Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2010 (Nº 34) LIXO: OS ATORES ESCOLARES SE PREOCUPAM COM ESSE TEMA? UM ESTUDO DE CASO
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LIXO: OS ATORES ESCOLARES SE PREOCUPAM COM ESSE TEMA? UM ESTUDO DE CASO

Este trabalho tem como objetivo investigar se os atores escolares envolvido com Escolas do Ensino Fundamental da Cidade de São Paulo estão desenvolvendo seu papel no que se refere e à Educação Ambiental, especificamente com o lixo urbano.



Maria Veronica Schiesari da Silva Lessa

Mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Cruzeiro do Sul – São Paulo - SP


Carmem Lúcia Costa Amaral

Orientadora no Programa de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul- São Paulo-SP


Rua Galvão Bueno, 868

CEP 01506-000

Fone: 3385 3015

e-mail: carmem.amaral@cruzeirodosul.edu.br





RESUMO

Nas últimas décadas o mundo tem refletido mais frequentemente sobre o tema Meio Ambiente. Nota-se a todo tempo na mídia a preocupação de pessoas dos mais diversos setores da sociedade e das mais diversas profissões como professores, industriais, executivos, políticos, entre tantos outros, com relação às questões ambientais. São visíveis as iniciativas dos variados setores da sociedade para o desenvolvimento de atividades e projetos que sensibilizem e eduquem as comunidades dentro desta cultura ambiental. Também com essa preocupação foi desenvolvida essa pesquisa para investigar como as Escolas do Ensino Fundamental do Estado de São Paulo estão desenvolvendo seu papel no que se refere à Educação Ambiental, especificamente quanto ao lixo urbano. Para tal finalidade foram questionados professores, alunos e responsáveis na busca de respostas de como se desenvolve o assunto lixo dentro das Escolas. A pesquisa levou em consideração Escolas Privada e Pública, sendo que para esta última desenvolveu-se uma pesquisa em duas unidades distintas. Por se deparar com públicos distintos, também se obtiveram resultados específicos para cada uma delas. O que se encontrou foi uma população mais preocupada com a questão e outras duas ainda em fase de aprimoramento.

Palavras chaves: Educação Ambiental, Lixo urbano.

INTRODUÇÃO



Para melhorar o entendimento da relação do homem (seu modo de agir, suas expectativas) com o meio ambiente se faz necessário estudar a sua percepção ambiental, o qual está incluído na Educação Ambiental (EA). A EA leva a uma reflexão quanto à posição do indivíduo na sociedade e de acordo com Bauman (2001) essa relação está associada com o conceito de cidadão. Em seu trabalho esse autor mostra, através das divergências entre ambos, que o indivíduo entra em combate com o cidadão visto que o primeiro descrê quanto ao bem comum e o segundo busca o seu bem-estar por intermédio do bem-estar da cidade.

Inter-relacionar a questão da percepção ambiental com a tomada de consciência do ambiente pelo homem é um fator considerável para os cuidados com o planeta (GRANDISOLI, 2005). É possível fazer a diferença para melhorar a vida das pessoas e do local onde vivem com uma simples predisposição como, por exemplo, pensar na geração e descarte adequado do lixo.

Há algumas décadas, o lixo era constituído basicamente por materiais orgânicos, facilmente decompostos pela natureza (PINO, 1998). Entretanto, com a mudança nos hábitos, o aumento de produtos industrializados e o advento das embalagens descartáveis, o lixo tomou outra dimensão. Hoje, as lixeiras estão saturadas de embalagens plásticas, papéis e vidro. Essa situação levou vários pesquisadores a se interessarem pelo tema (GRYNSZPAN, 1999; RECENA et al, 2002; REIGADA; REIS, 2004, TAVARES; FREIRE, 2003; SCHIMIDT, 2005, GANAHA, 2006).

