Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início
Cadastre-se!
Procurar
Área de autores
Contato
Apresentação(4)
Normas de Publicação(1)
Dicas e Curiosidades(7)
Reflexão(3)
Para Sensibilizar(1)
Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6)
Dúvidas(4)
Entrevistas(4)
Saber do Fazer(1)
Culinária(1)
Arte e Ambiente(1)
Divulgação de Eventos(4)
O que fazer para melhorar o meio ambiente(3)
Sugestões bibliográficas(1)
Educação(1)
Você sabia que...(2)
Reportagem(3)
Educação e temas emergentes(1)
Ações e projetos inspiradores(25)
O Eco das Vozes(1)
Do Linear ao Complexo(1)
A Natureza Inspira(1)
Notícias(21)
| Números
|
Artigos
Planejamento, Gestão e Educação Ambiental no Turismo.Clauciana Schmidt Bueno de Moraes ¹ Odaléia Telles Marcondes Machado Queiroz ²
1. Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental/ USP. Analista/ Consultora de Qualidade, Meio Ambiente e Responsabilidade Social. Professora-Tutora de Cursos E-learning. Auditora - ISO 14001/ ISO 9001/ OHSAS 18001/ SA 8000/ SGI. Professora-Colaboradora da ESALQ/ USP, Piracicaba/ SP. E-mail: clauciana@ig.com.br
2. Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental/ USP. Turismóloga e Geógrafa. Pesquisadora e Professora da ESALQ/ USP, Piracicaba/ SP. E-mail: odaleiaq@terra.com.br, otmmquei@esalq.usp.br
Resumo Este trabalho visa apresentar uma pesquisa, a qual abrange as questões do planejamento, gestão e educação ambiental com enfoque para a atividade turística. Neste contexto apresenta-se uma metodologia elaborada com objetivo de direcionar e auxiliar planos e propostas e contribuir na aplicação de técnicas para o planejamento e gestão de uma área. Esta pretende ainda, subsidiar estratégias de manejo e educação ambiental que posteriormente, poderão servir de modelo nos diversos aspectos correlatos ao turismo, proporcionando uma oportunidade para o desenvolvimento econômico ligado à inclusão social e a conservação ambiental para empreendimentos e municípios. Palavras-chave: planejamento e gestão ambiental, educação ambiental, conservação da natureza, desenvolvimento econômico, turismo.
IntroduçãoA atividade turística vem se tornando cada vez mais comum em nosso país, principalmente para os governos municipais, no que se refere a busca de um progresso econômico, mas também de uma oportunidade de desenvolvimento social, cultural e ambiental destas localidades. Porém, nesta busca muitos empreendimentos e municípios acabam por implantar a atividade turística de forma acelerada e muitas vezes desordenada, deixando de lado na maioria dos casos questões essenciais para a gestão de uma área, como por exemplo, a proteção ambiental e a inclusão social. Dessa forma, a preocupação com a organização do espaço e de atividades nele desenvolvidas, como o turismo; e a aplicação de técnicas visando a sustentabilidade, pretendem auxiliar na prevenção dos danos ao meio ambiente, podendo ser esta a forma mais eficaz de mitigação e prevenção dos impactos negativos, podendo estas técnicas também serem utilizadas como modelo de planejamento e gestão para o turismo interligado às questões ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas e das características de cada localidade. Visando a importância de um planejamento constante atrelado a gestão de uma área para a implantação e administração adequada de uma atividade econômica, neste caso, utilizada como base a atividade turística, foi elaborada uma metodologia com objetivo de auxiliar e direcionar o sucesso da atividade, bem como a gestão sustentável dos diversos fatores envolvidos interligando assim a conservação ambiental, o desenvolvimento econômico e a inclusão da sociedade. A metodologia PLAMTUR – Planejamento Ambiental Municipal do Turismo que é descrita a seguir, foi elaborada com objetivo de auxiliar nestas questões citadas acima, podendo esta, porém, ser readaptada na sua aplicação de acordo com as particularidades e necessidades de cada localidade. Este trabalho tem, portanto, o objetivo de demonstrar o projeto de pesquisa no qual os objetivos principais são: 1) Propor técnicas dentro de uma metodologia de planejamento e gestão que proporcionem a análise da viabilidade e aplicabilidade do desenvolvimento econômico na atividade turística correlacionada a proteção ambiental e a inclusão social e; 2) Verificar a viabilidade e a eficácia da elaboração e aplicação da metodologia PLAMTUR na ligação direta entre os objetivos teóricos e científicos e o proveito social, podendo servir de modelo para outros municípios e empreendimentos.
