Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/03/2011 (Nº 35) Planejamento, Gestão e Educação Ambiental no Turismo
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Planejamento, Gestão e Educação Ambiental no Turismo.

 

Clauciana Schmidt Bueno de Moraes ¹

Odaléia Telles Marcondes Machado Queiroz ²

 

1. Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental/ USP. Analista/ Consultora de Qualidade, Meio Ambiente e Responsabilidade Social. Professora-Tutora de Cursos E-learning. Auditora - ISO 14001/ ISO 9001/ OHSAS 18001/ SA 8000/ SGI. Professora-Colaboradora da ESALQ/ USP, Piracicaba/ SP. E-mail: clauciana@ig.com.br

 

2. Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental/ USP. Turismóloga e Geógrafa. Pesquisadora e Professora da ESALQ/ USP, Piracicaba/ SP. E-mail: odaleiaq@terra.com.br, otmmquei@esalq.usp.br

 

 

Resumo       

            Este trabalho visa apresentar uma pesquisa, a qual abrange as questões do planejamento, gestão e educação ambiental com enfoque para a atividade turística. Neste contexto apresenta-se uma metodologia elaborada com objetivo de direcionar e auxiliar planos e propostas e contribuir na aplicação de técnicas para o planejamento e gestão de uma área. Esta pretende ainda, subsidiar estratégias de manejo e educação ambiental que posteriormente, poderão servir de modelo nos diversos aspectos correlatos ao turismo, proporcionando uma oportunidade para o desenvolvimento econômico ligado à inclusão social e a conservação ambiental para empreendimentos e municípios.

Palavras-chave: planejamento e gestão ambiental, educação ambiental, conservação da natureza, desenvolvimento econômico, turismo.

 

 

Introdução

            A atividade turística vem se tornando cada vez mais comum em nosso país, principalmente para os governos municipais, no que se refere a busca de um progresso econômico, mas também de uma oportunidade de desenvolvimento social, cultural e ambiental destas localidades.

            Porém, nesta busca muitos empreendimentos e municípios acabam por implantar a atividade turística de forma acelerada e muitas vezes desordenada, deixando de lado na maioria dos casos questões essenciais para a gestão de uma área, como por exemplo, a proteção ambiental e a inclusão social.

            Dessa forma, a preocupação com a organização do espaço e de atividades nele desenvolvidas, como o turismo; e a aplicação de técnicas visando a sustentabilidade, pretendem auxiliar na prevenção dos danos ao meio ambiente, podendo ser esta a forma mais eficaz de mitigação e prevenção dos impactos negativos, podendo estas técnicas também serem utilizadas como modelo de planejamento e gestão para o turismo interligado às questões ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas e das características de cada localidade.

            Visando a importância de um planejamento constante atrelado a gestão de uma área para a implantação e administração adequada de uma atividade econômica, neste caso, utilizada como base a atividade turística, foi elaborada uma metodologia com objetivo de auxiliar e direcionar o sucesso da atividade, bem como a gestão sustentável dos diversos fatores envolvidos interligando assim a conservação ambiental, o desenvolvimento econômico e a inclusão da sociedade.

            A metodologia PLAMTUR – Planejamento Ambiental Municipal do Turismo que é descrita a seguir, foi elaborada com objetivo de auxiliar nestas questões citadas acima, podendo esta, porém, ser readaptada na sua aplicação de acordo com as particularidades e necessidades de cada localidade.

            Este trabalho tem, portanto, o objetivo de demonstrar o projeto de pesquisa no qual os objetivos principais são: 1) Propor técnicas dentro de uma metodologia de planejamento e gestão que proporcionem a análise da viabilidade e aplicabilidade do desenvolvimento econômico na atividade turística correlacionada a proteção ambiental e a inclusão social e; 2) Verificar a viabilidade e a eficácia da elaboração e aplicação da metodologia PLAMTUR na ligação direta entre os objetivos teóricos e científicos e o proveito social, podendo servir de modelo para outros municípios e empreendimentos.