Entretanto, o problema maior não é, propriamente, a característica do lixo produzido, mas o destino dado a ele. Muitos desses materiais podem ser reciclados, diminuindo, assim, as enormes montanhas formadas nos lixões da cidade e, conseqüentemente, a degradação do meio ambiente. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), 228.413 toneladas de lixo domiciliar e comercial são coletadas diariamente no Brasil, sem incluir a maior parte dos resíduos da construção, lixo industrial, de estabelecimentos de saúde, lixo perigoso e lixo rural. Desse total, aproximadamente 49 toneladas são depositadas em vazadouros a céu aberto (lixões) e em áreas alagadas. A disposição dos resíduos nos lixões, sem o tratamento adequado, resulta na poluição das águas de lençóis subterrâneos e na emissão de gases que destroem a camada de ozônio.

Para que seja minimizado o impacto das atitudes tomadas por aqueles que ainda não possuem a preocupação ambiental referente aos cuidados com o lixo, é importante lembrar que pequenas atitudes diárias poderiam contribuir para uma vida mais saudável, evitando-se o convívio inadequado com o que pode trazer doenças e prejudicar o bem estar.

O rumo que o planeta Terra tem tomado a partir dos cuidados com ele passa, necessariamente, pela eficácia da EA, primeiramente na Educação. E como Educação é esteio para boas obras na busca de um planeta melhor, seria interessante entender o que acontece em cada estágio do processo educativo quanto a preocupação com os problemas que a grande quantidade de lixo gerado diariamente pode trazer ao meio ambiente. Através da EA pode-se, por exemplo, conscientizar a classe estudantil quanto a importância da coleta seletiva e da cooperação de cada um, na melhoria da qualidade do meio ambiente. Em geral, em datas comemorativas como Dia Mundial do Meio Ambiente as escolas realizam trabalhos de coleta seletiva por meio de gincanas para recolhimento de material reciclável, palestras, oficinas com sucatas, etc., Entretanto, essa atitude não se estende ao longo dos anos, o que leva a falta de compromisso dos profissionais com a questão (OLIVEIRA; MELO; VLASCH, 2005).

Ao se trabalhar com EA a escola deve ter claro o intuito de mudar hábitos dos estudantes, professores e funcionários, pois esta traz a idéia de desenvolvimento sustentável, onde crescimentos econômico, social e ambiental estão associados, todavia ainda que estas mudanças ocorram lentamente, pode-se fazer uso de campanhas de propaganda e processos educativos para acelerar a mesma (ROSIQUE; BARBIERI, 1991, CASSIANO, 2007).

Acreditando que a preocupação com o meio ambiente, em particular com o lixo, deva ser iniciada na infância investigou-se neste trabalho se as Escolas do Ensino Fundamental estão desenvolvendo seu papel no que se refere à EA, especificamente tratamento e descarte adequado do lixo.

É vital a importância do desenvolvimento de um trabalho nas Escolas, especificamente com os alunos do Ensino Fundamental, visto que, desde pequenos constrói-se conhecimento e se esta construção for voltada para o desenvolvimento dos cidadãos, indubitavelmente a sociedade se tornará melhor.

Assim, espera-se que essa investigação possa contribuir para a revelação do discurso da Escola e dos seus atores quanto à formação inicial do indivíduo na questão ambiental.



METODOLOGIA



Essa pesquisa foi desenvolvida no período que compreende o final do segundo semestre de 2006 até o primeiro bimestre de 2008, com 43 professores, 280 alunos, 105 pais ou responsáveis em três Escolas do Município de São Paulo, uma privada e duas públicas. Os alunos foram do Ensino Fundamental II, pertencentes às 5as e 6as Séries, com idade entre 10 e 15 anos. Para seu desenvolvimento foram aplicados questionários a esses professores (Questionário1), alunos (Questionário 2), pais ou responsáveis (Questionário 3). As perguntas foram diretas, curtas e com respostas com SIM e NÃO.

A Escola Privada de Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II está localizada na região central da cidade de São Paulo, com 55 alunos no Ensino Fundamental II e 11 professores. Responderam ao questionário 7 professores, 55 alunos e 35 pais e responsáveis.