1. Planejamento, Gestão e Educação Ambiental no Turismo.Para que se possa apresentar a importância da inter-relação e atuação desses três processos, em especial, na questão turística, torna-se necessário uma breve discussão sobre o papel do planejamento e da educação ambiental no contexto geral da gestão. Tanto o planejamento ambiental como a educação são imprescindíveis para a gestão sustentável do meio ambiente e das atividades nele desenvolvidas, neste caso exemplificada através da atividade turística. Apresenta-se a seguir uma breve descrição do que vem a ser e o que envolve estes instrumentos de gestão. Iniciando pelo o que vem a ser o planejamento, PETROCCHI (1998: p. 19), descreve que planejar é: - pré-determinar um curso de ação para o futuro; - conjunto de decisões interdependentes; - processo contínuo que visa produzir um estado futuro desejado, que somente acontecerá se determinadas ações forem executadas. - é atitude anterior à tomada de decisão. O planejamento antecede então o processo de decisão e ação, mas é importante ressaltar que o mesmo deve ser contínuo, quando, muitas vezes, pode ocorrer o replanejamento em algumas fases do processo. Segundo FRANCO (2001: p. 35) a palavra planejamento carrega em seu valor semântico o sentido de empreendimento, projeto, sonho e intenção. Como empreendimento já revela o ato de intervir ou transformar uma dada situação, numa determinada direção, a fim de que se concretizem algumas intenções”. Portanto, o sentido geral do planejamento é tomar todas as medidas necessárias para se atingir determinado estado ou objetivo. Neste caso, a intenção deve ser fundamentada num estado futuro em busca da sustentabilidade. Mas, o que vem a ser especificamente o planejamento ambiental? FRANCO (2001: p. 35) descreve este como sendo todo o planejamento que parte do princípio da valoração e conservação das bases naturais de um dado território como base de auto-sustentação da vida e das interações que a mantém, ou seja, das relações ecossistêmicas. Ainda segundo FRANCO (2001: p. 36), o planejamento ambiental pressupõe três princípios de ação humana sobre os ecossistemas, como: os princípios de preservação, da recuperação e da conservação do meio ambiente. O processo de planejamento deve abranger tanto a escala local como também a regional, ou seja, considerando todos os níveis territoriais para que ocorra o equilíbrio de todo o sistema abrangido neste planejamento. Todavia, para atingir a eficácia no processo de planejamento desde sua construção até a implantação efetiva de determinado projeto faz-se necessário incluir a questão da educação ambiental, visto que esta que será a base indispensável na efetivação de um projeto direcionado a sustentabilidade. Decorrente da importância da educação ambiental no processo que busca a sustentabilidade dar-se a seguir algumas definições do que é e o que envolve a mesma. Segundo SATO (2002: p. 23), a Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977), definiu que “a educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. Está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida”. A Política Nacional de Educação Ambiental, lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, define no capítulo I, que entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem do uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (FERRETTI, 2002: 161). O CONAMA-Conselho Nacional do Meio Ambiente, citado por DIAS (1994: 27), define a educação ambiental como um processo de formação e informação, orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões ambientais, e de atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental. A educação ambiental oferece várias formas de definição, onde cada uma delas depende do ponto de vista de cada indivíduo/ profissional, mas que em todas essas atinge o enfoque interdisciplinar, envolvendo diversas áreas técnico-científicas ligadas à questão do meio ambiente. A educação ambiental pode ser desenvolvida através de atividades voltadas à programas formais e não-formais, onde o primeiro desses abrange desde os estudantes, educadores e até mesmo órgãos e instituições, e o segundo sendo voltado mais diretamente a educação da sociedade local e da população visitante. Partindo deste breve entendimento sobre planejamento e educação ambiental no processo de gestão do meio ambiente, a seguir é apresentado a importância da inter-relação desses para a proteção ambiental, em especial, na questão do turismo.
