BIOLOGIA CRIATIVA

INCLUSÃO SOCIAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL

 

 

FOFONKA, Luciana¹

 

RESUMO

O presente estudo pretende mostrar a possibilidade das pessoas com deficiências participarem de projetos de gestão ambiental como uma prática de equidade socioambiental. Também traz uma reflexão frente a importância da Educação Ambiental na construção da conciência ambiental de todas as pessoas.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental. Inclusão. Deficiência.

 

1 INTRODUÇÃO

 

A educação ambiental é um processo de formação dinâmico, permanente e participativo que permite que as pessoas envolvidas sejam agentes transformadores, participando ativamente da busca de alternativas para a redução de impactos sócioambientais e para o controle social do uso dos recursos naturais.

Através da Educação Ambiental é possível sensibilizar a população em geral a cerca dos problemas ambientais, facilitando o processo de tomada de consciência sobre a gravidade dos impactos ambientais e a necessidade urgente de ações de gestão sustentável do patrimônio natural.

A gestão sustentável implica em um desenvolvimento sustentável que deve se apoiar em 3 pilares: ambiental, social e econômico. E somente teremos uma sustentabilidade ambiental quando houver uma equidade e justiça social. Para tanto seria necessário construir estilos de desenvolvimento fundados em uma nova “racionalidade produtiva”, para que a política econômica dominante se renda a criação de políticas de redução da pobreza e a programas que fortaleçam a autogestão produtiva. Em suma, buscar um equilíbrio entre a natureza e a sociedade, que sirva de base para a nova organização social que necessita ser estabelecida para a sobrevivência humana.

No olhar holístico da sustentabilidade o que se deseja é a erradicação das causas básicas da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição, do preconceito, da dominação e exploração entre outras formas de mazelas sociais. Assim a busca por uma sociedade inclusiva é a essência do desenvolvimento social sustentável (MACIEL et al., 2015).

Nesse contexto de inclusão social se percebe que as pessoas com deficiência fazem parte de um dos grupos mais vulneráveis da sociedade brasileira, que não é chamado a participar das questões ambientais, mesmo sabendo-se que todos tem o direito à Educação Ambiental, à

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¹ Professora do Curso Tecnólogo em Gestão Ambiental – UNIASSELVI. E-mail: lufofonka@yahoo.com.br

informação ambiental e a um ambiente ecologicamente sustentável.

O presente estudo pretende discutir sobre a importância da educação ambiental na sociedade como prática de inclusão socioambiental; aproximar a Educação Ambiental às pessoas com deficiência e apresentar alguns exemplos práticos do processos de Educação Ambiental na temática ambiental das pessoas com deficiência.

 

2 O PAPEL DA SOCIEDADE, DA EDUCAÇÃO E DOS GOVERNATES

 

Segundo o censo do IBGE, em 2010, o Brasil possuía 46 milhões de pessoas com deficiência, o que representa 24% da população. São pessoas com ao menos alguma dificuldade de enxergar, ouvir, locomover-se ou alguma deficiência física ou mental. Deste total, 15 milhões tinham entre 15 e 59 anos, idade produtiva, mas apenas 51% estavam trabalhando. Também mostrava que 23% das pessoas com deficiência com idade para estar no mercado de trabalho sobreviviam com uma renda mensal de até um salário mínimo. Apenas 537.000 tinham alguma atividade remunerada, o que corresponde a 2,3% do total (IBGE, 2015).

Esses dados apresentam um panorama que precisa ser analisado com muita atenção no que se refere a inclusão das pessoas com deficiência nas discussões das questões ambientais e nos processos de Educação ambiental. Trabalhar as questões ambientais com pessoas com algum tipo de deficiência exige uma maior sensibilização, pré-requisito para qualquer processo de Educação Ambiental.

Todos as pessoas são importantes para a conservação ambiental, com ou sem deficiência e essa importância precisa ser ressaltada. É fundamental que haja a inclusão de pessoas com deficiência em atividades relacionadas à natureza, como a realização de atividades físicas, recreação e a contemplação da natureza com técnicas adequadas com as variadas deficiências que existem.

O contato com as áreas naturais contribui para a formação de um indivíduo com valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes voltadas para a conservação e uso sustentável do ambiente e de uma visão holística sobre os espaços que compõe a cidade (MACIEL et al., 2015).

            As entidades, as ONGs, as Escolas, associações ou cooperativas, devem possibilitar o acesso das pessoas com deficiência à informação ambiental e ao conhecimento, incentivando e proporcionando a instrução, o crescimento intelectual e cognitivo. E se possível que essas instituições também ofereçam algum amparo na área da saúde física, psicológica e da alimentação.