 

 

1. Planejamento, Gestão e Educação Ambiental no Turismo.

            Para que se possa apresentar a importância da inter-relação e atuação desses três processos, em especial, na questão turística, torna-se necessário uma breve discussão sobre o papel do planejamento e da educação ambiental no contexto geral da gestão.

            Tanto o planejamento ambiental como a educação são imprescindíveis para a gestão sustentável do meio ambiente e das atividades nele desenvolvidas, neste caso exemplificada através da atividade turística. Apresenta-se a seguir uma breve descrição do que vem a ser e o que envolve estes instrumentos de gestão.

Iniciando pelo o que vem a ser o planejamento, PETROCCHI (1998: p. 19), descreve que planejar é:

            - pré-determinar um curso de ação para o futuro;

            - conjunto de decisões interdependentes;

            - processo contínuo que visa produzir um estado futuro desejado, que somente acontecerá se determinadas ações forem executadas.

            - é atitude anterior à tomada de decisão.

            O planejamento antecede então o processo de decisão e ação, mas é importante ressaltar que o mesmo deve ser contínuo, quando, muitas vezes, pode ocorrer o replanejamento em algumas fases do processo.

            Segundo FRANCO (2001: p. 35) a palavra planejamento carrega em seu valor semântico o sentido de empreendimento, projeto, sonho e intenção. Como empreendimento já revela o ato de intervir ou transformar uma dada situação, numa determinada direção, a fim de que se concretizem algumas intenções”. Portanto, o sentido geral do planejamento é tomar todas as medidas necessárias para se atingir determinado estado ou objetivo. Neste caso, a intenção deve ser fundamentada num estado futuro em busca da sustentabilidade.

            Mas, o que vem a ser especificamente o planejamento ambiental? FRANCO (2001: p. 35) descreve este como sendo todo o planejamento que parte do princípio da valoração e conservação das bases naturais de um dado território como base de auto-sustentação da vida e das interações que a mantém, ou seja, das relações ecossistêmicas. Ainda segundo FRANCO (2001: p. 36), o planejamento ambiental pressupõe três princípios de ação humana sobre os ecossistemas, como: os princípios de preservação, da recuperação e da conservação do meio ambiente.

            O processo de planejamento deve abranger tanto a escala local como também a regional, ou seja, considerando todos os níveis territoriais para que ocorra o equilíbrio de todo o sistema abrangido neste planejamento. Todavia, para atingir a eficácia no processo de planejamento desde sua construção até a implantação efetiva de determinado projeto faz-se necessário incluir a questão da educação ambiental, visto que esta que será a base indispensável na efetivação de um projeto direcionado a sustentabilidade.

            Decorrente da importância da educação ambiental no processo que busca a sustentabilidade dar-se a seguir algumas definições do que é e o que envolve a mesma. Segundo SATO (2002: p. 23), a Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977), definiu que “a educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. Está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida”.

            A Política Nacional de Educação Ambiental, lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, define no capítulo I, que entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem do uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (FERRETTI, 2002: 161). O CONAMA-Conselho Nacional do Meio Ambiente, citado por DIAS (1994: 27), define a educação ambiental como um processo de formação e informação, orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões ambientais, e de atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental.

            A educação ambiental oferece várias formas de definição, onde cada uma delas depende do ponto de vista de cada indivíduo/ profissional, mas que em todas essas atinge o enfoque interdisciplinar, envolvendo diversas áreas técnico-científicas ligadas à questão do meio ambiente. A educação ambiental pode ser desenvolvida através de atividades voltadas à programas formais e não-formais, onde o primeiro desses abrange desde os estudantes, educadores e até mesmo órgãos e instituições, e o segundo sendo voltado mais diretamente a educação da sociedade local e da população visitante.

            Partindo deste breve entendimento sobre planejamento e educação ambiental no processo de gestão do meio ambiente, a seguir é apresentado a importância da inter-relação desses para a proteção ambiental, em especial, na questão do turismo.

