PERFIL SÓCIO AMBIENTAL NO ENTORNO DAS NASCENTES DO ALTO CURSO DO RIO PIAUITINGA-SE E SUAS AÇÕES ANTRÓPICAS: EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA SUSTENTABILIDADE LOCAL

 

NEUMA RÚBIA FIGUEIREDO SANTANA (Doutoranda em desenvolvimento e meio ambiente PRODEMA/UFS, email: rubiafs@gmail.com).

ANTENOR DE OLIVEIRA AGUIAR NETTO (Professor Dr. Departamento de engenharia agronômica-UFS, São Cristóvão,/SE. E-mail: Antenor.ufs@gmail.com).

ANDREIA PATRÍCIA DOS SANTOS (Doutoranda em desenvolvimento e meio ambiente PRODEMA/UFS, email: andreiasantos25@gmail.com).

 

 

 

RESUMO: Na ocupação dos espaços o homem inicialmente busca áreas que ofereçam as condições mínimas para sua sobrevivência. Essa ação requer a utilização dos recursos naturais, principalmente a água. O município de Lagarto agrega às nascentes principais do rio Piauitinga, que se encontram atualmente degradadas por atividades antrópicas. Mediante a realidade apresentada, o presente trabalho objetiva identificar o perfil sócio econômico e ambiental que se desenvolvem nos arredores desses mananciais. Os resultados apontaram que a maioria da população vive sem acesso ao sistema de tratamento de esgoto, boa parte da água para consumo é proveniente de cisternas e a prática de queima dos resíduos ainda é adotada pela população. Conclui-se que, a ausência de saneamento nestas regiões é um dos fatores que compromete a preservação das nascentes.

Palavras chaves: Nascentes, preservação, recursos hídricos.

 

 

ABSTRACT: Usually, man looks for areas that offer minimum conditions for survival as long as he uses spaces. Consequently, this requires accessing natural resources and water, especially. The city of Lagarto brings together the main sources of river Piauitinga which are suffering from degradation by human activities. In front of it, this study tried to identify socio economic and environment profile that develops around these springs. Results showed that the sanitary conditions are precarious, whereas most of people live without access to sewage treatment system, using septic tanks at home. Water for drink comes mostly from tanks and burning of waste practice is strongly taken by the population. We conclude that the lack of sanitation in great number of villages is one factor that damages the preservation of the springs.

 

Keyword: Sources, preservation, water resources

 

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

 

Conhecer uma bacia hidrográfica em seus aspectos climáticos, geomorfológicos, biológicos e hídricos, contribui para o detalhamento de suas características naturais, entretanto, as interações humanas exercidas neste ambiente permitem a tipificação de degradações ambientais nos espaços ocupados pelo homem. Na ocupação destes espaços o homem inicialmente busca áreas que ofereçam as condições mínimas para sua sobrevivência e isso, forçadamente, requer a utilização dos recursos naturais, principalmente a água.

Para Santos et al (2007), os fatores sociais, culturais e econômicos devem ser observados por considerar que há interações das atividades humanas com o meio ambientes. As ações antrópicas são o produto dessa relação que pode ser harmoniosa ou deletéria, e para a verificação dessas possibilidades, demanda o conhecimento do comportamento dos indivíduos desenvolvido no espaço. Fontanella et al (2009) acredita que as pressões antrópicas podem ser verificadas por meio de informações sobre o uso da terra, demografia, condição de vida, infra estrutura e serviços na região que se pretende avaliar.

O município de Lagarto agrega as nascentes do rio Piauitinga, estas segundo Castro (2007) são as fontes de água que surgem em determinados locais da superfície do solo e são facilmente encontradas no meio rural. Entretanto quando uma nascente é afetada, em função do mau uso da sua bacia hidrográfica, pode esperar que a sua vazão aos poucos diminua, mesmo com a natureza lutando para manter o equilíbrio na busca de preservar as condições naturalmente estabelecidas (CASTRO, 2007).

Nessa região a área rural é carente de ações que protejam a qualidade de vida humana e ambiental, é frequente nos locais de nascentes ocorrerem descarte de resíduos sólidos, além disto, a população local faz uso de cisterna como medida de captação de água que servem como principal meio de consumo e utilização de fossas para descarte de excrementos líquidos. Por esse motivo o conhecimento sobre o local permite a identificação da dinâmica dos processos que interferem a qualidade ambiental, permitindo a avaliação do problema e as perspectivas de soluções.

