Resumo:

Serra do Lenheiro nas escolas públicas de São João del-Rei:

educação ambiental a partir da utilização de imagens

Murilo Cruz Leal1 , Cristiane Raquel do Sacramento Sobral2, Jéssica Ulisses Barbosa2 e Rodrigo dos Santos Rosa2

1Doutor em Educação. Professor do Departamento de Ciências Naturais (DCNAT) da UFSJ.

Membro do Núcleo de Apoio a Educação Básica, NAEB, e do Programa de Mestrado em Educação.

mcleal@ufsj.edu.br

2Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ, MG jessicaulisses@yahoo.com.br

Universidade Federal de São João del-Rei - DCNAT - UFSJ

Praça Frei Orlando, 170, CEP: 36307-352, São João del-Rei – MG

Resumo: A fim de verificar o conhecimento de crianças e adolescentes sobre seu entorno, bem como a percepção sobre problemas ambientais, foi desenvolvido um projeto de extensão onde foram apresentados slides com imagens da Serra do Lenheiro – importante região histórica e natural da cidade de São João del-Rei – a alunos do Ensino Fundamental de escolas públicas da cidade. Este trabalho concentra-se nas noções de educação ambiental presentes nos trabalhos produzidos por eles – redações e desenhos – nos quais foram retratados temas relevantes, como a biopirataria, a partir de conceitos prévios e elaborações durante as apresentações.

Unitermos: educação ambiental, percepção dos alunos, Serra do Lenheiro.

O lugar da educação ambiental no Brasil contemporâneo

O maior espaço destinado à educação ambiental (EA) nas escolas nos últimos anos deve-se, entre outras coisas, à grande importância que tem sido atribuída ao tema na mídia. Há um grande número de instituições, governamentais ou não, que se inscrevem e se identificam por uma atuação específica em relação ao meio ambiente. Empresas, editoras, organizações não governamentais (ONGs), universidades etc., ou seja, lugares os mais diversos da sociedade, manifestam-se, de um modo ou de outro, acerca do tema meio ambiente (SILVA, 2009). Tal fato tem possibilitado o aumento da visibilidade das questões ambientais bem como a troca de informações e a divulgação de acontecimentos relacionados à expansão da crise ambiental (ROCHA, 2008). Esta crise decorre, em grande parte, dos novos valores adquiridos com o modo de vida capitalista, o qual foi impulsionado por avanços tecnológicos que alteraram o ambiente natural principalmente por volta dos anos 50 e 60 (DIAS, 1992). O modo de vida, caracterizado por superprodução e consumo pela sociedade (GUIMARÃES E ROCHA, 2005) gerou efeitos negativos que afetaram a qualidade de vida num todo (DIAS, 1992). Este fato, de interferência direta na vida humana, favoreceu o surgimento do debate, da vigilância e do controle social daquilo que diz respeito ao meio ambiente (ROCHA, 2008). De acordo com Marquez (2008), este debate permitiu a desconstrução da noção de cultura e sociedade versus natureza, estabelecendo, enfim, um espaço onde o homem se insere nesse meio ambiente como parte integrante dele, passando a se inquietar com suas ações que por vezes podem afetar esse meio. Segundo Loureiro (1997), a especificidade da EA é trazer para a Educação o respeito à vida como seu eixo central, promovendo o fim da dicotomia homem-natureza.

A escola que responde pela Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio) figura como instrumento destacado na construção e propagação da cidadania. A questão ambiental diz respeito ao exercício da cidadania (TREIN, 2005). Tal exercício se encontra entrelaçado à democratização do saber, com a transformação do discurso competente num discurso acessível à maioria da população brasileira (ALBERGUINI, 2009). De acordo com Viezzer e Ovalles, educadores ambientais têm esse papel: “transformar a linguagem técnico-científica numa linguagem acessível de tal forma que a população possa acompanhar os processos de gestão do ambiente” (1995: p. 73).

Além da escola, os meios de comunicação de massa, incluindo televisão, rádio, jornais impressos, revistas semanais e internet, exercem com eficácia a construção e propagação de saberes e concepções para setores amplos da população do País (SILVA, 2007). A Lei No 9.795, de 27 de abril de 1999 (BRASIL, 1999), que “Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências”, assim define a Educação Ambiental:

Art. 1º - Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Art. 2º - A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.