 

 

2. A Importância da Inter-relação no Turismo.

            Primeiramente, é necessário ressaltar brevemente o que a atividade turística envolve para que se possa discutir posteriormente a importância imprescindível da inter-relação discutida neste texto. Segundo a OMT (1998), o turismo compreende as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares diferentes daqueles em que vivem, por um período de tempo inferior a um ano, com finalidades de lazer, negócios e outras. MORAES (2006: p. 07) diz que o turismo é visto como uma viagem ou excursão a locais de interesse, e é também um conjunto de serviços que atraem aqueles que praticam a atividade, onde envolve não só os visitantes, a viagem, mas principalmente, os chamados recursos, produtos ou atrativos turísticos.

            O turismo é visto com um fenômeno histórico, nascido da extensão do tempo livre pela redução de tempo de trabalho, assim como o lazer, do estabelecimento de férias e finais de semana remunerados; do desenvolvimento dos transportes e do aumento dos salários, criando um novo modo de vida na sociedade moderna (QUEIROZ, 2000: p. 16). Independente do desenvolvimento da infra-estrutura básica e turística e do aumento de tempo para o lazer, a necessidade da busca pelo conhecimento, do bem-estar e descanso do homem é um fator essencial para surgimento e o crescimento do turismo.

            Baseado em BARRETO (1998: p. 49), o fenômeno turístico tem um aspecto social tão importante quanto o desenvolvimento econômico, proporcionando a possibilidade de expansão do ser humano, seja pelo divertimento ou pela possibilidade de conhecer novas culturas e lugares. Assim, a atividade turística, se bem planejada e dentro dos princípios da sustentabilidade, pode evidenciar a importância do imaginário histórico-cultural e ambiental das comunidades receptoras, sua influência sobre os visitantes, bem como, criar mecanismos de participar das decisões dos poderes público e privado que, geralmente, se apropriam dos patrimônios culturais e naturais sem pensar no futuro.

            Cabe ressaltar que para que o turismo exista há necessidade preexistente do homem e do meio ambiente, e conseqüentemente, haverá a relação direta entre esses três elementos envolvendo conseguinte os aspectos sócio-econômicos, políticos, físico-ambientais, histórico-culturais, dentre outros.

            RODRIGUES (1997: p. 93) coloca o turismo como sendo uma atividade complexa que compreende tanto a produção como o consumo, tanto as atividades secundárias, como terciárias que agem articuladamente, apropriando-se de lugares exóticos, de paisagens naturais, de servados para se obter conhecimentos culturais, históricos, possibilitar o descanso, e vários outros motivos simbólicos ou reais.

            Diante da diversidade e das dimensões que o turismo envolve torna-se imprescindível o equilíbrio de todo o sistema objetivado na sustentabilidade. Para auxiliar este equilíbrio podemos ressaltar os instrumentos de gestão ambiental, dentre esses o planejamento e seus diversos aspectos e fases e a educação formal e/ ou informal para o meio ambiente. O meio ambiente não pode ser visto somente como uma matéria-prima do turismo, onde a princípio aparece como uma oportunidade economicamente viável para uma determinada localidade, mas sim, como um fator de auxílio no contato mais íntimo do homem com a natureza, como também, e principalmente, como auxílio no desenvolvimento da consciência conservacionista e da busca à sustentabilidade.

            No contexto da sustentabilidade BARBIERI (1996: p. 29) descreve que o objetivo da sustentabilidade é aumentar as opções das pessoas, respeitando não só as gerações atuais como também as gerações futuras. É o desenvolvimento com eqüidade social entre gerações e entre nações. Várias são as formas de se definir o termo desenvolvimento sustentável, onde este também é encontrado como sustentabilidade, sociedade mais justa, ou ainda como ecodesenvolvimento, mas que todas certamente, permanecem no mesmo sentido de utilizar e conservar conscientemente o meio ambiente e todos os aspectos direta e indiretamente envolvidos para que se mantenham em qualidade não só para o presente como para o futuro.