Todavia é responsabilidade constitucional a criação de programas que garantam a melhoria habitacional e aplicação de saneamento nas localidades brasileiras, porém a escassez desses serviços é notória, principalmente em regiões mais carentes, tornando estes ambientes propicio a proliferação de doenças e degradação dos recursos naturais.

Entretanto, a comunidade deve estar inserida na visualização e soluções dos problemas ambientais da região em que vive. Tomando por base a educação ambiental, a qual é um instrumento que contribuiu para a mudança de atitudes e conservação dos recursos naturais. Nesse contexto, este trabalho procurou identificar o perfil sócio econômico e ambiental existente no alto curso do rio Piauitinga-SE, ressaltando a importância de práticas da educação ambiental, com o intuito de apontar os fatores que podem comprometer a sustentabilidade destas nascentes, que são as verdadeiras fontes de água para a população.

 

 

 

 

2. MATERIAL E MÉTODOS

 

2.1 Área de estudo

A bacia hidrográfica do rio Piauitinga (Figura 1) localiza-se entre as coordenadas 10° 34’ 10” e 10° 45’ 12” S e 37° 22’ 20” e 37º 34’ 22” W, apresentando uma área total de 418,2km2, cujo leito principal é perene em extensão de 150km.  O território desta bacia é composto por cinco municípios: Estância, Lagarto, Salgado, Boquim e Itaporanga D’ajuda, ou seja, quase 11% da bacia hidrográfica do rio Piauí (OLIVEIRA, 2002). Dentre os rios pertencentes à bacia do rio Piauí, apenas o rio Piauitinga possui água doce, responsável pelo abastecimento para consumo humano de todos os municípios da região sul e centro sul do Estado de Sergipe, totalizando 24 municípios (CARVALHO E SANTANA, 2009).

A vegetação deste município nos primórdios era formada pela floresta da Mata Atlântica, pela Mata do Agreste, pelo cerrado e pela caatinga; atualmente, a Mata do Agreste e as pastagens é que ocupam grande parte da área. Havia, em 1996, 2.724 hectares de matas e florestas; em 2006, a realidade era de 1.780ha, notando-se uma significativa perda vegetal num espaço de 10 anos (SEMARH, 2010).

Devido a esta devastação, e visando a sustentabilidade nas regiões das nascentes, inicia em 2007 o projeto “Adote um Manancial”, parceria do ministério público estadual, Universidade Federal de Sergipe e escolas locais, com proposta de trabalho para recuperação das áreas degradadas.

Dentre as espécies replantadas estão as que mais se adaptaram às condições edafo-climáticas da região, destacando-se: Pau Pombo (Tapirira Guianensis Aubi), Umbaúba (Cecropia Pachystachya Trec), Ingá (Ingá Uruguensis Hooker At Arnot), Murici ( Byrsonima Basiloba Juss), Caju (Anacardium Occidentale L.), Aroeira (Schinus Terebinthifolia Raddi), Cedro(CedrelaFissilisVell), Ipê (Tabebuia Alba), Jatobá (Hymenaea Courbaril L. Var.), Jenipapo(Genipa Americana L.), Maria Preta (Melanoxylon Brauna), Mulungu (Erythrina Mulungu Mart) e Saboneteiro (Sapindus Saponaria L.) (BOMFIM; ALMEIDA E SANTANA 2009).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2011), a população da bacia hidrográfica do rio Piauitinga é de quase 229.774 habitantes, porém o município de Lagarto destaca-se com a maior representação populacional em torno de 94.861 habitantes.

A sede do município e as principais vilas dispõem de abastecimento de água, captada de rio e poços artesianos, e distribuída pela Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO). O esgotamento sanitário é efetuado através de fossas sépticas e comuns, enquanto o lixo coletado é transportado por caçamba e depositado a céu aberto (SRH, 2002). Salienta-se que, tanto a distribuição de água quanto a coleta de lixo não são realizadas na maior parte da zona rural.

 

2.2 Levantamento das informações sócio econômico e ambiental

 

O levantamento de dados primários sobre o perfil da população que vive no entorno das nascentes e suas atividades, foram realizados nos povoados do alto curso do rio Piauitinga-SE, por meio das entrevistas. Os dados secundários foram adquiridos na Secretaria de Saúde do Município de Lagarto-SE, cujas informações foram referentes ao número de moradores, abastecimento e tratamento de água, destino dos resíduos e tipo de moradia existente nos povoados de Açu Velho, Açuzinho, Brasília, Boa Vista do Urubu, Boa Vista e Juerana.