A Serra do Lenheiro vai à Escola

A cidade de São João del-Rei, em Minas Gerais, é marcada por belezas naturais e históricas. Dentre essas belezas, situa-se a Serra do Lenheiro, associada a atividades de ecoturismo, bem como a atividades mais intimamente ligadas à cultura local, tais como as procissões que acontecem durante a Semana Santa e o montanhismo praticado pela unidade do Exército da cidade (Figura 1).

Foto de Paulo César dos Santos.

Figura 1: vista parcial da Serra do Lenheiro, a partir de um ponto turístico no centro histórico de São João del-Rei.

Em se tratando de uma cidade histórica, além da perspectiva da educação ambiental, ainda podem-se associar à Serra do Lenheiro aspectos pertinentes à educação patrimonial. A Lei Municipal Nº 3.826, de 03 de março de 2004, que dispõe sobre a criação do “Programa Educação Patrimonial” em escolas municipais de São João del-Rei, afirma:

Art. 1º - Fica criado nas Escolas do Município de São João del-Rei, o Programa “Educação Patrimonial” que visa facilitar o aprofundamento do conhecimento sobre Patrimônio Cultural e Natural de São João del-Rei.

Art. 2º - Caberá aos professores de educação infantil e do ensino fundamental incluir o conteúdo “Educação Patrimonial” em suas aulas com o objetivo de desenvolver o espírito crítico e proporcionar uma nova interpretação de patrimônio (SÃO JOÃO DEL-REI, 2004).

Dessa forma, o patrimônio adquire novos significados dentro da educação formal, atribuindo a este, além do valor histórico, também valor natural e cultural. De acordo com Padilha, citando Horta, “a Educação Patrimonial é um instrumento de ‘alfabetização cultural’ que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido” (2009: p.3). A autora ainda ressalta que este processo leva a valorização da cultura brasileira aos indivíduos e comunidades.

Partindo desse ponto de vista, evidencia-se a importância do desenvolvimento desses temas – meio ambiente e patrimônios – em todas as esferas sociais e, principalmente, no espaço formal da educação. Assim, a educação ambiental e a patrimonial surgem como processos educativos que possibilitam formação e transformação dos indivíduos. Faz-se necessário discutir esses temas glocalmente* (REIGOTA, 2002), de modo a examinar as principais questões ambientais, do ponto de vista local, regional, nacional e internacional, levando-se em consideração ainda aspectos históricos que provocaram ou colaboraram com a construção dos cenários atuais (DIAS, 1992).

Esse trabalho é fruto de um projeto de extensão desenvolvido pela Universidade Federal de São João del-Rei e tem como objetivo principal verificar o conhecimento de estudantes do Ensino Fundamental sobre seu entorno, em particular a Serra do Lenheiro, bem como suas perspectivas e sentimentos em relação ao meio ambiente, tomado aqui em sua totalidade enquanto espaço natural e patrimônio cultural.

Imagens da Serra do Lenheiro: kit paradidático de educação ambiental para crianças sanjoanenses

O título desta seção reproduz o nome dado à coleção de slides produzida pelo NPC (Núcleo de Professores de Ciências e Matemática da Região das Vertentes) em meados dos anos 90, com o intuito de apresentar a Serra, em sua riqueza de significados, para crianças e adolescentes nas escolas do Município. Conforme atestam Martins et al., (2005), as imagens são auxiliares importantes no desenvolvimento de conceitos e aperfeiçoamento dos mesmos, influenciando de forma positiva na apreensão e compreensão dos alunos, remetendo-os a situações cotidianas e/ou a conjuntos integrados de elementos. O trabalho de divulgação da Serra do Lenheiro e a problematização de temas ambientais aqui abordados se deram em quatro escolas públicas. O material utilizado nas visitações é composto de slides que representam aspectos variados da Serra do Lenheiro. Esses slides foram anteriormente classificados em algumas categorias principais: meio ambiente, história e mineração na Serra, aspectos importantes da ocupação humana, inscrições rupestres e botânica.

