de o gasômetro estar disposto ou sobre o substrato ou sobre o selo d'água, reduz as perdas durante o processo de produção do gás (DEGANUTTI, 2002, p.03/04)
A Figura 2 ilustra tal modelo de biodigestor. Na mesma, podemos observar seu funcionamento em etapas explicativas e vislumbrar como ocorre sua utilização.
O segundo modelo de biodigestor comumente mais utilizado no Brasil é o Chinês. Para Rodrigues, neste modelo,
A cúpula é fixa, de alvenaria, guarnecida por uma espécie de válvula, composta por uma tampa e pressionada por um depósito de água. A característica desse modelo exige que se esgote o gás com mais frequência, a fim de evitar tanto o impacto ambiental negativo pelo lançamento do biogás direto na atmosfera, assim como o desperdício do mesmo. (RODRIGUES, 2010, p. 15).
No modelo chinês o abastecimento é descontínuo. Deve ocorrer a lavagem do biodigestor frequentemente. E sua instalação tem maior parte feita submersa no solo e sua maior extensão é vertical.
Conforme podemos visualizar na Figura 3.
Figura 3: Modelo Chinês de Biodigestor
Fonte: AEQ, 2015, p. 09
O terceiro modelo mais utilizado no país é o Canadense ou de marinha. Este modelo pode ser confeccionado em locais onde o lençol freático se encontra mais próximo ao solo, pois pode ser construído sob o solo, utilizando maior área horizontal do que vertical na produção do biogás.
Segundo Tiago Filho (2007, p.18) este modelo amplia sua produção e gás nos dias quentes porque sua cúpula fica com maior área exposta ao sol e infla.
Podemos considerar como vantagem a limpeza, que pode ser realizada de forma mais fácil por possuir lona em PVC, de rápida retirada, no entanto, o custo desta cúpula é alto.
Na Figura 4 visualizamos esse modelo.
Figura 4: Modelo Canadense de Biodigestor
Fonte: http://www.aqualimpia.com/Prefabricados.htm
Situados os três modelos de biodigestores mais utilizados no país e suas características, vamos vislumbrar a conceituação dos outros três termos que compõem este trabalho: biomassa, biogás e biofertilizante.
De forma popular, podemos definir a biomassa como um composto de restos orgânicos e quimicamente tratando, pode ser assim definida.
Biomassa, assim como petróleo, é um hidrocarboneto, mas, diferentemente dos combustíveis fósseis, ela possui átomos de oxigênio na sua composição química. A presença desse átomo de oxigênio faz com que a biomassa requeira menos oxigênio do ar, consequentemente seja menos poluente, mas também reduz a quantidade de energia a ser liberada, reduzindo o seu pcs. Madeira, de maneira geral, possui a seguinte fórmula química empírica. C3,3 – 4,9 H5,1 – 7,2 O2,0 – 3,1 (BARRETO, 2008, p.54)
Alguns restos orgânicos, encontrados na natureza, que podem ser considerados como biomassa, são exemplificados como “excrementos (bovino, suíno, eqüino, etc.); plantas aquáticas (aguapé, baronesa, etc.); folhagem; gramas; restos (de rações, frutas, alimentos, etc.); cascas de cereais (arroz, trigo, etc.) e esgotos residenciais” (CERPCH, 2015, p.02)
É comum, que todos estes restos orgânicos, sejam descartados de forma errônea, sem o real esclarecimento da possibilidade de sua utilização de forma consciente e salutar ao meio ambiente, e consequentemente, ao ser humano e ao desenvolvimento do planeta.
Como terceiro termo explanado nos conceitos selecionados neste trabalho, temos o biogás que é “um gás inflamável produzido por microorganismos, quando matérias orgânicas são fermentadas dentro de determinados limites de temperatura, teor de umidade e acidez, em um ambiente impermeável ao ar” (TIAGO FILHO, 2007, p.11). Ou seja, dentro do biodigestor. De forma geral o biogás é composto por gás metano e carbônico.
Para Samulak (2011, p.05) “o biogás é uma fonte de energia renovável, que pode ser utilizado para produzir energia elétrica e térmica”. Ou seja, um produtor de suínos pode baratear a produção ao utilizar o biogás como forma de energia, podendo também vender o excedente do biogás. E ainda gerar renda através do crédito de carbono (CARVALHO & NOLASCO, 2006), pois ao evitar a liberação do gás metano estará evitando um dos gases do efeito estufa, que tem uma ação aproximadamente 21 vezes maior que o gás carbônico. Renovar a energia é renovar recursos naturais. E utilizar elementos antes descartados é otimizar de modo inteligente, a qualidade da existência humana.
E para finalizar este quarteto de novos termos oriundos das tecnologias politicamente corretas, temos o biofertilizante. Sobre ele, podemos perceber que:
Os biofertilizantes possuem compostos bioativos, resultantes da biodigestão de compostos orgânicos de origem animal e vegetal. Em seu conteúdo são encontradas células vivas ou latentes de microrganismos de metabolismo aeróbico, anaeróbico e fermentação (bactérias, leveduras, algas e fungos filamentosos) e também metabólitos e quelatos organominerais em solutos aquoso (MEDEIROS, 2006, p. 24).
Uma vez colocada a biomassa no interior do biodigestor, são gerados o biogás e o biofertilizante. Como todo o processo natural, não agride o meio ambiente, tanto o gás, quanto o fertilizante, são considerados biologicamente corretos e sua aquisição além de baixo custo, não contem produtos tóxicos nem nocivos aos seres humanos, como também ao meio ambiente.
REFERÊNCIAS:
BARRETO. E. J. F. (Org.) Combustão e gasificação de biomassa sólida e soluções energéticas para a Amazônia. Ministério de Minas e Energia, Brasília, 2008.
CERPCH – Centro Nacional de Referência em Pesquisas Centrais Hidrelétricas. BIODIGESTOR. Disponível em: <http://www.cerpch.unifei.edu. br/biodigestor.php> Acesso em: 05/05/15.
COUTO, R. A. de O. (IC) e MONTEIRO, W. . (Orientador). Geração de energia elétrica por meio da digestão de papel com o uso de biodigestores. VII Jornada de Iniciação Científica – 2011. Disponível em: <http:// www.mackenzie.br/ fileadmin/Pesquisa /pibic/ publicacoes/ 2011/pdf/fis/rafael_adolfo.pdf> Acesso em: 05/05/15.