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2.3 Entrevistas

 

Na investigação qualitativa, a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito. Para Marconi e Lakatos (2008), é um procedimento de coleta de dados que ajuda no diagnóstico e segundo Gil (2009), é a forma de interação social com o objeto de pesquisa.

Portanto, elaborou-se formulário de entrevista semiestruturada com o intuito de verificar informações sobre o perfil sócio econômico e ambiental, Triviños (2009) esclarece que estas perguntas não surgem por acaso, são resultados de uma teoria que orienta o pesquisador e toda informação que o mesmo já recolheu sobre o fenômeno social que interessa.

 

 

 

2.4 Amostragem e Análise dos dados

 

Embasado no que foi supracitado, as entrevistas foram realizadas em uma amostragem de 45 indivíduos. Tal trabalho desenvolveu-se entre abril, julho, agosto e novembro de 2010, totalizando seis visitas. Para tanto, o tamanho da amostra não foi definida mediante cálculos estatísticos, ressaltando o tamanho desta não é uma questão limitante desse objeto de pesquisa. Para elaboração de tabelas, gráfico baseou-se em Triviños (2009), e Rudio (2009). Portanto, as informações citadas na metodologia permitem a realização de um estudo exploratório e descritivo. Triviños (2009), destaca que a pesquisa exploratória permite ao pesquisador o aprofundamento do seu estudo nos limites de uma realidade especifica, buscando maior conhecimento para em seguida, planejar uma pesquisa descritiva. Partindo dessas primícias, segue-se a pesquisa descritiva, cujo objetivo é a descrição das características de uma determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relação entre variáveis (GIL, 2009).

 

3. REFERENCIAL TEÓRICO

 

Pelas questões acima mencionadas, a dimensão ambiental encontra-se associada às questões sociais, econômicas e culturais do local, pois conforme mencionou Jacobi (2003, p.190) “[...] a reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, envolve um necessário cuidado com a produção de sentidos sobre a educação ambiental”. O local de estudo integra, é parte da realidade da maioria das cidades brasileiras no que se à degradação da qualidade de vida, das condições socioeconômicas das pessoas, muitas vezes face à ausência de política públicas efetivas. Essas questões interferem diretamente no meio ambiente.

 Nessa perspectiva, cabe destacar ainda o que o autor mencionou sobre a necessidade da produção do conhecimento, no sentido de compreender como as relações sociais estão ligadas ao meio ambiente e assim devem [...] “necessariamente contemplar às inter-relações do meio natural com o social, incluindo a análise dos determinantes do processo, o papel dos diversos atores envolvidos e as formas de organização social” que por sua vez “aumentam o poder das ações alternativas de um novo desenvolvimento, em uma perspectiva que priorize novo perfil de desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade socioambiental”.

Sob esse ponto de vista, a educação ambiental é um importante conceito para a presente discussão, segundo Jacobi (Idem, p. 193):

 

                                 [...] a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a corresponsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável. Entende-se, portanto, que a educação ambiental é condição necessária para modificar um quadro de crescente degradação socioambiental, mas ela ainda não é suficiente.

 

O conceito “educação ambiental”, segundo Pelicioni (1998, p. 20) surgiu durante a Primeira Conferência Intergovemamental sobre Educação Ambiental, que foi realizada em 1977 em Tbilisi, na Georgia (ex-URSS). Assim, destacou:

 

                                 [...] a educação ambiental é considerada um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do meio ambiente e adquirem os conhecimentos, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tomam aptos a agir individual e coletivamente para resolver problemas ambientais presentes e futuros (PELICIONI, 1992 apud DIAS, 1992, p. 92).

 

A educação ambiental seria um importante mecanismo para a proteção dos recursos naturais por parte da comunidade do entorno do Rio Piauitinga. Por ser um processo permanente há necessidade da implantação de políticas públicas locais no sentido de inserirem práticas cotidianas, tendo como resultado a tomada de consciência “do meio ambiente e aquisição dos conhecimentos, dos valores, das habilidades, das experiências e da determinação que os tomam aptos a agir individual e coletivamente na resolução dos problemas ambientais presentes e futuros”.

Nessa perspectiva, é importante destacar a ideia de desenvolvimento sustentável, pois esse conceito [...] “não se refere especificamente a um problema limitado de adequações ecológicas de um processo social”, pelo contrário, o mesmo traduz algo muito mais complexo por ser “uma estratégia ou um modelo múltiplo para a sociedade, que deve levar em conta tanto a viabilidade econômica como a ecológica” (JACOBI, 2003, p. 194). Adicionalmente a isso é válido mencionar a noção de sustentabilidade, que segundo o autor “implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento (Jacobi, 1997).

