FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

O QUE FAZER PARA MELHORAR O MEIO AMBIENTE

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

leosinos@gmail.com

 

 

 

RELEASE

 

NOÇÕES SOBRE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Recuperar um ecossitema é muito mais do que fazer um plantio de mudas, necessitando de alguns conhecimentos técnicos para isso. Aprenda um pouco mais sobre esta prática e auxilie na melhoria dos habitats onde você vive.

 

 

 

ARTIGO

 

NOÇÕES SOBRE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

 


Mais do que simplesmente plantar árvores, recuperar uma área degradada leva em conta as antigas características de preservação desta, de modo que possa reproduzir as funções e processos que realizava no passado. Deste modo, a sua composição florística, as diferenciações entre hábitos de vida e a densidade de espécies são fundamentais, potencializando o retorno do estabelecimento climático local, o melhoramento do solo, o potencial hídrico regional (tanto superficialmente como subterraneamente), e a recolonização de espécies de fauna à área – sobretudo pela oferta de abrigo e alimentos.

Importante diferenciar alguns conceitos-chave relacionados à temática:

·          Degradação: é o conjunto de processos resultantes de danos no meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais" (Decreto Federal 97.632/89).

·          Recuperação: o local alterado é trabalhado de modo que as condições ambientais acabem se situando próximas às condições anteriores à intervenção; ou seja, trata-se de devolver ao local o equilíbrio e a estabilidade dos processos atuantes;

·          Restauração: é a reprodução das condições exatas do local, tais como eram antes de serem alteradas pela intervenção;

·          Sucessão Ecológica: é o processo gradual e ordenado de instalação e desenvolvimento, no qual um ecossistema vai se alterando até se estabelecer um equilíbrio. Esse processo passa por três fases: as primeiras plantas que se estabelecem são denominadas pioneiras, as quais vão gradualmente sendo substituídas por outras espécies de porte médio (plantas secundárias), até que as condições ambientais propiciem o estabelecimento e a manutenção de grandes árvores, denominadas tardias;

·          Hábitos de vida vegetal: consiste na classificação estrutural das plantas obtidas por evolução, pelas quais apresentam características morfológicas e fisiológicas distintas. Como exemplos de diferentes hábitos podemos citar as árvores, os arbustos, as ervas (terrestres e aquáticas), trepadeiras, parasitas e epífitas.

Isto exposto e compreendido, a primeira ação a ser tomada para a recuperação de uma área é isolá-la de fonte de seus impactos (cerca contra o gado, aceiros contra o fogo, etc). Em seguida, dependendo da situação, uma correção físico-química do solo pode ser necessária (podendo-se construir taludes ou gabiões para a contenção de margens de córregos, rios ou encostas, por exemplo).

A próxima etapa pode ser a escolha das espécies vegetais, as quais devem respeitar a composição original da área (sem a inclusão de espécies exóticas, por exemplo, sobretudo aquelas invasoras), sua participação no processo de sucessão, bem como períodos de floração e frutificação – que devem ocorrer intercaladamente entre as espécies durante todo o ano. Aliado ao plantio destas, algumas outras técnicas podem ser consorciadas na área a ser recuperada, como a Nucleação.

A Nucleação é definida como o conjunto de técnicas de recuperação que consiste na utilização de espécies capazes de propiciar uma significativa melhoria nas qualidades ambientais permitindo aumento na probabilidade de ocupação deste ambiente por outras espécies (Yarranton & Morrison, 1974)[1]. Dentre algumas técnicas que podem ajudar você a melhorar o meio ambiente de seu bairro e sua cidade estão:

·          Transposição do solo: técnica na qual são retiradas porções da camada superficial do solo de uma área em estágio de sucessão mais avançada e colocadas em faixas na área degradada. Espera-se que, com o tempo, essas faixas tornem-se núcleos de alta diversidade de espécies, desencadeando o processo sucessional na área como um todo;

·          Transposição de galharia: consiste na disposição desordenada de galharias de modo a formar um emaranhado de restos vegetais. Essa galharia amontoada proporciona abrigo para pequenos animais, além de manter um ambiente úmido e sombreado, propício para o desenvolvimento de plantas mais adaptadas a esse tipo de ambiente;

·          Poleiros naturais e artificiais: são utilizados para atrair aves e morcegos, dispersores de sementes. Através de fezes e material regurgitado por esses animais, ocorre a deposição de sementes nas proximidades dos poleiros, formando núcleos de diversidade. Os poleiros naturais são obtidos através do plantio de árvores de rápido crescimento, que tenham copa favorável para o pouso de aves e morcegos, podendo ter frutos que atraiam esses animais. Os poleiros artificiais podem ser construídos com varas de bambu, postes de eucalipto, caules de árvores mortas ou recém derrubadas (com licenciamento ambiental), nos quais são fixadas varas finas de madeiras;

·          Transposição de chuva de sementes: consiste na transferência do banco de sementes dispersas em áreas preservadas (que são coletadas por meio de estruturas de tela fina, dispostas em meio à floresta) para áreas degradadas ou uso na produção de mudas.

 

 

 

IMAGENS

 

 

 

TRANSPOSIÇÃO DE SOLO, UMA DAS TÉCNICAS DE NUCLEAÇÃO.

 



[1] YARRANTON, G. A. & MORRISON, R. G. 1974. Spatial dynamics of a primary succession: nucleation. Journal of Ecology 62(2): 417-428.