Das Escolas Públicas, uma está localizada na região central do Estado de São Paulo e a outra na região Oeste. A que pertence à região Central da capital funciona em tempo integral atendendo alunos do Ensino Fundamental II Regular e EJA e Ensino Médio Regular e EJA. Possui 40 professores no Ensino Fundamental II e cerca de 400 alunos. Responderam ao questionário 27 professores, 130 alunos (escolhidos aleatoriamente) e 40 pais ou responsáveis.

A outra Escola Pública está localizada na região oeste e atende alunos do Ensino Fundamental I e II Regular e Ensino Médio. Seu quadro docente é composto de por 18 professores no Ensino Fundamental II e 270 alunos. Responderam ao questionário 9 professores, 95 alunos (escolhidos aleatoriamente) e 30 pais ou responsável.



QUESTIONÁRIO

Série (s) em que leciona: ________________

Disciplina(s) que leciona: _________________

1-Você fala sobre educação Ambiental em sala de aula?

2-Você sabe o que é lixo urbano? SIM( ) NÃO ( )

3-Você trata a questão do lixo urbano em sala de aula? SIM ( ) NÃO ( )

4-Você tem notado alguma preocupação por parte dos alunos em descartar corretamente o lixo urbano? SIM ( ) NÃO ( )

5-Você incentiva seus alunos a praticarem ações compatíveis para o tratamento adequado do lixo urbano? SIM ( ) NÃO ( )

6-Você divulga as ações dos alunos, decorrentes do incentivo, junto ao grupo de colegas professores? SIM ( ) NÃO ( )

QUESTIONÁRIO 1 – Questionário aplicado aos professores das Escolas Privada e Públicas.


QUESTIONÁRIO

IDADE: SEXO: SÉRIE QUE ESTUDA:


1 - Você sabe o que é LIXO? SIM ( ) NÃO( )

2 - Você sabe para que serve o LIXO? SIM ( ) NÃO( )

3 - Na sala de aula se fala sobre como lidar com o LIXO? SIM ( ) NÃO( )

4 - Os seus professores tratam do assunto do LIXO em sala de aula? SIM ( ) NÃO( )

5 - Liste as disciplinas aonde se fala sobre LIXO.

6 - Como é abordada a questão do LIXO? Através de: leituras ( ) trabalhos ( ) prática ( )

7- Você sabe o que é LIXO reciclável? SIM ( ) NÃO( )

8 - Você sabe o que é coleta seletiva? SIM ( ) NÃO( )

9 - Você conhece as cores dos recipientes para separar LIXO? SIM ( ) NÃO( 10 -Você sabia que há muita gente que vive da tratativa do LIXO? SIM ( ) NÃO( )

11 - Na sua casa se separa o LIXO? SIM ( ) NÃO( )

12 - No seu bairro passa o caminhão recolhendo LIXO? SIM ( ) NÃO( )

13 - Perto de onde você mora há algum lugar ou alguma entidade que separa LIXO? SIM ( ) NÃO( )

14 - Você fala do assunto do LIXO com seus colegas? SIM ( ) NÃO( )

15 - Você já viu alguma peça produzida com LIXO reciclável? SIM ( ) NÃO( )

QUESTIONÁRIO 2 - Questionário aplicado aos alunos do Ensino Fundamental II das Escolas Privada e Públicas.