            Segundo ENDRES (1998), a sustentabilidade ecológica e espacial deve basear-se na escolha por melhores técnicas na utilização dos recursos, em uma organização e distribuição espacial urbana e rural mais adequadas e na implantação de atividades econômicas mais equilibradas. MORAES (2006: p. 29) coloca que a sustentabilidade deve ser vista não apenas como um instrumento na mitigação de danos, mas sim, e principalmente, da prevenção de impactos e prejuízos negativos ao meio ambiente, sendo ainda, um processo que considere as expectativas e necessidades do homem interligadas a capacidade de sustentação do meio físico e biológico. Todavia, a sustentabilidade é algo que deve ser trabalhado em todos os níveis, ou seja, considerando todos os aspectos de uma área e o seu entorno.

            Considerando a questão da sustentabilidade surge no turismo a discussão da relação direta desta com a importância de um turismo sustentável. No turismo, a questão da sustentabilidade vem sendo discutida como fator principal na manutenção da qualidade das destinações turísticas. O turismo no fator de conservação da natureza aparece como instrumento importante, onde nesta atividade os recursos paisagísticos, isto é, os atrativos turísticos aparecem como recurso de exploração e atratividade, como um produto de consumo, mas que também pode ser utilizado como um instrumento de conhecimento, educação e conservação da sociedade frente ao meio ambiente. Essa sustentabilidade na atividade turística deve garantir uma continuidade e uma qualidade satisfatória aos principais elementos que envolvem o turismo, ou seja, a Sociedade e a Natureza. Neste caso, o turismo voltado para a sustentabilidade pode ser um objeto importante na proteção do meio ambiente e, conseqüentemente, da atratividade dos produtos turísticos.

            Geralmente, a implantação do turismo sustentável é vista como um desenvolvimento de baixa lucratividade. Porém, se colocarmos a questão de que esse tipo de turismo pode ter a princípio um lucro menor, mas que se torna uma atividade contínua podemos afirmar que também serão contínuos e duradouros os recursos e a atratividade do turismo. Como discorre QUEIROZ (2000, p. 03), o objetivo do turismo sustentável é, a princípio, a gestão do ambiente, recursos e comunidades dos núcleos receptores, atendendo às suas necessidades, mantendo sua integridade cultural e preservando o meio ambiente. Porém, a conscientização conservacionista da comunidade local e visitante é o ponto inicial para os diversos benefícios oferecidos pelo turismo sustentável. É o caso da educação ambiental atrelada aos objetivos do planejamento para uma gestão sustentável.

            Baseado na Organização Mundial do Turismo (1994: p. 31), dentre os vários benefícios que o turismo sustentável pode proporcionar, pode-se descrever que este:

- incentiva à consciência em relação aos impactos sobre o meio ambiente natural, cultural e histórico;

- estimula melhorias na infra-estrutura local;

- supervisiona, avalia e administra o impacto que tem sobre o ambiente e desenvolve métodos confiáveis para definir responsabilidade e combater os efeitos negativos;

- diversifica a economia local;

- assegura uma justa distribuição dos custos e benefícios;

- proporciona a criação de empregos, no setor turístico e nos diversos setores de apoio e de gestão dos recursos;

- estimula a criação de empresas domésticas lucrativas;

- aumenta a injeção de capital e de dinheiro na economia local, dentre outros.

            Planejar a atividade em direção ao turismo sustentável é uma forma de evitar a ocorrência de danos irreversíveis nos meios turísticos, para minimizar os custos sociais que afetam os moradores das localidades e para otimizar os benefícios do desenvolvimento turístico (RUSCHMANN, 2000: p. 111). Segundo ENDRES (1998), o desenvolvimento sustentável associado a uma eficiência econômica, eqüidade social e prudência ecológica são bases essenciais para o desenvolvimento e progresso do turismo. A sustentabilidade só ocorrerá efetivamente a partir de uma conscientização e educação ambiental inter-relacionada aos instrumentos de gestão, em conjunto com a utilização coerente, ou seja, com respeito à todos os elementos que compõem o meio ambiente, inclusive o próprio homem.

