Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2010 (Nº 34) PROPOSTA DE ELABORAÇÃO DE OFICINA COMO RECURSO DIDÁTICO PARA SE TRABALHAR A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA EM SALA DE AULA
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PROPOSTA DE ELABORAÇÃO DE OFICINA COMO RECURSO DIDÁTICO PARA SE TRABALHAR A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA EM SALA DE AULA



Wagner Batella

Geógrafo e Mestre em Geografia – Tratamento da Informação Espacial pela PUC MG

Doutorando em Geografia pela UNESP campus de Presidente Prudente

Bolsista CNPq - Contatos: (18) 8803-4720; e-mail: wbatella@gmail.com


Delmir Alexandre

Geógrafo pelo Centro Universitário Newton Paiva; delmirs@yahoo.com.br




Resumo:


Dentre os temas estudados em Geografia, desatacam-se as transformações no ambiente, fruto das relações do homem com natureza. Formar uma consciência dessa interação é um desafio constante para esta e outras disciplinas. Este trabalho pretende contribuir para esta reflexão, ao propor e avaliar uma oficina como recurso didático para se trabalhar a consciência ecológica em sala de aula.


Palavras-chave: oficina didática; consciência ecológica; ensino de Geografia.



1 – Introdução:


Este trabalho propõe e avalia a realização de uma oficina como atividade para se trabalhar a temática da consciência ecológica em sala de aula. Atenta-se, pois, para o fato de que atividade não implica apenas movimento físico, mas também, do ponto de vista didático, “atividade interior, participação mental ativa do aprendiz na construção de sua própria aprendizagem” (OLIVEIRA, 2002: p.217). Por isso, no desenvolvimento desta oficina são considerados vários aspectos das relações cotidianas interpessoais e das relações dos indivíduos com o meio, analisadas no contexto do ambiente escolar.

A oficina foi realizada em três escolas localizadas no município de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no âmbito da disciplina Geografia, em função do perfil deste campo do conhecimento e da interdisciplinaridade que a temática abordada neste trabalho evoca. Neste contexto, para Santos (2006: p.5) a Geografia é “como uma espécie de pivô ou referência, na constituição de um saber interdisciplinar” que visa compreender o processo de transformação do espaço geográfico resultante da ação do homem, entendido como principal agente causador de mudanças sobre o planeta.

Urge, portanto, conscientizar este homem de seu papel na interação com o ambiente. Botelho e Silva (2004, p.188) destacam que “a visão do homem como vilão da história, como destruidor da natureza e predador dos recursos naturais é repudiada na atualidade”. O homem é parte integrante do meio ambiente, sendo um de seus componentes, agindo e interagindo com os demais. Em função disso, propõem-se esta oficina com os objetivos de refletir sobre o papel do homem na interação como o meio ambiente e contribuir com a formação da consciência ecológica.


2 – A Consciência Ecológica


Desde o século XIX, a ecologia busca compreender e explicar quais são as leis que ordenam a estrutura da vida. É neste esforço que se estabelece a ligação de forma inevitável com as ciências humanas, como a Geografia, pois a vida tange as duas ciências como objeto de estudo.

Comparativamente, a ecologia estuda as leis que estabelecem o equilíbrio entre as hierarquias de presas e predadores e que é capaz de sustentar a vida dentro de um meio ambiente. A Geografia estuda a dinâmica da vida humana que influencia e é influenciada por este meio ambiente.

Assim, ter consciência ecológica é compreender que a vida está posicionada dentro de uma hierarquia entrelaça por um fio contínuo que, se for rompido, toda a estrutura se compromete. Quanto maior o conhecimento sobre o meio que se vive melhor será a leitura desta realidade, de modo que o indivíduo mobilize ações dentro desta sociedade, partindo de um comportamento individual consciente. Um importante veículo para o transporte dessas experiências individuais para o meio coletivo é a palavra, pois segundo Vygotsky, citado por Magalhães (2001), ela carrega o significado, que é essencial para consciência.