Dessa forma, a educação ambiental e o desenvolvimento sustentável são importantes instrumentos para a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida das pessoas que moram próximo ao Rio Piauitinga, no município de Lagarto em Sergipe.

Diante das questões sobreditas o artigo segue apresentando os resultados e discussões dos dados coletados.

 

 

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

3.1 Perfil sócio econômico

 

Os povoados visitados em campo encontram-se na Figura 2, dentre eles o que apresenta maior população é o de Brasília com 3.244 mil habitantes, e o menos populoso é o povoado de Açu Velho.

 

 

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O nível de escolaridade dos entrevistados apresenta-se com 51% até a 4° ano do Ensino Fundamental e 2% com instrução até o Ensino Médio completo (Figura 3). Para o tempo de residência na região 49% vivem a mais de 10 anos e apenas 2% residem a 1 ano (Figura 4).A renda familiar dos entrevistados encontra-se com 78% abaixo de um salário mínimo, 13% recebem um salário mínimo e apenas 9% acima de um salário (Figura 5). Quanto à faixa etária, a maior representação foi de 47% entre 25 a 40 anos e a menor 4% até 25 anos de idade (Figura 6), nota-se que entre os entrevistados não houve menor de idade, fato que não foi intencional.

 

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A Tabela 1 apresenta que as construções residenciais desenvolvidas nos povoados, em sua maioria, são de tijolo, destacando-se o povoado de Boa Vista com 99,63% da população residindo nessas condições com a maior representação de casas construídas em taipa revestida, significando a percentagem de 8,47%, porém tal construção apresentou 11,02%.

 

 

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Com os dados das entrevistas constatou-se que o numero de 5 habitantes por residência é a maior representação com 31%, e o menor índice de 2% nas condições de 1 habitante por residência, conforme Figura 7. Todos os entrevistados habitam em casa própria.

As informações citadas ressaltam que, o perfil sócio econômico da região em estudo é caracterizado por pessoas com pouca escolaridade que em sua maioria nasceram ou já vivem a mais de 10 anos na região e sobrevivem com menos de 1 salário mínimo, contudo vivem em residência própria. A maior parcela convive com 3 a 5 habitantes nas residências. Destacaram-se os povoados de Açuzinho, Açu Velho, Boa Vista do Urubu e Juerana com o menor número de população, porém, com o maior número de habitantes estão os povoados de Brasília e Boa Vista. Vale ressaltar que mais de 80% da população reside em casa de alvenaria.

 

3.2 Perfil Socioambiental

 

Figura 05:Perfil escolar dos entrevistados.

 

 
A Tabela 2 a seguir apresenta dados referentes ao abastecimento de água nos povoados em estudo, onde mais de 95% da população dos povoados de Boa Vista do Urubu e Juerana utilizam água proveniente de poço ou nascente. Já para abastecimento público mais de 45% da população de Brasília e Boa Vista dispõe desse serviço, mas ainda a uma parcela da população que utilizam água de cisterna (Figuras 8).

 

 

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Conforme Tabela 3, entre os entrevistados, 87% percebem um cheiro bom na água que consomem; 98% consideram a cor clara e o gosto doce percebido por 89%. Salienta-se que, 11% acham ruim e salobra a água proveniente do abastecimento público.

 

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A Figura 9 informa que, 49% dos entrevistados utilizam a água da cisterna para consumo e 44% contam com o serviço de abastecimento publico ofertado pela DESO (Companhia de Saneamento de Sergipe).

O uso da filtração como técnica de purificação da água para consumo é a mais empregada nos povoados Açu Velho com 71,43% e Boa Vista com 59,55%, entretanto, há 51,33% de indivíduos em Açuzinho que não realiza nenhum tratamento na água de consumo. Com o procedimento de fervura destaca-se Juerana com 80,60%, e com a técnica de cloração o povoado de Boa Vista do Urubu com 41,34%, conforme Tabela 4. Bandeira et al ( 2005), em diagnóstico ambiental na bacia do rio Poxim-SE encontraram percentuais de 69,24 % de indivíduos que consumiam água sem tratamento enquanto o restante utilizavam da filtragem ou cloragem para consumo doméstico, indicando a realidade vivida pela maioria da população rural do nordeste.

 

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A Tabela 4 explana a forma de eliminação dos resíduos sólidos provenientes das residências nos povoados em estudo. O povoado de Boa Vista destacou-se com 86,97% da população servida com coleta pública. O percentual do povoado de Açu Velho para queima de lixo foi de 82,86% representando o maior índice, e na prática de deposição a céu aberto, Açuzinho foi considerado o maior praticante com 58% de representação desse hábito.