 

 

3. Metodologia PLAMTUR: um Exemplo da Necessidade da Inter-relação.

            A elaboração da metodologia PLAMTUR partiu do pressuposto da necessidade de um planejamento para os municípios que estão voltando suas atividades para o turismo de base sustentável. Esta também tem o objetivo de auxiliar no incentivo do desenvolvimento econômico relacionado diretamente ao aproveitamento de oportunidades, no caso o turismo, com ênfase a proteção ambiental. Algumas metodologias existentes surgiram ou foram adaptadas devido a necessidade de se manter as características primordiais, ou seja, a oferta turística de uma determinada localidade e sua atratividade. Todavia, a importância na quantidade de atrativos turísticos deu lugar a qualidade destes pontos, tendo por isso incentivado o estudo destas metodologias para se criar uma forma de conservação da natureza e do turismo em comum, auxiliando também o progresso econômico e social.

            A metodologia aqui apresentada, PLAMTUR – Planejamento Ambiental Municipal do Turismo surgiu a fim de subsidiar na prevenção de danos e direcionar o planejamento ambiental do turismo em um município e/ ou empreendimento de forma sustentável, mitigar danos já existentes e auxiliar as etapas de implantação e gestão do turismo com uma consciência conservacionista. O PLAMTUR foi elaborado com a intenção de subsidiar os planos de desenvolvimento turístico com enfoque para o planejamento e gestão ambiental, com o propósito de auxiliar na conservação e mitigação dos danos ocasionados não só pela atividade turística, mas também das ações interligadas a esta atividade.

            A fase composta de etapas preliminares para o planejamento é aqui apresentada (FIGURA 01), sendo etapas que se complementam entre si e que inter-relacionadas dão subsídios para a proposição de diretrizes ambientais, urbanas e turísticas e um delineamento para o planejamento geral de um município/ empreendimento nas questões que se referem ao turismo, ao meio ambiente e aos demais aspectos que complementam essas questões como a história, cultura e a geografia da localidade, dentre outros.

            Na etapa 01 – o inventário, pode-se encontrar a divisão de duas grandes etapas, o inventário municipal e o inventário dos recursos e atrativos (produtos) turísticos. Esta etapa foi baseada, porém readaptada de estudos já existentes como da Embratur, OMT, dentre outros trabalhos existentes na área de inventário. No inventário municipal ocorre a subdivisão em seis etapas: caracterização histórico-cultural, caracterização físico-ambiental, caracterização sócio-econômica, caracterização político-administrativa, caracterização da infra-estrutura básica e turística e caracterização da demanda existente no município. No inventário dos recursos e atrativos turísticos ocorre também a subdivisão em seis etapas, a fim de identificar individualmente cada atrativo e suas características individuais, sendo essas as mesmas do inventário municipal, porém aplicadas à nível local.

            Na etapa 2 - avaliação prévia de impacto ambiental - APIA, ocorre a divisão em somente mais uma etapa: identificação dos impactos: onde ocorre a identificação dos impactos positivos e negativos no município em geral e em cada recurso e atrativo turístico nos aspectos sócio-econômicos, histórico-culturais e físico-ambientais.

            Na etapa 3 - diagnóstico e análise, temos também a divisão de outras duas sub-etapas: a) diagnóstico: há uma síntese dos dados do inventário e da avaliação prévia de impacto ambiental, onde ocorre o diagnóstico das características do município e de cada recurso e atrativo, com a identificação dos pontos fracos e dos pontos fortes; e b) análise preliminar da situação atual: análise geral dos dados do inventário, da APIA e do diagnóstico.

            Entretanto, ressalta-se que essas são consideradas etapas preliminares para o planejamento e implantação da atividade turística, e que subsidiarão posteriormente as próximas etapas que auxiliarão nos planos e na gestão ambiental turística sustentável.

 

FIGURA 01 - Esquema geral das etapas preliminares da metodologia PLAMTUR.

 

 

Fonte: MORAES, C. S. B. Planejamento e Gestão Ambiental: uma proposta metodológica. São Carlos. 277 p. Tese (Doutorado). EESC, Universidade de São Paulo, 2006.

 

            Retomando a questão da importância na inter-relação de cada elemento, instrumento para o desenvolvimento e sucesso de um sistema, ressalta-se aqui a necessidade da articulação direta entre o planejamento, educação e gestão para a eficácia da sustentabilidade.