A intervenção do homem sobre o meio interfere diretamente nos grandes eventos da natureza. Um desmatamento interfere no micro clima local; a poluição das águas se relaciona com o ecossistema aquático e na perenidade do rio, em outra escala no ciclo da chuva e das correntes de ventos; a ocupação desordenada das encostas contribui para os processos erosivos e deslizamentos de grandes volumes de solo; os depósitos de lixos contaminam o solo e o lençol freático, além de revelarem os hábitos de consumo exagerado dentro de um padrão capitalista inconseqüente; as famílias que vivem do lixo representam apenas um dos extremos dos problemas sociais do modo de vida urbano; o uso de agrotóxicos em larga escala acelera a morte do solo. Estes temas apresentados, assim como outros tantos, anteriormente não estavam elencados como problemas e muito menos problemas de impactos a serem considerados.

A consciência de tal realidade fez com que os temas ecológico-ambientais fossem tratados em uma escala política maior. Foi na cidade de Roma no ano de 1968 que aconteceu o encontro que ficou conhecido como Clube de Roma e que discutiu sobre a disponibilidade dos recursos naturais renováveis e a necessidade de planejar melhor a utilização destes recursos. Do clube de Roma nasceu a necessidade de um encontro mundial para tratar com mais objetividade várias questões abordadas. Em 1972 aconteceu o encontro de ESTOCOLMO, promovido pela Organização das Nações unidas – ONU – oficializando a importância das questões ambientais dentro da esfera da política pública mundial. Este encontro, segundo Jacobi (2003, p.193) fez uma “crítica ambientalista ao modo de vida contemporâneo”. Os hábitos de consumos exagerados e as diferenças sociais transformaram-se em temas usuais a partir de Estocolmo e em encontros posteriores. Neste sentido Fontanela (2001, p.18-19) considera que “todos estes eventos (Clube de Roma e Estocolmo) foram marcos históricos importantes”, pois apresentavam a relação do modo de vida e produção com os recursos naturais disponíveis.

Diversos eventos seguiram aos de Roma e Estocolmo. A construção da consciência através da percepção da realidade vem sendo facilitada a cada encontro, pois consegue envolver um número cada vez maior de informações sobre o meio ambiente e de pessoas dedicadas à criação de alternativas para os impactos causados pela ação humana no planeta.

Dentre esses encontros, destaca-se o realizado na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1992, em mais uma edição das conferências internacionais realizadas pela ONU para as questões do Meio Ambiente no mundo. A conferência denominada como ECO-92 ficou conhecida, preferencialmente como RIO-92, sendo um marco importante no sentido de comprometer-se com a aplicação de medidas para a redução dos problemas ambientais. Neste encontro aconteceram simultaneamente vários eventos, dentre eles o Fórum Global do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. Fontanela (2001) considera este fórum como um momento significativo para a Educação Ambiental, pelo fato de aproximar o tema cada vez mais às pessoas, por meio de um veículo seguro que é a educação.


3 – Concepção e proposta de aplicação da oficina


Todo o trabalho teve início com a pesquisa documental feita através de visita às Secretarias Estadual e Municipal de Educação para a informação sobre os programas de ensino e seu conteúdo utilizado nas escolas públicas.

Depois da base teórica construída, houve escolha de escolas conceituadas e com bom desempenho junto ao MEC para a investigação prática segundo o objetivo da pesquisa. Embora o foco desta pesquisa seja preferencialmente voltado para o ensino fundamental de 5ª à 8ª serie, dentre as três escolas escolhidas para a pesquisa apenas uma era de ensino fundamental. Este critério justifica-se pelo fato desta pesquisa buscar dimensionar a percepção do aluno sobre realidade a partir de conteúdo aprendido. Para tanto se torna necessário que as escolas sejam de graduações diferentes, pois é justamente esta diferença que possibilita estabelecer critérios de comparação para o dimensionamento.

Foi escolhida uma turma de 6ª série da Escola Estadual Ordem e Progresso, uma escola estadual e que apresenta um ótimo conceito junto ao - Ministério da Educação e Cultura – MEC. A segunda escola é o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG, representado por uma turma de 2º ano do curso técnico em química. A terceira escola é o Centro Universitário Newton Paiva. Nesta última, a turma escolhida foi a de 4º período do curo de Geografia e Meio Ambiente. As escolas integrantes da pesquisa são amostras de universos escolares que refletem bem os aspectos da realidade sócio–econômico-cultural das regiões mais adensadas do Brasil. A realidade destes jovens é depois do ensino fundamental fazer um curso técnico voltado para o mercado de trabalho.