Atividades de laser e integração com a participação das famílias são agregadoras e estimulantes, favorecendo a criatividade de todos os envolvidos. De acordo com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Fortaleza/CE (2010) é possível trabalhar a Educação Ambiental com pessoas com deficiências, desde que haja interesse e criatividade dos profissionais:

 

[...] Os alunos participam da confecção de papel reciclado, [...] Oficina de Artes Plásticas e Reciclagem. São desenvolvidas atividades com técnicas de Desenho, Pintura, Papel Machê, Trançados, Reciclagem com garrafas Pet e Decoupage, visando desenvolver potencialidades artísticas, habilidades manuais, coordenação motora, criatividade e socialização. O setor se dispõe a atender 74 alunos desta escola, entre adolescentes e adultos com comprometimentos cognitivos, senso-perceptivos, motores e sociais. As metas estabelecidas dentro do projeto visam desenvolver uma maior autonomia e independência dessa clientela.

 

As crianças com deficiência podem ser estimuladas e sensibilizadas tanto quanto as crianças sem deficiência, além do que muitas ainda desenvolvem outras habilidades para compensar as inexistentes e dessa forma podem contribuir para seu desenvolvimento pessoal e social (SILVA & ARRUDA, 2004)

Considerando que a proteção do ambiente deve ser responsabilidade de todos e que deve ser realizada de forma permanente é fundamental que já de criança todos (com ou sem deficiência) sejam sensibilizados para esse fim. É necessário que a criança aprenda a conhecer, valorizar e respeitar a natureza e o ambiente como um todo.

A conservação do ambiente como um direito e dever de todos está previsto na nossa Constituição Federal (1988) em seu art. 225, que diz que:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo as presentes e futuras gerações”.

Assim cabe à Educação Básica e Superior, bem como aos governos através das políticas públicas ambientais oferecer estratégias para que cada cidadão compreenda os fenômenos naturais, as ações antrópicas e suas consequências para com o ambiente. É fundamental a construção de uma conciência ambiental que promova uma postura de construção de uma sociedade socialmente justa e sustentável.

Além dessa contrução sócio-ambiental que deve ser promovida pelas Escolas, Faculdades, Universidades sem discriminição quanto à deficiência, também é importante que as empresas contratem pessoas com deficiência, pois, promover a inclusão de pessoas com deficiência também é uma prática de sustentabilidade. Inicialmente cabe ressaltar que essa inclusão é garantida por lei - Lei nº 8213/91 - Lei das Cotas para Deficientes e Pessoas com Deficiência.

A atuação das pessoas portadoras de necessidades especiais só é positiva e agregadora, sendo considerada como uma boa prática de sustentabilidade quando a organização:

-  Garante o convívio não discriminatório;

- Dá às pessoas com deficiência a possibilidade de obter uma melhor qualificação e oferece oportunidades de desenvolvimento;

- Deixa claro suas expectativas junto ao novo emprego ou atividade;

- Dialoga e possibilita que a pessoa com deficiência expresse as suas necessidades e desejos;

- Dá às pessoas com deficiência a chance de crescer e alcançar cargos com remuneração melhor. (SUSTENTABILIDADE SANTANDER, 2015)

 

3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E INCLUSÃO SOCIAL

 

A seguir serão apresentados alguns casos de projetos de Educação Ambiental e inclusão social que vem sendo desenvolvidos no Brasil.

 

3.1 RECICLANDO COM ARTE - RS

 

A Prefeitura de Bento Gonçalves por meio da Secretaria do Meio Ambiente, em parceria com a Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul  (FADERS), a Secretaria de Habitação e Assistência Social e a Coordenadoria de Acessibilidade e Inclusão da Pessoa com Deficiência (CAISPEDE) e demais parceiros, promovem a inclusão social de portadores de deficiência e seus familiares, pessoas em vulnerabilidade social, representantes de entidades sócio-educativas e sócio-ambientais, através da sua participação no projeto Reciclando com Arte (BENTO GONÇALVES, 2015).

O Projeto tem como desafio, promover a capacidade criadora e a autoestima dos participantes, despertando talentos, incentivando o contato social, a sustentabilidade através da Educação Ambiental e de atividades de transformação de materiais alternativos que seriam descartados na natureza em matéria-prima na produção de bijuterias.

 

3.2 CEGO FAZ – ES

 

No estado do Espírito Santo, quatro deficientes visuais provam que são especiais e desenvolvem um projeto sustentável em Vila Velha. Eles reciclam garrafas pet e fabricam vassouras do tipo piaçava. Com o projeto “Cego Faz”, eles superam a deficiência e resgatam a autoestima em prol do ambiente (INTROSMOVEIS, 2015).