Todavia, para complementar a metodologia cabe ressaltar, que se a mesma busca os princípios da sustentabilidade deve atrelar a conscientização de que é de suma importância a ligação direta entre o planejamento, educação e gestão ambiental (FIGURA 02), em conjunto com a utilização coerente e o respeito à todos os elementos que compõem o meio ambiente, inclusive o próprio homem.

 

FIGURA 02 - Inter-relação entre o planejamento, educação e gestão ambiental.

 

Fonte: MORAES, C. S. B. Planejamento e Gestão Ambiental: uma proposta metodológica. São Carlos. 277 p. Tese (Doutorado). EESC, Universidade de São Paulo, 2006.

 

 

4. Considerações Finais

            Este trabalho objetivou a discussão sobre a importância de cada elemento de um sistema para o equilíbrio geral do mesmo, mas especialmente da importância da inter-relação de cada instrumento utilizado no processo de gestão do meio ambiente voltada para a sustentabilidade. Estes instrumentos foram aqui exemplificados com o planejamento, educação e gestão, considerando estes pontos estratégicos para um trabalho eficiente com um determinado sistema, no qual neste texto ressaltamos a relação do meio ambiente na atividade turística.

            A preocupação com o planejamento, educação e gestão ambiental demonstrada neste trabalho é imprescindível para direcionar a busca da sustentabilidade a qual envolva as questões de inclusão e responsabilidade social, desenvolvimento econômico e proteção ambiental inter-relacionadas, neste caso com enfoque à atividade turística.

            Enfim, pode-se chegar a diversas conclusões que são apresentadas em cada contexto deste trabalho e da metodologia aqui elaborada, mas a conclusão neste caso é que pretende iniciar reflexões, discussões, criação de planos e ações, mas essencialmente servir como "subsídio para o planejamento e gestão ambiental, na aplicação de uma gestão contínua e efetiva de planos e ações viáveis na ligação direta entre os objetivos teóricos e científicos de uma pesquisa e sua aplicação para o proveito social".

 

5. Referências Bibliográficas

 

BARBIERI, E. Desenvolver ou preservar o ambiente? São Paulo: Cidade Nova, 1996.

 

BARRETO, M. Planejamento e organização em turismo. Campinas: Papirus. 3ª edição, 1998.

 

DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia. 3ª edição, 1994.

 

ENDRES, A. V. Sustentabilidade e ecoturismo: conflitos e soluções a caminho do desenvolvimento. In: Revista Turismo em Análise. São Paulo: ECA/ USP, v. 09, n. 01, 1998.

 

FERRETTI, E. R. Turismo e meio ambiente. São Paulo: Roca, 2002.

 

FRANCO, M. A. R. Planejamento ambiental para a cidade sustentável. São Paulo: Annablume/ FAPESP. 2ª edição, 2001.

 

MORAES, C. S. B. Planejamento e Gestão Ambiental: uma Proposta Metodológica. São Carlos. 277 p. Tese (Doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2006.

 

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Planejamento para o desenvolvimento de turismo sustentável em nível municipal. Canadá: OMT. Publicação de Turismo e Ambiente, 1994.

 

ORGANIZACIÓN MUNDIAL DEL TURISMO. Introdución al Turismo. Madrid: OMT, 1998.

 

PETROCCHI, M. Turismo: planejamento e gestão. São Paulo: Futura, 1998.

 

QUEIROZ, O. T. M. M. Impactos das atividades turísticas em área de reservatório: uma avaliação sócio-ambiental do uso e ocupação na área da Represa do Lobo, município de Itirapina/ SP. São Carlos. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2000.

 

RODRIGUES, A. B. Turismo e ambiente: reflexões e propostas. São Paulo: Hucitec, 1997.

 

RUSCHMANN, D. V. M. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. Campinas: Papirus. 6 ª edição, 2000.

 

SATO, M. Educação ambiental. São Carlos: Rima, 2002.

Ilustrações: Silvana Santos