Rafael Alves Orsi
Estudante do último ano de Geografia - UNESP/Rio Claro
Professor de Ensino Fundamental
Fone: (19) 3571-0469
Cooperação ou Competição
Cooperação e competição, apesar de antagônicos, são vislumbrados pelo
discurso contemporâneo como perfeitamente possíveis e conciliáveis. Ao mesmo
tempo que se fala da necessidade da construção de uma sociedade fraterna,
buscando o fim das diferenças étnicas, culturais e sociais com base no
respeito mútuo entre os homem e com a natureza, também se defende a
necessidade da especialização de pessoas, empresas e lugares baseando-se no
conhecimento e na alta tecnologia.
Na realidade essa especialização visa conseguir um
melhor emprego, ganhar mais clientes, atrair mais capital para a região, ou
seja, o objetivo final é o lucro. Quando se coopera o objetivo final é o bem
comum, a igualdade, a qualidade de vida de todo um grupo e não apenas de alguns
poucos. Nesse sentido devemos ressaltar que a discussão que se faz a respeito
das questões ambientais passam necessariamente por nossa visão de mundo,
podendo ser cooperativa ou competitiva, mas nunca as duas ao mesmo tempo.
Dentro de uma visão competitiva a natureza é
transformada em um recurso passível de ser explorado, utilizando-se o máximo
que ela pode oferecer, buscando sempre ser mais competitivo, desbancar seus
concorrentes e aumentar seus lucros. Competir é buscar a vitória, usar todos
os meios para tal e, como não se pode ter só vencedores, há sempre uma massa
de perdedores. De fato quem perde é a natureza, a sociedade... a vida. Quando
se coopera busca libertar-se do egocentricismo, da visão unidimensional e da
ambição. A idéia central na cooperação é que através da ajuda mútua se
construa um mundo melhor e mais justo. Essa cooperação libertária deve estar
calcada num sistema de valores que abomina qualquer
tipo de exclusão, exploração e destruição. Percebemos que esses dois
conceitos não são conciliáveis, portanto afirmar que o caminho para o
"desenvolvimento sustentável" deve estar assentado na cooperação
entre os povos e ao mesmo tempo aceitar a competição entre as instituições,
é incoerente. Quem compete não coopera, caso contrário não há competição.
Poderíamos ter como exemplo a ajuda dada por empresas à
projetos ambientais. Será que essa ajuda é uma manifestação da tomada de
consciência do empresariado ou é mais uma estratégia competitiva? Se a população
está se conscientizando sobre problemas ambientais, a tendência é que
produtos ambientalmente corretos vendam mais. Elevar as vendas é competição,
é ganhar de alguém, significa arrecadar mais.
Essa ajuda, mesmo válida, não visa o bem comum nem a
preservação da natureza pelo reconhecimento de um valor intrínseco a ela. Na
verdade, ela visa a competição e, como em todo jogo, as regras às vezes são
desrespeitadas e podem mudar rapidamente. Valores culturais são mais duradouros
e difíceis de mudar, daí a maior dificuldade na conscientização, mas a
partir do momento que se tomar consciência da importância da cooperação, sem
dualismos, a base para um mundo sustentável estará formada.
Vivemos em uma sociedade extremamente competitiva. Se compete para ter o melhor
carro, a melhor casa, as melhores roupas, sair com a menina ou menino mais
bonito da escola e até mesmo para ver quem é o mais filantropo. Mas e a
cooperação, onde fica? Será que ela se resume a assistencialismos muitas
vezes demagógico? Pode ser que sim, pode ser que não. O fato é que precisamos
escolher um caminho, e este nos trará um futuro bom, ruim ou até mesmo não
existirá futuro. O que não podemos é mascarar realidades díspares cuja
coexistência é impossível. Assim corremos o risco de na falta de um presente
claro construirmos um futuro duvidoso.