 

 

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Dos entrevistados 51%, contam com o serviço de coleta pública e 47% têm a prática da queima dos resíduos provenientes das atividades domésticas e 2% praticam as duas técnicas, (Figura 10). Nota-se que a variedade de práticas para a eliminação dos resíduos é frequente nesta região, Aguiar Netto; Santos e Moreira (2008), em pesquisa na bacia hidrográfica do rio Jacaré no baixo São Francisco Sergipano verificaram descarte de resíduos sólidos próximos aos cursos do rio, destacaram o fato preocupante, pois em sua maioria os materiais são carregados para os cursos d’águas, acreditando-se que o efeito negativo nesse ambiente segue-se menosprezado em termo de planejamento.

 

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Conforme a Tabela 6, a utilização de fossa é o principal recurso de captação do esgoto doméstico em todos os povoados, porém Juerana destaca-se com 97,01%.  Entretanto segundo as informações obtidas há uma pequena rede de esgoto em Açuzinho, Boa Vista, Brasília e Juerana (Figura 11). A prática de descarte a céu aberto também é observado em todos os povoados destacando-se o povoado de Boa Vista do Urubu com 13,56% (Figura 12).

 

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As informações citadas apontam as condições de saneamento precário, visto que a maioria da população vive sem acesso ao sistema de tratamento de esgoto, valendo-se do uso de fossas em sua residência, a água para consumo parte é proveniente de cisternas e a prática de queima dos resíduos é bastante adotada pela população (Figura 10). Cenário também comprovado por Barcellos et al (2006) quando verificou a percepção higiene sanitária na região de Larvas-MG, em  que a maioria utiliza a fossa absorvente como destino dos efluentes do banheiro, 68% incineram o lixo gerado na propriedade e apenas 20% da população recolhe o lixo por sistema público.

O povoado de Açuzinho é, o melhor, servido por serviços de sistema de esgoto, abastecimento de água e coleta dos resíduos por rede pública. Nesses povoados a prática de captação de água para consumo por meio de cisterna é inferior aos demais, porém são os maiores praticantes de deposição de lixo a céu aberto.

Entretanto o povoado de Boa Vista apresenta o melhor índice de abastecimento de água, coleta dos resíduos e sistema de esgoto por sistema público, a prática de queima é pequena e inferior ao do descarte a céu aberto.

 

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O perfil sócio econômico encontrado neste estudo aponta que, boa parte da população dos povoados de Açu Velho, Açuzinho, Boa Vista, Boa Vista do Urubu, Brasília e Juerana, tem a maior parte da população residindo há mais de 10 anos na região com uma renda familiar menor que um salário mínimo, além de possuir pouca escolaridade; o suporte dado pelo poder público é pífio, visto que o abastecimento de água é raro e é, paradoxalmente em pleno séc. XXI, suprido por utilização de água de poços e nascente.

Ressalta-se que, os principais problemas socioambientais encontrados nas nascentes do alto curso do rio Piauitinga-SE são: deposição de lixo nas proximidades das fontes, queima de resíduos sólidos e descarte dos resíduos líquido em fossa. Estes fatores podem contribuir para a degradação desses mananciais, contaminando a água com elementos químicos e biológicos capazes de reduzir a qualidade desses corpos d’água, e consequentemente oferecer riscos a saúde humana; além desses desajustes ambientais a deposição dos resíduos podem oportunizar abrigo para proliferação de doenças transmitidas por roedores e insetos que podem trazer sérios riscos a qualidade de vida dos moradores da região, por atenção que esses problemas encontrados também pode favorecer a lixiviação de contaminantes como nitrato e amônia para a água subterrânea.

Contudo, foi notório o reconhecimento por parte dos moradores sobre a degradação destes recursos naturais, no qual pode ser amenizado com a inserção de práticas de educação ambiental com a finalidade de sensibilizar a população a rever suas práticas ao redor das nascentes.

Sugere-se que, os futuros trabalhos realizados nessa região visualizem o contexto social desenvolvido nesses ambientes em seguida busquem a aplicação de métodos fundamentados na educação ambiental, visto que, estas nascentes são bastante visitadas pela população local, a qual utiliza dessas fontes por não dispor de água encanada em suas residências. Portanto são necessárias medidas que minimizem a falta de saneamento e a conservação do uso do solo, compreendendo que, a conservação desses mananciais para as próximas gerações é o caminho para o desenvolvimento sustentável dessa região.

 

 

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