2. A Importância da Inter-relação no Turismo.Primeiramente, é necessário ressaltar brevemente o que a atividade turística envolve para que se possa discutir posteriormente a importância imprescindível da inter-relação discutida neste texto. Segundo a OMT (1998), o turismo compreende as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares diferentes daqueles em que vivem, por um período de tempo inferior a um ano, com finalidades de lazer, negócios e outras. MORAES (2006: p. 07) diz que o turismo é visto como uma viagem ou excursão a locais de interesse, e é também um conjunto de serviços que atraem aqueles que praticam a atividade, onde envolve não só os visitantes, a viagem, mas principalmente, os chamados recursos, produtos ou atrativos turísticos. O turismo é visto com um fenômeno histórico, nascido da extensão do tempo livre pela redução de tempo de trabalho, assim como o lazer, do estabelecimento de férias e finais de semana remunerados; do desenvolvimento dos transportes e do aumento dos salários, criando um novo modo de vida na sociedade moderna (QUEIROZ, 2000: p. 16). Independente do desenvolvimento da infra-estrutura básica e turística e do aumento de tempo para o lazer, a necessidade da busca pelo conhecimento, do bem-estar e descanso do homem é um fator essencial para surgimento e o crescimento do turismo. Baseado em BARRETO (1998: p. 49), o fenômeno turístico tem um aspecto social tão importante quanto o desenvolvimento econômico, proporcionando a possibilidade de expansão do ser humano, seja pelo divertimento ou pela possibilidade de conhecer novas culturas e lugares. Assim, a atividade turística, se bem planejada e dentro dos princípios da sustentabilidade, pode evidenciar a importância do imaginário histórico-cultural e ambiental das comunidades receptoras, sua influência sobre os visitantes, bem como, criar mecanismos de participar das decisões dos poderes público e privado que, geralmente, se apropriam dos patrimônios culturais e naturais sem pensar no futuro. Cabe ressaltar que para que o turismo exista há necessidade preexistente do homem e do meio ambiente, e conseqüentemente, haverá a relação direta entre esses três elementos envolvendo conseguinte os aspectos sócio-econômicos, políticos, físico-ambientais, histórico-culturais, dentre outros. RODRIGUES (1997: p. 93) coloca o turismo como sendo uma atividade complexa que compreende tanto a produção como o consumo, tanto as atividades secundárias, como terciárias que agem articuladamente, apropriando-se de lugares exóticos, de paisagens naturais, de servados para se obter conhecimentos culturais, históricos, possibilitar o descanso, e vários outros motivos simbólicos ou reais. Diante da diversidade e das dimensões que o turismo envolve torna-se imprescindível o equilíbrio de todo o sistema objetivado na sustentabilidade. Para auxiliar este equilíbrio podemos ressaltar os instrumentos de gestão ambiental, dentre esses o planejamento e seus diversos aspectos e fases e a educação formal e/ ou informal para o meio ambiente. O meio ambiente não pode ser visto somente como uma matéria-prima do turismo, onde a princípio aparece como uma oportunidade economicamente viável para uma determinada localidade, mas sim, como um fator de auxílio no contato mais íntimo do homem com a natureza, como também, e principalmente, como auxílio no desenvolvimento da consciência conservacionista e da busca à sustentabilidade. No contexto da sustentabilidade BARBIERI (1996: p. 29) descreve que o objetivo da sustentabilidade é aumentar as opções das pessoas, respeitando não só as gerações atuais como também as gerações futuras. É o desenvolvimento com eqüidade social entre gerações e entre nações. Várias são as formas de se definir o termo desenvolvimento sustentável, onde este também é encontrado como sustentabilidade, sociedade mais justa, ou ainda como ecodesenvolvimento, mas que todas certamente, permanecem no mesmo sentido de utilizar e conservar conscientemente o meio ambiente e todos os aspectos direta e indiretamente envolvidos para que se mantenham em qualidade não só para o presente como para o futuro. Segundo ENDRES (1998), a sustentabilidade ecológica