Na seqüência aconteceram os primeiros contatos com as escolas para apresentar o projeto e também para que o grupo desta pesquisa conhecesse as características do universo de alunos com os quais trabalhamos. O contato na escola de ensino fundamental foi com a coordenadora geral e especificamente com a professora de Geografia. No CEFET, o contato foi com o coordenador e a professora de Geografia. No Centro Universitário, o contato foi com a coordenadora do curso de Geografia e a professora de Metodologia de Trabalho Científico.

Conhecido o universo de trabalho, foi especialmente desenvolvida uma oficina como ferramenta de investigação. As vantagens apresentadas por esta ferramenta facilitou a sua escolha: primeiro a possibilidade dela ser modelada de acordo com o nosso grupo focal; outro ponto é que a oficina permite trabalhar de forma lúdica os elementos objetivos e subjetivos da cognição de modo bem confiável; também o fator lúdico blinda a estrutura da oficina reforçando sua integralidade; por fim, a oficina permite o controle de conteúdo e de tempo de modo padrão para as diferentes turmas de aluno.

O aprofundamento das pesquisas práticas dentro das dependências das escolas foi com a realização de uma oficina por escola, totalizando três oficinas. Para a tabulação dos dados foram realizados cálculos estatísticos de percentuais, media e desvio padrão. A partir dos cálculos finais das tabelas de resultados foi gerado um gráfico contendo dados das três oficinas que serviram de base para as análises desta pesquisa.


4 – A elaboração da Oficina



4.1 – Conceitos e Estrutura


O principal conceito estruturador da oficina é o espaço geográfico1, aqui entendido não como um agrupamento de objetos e ações, mas, como um conjunto que comporta sistemas complexos da materialização objetiva e subjetiva de todas as atividades humanas sob o meio natural. Neste mesmo espaço é possível articular conceitos2 como paisagem, território, lugar, rede, ambiente.

A paisagem é o espaço tangível através da visão humana. Espaço que pode revelar a natureza natural aquela que está intocada, mas à medida que objetos humanos são incorporados neste espaço, esta paisagem se artificializa. É dentro desta paisagem que o indivíduo apropria-se de um determinado espaço e o reconhece como lugar para desenvolver as suas práticas para realizar a sua vida. Neste lugar o indivíduo revela a sua natureza pessoal através das estruturas e instituições urbanas que têm em sua natureza a função de relacionamento urbano-social. O espaço também traz a dimensão subjetiva da região de vários tipos de domínios que podem ser maiores ou menores que a paisagem, mas está interligada por uma rede cultural, econômica, política e até virtual.

O espaço geográfico carrega toda a trajetória da vida. Primeiro a natureza selvagem intocada que serve como uma matriz de recursos vitais que serve de base para muitas transformações. Ao longo da evolução histórica humana o desenvolvimento de técnicas e ferramentas permitiu o domínio dos aspectos considerados selvagens, surge, então, a natureza artificial, aparelhada com novos elementos e construções em sua paisagem.

Dentro desta nova natureza artificial, que contém a materialização dos processos antrópicos, é possível identificar outras três naturezas: uma de relacionamento, uma pessoal e outra virtual. Todas elas revelam novos critérios de relacionamento que definem a personalidade social e pessoal.

A natureza de relacionamentos é fisicamente representada por elementos que abrigam instituições que definem regras sociais, padrões de comportamento e que permitem, genericamente, classificar limites não visíveis do espaço, como território, cidade, região, grupos sociais.

A natureza pessoal assemelha-se a anterior, porém é praticada em escala menor, na dimensão local, através de elementos e objetos que caracterizam as pessoas individualmente dentro espaço. Mas, ao mesmo tempo em que esses objetos e elementos estabelecem categorias, eles possibilitam relacionar cada um ao grupo social específico. É uma natureza facilitadora da manifestação de personalidades individuais.

