Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reportagem
14/12/2010 (Nº 34) Projeto Curupira
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Alice Gehlen Adams

Alice Gehlen Adams

Jornalista Responsável pela Revista

Mtb: 12.690

 

Projeto que inspiram

Projeto Curupira mostra às crianças a importância de se conectar desde cedo com questões ambientais

Pelo Brasil afora são diversos os projetos que se destacam pela preocupação com a preservação do ambiente. Estas iniciativas geralmente resultam em belas histórias de vida e marcam as pessoas para sempre. No Rio Grande do Sul um belo exemplo é o projeto Curupira, de Novo Hamburgo, coordenado pela pedagoga Cristiane Hermann.

Histórias para contar nestes 10 anos de experiências são muitas, mas uma, em especial, emociona a educadora. O pequeno João Felipe foi uma criança que teve muitas dificuldades de adaptação na escola e foi a horta desenvolvida dentro do projeto que fez com que ele se integrasse à rotina da instituição. “O João se identificou com a horta porque o avô dele tem horta em um sítio então aquele se tornou o porto seguro dele e a adaptação finalmente aconteceu”.

Todas as crianças adoram a horta. Não é difícil ver os pequenos andando entre os legumes e arrancando um pedacinho para provar.

Eles participam das atividades propostas com muito entusiasmo e o melhor é que elas acabam tendo forte integração das famílias. Sobre isso, Cris lembra de outro fato curioso, de quando estavam para cortar uma árvore do pátio da escola: a árvore de Uva do Japão. “Tratava-se de uma árvore bem exótica e uma avó que é bióloga fez uma pesquisa e divulgou o histórico da espécie. Acabou criando-se uma rede de proteção pela árvore que até hoje enfeita o pátio”, conta.

O projeto de Educação Ambiental vai além de atividades de sensibilização pois ajuda na formação do caráter das crianças que acabam cobrando a participação dos pais nas atividades. “É lindo ver como todos se mobilizam. Os pais trazem materiais reaproveitáveis para a gente, colaboram com mudinhas para nossos canteiros”. Cris salienta que nestas atividades as crianças aprendem a ouvir o outro e já começam a colocar a sua opinião sobre os temas.

Uma das atividades que as crianças adoraram foi a de jogar sementinhas de girassol no pátio da escola. “Elas colocaram as sementes e depois tiveram que esperar e ver onde elas nasceriam. Temos lindas flores espalhadas pelo pátio da escola e eles lembram qual foi a sua”, conta Cris.

Datas e temáticas

Apesar de desenvolverem o trabalho durante o ano todo, as datas comemorativas são sempre uma oportunidade de movimentar ainda mais as atividades. O Curupira tem como parceiros muito especiais nesta empreitada os garis. Sempre no dia dos garis as crianças levam vassouras e é preparado um almoço, café, ou apresentação comemorando a data com eles. “Neste ano lembramos da importância do protetor solar para eles que estão sempre expostos ao sol”, exemplifica.

Os dinossauros e animais marinhos são temas que despertam a curiosidade das crianças. Lembrando disso, as professoras trabalharam os assuntos com eles e desenvolveram trabalhos artísticos com sucata. O resultado foi mostrado em exposição.

O projeto

O projeto Curupira é desenvolvido na Escola Gente Moleque que atende desde bebês até crianças de 6 anos. Atualmente a única ligação da Cris com a escola está na coordenação do projeto Curupira, pois está atuando como assessora de gestão ambiental na secretaria de Meio Ambiente do município de Campo Bom/RS.

Cris comenta que a Educação Ambiental na escola Gente Moleque foi sendo implantada aos poucos e é um processo que nunca acaba, pois o grupo muda, e as vivências são muito diferentes. “É preciso respeitar as pessoas e suas verdades. Com bom senso as questões planetárias vão sendo discutidas com tranqüilidade e vamos aprimorando ainda mais o trabalho”.

 A importância da Educação Ambiental

Cristiane acredita que os pequenos já estão naturalmente despertos para as questões ambientais por sua curiosidade e engajamento. “Eles são livres de paradigmas e de “velhas manias”. Não existem verdades absolutas e culturas enraizadas. É nesta fase da vida que a maioria dos valores são construídos e passam a fazer parte da vida”.

A educadora salienta ainda que para que a Educação Ambiental ocorra efetivamente é preciso que, em sala de aula, esteja um professor atento, que escute e promove vivências significativas. “O professor deve ser capaz de deixar de lado a atividade que programou em função de uma borboleta que invadiu a sala ou de uma formiga que sobe na mesa, por exemplo”. Para ela, a palavra chave em questão é: sensibilidade. “O professor precisa ser um parceiro dos pequenos, um curioso como eles. Precisa ser um provocador”, indica.

Perfil

Cristiane Hermann é formada em Pedagogia com ênfase em Educação Infantil. É assessora de gestão Ambiental e coordenadora do projeto Curupira. Seu interesse por questões ambientais começou ainda na infância. Neta de agricultores, foi com o avô Alfredo, a avó Elma e a avó Isabela que começou a caminhada verde. “Minhas memórias mais saudosas da infância são em meio à natureza. Com eles aprendi o sabor de comer bergamota no sol e sopa no fogão à lenha”, conta. Ela ainda complementa. “Meu pai tinha como brinquedo da infância uma “funda” para caçar passarinhos e hoje, marceneiro aposentado, faz comedores para pássaros, que enchem o pátio com cantos e alegrias”.

E-mail: crishcampobom@bol.com.br

Recado: “Não há receita pronta para fazer EA. E é este paradigma que tem que ser quebrado. Um mesmo tema desenvolvido em duas turmas diferentes pode tomar caminhos completamente diversos porque o foco do estudo pode ser outro.”

 

Ilustrações: Silvana Santos