A importância de conceitos Hidrológicos na Prevenção de Enchentes, Inundações e Alagamentos

A Educação Ambiental na Prevenção de Desastres Naturais.

 

Raimundo Thiago Lima da Silva1, Toshio Nishijima2

 

1 Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal Rural da Amazônia e Mestrando em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Santa Maria, Rua Izidoro Grassi, 23, Nossa Senhora Medianeira, CEP 97060-310, Santa Maria/RS, e-mail: thiagoufra@hotmail.com

 

2 Doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Docente do Centro de Ciências Rurais e dos PPG em Engenharia Agrícola e Educação Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS, e-mail: toshionishijima@gmail.com

 

Resumo

 

Desastres naturais estão relacionados com a geodinâmica da Terra, entretanto, a ação inadequada do homem vem contribuindo para uma intensificação de desastres naturais. Os efeitos dos desastres naturais afetam diretamente a população e trazem graves conseqüências e prejuízos para a sociedade. O presente trabalho objetiva relatar a importância da Educação Ambiental como uma ferramenta usual na prevenção de desastres naturais, através de levantamento bibliográfico com considerações atuais.

 

Palavras-chave; Educação Ambiental, desastre naturais.

 

Introdução

            O homem viveu em equilíbrio com o meio ambiente durante um período considerável de sua História, principalmente quando a densidade da população era contida e regulada por padrões naturais.  Gradualmente, ele introduziu em suas atividades processos não naturais convertendo-se em homem tecnológico.  Dessa forma o progresso tecnológico permitiu ao homem prover o sustento de uma população cada vez maior.

            Segundo estudos, no último século os Desastres Naturais produziram danos bem superiores aos provocados pelas guerras.  Por seu turno, os desastres tecnológicos são cada vez mais intensos face ao desenvolvimento tecnológico e econômico que põe em segundo plano os padrões de segurança da sociedade (CASTRO, 2000).

            A Educação Ambiental então surgiu como uma proposta educativa, dialogando com os saberes, as teorias e as tradições educacionais (CARVALHO, 2008), além de buscar superar a dicotomia entre a natureza e a sociedade. É uma forma abrangente de educação, que se propõe a atingir todos os cidadãos num processo pedagógico participativo permanente. Também procura desenvolver no educando a formação de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, além de ser crítica com capacidade de captar a origem e o desenvolvimento dos problemas ambientais.

            Observam-se constantemente nos jornais, tanto do Brasil quanto do mundo, notícias de desastres naturais com centenas de vítimas e milhares de casas destruídas, trazendo inúmeros danos e prejuízos e mostrando ao homem sua impotência diante das forças da natureza. Essa verdade tão simples e essencial passa, muitas vezes, despercebida pela sociedade, especialmente aqueles que têm o poder e a responsabilidade de conduzir o futuro do nosso planeta.

            A capacidade de prever, controlar ou mitigar os efeitos dos desastres naturais faz parte da cultura de variadas civilizações ao longo da história, conforme relata (ANTOINE  et al., 2008), que citam a China, a Índia, a Mesopotâmia e o Egito como países que construíam diques contra as inundações. Ensinamento este que persiste na modernidade, com o reforço do conhecimento científico aliado as várias disciplinas inter-relacionadas com esse tema. Nesse contexto, a Educação Ambiental apresenta ações alternativas para reverter o quadro de deterioração ambiental através de práticas que orientem a nossa relação com o meio, buscando um convívio saudável e sustentável entre a sociedade e natureza. Portanto o presente trabalho tem por objetivo demonstrar a importância da educação ambiental na prevenção de desastres naturais.

 

Desenvolvimento

 

O que são desastres naturais?

            Os desastres são conceituados como o resultado de eventos adversos que causam grandes impactos na sociedade, sendo distinguidos principalmente em função da origem, isto é, da natureza do fenômeno que o desencadeia (TOBIN E MONTZ, 1997).

            Quando os fenômenos naturais atingem áreas ou regiões habitadas pelo homem, causando-lhe danos, passam a se chamar desastres naturais. A conceituação adotada considera desastre como uma grave perturbação do funcionamento de uma comunidade ou de uma sociedade envolvendo perdas humanas, materiais, econômicas ou ambientais de grande extensão, cujos impactos excedem a capacidade da comunidade ou da sociedade afetada de arcar com seus próprios recursos. Os critérios objetivos adotados no Relatório Estatístico Anual do EM-DAT (Emergency Disasters Data Base) sobre Desastres de 2007 (SCHEUREN et. al., 2008) consideram a ocorrência de pelo menos um dos seguintes critérios:

• 10 ou mais óbitos;

• 100 ou mais pessoas afetadas;

• declaração de estado de emergência;

• pedido de auxílio internacional.