A natureza virtual é uma representação do espaço que abre a janelas para a possibilidade de transformações ilimitadas. Seu antagonismo é que depende, diretamente, da base física tecnológica para materializar a virtualidade. A sua principal característica é a alta velocidade. Rapidez para a realização de negócios, atividades e processos sociais; rapidez para inserção ou exclusão na mesma intensidade das transformações espaciais. É um espaço que também carrega conceitos de lugar, território, rede, porém de modo subjetivo. Nesta natureza a extensão espacial é mensurável em quantidade de bites, e a qualidade desta representação depende de uma estrutura material adequada.

Todas as cinco naturezas carregam conceitos significativos da Geografia e estão sistematicamente dispostas dentro de uma atividade que foi desenvolvida como ferramenta facilitadora de nossa pesquisa

A atividade proposta é uma oficina aplicada através de um texto lúdico. A intenção é criar uma circunstância de trabalho diferenciado em relação ao ritmo e formato convencional de aulas disciplinares.

A oficina tem como título “Planeta Seu” e cada tarefa por ela proposta foi criada, especificamente, para o público alvo de investigação desta pesquisa. A palavra “seu” que compõe o nome da oficina foi escolhida não pela idéia de posse individual, mas pela idéia de autonomia que cada aluno deve ter no momento de executar a atividades da oficina. A seguir o texto da oficina será apresentado na íntegra.

Na oficina, o espaço geográfico está dividido em cinco categorias de natureza: natureza natural, natureza artificial, natureza de relacionamento, natureza pessoal e natureza virtual. Cada uma delas é, igualitariamente, exemplificada por vinte itens, totalizando um universo de cem itens. Estes servem de representações temáticas norteadores para a execução de cada tarefa. A seguir eles estão descritos:


Natureza natural – terra, fogo, água, animal selvagem, peixe, montanhas, insetos, vulcão, sementes, praia (litoral), petróleo, sol, vento, animais domésticos, arvores, doenças, deserto, geleiras, aves e carvão mineral.


Natureza artificial – agrotóxico, estrada, rodoviária, aeroporto, aterro sanitário, estação de tratamento de água, estação de tratamento de esgoto, agricultura, indústria, hospital, shopping, farmácia, supermercado, escolas, hidroelétrica, automóvel, usina nuclear, bicicleta, usina termoelétrica, metro.


Natureza de relacionamento – praça, família, religião, restaurante, penitenciária, cinema, agência bancária, clube, parque de diversão, lanchonete, estúdio de tatuagem, salão de beleza, parque ecológico, hotel, praia (lazer), agência de correios, jogos olímpicos, ONG’s, estádio de futebol, casa.


Natureza pessoal – sabonete shampoo, relógio, chuveiro, desodorante, creme dental, lanterna, calculadora, agenda, cartão de crédito, detergente. Bebidas, espelho, pente, gel para cabelo, prancha para cabelo, secador de cabelo, calçado, boné, protetor solar.


Naturaza virtual – iPod, micro computador, laptop, máquina digital, aparelho de TV, aparelho de DVD, home theater, forno de micro ondas, internet, MSN, orkut, play station, web câmera, TV à cabo, impressora, emissora de Tv, emissora de rádio, lan-house, jogos eletrônicos, celular.


A escolha de tais elementos não é uma tentativa de elencar ou condensar a representação simbólica que define cada natureza de forma precisa como uma verdade absoluta. Cada elemento integra a uma condição maior do que sua aparência física, ou seja, cada um deles é ao mesmo tempo objetivo e subjetivo dentro do espaço geográfico. Objetivo enquanto é apenas uma representação denotativa por si só e é subjetivo quando integra um meio ecológico que não é inerte.

O universo de cem elementos é uma referência numérica que serve de base comparativa para os resultados de cada oficina aplicada.

Na oficina (ver tarefas 1 e 2 do item: aplicação da oficina) é solicitado aos participantes que separem estes elementos em dois grupos, distinguindo o que é importante do que é indesejável. Nesta tarefa compete ao aluno relacionar conteúdos temáticos múltiplos e classificá-los de forma coerente. Estas duas fases apontam indícios da percepção dos elementos que impactam de modo positivo ou negativo no ambiente.