QUESTIONÁRIO


GRAU DE PARENTESCO: _________________________

SÉRIE NA QUAL O SEU FILHO(A) ESTUDA:______________


1 - Você sabe o que é LIXO? SIM ( ) NÃO( )

2 - Junto com a família o seu filho(a) fala sobre o LIXO? SIM ( ) NÃO( )

3 - Junto com a família o seu filho(a) fala sobre o que aprendeu na escola sobre o LIXO? SIM ( ) NÃO( )

4 - Junto com a família o seu filho(a) fala em qual disciplina o tema foi abordado? SIM ( ) NÃO( )

5 - Junto com a família o seu filho(a) conta sobre experiências feitas com o LIXO e tratadas na escola?. SIM ( ) NÃO( )

6 - Você tem o costume de separar o LIXO? SIM ( ) NÃO( )

7 - Seu filho(a) o(a) incentiva a reciclar o LIXO? SIM ( ) NÃO( )

QUESTIONÁRIO 3 - Questionário aplicado aos responsáveis pelos alunos do Ensino Fundamental II das Escolas Privada e Públicas.





RESULTADOS E DISCUSSÃO

Serão analisados, respectivamente, os questionários respondidos pelos professores, alunos e pais ou responsáveis. O gráfico 1 mostra os resultados das respostas afirmativas dos professores quanto ao questionário1.



Gráfico 1 - Porcentagem de respostas afirmativas dos professores das Escolas Públicas. P2 = Escola Pública - Zona Oeste. P3 = Escola Pública - Centro.


Os resultados do questionário com os professores da Escola Privada (P1) não foram apresentados neste gráfico porque todos foram unânimes em responderam afirmativamente a todas as questões, ou seja, todos (100%) afirmaram que tratam da questão ambiental e também do tema lixo urbano em sala de aula; se mostram engajados de tal modo quanto ao assunto que notam a preocupação dos alunos no descarte correto e os incentivam a terem sempre atitudes coerentes com este descarte. Desta forma, há entre eles a identificação de um cenário positivo que traz um pouco do que é possível se fazer para a melhoria da qualidade de vida de todos. Nesta escola há projetos voltados para Educação Ambiental que reforçam o interesse do professor e dos alunos. E com o desenvolvimento desses projetos os alunos vêem em sua Escola o resultado prático do que foi aprendido em sala de aula.

Para os docentes da Escola Pública – Zona Oeste (P2) Pode-se notar neste gráfico que estes apresentam um perfil diferente. Embora uma grande maioria (88,89%) discuta questões ambientais em suas aulas (Q.1), muitos destes não sabem o que é o lixo urbano (Q.2). Acredita-se que este seja um dos motivos que faz com que boa parte do quadro de docentes não trate do tema lixo (Q.3) em suas aulas (55,55%) o que o leva a não notar preocupação por parte dos alunos no descarte correto do lixo. Entretanto, ao analisar as respostas da questão Q.5 e Q.6, ou seja, nem todos incentivam os alunos a agirem corretamente quanto ao tema ou divulgam estas ações junto a seus pares, observa-se certa contradição, uma vez que o tema não é discutido em sala de aula. Os professores que afirmam que falam sobre questão ambiental em suas aulas dizem usarem também conhecimentos de outras disciplinas para auxiliar na construção do conhecimento destes alunos, por meio de trabalhos, leituras diversas e discussões sobre o tema lixo.

Quanto aos professores da Escola Pública – Centro (P3) pode-se constatar nesse gráfico que parte afirma tratar da questão ambiental em suas aulas (Q.1) embora nem todos tratem da questão lixo (Q.3). Entretanto, um percentual maior afirma que incentiva seus alunos a praticarem ações compatíveis para o tratamento adequado do lixo urbano (Q.5). Nota-se que essa afirmação não tem muita coerência. Pode-se constatar a partir dessas respostas que no que se refere a tratativa de lixo urbano em sala de aula, há muito por fazer.

O incentivo apontado por alguns professores envolve trabalhos interdisciplinares propostos como, por exemplo, fazer cálculos do volume de lixo numa determinada localidade ou, se informar sobre os malefícios que o acúmulo de lixo pode trazer à saúde, ou mesmo, pesquisar textos que falam sobre o tema e discuti-los em sala de aula.

As afirmações dos professores foram analisadas nas respostas do questionário 2 respondidos pelos alunos, as quais estão mostradas no gráfico 2.