            Os desastres naturais são resultados da ocorrência de eventos extremos, como furacões, abalos sísmicos, vulcanismo, tornados, enchentes e escorregamentos, em áreas povoadas ou urbanizadas gerando impactos sócio-econômicos significativos. Os desastres naturais estão diretamente associados às características físicas do meio ambiente e aos condicionantes antrópicos, principalmente ao modo de uso e ocupação do solo.

 

As Classificações dos Desastres

As classificações mais utilizadas distinguem os desastres quanto à origem e à intensidade (ALCÂNTARA-AYALA, 2002; MARCELINO, 2008).

 

Classificação quanto à origem

 

Quanto à origem ou causa primária do agente causador, os desastres podem ser classificados em: naturais ou humanos (antropogênicos).  Desastres Naturais são aqueles causados por fenômenos e desequilíbrios da natureza que atuam independentemente da ação humana. Em geral, considera-se como desastre natural todo aquele que tem como gênese um fenômeno natural de grande intensidade, agravado ou não pela atividade humana. Exemplo: chuvas intensas provocando inundação, erosão e escorregamentos; ventos fortes formando vendaval, tornado e furacão; etc. Desastres Humanos ou Antropogênicos são aqueles resultantes de ações ou omissões humanas e estão relacionados com as atividades do homem, como agente ou autor. Exemplos: acidentes de trânsito, incêndios urbanos, contaminação de rios, rompimento de barragens, etc (ALCÂNTARA-AYALA, 2002; CASTRO, 1999; KOBIYAMA et al., 2006; MARCELINO, 2008).

Os desastres naturais podem ser ainda originados pela dinâmica interna e externa da Terra. Os decorrentes da dinâmica interna são terremotos, maremotos, vulcanismo e tsunamis. Já os fenômenos da dinâmica externa envolvem tempestades, tornados, inundações, escorregamentos, entre outros.

 

Classificação quanto à intensidade

 

A avaliação da intensidade dos desastres é muito importante para facilitar o planejamento da resposta e da recuperação da área atingida. As ações e os recursos necessários para socorro às vítimas dependem da intensidade dos danos e prejuízos provocados (Figura 01)

 

Figura 01: Classificação dos desastres quanto a intensidade (KOBIYAMA et al., 2006)

 

Desastres Naturais no Brasil

            No Brasil, os principais fenômenos relacionados a desastres naturais são derivados

da dinâmica externa da Terra, tais como, inundações e enchentes, escorregamentos de solos e/ou rochas e tempestades. Estes fenômenos ocorrem normalmente associados a eventos pluviométricos intensos e prolongados, nos períodos chuvosos que correspondem ao verão na região sul e sudeste e ao inverno na região norte e nordeste.

            De acordo com EM-DAT, o Brasil encontra-se entre os países do mundo mais atingidos por inundações e enchentes, tendo registrado 94 desastres cadastrados no período de 1960 a 2008, com 5.720 mortes e mais de 15 milhões de pessoas afetadas (desabrigados/desalojados). Considerando somente os desastres hidrológicos que englobam inundações, enchentes e movimentos de massa, em 2008 o Brasil esteve em 10º lugar entre os países do mundo em número de vítimas de desastres naturais, com 1,8 milhões de pessoas afetadas (OFDA/CRED, 2009).

            Quanto aos fenômenos da dinâmica interna, o Brasil caracteriza-se por uma fraca atividade na ocorrência de tremores, que em sua maioria, são de baixa magnitude variando entre 2° e 4° na escala Richter. No entanto, já foram registrados no país, tremores de magnitudes maiores, como em 1955 no Estado do Mato Grosso, de 6,6° (escala Richter) e 6,3° no mesmo ano no litoral do Estado do Espírito Santo. Como ocorreram em regiões desabitadas não provocaram danos.

            Em geral, no Brasil são pouco frequentes os danos associados a tremores. Porém, em 2007, no município de Itacarambi (MG), ocorreu um terremoto (4,9° na escala Richter) que provocou, provavelmente por falta de preparo para o enfrentamento destas situações no Brasil, uma morte e pelo menos 6 feridos, além de derrubar 5 casas e danificar outras 60. Outro exemplo, sem danos, foi o abalo sísmico que atingiu a cidade de São Paulo no dia 22 de Abril de 2008, cujo epicentro (local de projeção na superfície de origem) ocorreu no Oceano Atlântico a 215 km do município de São Vicente, e foi sentido também nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Dos estados brasileiros, o Ceará é o que tem registrado maior número de ocorrências de sismos (HANSEN et al., 2008).

            Para a realidade do Brasil, em função de suas condições geoambientais e socioculturais, os principais peri­gos naturais recorrentes estão associados a fenômenos hidrológicos e climáticos, conforme se observa na Figura 2, desenvolvida com base nos dados do EM-DAT (2009).