Na fase seguinte (ver tarefa 3 do item: aplicação da oficina) os alunos devem, livremente, indicar cinco novos elementos quaisquer que serão adicionados ao grupo dos elementos classificados como importantes (ver tarefa 1 do item: aplicação da oficina). A competência do aluno é a capacidade de identificar situações conflituosas e ao mesmo tempo criar alternativas para estabelecer um ponto de reequilíbrio. Como na fase 1 e 2, os elementos foram pré-determinados, nesta terceira fase a liberdade para a escolha é didaticamente fundamental, pois esta arbitrariedade indica o grau de homogeneidade ou dispersão do grupo, além, de revelar o quanto o conteúdo já trabalhado é capaz de promover a autonomia consciente para intervir em benefício do meio. É importante, também, considerar que o resultado desta fase é que pesa de modo sensível sobre o resultado da tarefa 1 e 2 a ponto de descrever a distorção de cada natureza especificamente.

Na última fase (ver tarefa 4 do item: aplicação da oficina) pede-se que cada aluno faça três revisões, indicando o que deve ser incluído ou excluído nas suas escolhas anteriores. Aqui é necessário compreender o valor da informação científica para a percepção do entorno e o peso deste conhecimento aplicado sobre o meio real. O aluno deve mostrar na prática que o seu conhecimento vem se construindo através do meio teórico conjuntamente com a prática. Esta fase da oficina simula uma situação do cotidiano que mostra o quanto é importante, constantemente, reavaliar se as escolhas feitas, de fato, têm atingido ou não resultados esperados para solução dos problemas reais.


4.2 – Aplicação da oficina


Esta oficina é intitulada “Planeta SEU”. Baseia-se na educação ambiental formal através de atividade lúdica e foi planejada para o universo de 15 a 45 pessoas, sendo estes alunos com escolaridade mínina de 6ª série.


  • 1º passo:

Tomar o cuidado de organizar a sala de aula previamente para a execução da oficina sem, contudo, manter rigidez extrema sobre esta ordem. Permitindo, inclusive, que alunos façam pequenas alterações, mantendo sempre um ambiente descontraído e informal.


  • 2º passo:

Explicar rapidamente para os alunos sobre a oficina compostas por algumas tarefas, tendo o cuidado de não antecipar nem a quantidade e nem o que será cada tarefa. Explicar que é uma situação informal bem distinta de um processo de avaliação convencional. Observando que alguns objetivos e o tema da pesquisa serão mais bem explicados ao final da oficina com disponibilidade do grupo de pesquisadores em responder possíveis perguntas.


  • 3º passo;

Distribuir um envelope de cor branca para cada aluno contendo cem palavras recortadas individualmente. Neste momento não deve ser revelado ao aluno que tais palavras são exemplos de elementos das várias naturezas


  • 4º passo:

Ler o texto da oficina:


A alguns anos luzes da terra há um pequeno sistema estrelar chamado NOSSO, neste sistema NOSSO existe um planeta parecido com a Terra, este planeta chama-se SEU. Porém, SEU é um planeta vazio pronto para ser habitado e preenchido por tudo que alguém julgar necessário para uma vida com o mínimo de impactos negativos.


O ano é 2020 e você foi convidado a ser o primeiro habitante do planeta SEU e, portanto, será você quem escolherá quais elementos e objetos são necessários para estabelecer a vida no planeta SEU com o melhor nível de equilíbrio possível.


  • 5º passo:

Distribuir um envelope de cor amarela e um envelope de cor cinza para cada aluno para a execução da prática sendo que as tarefas 1 e 2 devem ser feitas simultaneamente.

Os alunos receberam um envelope de cor branca contendo cem palavras com nomes de elementos, coisas, objetos, fenômenos, que devem ser separados em duas malas para a viagem.


Tarefa 1 – o envelope de cor amarela representa a mala na qual deve ser colocado tudo aquilo que você julgar essencial ou importante para a vida no Planeta SEU.