e espacial deve basear-se na escolha por melhores técnicas na utilização dos recursos, em uma organização e distribuição espacial urbana e rural mais adequadas e na implantação de atividades econômicas mais equilibradas. MORAES (2006: p. 29) coloca que a sustentabilidade deve ser vista não apenas como um instrumento na mitigação de danos, mas sim, e principalmente, da prevenção de impactos e prejuízos negativos ao meio ambiente, sendo ainda, um processo que considere as expectativas e necessidades do homem interligadas a capacidade de sustentação do meio físico e biológico. Todavia, a sustentabilidade é algo que deve ser trabalhado em todos os níveis, ou seja, considerando todos os aspectos de uma área e o seu entorno. Considerando a questão da sustentabilidade surge no turismo a discussão da relação direta desta com a importância de um turismo sustentável. No turismo, a questão da sustentabilidade vem sendo discutida como fator principal na manutenção da qualidade das destinações turísticas. O turismo no fator de conservação da natureza aparece como instrumento importante, onde nesta atividade os recursos paisagísticos, isto é, os atrativos turísticos aparecem como recurso de exploração e atratividade, como um produto de consumo, mas que também pode ser utilizado como um instrumento de conhecimento, educação e conservação da sociedade frente ao meio ambiente. Essa sustentabilidade na atividade turística deve garantir uma continuidade e uma qualidade satisfatória aos principais elementos que envolvem o turismo, ou seja, a Sociedade e a Natureza. Neste caso, o turismo voltado para a sustentabilidade pode ser um objeto importante na proteção do meio ambiente e, conseqüentemente, da atratividade dos produtos turísticos. Geralmente, a implantação do turismo sustentável é vista como um desenvolvimento de baixa lucratividade. Porém, se colocarmos a questão de que esse tipo de turismo pode ter a princípio um lucro menor, mas que se torna uma atividade contínua podemos afirmar que também serão contínuos e duradouros os recursos e a atratividade do turismo. Como discorre QUEIROZ (2000, p. 03), o objetivo do turismo sustentável é, a princípio, a gestão do ambiente, recursos e comunidades dos núcleos receptores, atendendo às suas necessidades, mantendo sua integridade cultural e preservando o meio ambiente. Porém, a conscientização conservacionista da comunidade local e visitante é o ponto inicial para os diversos benefícios oferecidos pelo turismo sustentável. É o caso da educação ambiental atrelada aos objetivos do planejamento para uma gestão sustentável. Baseado na Organização Mundial do Turismo (1994: p. 31), dentre os vários benefícios que o turismo sustentável pode proporcionar, pode-se descrever que este: - incentiva à consciência em relação aos impactos sobre o meio ambiente natural, cultural e histórico; - estimula melhorias na infra-estrutura local; - supervisiona, avalia e administra o impacto que tem sobre o ambiente e desenvolve métodos confiáveis para definir responsabilidade e combater os efeitos negativos; - diversifica a economia local; - assegura uma justa distribuição dos custos e benefícios; - proporciona a criação de empregos, no setor turístico e nos diversos setores de apoio e de gestão dos recursos; - estimula a criação de empresas domésticas lucrativas; - aumenta a injeção de capital e de dinheiro na economia local, dentre outros. Planejar a atividade em direção ao turismo sustentável é uma forma de evitar a ocorrência de danos irreversíveis nos meios turísticos, para minimizar os custos sociais que afetam os moradores das localidades e para otimizar os benefícios do desenvolvimento turístico (RUSCHMANN, 2000: p. 111). Segundo ENDRES (1998), o desenvolvimento sustentável associado a uma eficiência econômica, eqüidade social e prudência ecológica são bases essenciais para o desenvolvimento e progresso do turismo. A sustentabilidade só ocorrerá efetivamente a partir de uma conscientização e educação ambiental inter-relacionada aos instrumentos de gestão, em conjunto com a utilização coerente, ou seja, com respeito à todos os elementos que compõem o meio ambiente, inclusive o próprio homem.