Para se produzir uma vassoura pequena são necessárias 13 garrafas pet, enquanto, para uma vassoura grande, igual às usadas pelos garis, são utilizadas 20 garrafas. ''Produzimos 1,2 mil vassouras por mês. Com esse trabalho, o deficiente percebe que ele tem valor'', afirma o presidente da União dos Cegos, Flodoaldo da Silva. Há 31 anos este trabalho vem beneficiando o meio ambiente, hoje produzindo em média 60 vassouras por dia (INTROSMOVEIS, 2015).

3.3 COEPAD – SC

Em Florianópolis, a Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência - COEPAD, é a primeira cooperativa no Brasil formada por portadores de deficiência intelectual. Tem como objetivo proporcionar capacitação e trabalho as pessoas com deficiência intelectual, contribuindo para o resgate de sua autoestima e o exercício de sua cidadania (COEPAD, 2015).

Os cooperados, maiores de 18 anos, trabalham na reciclagem de papel doado pela comunidade e, junto com voluntários e colaboradores, formam uma grande família de fibra. Com papel reciclado, a COEPAD produz agendas, cadernos, blocos, canudos de formatura, bolsas ecológicas, entre outros produtos. A cooperativa foi criada em Florianópolis em 1999, e o documentário “Fibra” sobre suas atividades e cooperados, ganhou o prêmio FAM 2012, divulgando mais um núcleo de reciclagem e seus benefícios.

Cabe ressaltar a importância da educação Ambiental no processo de construção da conciência ambiental nas crianças e jovens portadores de deficiência intelectual. A aprendizagem construída costuma se fixar em regras que são compartilhadas em seu meio, como as atitudes saudáveis e sustentáveis. Torna-se militantes e não admitem o desperdício, ou o lixo armazenado incorretamente, por exemplo.

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            A inclusão de pessoas com deficiência nos projetos de gestão ambiental, tem um sentido amplo, pois a inclusão e a Educação Ambiental andam juntas, sendo pilares muito importantes para a construção de uma socidade justa e sustentável. Agregam valor ao ambiente e às pessoas, ao considerar a estreita relação de depedendência entre os seres humanos e a natureza, numa harmonia benéfica, contribuindo para a autoestima dos deficientes, à conservação da natureza e ainda gerando sustento para tantas famílias.

A inclusão, a participação destas pessoas em projetos de gestãoambiental permitem a valorização da dignidade humana e o exercício da cidadania, reciclando principalmente suas vidas.

 

 

REFERÊNCIAS

 

APAE de Fortaleza. Disponível em: http://www.fortaleza.apaebrasil.org.br/artigo.phtml/13363  Acesso em: out. 2014.

 

BENTO GONÇALVES. Reciclando com Arte. Bento Gonçalves/RS Disponível em:

http://www.bentogoncalves.rs.gov.br/antiga/secretaria-de-meio-ambiente-desenvolve-projeto-reciclando-com-arte   Acesso em: out. 2014.

 

BRASIL. Constituição Federal. Senado Federal: Brasília, 1988. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 19 de

outubro de 2014.

 

COEPAD SC. Uma família de fibra. Disponível em: http://papelcoepad.blogspot.com.br/  

Acesso em: out. 2014.

 

IBGE, População com deficiência no Brasil fatos e percepções. Febraban. Disponível

em: http://www.febraban.org.br/Arquivo/Cartilha/Livro_Popula%E7ao_Deficiencia_Brasil.pdf

Acesso em out de 2015.

 

INTROSMOVEIS. Cego Faz - Trote solidário 2012 - Reciclando e Empreendendo. Disponível em: http://www.introsmoveis.com.br/cegofaz.htm

Acesso em: out. 2015.

 

MACIEL ET AL. Revista EGP. Escola de Gestão Pública. Secretaria Municipal de Administração de Porto Alegre, RS. Metodologias de uma Educação Ambiental Inclusiva. Disponível em: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/sma/revista_EGP/Metodologia_Jaqueline_outros.pdf. Acesso em: 10 de abrilde 2015.

 

SILVA & ARRUDA. O Papel do Professor diante da Inclusão Escolar. Revista Eletrônica Saberes da Educação – Volume 5 – nº 1, 2014.

 

SUSTENTABILIDADE SANTANDER. O que é sustentável? Santander. Disponivel em:

http://sustentabilidade.santander.com.br/pt/Espaco-de-Praticas/Jogos_e_Interatividades/Jogo07/data/index_std.htm  Acesso em: out 2015.