Gráfico 2 – Porcentagem de respostas afirmativas dos alunos das Escolas Privada e Públicas. P1 = Escola Privada. P2= Escola Pública – Zona Oeste.

P3 = Escola Pública – Centro.



Pode-se notar neste gráfico que a maioria dos alunos da escola P1 afirma que seus professores tratam do tema lixo em sala de aula (Q.3) em concordância com as respostas dos professores e que assim eles sabem o conceito de lixo reciclável (Q.7) e quais as cores dos recipientes para a separação deste tipo de lixo (Q.9) (mesmo que muitos não saibam o que é coleta seletiva – demonstrando que o termo não os é familiar, mas sim o conceito).

Analisando os percentuais de respostas afirmativas dos alunos da escola P2 encontram-se algumas contradições: por exemplo, todos afirmam saber o que é lixo (Q.1) e sobre sua reciclagem (Q.7), embora nem todos saibam o que seja coleta seletiva (Q.8). Isso é intrigante uma vez que para haver reciclagem tem-se que realizar a separação do lixo. Talvez essa incoerência seja devido ao entendimento do termo coleta seletiva (Q.8). Ao mesmo tempo em que não se sabe o que é coleta seletiva, ao se perguntar se o aluno conhece as cores dos recipientes para separar lixo observa-se neste gráfico que uma porcentagem maior que a da Q.8 afirma que sim.

Quanto às respostas apresentadas pelos alunos da escola P3 pode ser um reflexo do meio em que vivem, pois de acordo com o Assistente Técnico Pedagógico (ATP), a maioria dos alunos pertence à classe social baixa ou carente, e que muitos destes alunos vão para a Escola para comer. Ainda de acordo com o ATP, muitos desses alunos vivem da tratativa do lixo e nem todos os professores estão envolvidos adequadamente com o tema, apesar de falarem que exemplificam o tema em sala de aula. Alunos ainda não se preocupam muito com o descarte correto do lixo e a Escola também não recicla e este cenário remete à urgência de medidas mais acertivas para a minimização do problema.

Com o objetivo de verificar se o tema se estende além dos muros da escola, realizou-se uma pesquisa, também por meio de um questionário, com os pais ou responsáveis dos alunos nas três escolas. Os resultados desse questionário estão apresentados no gráfico 3.

Gráfico 3 - Porcentagem de respostas afirmativas dos pais ou responsáveis pelos alunos das Escolas Privada e Públicas. P1 = Escola Privada. P2= Escola Pública – Zona Oeste. P3 = Escola Pública – Centro.

Observa-se neste gráfico que uma parcela dos alunos da Escola P1 fala o que aprendeu na Escola sobre lixo (Q.3) especificando a disciplina (Q.4) e até mesmo contando sobre experiências feitas. É possível questionar se estas respostas provenientes destes pais ou responsáveis apontaram o que realmente se passa em suas casas ou se preferiram colocar dados que não comprometessem seus filhos.

Observando–se as respostas dos três grupos de atores envolvidos com a escola P1, foi possível constatar que os professores tratam da questão do lixo em sala de aula o que corrobora as respostas dos alunos, visto que a grande maioria (96,30%) atesta que o tema é abordado por seus professores em sala de aula através de Leitura, Trabalhos e Atividades Práticas (Q.6). A disciplina de Ciências é a que mais informa sobre o assunto tanto na 5ª como na 6ª série, segundo estes alunos.

Num universo compreendido entre os responsáveis atestou-se que seus filhos recebem informações sobre o lixo (Q.3, Q.4 e Q.5) na escola. Também foi possível notar que há uma diferença entre as respostas de alunos e professores quando comparadas com as dos responsáveis, isto é, muitas vezes, pela falta de diálogo entre pais e filhos não fica claro o que a Escola trata em sala de aula.