 

Figura 2 – Ocorrência dos principais desastres naturais no Brasil entre 1900 e 2009.

 

A educação Ambiental

            Diante das constatações, percebe-se a necessidade de ações de educação ambiental com o intuito de gerar uma cultura de prevenção de desastres. Segundo o art. 37 da Constituição, “todos têm direito a um meio ambiente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. E no seu §1, inciso IV: “para garantir a efetividade deste direito, incube ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.”         

            A educação ambiental, ao sensibilizar os indivíduos para modificar atitudes e valores, na busca de novos hábitos de entendimento da natureza complexa do ambiente, torna-se importante fator na prevenção de desastres naturais. A população deve ter consciência de que a disposição inadequada de lixo e entulho causa problemas no sistema de drenagem e na vazão dos rios, causando alagamentos, enchentes e inundações. Em casos de chuva forte por muitos dias ou horas seguidas, a população deve ficar alerta ao nível da água nos rios, acompanhando boletins meteorológicos e noticiários de sua região. Se as águas começarem a invadir as moradias e não for possível sair, deve-se permanecer na parte mais alta e segura da casa. Da mesma forma devem-se colocar alimentos e objetos de valor em locais elevados para que não tenham contato com a água.

            A educação ambiental é uma forma de levar às seguintes informações a sociedade: Deve-se respeitar a legislação de Áreas de Proteção Permanente (APPs), é desaconselhável o deslocamento por locais alagados ou inundados, seja a pé, a nado ou no carro e o risco de contrair doenças, afogamento ou de ser atingido por choque elétrico (KOBIYAMA et. al., 2006).

            O professor de Engenharia Ambiental, Pedro Caballero, comentou sobre algumas medidas de prevenção. Segundo o especialista, políticas de infraestrutura, unicamente, não resolvem o problema. "Na universidade, nós já percebemos que o que é estrutural somente não soluciona o problema, mesmo em curto prazo. O que se precisa fazer são também medidas não estruturais como educação. Ou seja, se eu ensinar para cada pessoa que ter três árvores na frente de casa vai reduzir a temperatura ambiente, haverá absorção de água, emissão de oxigênio, além de melhorar a biodiversidade, já vai ajudar bastante", exemplificou Caballero. O caráter educacional para prevenção de desastres naturais é um dos focos do Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais, criado recentemente pelo Governo Federal. Segundo o cientista Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), as comunidades precisarão “saber ler” os 800 pluviômetros que serão instalados em todo o país. ( 6ª CRE-Desafios, 2011).

            De acordo com as Nações Unidas, países que investem na redução de desastres e riscos estarão mais bem preparados para se proteger e atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Quase 600 municípios já aderiram à campanha da ONU para construção de cidades mais seguras ( 6ª CRE-Desafios, 2011).

 

           

Considerações Finais

Diante da impossibilidade de impedir a ocorrência de desastres naturais, a sociedade adota soluções estruturais e não estruturais para prevenir as suas perdas econômicas e de vida. Neste contexto, tem-se a educação ambiental como solução não estrutural importante. Da mesma forma, a prevenção dos desastres antropogênicos tem como foco importante a prática dos preceitos propostos pela educação ambiental. Portanto, a prevenção de desastres ambientais, minimização das suas conseqüências, necessita de novas atitudes individuais e da sociedade, que resultem na nova postura de convivente e, não mais de dominador da natureza. Nisto reside a contribuição da educação ambiental.

 

 

Referências

 

ALCÁNTARA – AYALA, I. 2002. Geomorphology, natural hazards, vulnerability and prevention of natural disasters in developing countries. Geomorphology 47 (2002) p. 107-124.

 

ANTOINE, J. M.; DESAILLY, B.; GALTIÉ, J. Les mots des risques naturels. Toulouse: Presses universitaires du Mirail-Toulouse, 2008, 128 p.

 

CARVALHO, I.C.M de. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. Coleção docência em Formação. São Paulo: Editora Cortez, 3ª ed. 2008.

 

CASTRO, A. L. C.1999. Manual de planejamento em defesa civil. Vol.1. Brasília: Ministério da Integração Nacional/ Departamento de Defesa Civil.133 p.

 

CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Segurança Global da População. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Brasília. 2000.

 

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KOBIYAMA, M.; MENDONÇA, M.; MORENO, D.A.; MARCELINO, I.P.V.O; MARCELINO, E.V.; GONÇALVES, E.F.; BRAZETTI, L.L.P.; GOERL, R.F.;MOLLERI, G.S.F.; RUDORFF, F.M. 2006. Prevenção de Desastres Naturais: Conceitos Básicos. Curitiba: Ed. Organic Trading. 109 p. Disponível em: . Acesso em: 10 de Abril de  2011.

 

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6ª CRE-Desafios. Disponivel em: . Acesso em: 10 de Abril de 2011.