A coleção de slides conta com 200 imagens. Devido à limitação de tempo nas apresentações, foram escolhidos 40 slides representativos de todas as categorias citadas acima. A apresentação foi feita por alunos da Universidade Federal de São João del-Rei que participavam desse projeto de extensão. Cada slide apresentado era seguido de um comentário sobre os elementos da imagem. Os alunos visitados tinham idades entre 7 e 14 anos. Ao fim de cada apresentação, que durava cerca de 40 minutos, era proposto que os alunos preparassem uma redação (alunos do 7º, 8º e 9º ano) ou um desenho (alunos das séries anteriores) que demonstrasse o que haviam visto de mais interessante, o que tinha de fato lhes chamado mais atenção. Esses trabalhos eram recolhidos posteriormente pelos professores dos alunos e repassados e analisados pelo grupo de graduandos de Ciências Biológicas, participantes do Projeto. Dessas análises, surgem os resultados e discussões apresentados aqui. A identificação de alunos na próxima seção é feita por meio de pseudônimos.

Percepções dos alunos sobre a Serra do Lenheiro

296 trabalhos, entre desenhos e redações, foram produzidos pelos alunos das escolas visitadas. Estes desenhos e redações, que compõem os resultados desse projeto, ilustram a percepção, a construção, o reconhecimento e a descoberta de elementos naturais e históricos da Serra. Os desenhos foram produzidos pelos alunos com idade entre 7 e 9 anos enquanto as redações foram escritas pelos alunos com idade entre 10 e 14 anos. Dentre os aspectos naturais apresentados, destacam-se animais, plantas, montanhas, ribeirões e cachoeiras, conforme ilustrado na Figura 2.

Figura 2: Flores, insetos e cachoeiras são alguns dos elementos naturais destacados nos desenhos dos estudantes. Note na extremidade direita, a representação de inscrições rupestres encontradas na Serra do Lenheiro.

Nas redações, observa-se a descoberta de novas formas na natureza – os liquens:

“Na Serra do Lenheiro, as rochas tem umas manchas espalhadas que significam que há ar puro ou um ar fresco.” (Edilaine)

“Lá também tem umas manchas em uma rocha. É o liquen, um ser vivo que só aparece quando o ar está puro”. (Flávia)

Nota-se ainda o reconhecimento de várias espécies de plantas e animais pelos alunos, inclusive espécies comuns ao seu dia-a-dia (orquídeas e plantas medicinais), bem como a preocupação com sua preservação. Alguns trechos das produções textuais dos adolescentes, transcritos a seguir, refletem suas concepções e preocupações:

“Lá na Serra do Lenheiro existem muitas espécies de árvores... e muitas orquídeas, mas sabemos que não podemos tirá-las para poder preservar a natureza.” (Giovani)

“Um dos bens patrimoniais (a Serra) de São João del-Rei mais destruído e poluído pelo povo sãojoanense.(...) Vamos lutar para que não poluam e nem destruam as pedras com desenhos, contando a vida de seres vivos que habitaram nossas terras há muito tempo atrás.” (João Pedro)

A partir de idéias expostas nos textos dos alunos, por vezes dramáticas, observa-se uma preocupação com a preservação do meio ambiente e elementos históricos como pode ser notado no trecho acima, onde João Pedro faz menção às pinturas rupestres. A preocupação atual está ligada certamente ao conhecimento prévio dos alunos, advindo principalmente de notícias diárias na mídia em geral, que tem retratado problemas ambientais decorrentes da ação humana que comete, entre várias práticas, a biopirataria por exemplo. De acordo com a organização não governamental Amazonlink, “a biopirataria não é apenas o contrabando de diversas formas de vida da flora e fauna, mas principalmente, a apropriação e monopolização dos conhecimentos das populações tradicionais no que se refere ao uso dos recursos naturais.” A partir dessa consideração e aplicada a um contexto regional/local, a retirada de orquídeas da Serra pode ser considerada biopirataria. Embora os fins para essa prática sejam diferentes daqueles pretendidos por grandes empresas que extraem indevidamente recursos vivos da natureza - tráfico de animais e vegetais - ela também consiste na retirada de um ser vivo do seu local de origem sem prévia autorização. Essa atividade, ainda que pouco impactante atualmente, não deixa de afetar e colocar em risco a biodiversidade da Serra que apresenta componentes endêmicos. O conceito desenvolvido pelos alunos a respeito dessa prática é exposto de forma simples, baseado em elementos práticos, que demonstra seu entendimento sobre assuntos de importância relevante no contexto atual:

“A Serra do Lenheiro tem muitas orquídeas, mas é claro que sempre tem alguém que quer pegá-las. Tem pessoas que pegam para vender barato, ou até mesmo nem vendem, pois elas morrem antes.” (Flávia)

Na Serra do Lenheiro, a remoção de orquídeas é realizada por moradores da cidade que coletam e comercializam essas plantas de forma indevida, sem se preocuparem com sua reposição e vendendo-as por um preço irrisório.

Alguns desenhos e redações destacam a ocupação da Serra na periferia da cidade, bem como atividades turísticas que acontecem lá:

“(A Serra do Lenheiro) recebe diariamente várias pessoas que desfrutam das suas cachoeiras encontradas no bairro Tejuco, Estrada Real e outros.” (Jonas)

“A Serra é uma antiguidade de São João del-Rei e é também um dos pontos turísticos mais visitados e bonitos.” (Felipe)

Figura 3: Os desenhos dos alunos retratam alguns elementos da ocupação humana na Serra do Lenheiro: habitação, pecuária e garimpo.

Alguns alunos foram capazes de perceber também o impacto negativo do ecoturismo:

“Lá na Serra do Lenheiro tem muita coisa bonita: tem cachoeira, estrada, mas algumas pessoas passam fazendo trilhas, sendo que já tem. Elas vão passando e estragando o meio ambiente”. (Luíza)

De fato, a criação de novas trilhas sem estudos prévios ou autorização da entidade governamental responsável pelo local tende a causar danos.

A Serra do Lenheiro é visitada frequentemente por turistas; já a população sanjoanense, em geral, não conhece esse espaço. Assim disseram alguns estudantes:

“Existem também nascentes de água (...) é muito bom aprender sobre pontos turísticos da nossa cidade, e que nós não tivemos ainda oportunidade de conhecê-los.” (Marília)

“Eu não sabia nada sobre a Serra do Lenheiro e passei a saber várias coisas sobre a Serra.” (Janine)

“O que eu sabia sobre a Serra do Lenheiro, era só sobre a grande quantidade e extração de ouro na Serra, até segunda-feira, dia 22/10/2006 na escola, quando dois alunos da UFSJ nos ensinaram um pouco mais sobre a Serra do Lenheiro, patrimônio ecológico de nossa cidade.” (Gabriel)

“Agora eu sei um pouco mais sobre a Serra do Lenheiro... há algumas borboletas típicas dessa serra.” (Gustavo)

Esse desconhecimento se aplica também aos adultos. Essa nossa percepção constituiu-se pelos vários anos de convívio social na cidade, quanto também a partir de contato estabelecido com quase uma centena de jovens em um curso técnico do Serviço Nacional do Comércio (SENAC), onde esse projeto também foi apresentado.

A partir de observações como a de Gustavo, foi possível tratar de conceitos mais elaborados, como o de endemismo. Nas turmas das últimas séries do Ensino Fundamental, a idéia de existência de espécies características de determinada área geográfica pode ser debatida com os estudantes. Na fala de Gabriel, a noção do espaço-serra como patrimônio ecológico componente da cidade colabora para que os alunos se enxerguem como parte do meio ambiente formado pela Serra em conjunto com o espaço urbano.

Uma percepção notadamente antropocêntrica é evidenciada em algumas redações, conforme exemplificado no seguinte fragmento:

“Ele (o rio da Serra) drena a nossa cidade... As serras são importantes porque podem nos fornecer peixes pra nos alimentamos, água para nós usarmos, pode nos fornecer vitaminas e sais minerais. (...) As pessoas estão jogando lixo e poluindo a Serra. Nós devemos limpar, não poluir se não ficaremos sem: peixes, água e sem vitaminas e sais minerais.” (Juliana)

Segundo Barcelos (1996), a questão ambiental está impregnada de vícios e preconceitos da sociedade contemporânea, na qual o homem é visto como proprietário e dominador de tudo que existe no planeta. Juliana apresenta uma visão utilitária da natureza, reduzida a provedora de elementos fundamentais ao nosso bem estar e sobrevivência. A preocupação em não poluir a Serra, por exemplo, liga-se ao risco de comprometimento no abastecimento de água. O espaço não é visto como ambiente rico em biodiversidade e outros aspectos naturais e culturais relevantes.