Verificou-se que os professores notaram preocupação por parte dos alunos em descartarem o lixo corretamente (Q.4), ratificando a resposta dos alunos; isto aponta para a totalidade de alunos que responderam que sabem o que é lixo reciclado (Q.7) e conhecem as cores dos recipientes para separar o lixo (Q.9). Entretanto, houve uma incoerência que mostra que apesar da totalidade de afirmativas nas Q.7 e Q.9, apenas 61% dos alunos responderam saber o que é coleta seletiva. Assim, é possível que mesmo que os alunos saibam o que tem que ser feito, não conhecem o conceito de coleta seletiva.

Foi possível observar também que entre 48% a 68% dos responsáveis responderam que os filhos falam sobre o lixo em casa (Q.2 e Q.5). Ao se comparar as respostas afirmativas dos professores em relação à Q.5 e as respostas afirmativas dos alunos nas questões Q.3, Q.4, Q.5 e Q.6 observa-se que há total coerência entre as mesmas. Com base nestes resultados fica claro que há grande receptividade por parte dos professores e alunos quanto ao tema, porém os responsáveis nem sempre dão a importância maior à questão comparado com o que seus filhos estão desenvolvendo na escola.

Com base nas respostas apresentadas pelos atores escolares da escola P2, ficou claro que nesta Escola somente 55% dos professores responderam que tratam da questão do lixo em sala de aula (Q.3) mesmo que se observe que quase a totalidade (88%) dos alunos afirme que eles tratam do tema.

Como já observado na escola P1 os professores tratam do assunto do lixo (Q.4) em sala de aula através de Leitura, Trabalhos e Atividades Práticas (Q.6) e a disciplina de Ciências é a que mais informa sobre o assunto tanto na 5ª como na 6ª série. Entre 13% a 50% dos responsáveis responderam que os filhos recebem informações sobre o lixo (Q.3, Q.4 e Q.5). Dentre as possíveis diferenças nas respostas de alunos e professores, quando comparadas com as dos responsáveis, podem-se citar dois: primeiro a falta de diálogo entre pais e filhos e a segunda pode ser a falta de interesse, de tempo dos responsáveis, ou a existência de outros assuntos considerados mais importantes na abordagem familiar.

Para a escola P3, observa-se no gráfico 3 que os responsáveis apontam que a grande maioria dos filhos falam sobre o que aprenderam na Escola sobre lixo (Q. 3), suas experiências e em que disciplina (Q.4 e Q.5, respectivamente), apesar destes mostrarem que seus filhos, na grande maioria, não os incentivam a separar o lixo (um alto percentual de responsáveis não têm costume de fazê-lo).

Observa-se também que os alunos desta escola estão interessados em Educação Ambiental, todavia para os professores isto não foi perceptível. O tema lixo dentro de casa também é colocado, isto pode ser porque muitos afirmam que o assunto é abordado em sala de aula (Q.2 e Q.5, respectivamente) e, ao se comparar as respostas afirmativas dos professores em relação à questão Q.5 e as respostas afirmativas dos alunos nas questões Q.3, Q.4, Q.5 e Q.6 nota-se que há uma incoerência nas mesmas.

De acordo com as respostas das questões Q.5 e Q.6 dos alunos das três Escolas, a disciplina Ciências é a que mais aborda o assunto lixo. Porém, Geografia ou Biologia também deveriam figurar com altos percentuais e outras disciplinas poderiam ser co-participantes da abordagem do tema lixo. Apesar de o tema ser tratado com trabalhos, leituras e ações práticas nas três escolas, o tema poderia ser melhor abordado se estivesse presente em todas as disciplinas.

Quanto às afirmações dos professores da escola P1 pode-se concluir que por ser em menor número, há proximidade do corpo docente com a Direção, com o constante monitoramento das atividades desses docentes. Sua independência com outras escolas privadas torna possível a utilização de metodologias específicas, ou seja, tenha a possibilidade de fazer o acompanhamento do trabalho dos docentes, de dar e receber feedbacks, de discutir com mais freqüência o que se passa em sala, ou até mesmo envolvendo outros docentes nesta discussão, sempre pautando pelo aprimoramento da proposta escolar. Ao contrário, as escolas P2 e P3, devem atuar como uma rede, ligadas diretamente a órgãos que dão as diretrizes para tal.