3. Metodologia PLAMTUR: um Exemplo da Necessidade da Inter-relação.A elaboração da metodologia PLAMTUR partiu do pressuposto da necessidade de um planejamento para os municípios que estão voltando suas atividades para o turismo de base sustentável. Esta também tem o objetivo de auxiliar no incentivo do desenvolvimento econômico relacionado diretamente ao aproveitamento de oportunidades, no caso o turismo, com ênfase a proteção ambiental. Algumas metodologias existentes surgiram ou foram adaptadas devido a necessidade de se manter as características primordiais, ou seja, a oferta turística de uma determinada localidade e sua atratividade. Todavia, a importância na quantidade de atrativos turísticos deu lugar a qualidade destes pontos, tendo por isso incentivado o estudo destas metodologias para se criar uma forma de conservação da natureza e do turismo em comum, auxiliando também o progresso econômico e social. A metodologia aqui apresentada, PLAMTUR – Planejamento Ambiental Municipal do Turismo surgiu a fim de subsidiar na prevenção de danos e direcionar o planejamento ambiental do turismo em um município e/ ou empreendimento de forma sustentável, mitigar danos já existentes e auxiliar as etapas de implantação e gestão do turismo com uma consciência conservacionista. O PLAMTUR foi elaborado com a intenção de subsidiar os planos de desenvolvimento turístico com enfoque para o planejamento e gestão ambiental, com o propósito de auxiliar na conservação e mitigação dos danos ocasionados não só pela atividade turística, mas também das ações interligadas a esta atividade. A fase composta de etapas preliminares para o planejamento é aqui apresentada (FIGURA 01), sendo etapas que se complementam entre si e que inter-relacionadas dão subsídios para a proposição de diretrizes ambientais, urbanas e turísticas e um delineamento para o planejamento geral de um município/ empreendimento nas questões que se referem ao turismo, ao meio ambiente e aos demais aspectos que complementam essas questões como a história, cultura e a geografia da localidade, dentre outros. Na etapa 01 – o inventário, pode-se encontrar a divisão de duas grandes etapas, o inventário municipal e o inventário dos recursos e atrativos (produtos) turísticos. Esta etapa foi baseada, porém readaptada de estudos já existentes como da Embratur, OMT, dentre outros trabalhos existentes na área de inventário. No inventário municipal ocorre a subdivisão em seis etapas: caracterização histórico-cultural, caracterização físico-ambiental, caracterização sócio-econômica, caracterização político-administrativa, caracterização da infra-estrutura básica e turística e caracterização da demanda existente no município. No inventário dos recursos e atrativos turísticos ocorre também a subdivisão em seis etapas, a fim de identificar individualmente cada atrativo e suas características individuais, sendo essas as mesmas do inventário municipal, porém aplicadas à nível local. Na etapa 2 - avaliação prévia de impacto ambiental - APIA, ocorre a divisão em somente mais uma etapa: identificação dos impactos: onde ocorre a identificação dos impactos positivos e negativos no município em geral e em cada recurso e atrativo turístico nos aspectos sócio-econômicos, histórico-culturais e físico-ambientais. Na etapa 3 - diagnóstico e análise, temos também a divisão de outras duas sub-etapas: a) diagnóstico: há uma síntese dos dados do inventário e da avaliação prévia de impacto ambiental, onde ocorre o diagnóstico das características do município e de cada recurso e atrativo, com a identificação dos pontos fracos e dos pontos fortes; e b) análise preliminar da situação atual: análise geral dos dados do inventário, da APIA e do diagnóstico. Entretanto, ressalta-se que essas são consideradas etapas preliminares para o planejamento e implantação da atividade turística, e que subsidiarão posteriormente as próximas etapas que auxiliarão nos planos e na gestão ambiental turística sustentável.
FIGURA 01 - Esquema geral das etapas preliminares da metodologia PLAMTUR.
Fonte: MORAES, C. S. B. Planejamento e Gestão Ambiental: uma proposta metodológica. São Carlos. 277 p. Tese (Doutorado). EESC, Universidade de São Paulo, 2006.
