CIRANDA DO DESPERDÍCIO

Bere Adams

 

A época de correrias chegou: encerramentos, comemorações, presentes, festas, Natal, ano-novo...

 

Os engarrafamentos se acentuam e a paciência sai de férias antecipadas. Para muitos de nós, este é um período de total esgotamento, e os reflexos desse dinamismo desenfreado da nossa sociedade recaem sobre o meio ambiente, com o aumento do consumo em todos os setores. Assim, ano após ano, neste período, nossas pegadas deixam um rastro de danos bem maior do que em outras épocas.

 

Mas, por outro lado, há os que conseguem, com um grande esforço e muito exercício de desapego, fugir desse carrossel acelerado para encontrarem espaços dentro desse tempo - que é vorazmente consumido pelas necessidades de consumo -, para refletir, rever valores, costumes, renovar, reinventar, até a roda, se preciso for, para melhorar - aliás, fazendo um aparte, reinventar a roda nesta ciranda consumista é o que melhor sabemos fazer, principalmente em se tratando de políticas públicas: mudam governantes, projetos são abandonados para darem lugar à “inovações” que acabam sendo a mesmíssima coisa.

 

Se não bastasse o estresse que este ritmo gera, tanto nas pessoas como no meio ambiente, há outro fator que normalmente é esquecido dentro dessa filosofia de vida, o do desperdício. Se somos completamente manipulados pelos meios midiáticos para consumirmos o que não precisamos, é lógico que algo sobra, e cada algo que sobra de alguém acaba formando uma montanha de sobras, uma montanha de desperdício. Disso tudo, o que mais me impressiona é o desperdício de alimentos, quando vivemos em um mundo onde uma, a cada sete pessoas, passa fome. Vivemos em um mundo onde a cada três segundos uma pessoa morre de fome. Isto mesmo, conte até três, pronto, morreu alguém de fome. Por isto, precisamos com urgência, diminuir nosso ritmo, sair dos exageros, valorizar aquilo que temos, e nos reformar como seres humanos, pois do jeito que estamos, a cada ano que passar será mais difícil de saciar a fome da ganância. 

 

É uma ciranda perversa a que vivemos, e que gera o maior desperdício de todos, o desperdício de vidas...

 

 

 

Fonte: Jornal NH – 02/12/2012, p. 12.