Outra característica marcante dos docentes da escola P1 é quanto ao tempo de docência, ou seja, a maioria leciona há mais de quinze anos e atuam de modo polivalente. Este fator pode permitir maior interligação no envolvimento de conceitos interdisciplinares, implicando num aprofundamento do conteúdo apresentado. Esses docentes propõem ações práticas para auxiliar no desenvolvimento de cada aluno, seja através de atividades extraclasse, projetos de engajamento da Escola, busca de valorização de atitudes ou de trabalhos que visem o bem comum e até mesmo discussão de problemas sociais atuais. Este incentivo junto ao corpo discente pode até se refletir nas relações interpessoais.

Acredita-se que práticas em sala de aula que levem os alunos a perceber a importância da preocupação quanto à tratativa correta do lixo, incentiva-os na constância de ações, importante papel educacional – social – ambiental destes docentes. Vê-se claramente que esta realidade é diferente das Escolas P1 e P2, o que é refletido em cada resultado.

No que se refere às Escolas P2 e P3 nota-se algumas diferenças, por exemplo, de acordo com o ATP, uma das Escolas atende à classe média e outra trabalha com uma população carente que vai à Escola, primeiro, para comer. Desta maneira, o saber não é a prioridade – vem em segundo plano. E caso as necessidades primárias não sejam atendidas, fica inviável se comprometer com os estudos. Daí mudar professores ou assumir nova forma de trabalho não resultará em nada que possa ser considerado de agregação de valor, mas sim, ações ineficazes para a realidade enfrentada.

As variantes encontradas frente às respostas dos professores das Escolas trazem a diversidade de formação destes professores, na direção de cada instituição, no compromisso de cada profissional, e até mesmo na falta de avaliação periódica eficaz de cada docente. A eficácia da sua formação como agente ativo da construção do conhecimento do aluno dentro de um tema pode também ser questionada. Logicamente a população envolvida nesta pesquisa teve formas de aprendizado distintas, muitas vezes não formal, resultando nas respostas obtidas.



CONCLUSÕES

As variantes encontradas frente às respostas dos professores das escolas P1, P2 e P3 levam a conclusão que a direção das instituições, a motivação, o compromisso, a capacitação e o perfil dos profissionais envolvidos, a existência de uma avaliação periódica eficaz dos docentes e das instituições são alguns dos itens considerados de maior significado, mostrando que há uma preocupação visível com relação à questão do Meio Ambiente e do lixo.

Aos alunos, muitas vezes, não suscita a motivação para conhecer, aprender mais sobre alguns temas, mesmo demonstrando razoável conhecimento. Se no ambiente doméstico não se atenta para determinadas questões, isto pode implicar numa dedicação questionável na Escola – nem tudo o que se aprende é valorizado. E se o tema não lhes for tangível, aplicável, talvez haja maior negligência.

Pode-se colocar que muitos alunos observam ações do corpo docente e, por meio delas avaliam e põe em cheque se seus discursos são compatíveis com suas práticas. Se esses professores puderem representar, através de seus exemplos, a integridade entre o que é colocado na Escola e a realidade, obterão mais êxito do que muito de suas colocações em sala, fator significativo para o convencimento dos alunos.

Quanto aos responsáveis, talvez enfrentem dificuldades ao buscarem seu comprometimento para serem co-participantes do processo educativo, visto que, momentaneamente não há dados suficientes para desenhar seus perfis e compreender o modo pelo qual foram educados. Mas pode-se questionar se suas respostas retratam fielmente o que seus filhos apresentam em casa, fruto do que é visto na Escola ou, se por responder a um questionário de pesquisa, cogitou-se que, para proteger seus filhos foram dadas respostas que não os comprometeriam. Neste momento, infelizmente, não há uma certeza.





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Ilustrações: Silvana Santos