Tarefa 2 – o envelope de cor cinza representa a mala na qual deve ser colocado tudo aquilo que você considera prejudicial e não deve, do modo algum, fazer parte do ambiente do Planeta SEU. Esta mala será desintegrada no espaço sideral.

O tempo total para a execução desta tarefa será de 20 minutos.


  • 6º passo:

Recolher os envelopes de cores amarela e cinza. Simultaneamente, distruibuir um envelope verde para cada aluno, contendo cinco pedaços de papel pequeno (tamanho cartão de visita) em branco.


Tarefa 3 – o envelope de cor verde representa a mala extra na qual contém cinco bônus em branco, em cada um deles deve ser escrito o nome de objetos ou coisas que o aluno julga muito importante para o Planeta SEU.

O tempo total para a execução desta tarefa será de 5 minutos.


  • 7º passo:

Recolher os envelopes verdes. Simultaneamente, distribuir, para cada aluno, papel em branco (tamanha de aproximadamente ¼ do papel A4).


Tarefa 4 – O tempo acabou e as três malas já foram trancadas e despachadas para o embarque. Se algum item ficou em malas trocadas, o aluno poderá corrigir neste momento.


Este papel é para você anotar 3 lembretes. Com eles você poderá excluir, incluir coisas novas ou trocar objetos de uma mala para outra. Basta escrever nos papéis que serão usados como lembretes. É só usar a expressão:


excluir ____ da mala cor ____

incluir ____ na mala cor ____

trocar ____ da mala cor ____para mala cor _____


O tempo total para a execução desta tarefa será de 5 minutos.


  • 8º passo:

Recolher os papéis com as anotações.


  • 9º passo:

Fazer as considerações finais sobre a atividade explicando a importância do conhecimento múltiplo e da articulação destes com a realidade para que as escolhas pessoais possam ter bons resultados coletivos.


5 – Discussão e avaliação dos resultados



A natureza natural foi a que teve maior percentual de escolhas dentre as três oficinas realizadas ficando com 2,6% da média, sendo o maior índice registrado no gráfico representado na Figura 1. Este resultado foi obtido na oficina 1 realizada com os alunos universitários. O mesmo tipo de natureza aparece no resultado curso técnico, 1,95% foi o percentual da média da escolhas destes alunos. Para os alunos do ensino fundamental foi a natureza de relacionamento que teve a preferência das escolhas com 2,5% da média.


Figura 1: Gráfico Geral do Percentual da Média por Tipo de Natureza


O menor percentual das escolhas registrado no gráfico representado na figura 1 é para a natureza virtual como 0,8% das escolhas dos alunos universitários. Novamente o mesmo comportamento é observado nos alunos curso técnico que também fizeram como última escolha a natureza virtual com 1,2% da média. Para os alunos do curso fundamental a natureza natural foi a que teve o menor número de escolhas com 1,6% da média. De um modo geral há uma divergência de opinião entre os alunos das três oficinas, como é uma inversão de resultados para esta natureza que teve a maior escolha entre os alunos universitários e do curso técnico.

Com relação à natureza de relacionamento há opiniões diferentes entre os participantes das três oficinas. Enquanto esta natureza é a preferência entre os alunos do ensino fundamental, o mesmo não acontece com os universitários que apresentam opinião oposta para esta natureza com 1,2% da média, que é menos da metade da média da escola fundamental, porém intercalada dos dois resultados encontra-se o curso técnico com 1,7% da média de suas escolhas para esta natureza.

O gráfico também apresenta uma discordância de opinião entre os alunos das três oficinas com relação à natureza artificial. Esta natureza aparece com maior importância para os alunos do curso técnico com 2% da média, embora forme uma crista na onda a tendência seqüencial é a queda. Esta natureza tem pouca importância para os alunos universitários, com 1,2% da média, embora este ponto esteja no final de descendência a seqüência indica estabilidade com leve tendência de subir. Os alunos do ensino fundamental se encontram em posição intermediária aos dois resultados, entre estes alunos a natureza artificial teve 1,7% da média das escolhas, segundo a curva com sentido ascendente do gráfico representado na FIGURA 1.

