A ECOLOGIA HUMANA DE TCHÉKHOV
Num texto escrito em 1897, o
médico e teatrólogo russo mostra porque o ser humano adoece e se torna inimigo
da natureza
AS FLORESTAS
"As florestas embelezam a
terra, ensinam os homens a compreender a beleza, inspiram emoções mais puras. As
florestas suavizam o clima. E nas regiões em que ele é mais ameno, as pessoas
não gastam energia lutando contra a natureza. São mais gentis, mais cheias de
ternura. São mais bonitas e sensíveis, têm o espírito mais flexível, a fala
elegante, movimentos mais graciosos. As ciências e as artes florescem, a
filosofia é plena de alegria e os homens tratam as mulheres com refinamento e
cortesia."
"Eu admito que se cortem
árvores quando isso é indispensável, mas porquê destruir florestas? As
florestas russas estão literalmente gemendo aos golpes dos machados. Milhões de
árvores vêm sendo destruídas. As tocas dos animais e os ninhos dos pássaros
desaparecem junto com elas. Os rios perdem profundidade e secam. Paisagens
fascinantes somem para sempre. E tudo isso acontece apenas porque as pessoas são
preguiçosas e estúpidas e não querem arrancar o combustível de outras fontes."
"Concorda comigo? Qualquer
pessoa bastante insensível capaz de consumir uma coisa que não pode ser
substituída, deve ser considerada bárbara, indigna de nosso respeito. O ser
humano foi dotado de razão e força criativa pra multiplicar o legado da terra em
que vive. Mas até agora não criou coisa alguma. Só destruiu. Cada dia é menor o
número de florestas. Há enchentes e secas em toda parte. Espécies animais são
exterminadas. O clima se torna hostil ao homem, e a terra mais triste, pobre,
feia."
AS ÁRVORES
"Estou percebendo tua
expressão de ironia... Que tudo que eu digo não é pra ser levado a sério. É.
Pode ser que seja tudo mesmo maluquice minha. Mas quando eu passo pelas matas
que pertencem aos camponeses, matas que ajudei a salvar do extermínio, ou quando
eu ouço o sussurro dos arbustos que plantei com as próprias mãos, sinto a
agradável consciência de que também posso influir sobre o clima. E que, se daqui
a mil anos, a humanidade for um nada mais feliz, eu terei contribuído pra isso.
Quando planto uma árvore e depois a vejo crescer, se cobrir de verde e ondular
ao vento, meu coração se enche de orguho..."
"Quando um homem planta um
arbusto, sabe o que resultará disso em mil anos, está pensando no futuro da
Terra. Homens assim são raros. Nós devemos amá-los".
(...)
QUEM É ELE
Descendente de servos e filho
de um pequeno comerciante, Anton Pávlovitch Tchékhov formouse médico e exerceu a
medicina em uma clínica no interior da Rússia, onde conviveu com os nobres,
burgueses, intelectuais, funcionários públicos e pequenos trabalhadores. Com
estilo inconfundível, denunciava e satirizava os absurdos da sociedade e da
natureza humana.
Fonte:
http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?materia=NDcy&edicao_id=65