Retomando a questão da importância na inter-relação de cada elemento, instrumento para o desenvolvimento e sucesso de um sistema, ressalta-se aqui a necessidade da articulação direta entre o planejamento, educação e gestão para a eficácia da sustentabilidade. Todavia, para complementar a metodologia cabe ressaltar, que se a mesma busca os princípios da sustentabilidade deve atrelar a conscientização de que é de suma importância a ligação direta entre o planejamento, educação e gestão ambiental (FIGURA 02), em conjunto com a utilização coerente e o respeito à todos os elementos que compõem o meio ambiente, inclusive o próprio homem.
FIGURA 02 - Inter-relação entre o planejamento, educação e gestão ambiental.
Fonte: MORAES, C. S. B. Planejamento e Gestão Ambiental: uma proposta metodológica. São Carlos. 277 p. Tese (Doutorado). EESC, Universidade de São Paulo, 2006.
4. Considerações FinaisEste trabalho objetivou a discussão sobre a importância de cada elemento de um sistema para o equilíbrio geral do mesmo, mas especialmente da importância da inter-relação de cada instrumento utilizado no processo de gestão do meio ambiente voltada para a sustentabilidade. Estes instrumentos foram aqui exemplificados com o planejamento, educação e gestão, considerando estes pontos estratégicos para um trabalho eficiente com um determinado sistema, no qual neste texto ressaltamos a relação do meio ambiente na atividade turística. A preocupação com o planejamento, educação e gestão ambiental demonstrada neste trabalho é imprescindível para direcionar a busca da sustentabilidade a qual envolva as questões de inclusão e responsabilidade social, desenvolvimento econômico e proteção ambiental inter-relacionadas, neste caso com enfoque à atividade turística. Enfim, pode-se chegar a diversas conclusões que são apresentadas em cada contexto deste trabalho e da metodologia aqui elaborada, mas a conclusão neste caso é que pretende iniciar reflexões, discussões, criação de planos e ações, mas essencialmente servir como "subsídio para o planejamento e gestão ambiental, na aplicação de uma gestão contínua e efetiva de planos e ações viáveis na ligação direta entre os objetivos teóricos e científicos de uma pesquisa e sua aplicação para o proveito social".
5. Referências Bibliográficas
BARBIERI, E. Desenvolver ou preservar o ambiente? São Paulo: Cidade Nova, 1996.
BARRETO, M. Planejamento e organização em turismo. Campinas: Papirus. 3ª edição, 1998.
DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia. 3ª edição, 1994.
ENDRES, A. V. Sustentabilidade e ecoturismo: conflitos e soluções a caminho do desenvolvimento. In: Revista Turismo em Análise. São Paulo: ECA/ USP, v. 09, n. 01, 1998.
FERRETTI, E. R. Turismo e meio ambiente. São Paulo: Roca, 2002.
FRANCO, M. A. R. Planejamento ambiental para a cidade sustentável. São Paulo: Annablume/ FAPESP. 2ª edição, 2001.
MORAES, C. S. B. Planejamento e Gestão Ambiental: uma Proposta Metodológica. São Carlos. 277 p. Tese (Doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2006.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Planejamento para o desenvolvimento de turismo sustentável em nível municipal. Canadá: OMT. Publicação de Turismo e Ambiente, 1994.
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DEL TURISMO. Introdución al Turismo. Madrid: OMT, 1998.
PETROCCHI, M. Turismo: planejamento e gestão. São Paulo: Futura, 1998.
QUEIROZ, O. T. M. M. Impactos das atividades turísticas em área de reservatório: uma avaliação sócio-ambiental do uso e ocupação na área da Represa do Lobo, município de Itirapina/ SP. São Carlos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2000.
RODRIGUES, A. B. Turismo e ambiente: reflexões e propostas. São Paulo: Hucitec, 1997.
RUSCHMANN, D. V. M. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. Campinas: Papirus. 6 ª edição, 2000.
SATO, M. Educação ambiental. São Carlos: Rima, 2002. |