Embora os três grupos de alunos tenham a disciplina específica de Geografia, de um modo geral há uma divergência de opinião com relação à escolha dos tipos de natureza entre os alunos de cada oficina. Contudo a natureza pessoal é a que apresenta maior homogeneidade de opinião entre os alunos das três escolas. Houve muito pouca variação entre os valores dos resultados. A maior média registrada para esta natureza foi na escola fundamental com 1,8%, a seguir encontram-se os alunos universitários com 1,5% de média; a menor escolha para esta natureza está entre os alunos do curso técnico com 1,4% da média total.



6 – Considerações finais


Pode-se verificar que de fato o conteúdo do ensino de Geografia contribui para a formação da consciência ecológica, pois ao se comparar o gráfico representado na Figura 1, de resultados das três escolas, é possível afirmar que existe uma relação direta entre o acúmulo de conteúdo estudado e o aumento da valorização dos elementos da natureza natural. Mesmo esta natureza sendo particularmente importante para os universitários de Geografia, também entre os alunos de curso técnico esta natureza tem considerável relevância.

Os pontos do gráfico que se relacionam à natureza pessoal também permitem confirmar a contribuição da Geografia para a formação da consciência ecológica. Esta natureza contém aspectos do comportamento individual de extrema importância no processo de conscientização relacionado ao modo e o padrão de consumo. Sendo este assunto muito recente, ainda não é tema frequente dentro do conteúdo da disciplina, logo, ao contrário da natureza natural, a natureza pessoal foi a que teve menor variação entre os resultados dos três níveis de alunos pesquisados.

Outra observação que comprova como a Geografia consegue influenciar de forma sensível na formação da consciência ecologia é que as três curvas do gráfico representado na Figura 1 foram analisadas de forma geral. A curva relacionada aos alunos do ensino fundamental genericamente desenha uma ascendência valorizando a natureza virtual e dando menor peso a natureza natural. Entretanto a curva relacionada aos alunos universitários do curso de Geografia descreve uma curva descendente praticamente inversa a anterior, onde a natureza natural tem maior relevância e a natureza artificial tem o menor percentual de importância. A curva relacionada aos alunos do curso técnico, que estão numa fase de conhecimento intermediário, descreve uma curva descendente semelhante aos alunos universitários, porém de forma mais atenuada, entre estes alunos, também a natureza natural tem maior escolha e a natureza virtual tem menor escolha.

Por fim destaca-se a validade de se trabalhar com oficinas, uma prática lúdica e envolvente que facilita a introdução e o desenvolvimento de uma dimensão da educação ambiental, qual seja: a formação da consciência ecológica.


7 – Referências Bibliográficas


BOTELHO, Rosângela Garrido Machado, SILVA, Antônio Soares, Bacia hidrográfica e qualidade ambiental. In: VITTE, Antônio Carlos, GUERRA, Antônio José Teixeira. Reflexões sobre a Geografia Física no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004, pp.153-192.


CASTRO, Iná Elias de.; GOMES, Paulo C. da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 352p.


CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço: um conceito-chave da Geografia. In: CASTRO, Iná Elias de.; GOMES, Paulo C. da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, pp.1547.


FONTANELA, Luiz Batista. Educação ambiental como processo transversal do currículo escolar. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. Outubro/2001


OLIVEIRA, Lívia. O ensino/aprendizagem de geografia nos diferentes níveis de ensino. In.: PONTUSCHKA, Nídia Nacib, OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Geografia em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002, pp.217-220.


MAGALHÃES, Josiane. O Que È Consciência Critica? Revista eletrônica Urutagua. Ano 1. No 02. Julho 2001. Bienal. Maringá. Pará – Brasil


SANTOS, Milton. A Questão do Meio Ambiente: Desafios Para a Construção de uma perspectiva Transdisciplinar. São Paulo: Interfacehs – Revista de gestão integrada em saúde do Trabalho e Meio Ambiente – v.1, n.1, Trad 1 ago 2006.




1 Uma discussão abrangente sobre o conceito de espaço pode ser encontrada em CORRÊA (2005).

2 Para um aprofundamento acerca desses conceitos, consultar: CASTRO; GOMES e CORRÊA (2005).

Ilustrações: Silvana Santos