Abaixo, segue a transcrição completa de duas redações, onde aparecem alguns aspectos ainda não tratados. Além disso, elas exemplificam as produções escritas dos alunos a partir da apresentação da coleção de imagens nas escolas:

Ir à Serra do Lenheiro pode ser um dos passeios mais bonitos que São João del-Rei pode oferecer. Só que para ser um passeio proveitoso, deve ser acompanhado por um guia turístico, pois se não for assim este passeio pode se tornar perigoso. A Serra oferece belas paisagens, plantas típicas e belos rios encantadores, muros construídos pelos escravos, também trilhas que por eles eram usadas. Ainda hoje pode ser encontrado ouro pela Serra, também há desenhos encantadores encontrados nos paredões da Serra, que nos fazem viajar no tempo. (Clara)

No dia 23/10/2006 dois universitários compareceram à minha escola. Eles deram uma palestra sobre a Serra do Lenheiro. Mostraram muito da fauna e flora do lugar. Vimos também lugares lindos, quedas d’água, rios e flores. Só que vimos um lugar sem mata ciliar, com pedras, e um rio morto. Lá era um lugar rico em ouro, existem pessoas que vivem disso até hoje. Eu adorei e aprendi a cuidar muito mais do meu patrimônio. Cuide e ame a natureza como eu. (Vitor)

Algumas considerações finais – antes de uma nova viagem

Pode-se inferir que a maioria dos alunos visitados pelo Projeto desconhecia a Serra do Lenheiro. Por outro lado, no que se refere à temática ambiental e conceitos associados, bem como preocupações com o meio ambiente, obteve-se resultados satisfatórios. Grande parte dos alunos foi capaz de se perceber como parte do meio ambiente e, mais do que isso, como agente de mudanças necessárias para sua preservação. Assim sendo, acredita-se que um procedimento educacional pautado em um panorama próximo dos alunos faz-se ideal para realização de ações de sensibilização (como a proposta neste trabalho) e posterior conscientização da mudança, quando necessária. Paulo Freire diz a respeito da consciência: “é preciso que (o sujeito) seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele. Saber que, se a forma pela qual está no mundo condiciona a sua consciência deste estar, é capaz, sem dúvida, de ter consciência desta consciência condicionada” (1983: p.7). Essa consciência tende a produzir uma reflexão do próprio ser sobre suas ações no mundo, se está ou não fazendo algo, como transcrevemos do aluno João Carlos:

“Mas quem liga pra tudo isso? (para a devastação do meio ambiente). Eu ligo porque é um bem que nós temos na nossa cidade e no nosso coração. Vamos lutar para que não poluam e nem destruam as pedras com desenhos, contando a vida de seres vivos que habitaram nessas terras há muito tempo atrás. Vamos preservar os nossos bens. Assim vamos ter uma cidade mais linda e mais visitada. Preserve a Serra do Lenheiro e todos os bens e patrimônios de São João del-Rei”.

São João del-Rei e a região Campos das Vertentes – em termos turísticos, também conhecida como “Trilha dos Inconfidentes” – são ricas em elementos histórico-culturais e ambientais. Antigas estradas de ferro, serras e cachoeiras, resquícios da vida colonial e do ciclo do ouro, são algumas das diversas atrações. Assim como fizemos com a Serra do Lenheiro, vários outros elementos poderão ser objeto de abordagem escolar, valorizando temáticas próprias do município e região. Essa confluência de educação ambiental e educação patrimonial certamente são promissoras para toda e qualquer micro ou meso-região do País.

* Criado por Ardjun Appadurai, o termo “glocal” refere-se à articulação dos conceitos global (glo) e local (cal) (REIGOTA, 2002).

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