Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2010 (Nº 34) Atitudes relacionadas ao Meio Ambiente: Uma responsabilidade da Educação Ambiental
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Atitudes relacionadas ao Meio Ambiente: Uma responsabilidade da Educação Ambiental


Raquel Costa1 & Cibele Schwanke2


1 Graduanda em Ciências Biológicas;

Universidade do Estado do Rio de Janeiro – rcsbio@yahoo.com.br

2 Orientadora;

Instituto Federal Rio Grande do Sul – cibele.schwanke@poa.ifrs.edu.br



RESUMO


Diante da atual e crescente crise ambiental, cabe à sociedade se colocar de forma crítica e ativa, assumindo suas responsabilidades de forma a garantir a busca de uma nova forma de viver, menos exploratória dos bens naturais. Neste cenário é cabível, também, uma discussão acerca do papel da Educação Ambiental nessa caminhada proposta à humanidade. O presente trabalho discute a crise ambiental em que o mundo se encontra, a importância da atitude individual e o papel da Educação Ambiental neste contexto. Um questionário semi-estruturado contendo 10 questões foi distribuído a 45 participantes e assim obtiveram-se informações acerca das atitudes a serem realizadas individualmente, no cotidiano, capazes de contribuir de alguma forma ao enfrentamento dos problemas ambientais. Através da análise das informações obtidas, as respostas foram organizadas e categorizadas a fim de facilitar a interpretação dos resultados, que por sua vez se apresentaram de forma satisfatória no que diz respeito ao consumo de água, ao contrário do observado quanto à produção, reciclagem e despejo de lixo. Verifica-se também que o hábito de reaproveitar alimentos e o consumo de materiais reciclados ainda não se configuram em práticas efetivas, apesar de haver um consenso sobre a existência da crise ambiental instalada na natureza ser uma realidade e não um mero alarde sócio-político.


Palavras-chave: Educação Ambiental, Meio Ambiente, Responsabilidade Ambiental.



INTRODUÇÃO


A Crise Ambiental

Os danos planetários em relação à degradação do meio ambiente, geralmente são atribuídos como conseqüência do moderno estilo de vida humana que se iniciou na Revolução Industrial (FRANCO & DRUCK, 1998). Entretanto, os danos ambientais não começaram na modernidade, nem mesmo na era medieval. A insistente destruição da natureza pelo homem teve seu início já na pré-história (Fernandez, 2005). Além disso, pesquisas indicam que populações asiáticas também tiveram participação na extinção de grandes mamíferos no Alasca, há aproximadamente 12 mil anos (Foladori & TAKS, 2004).

Além das extinções provocadas de região em região por onde os nômades passavam, o desenvolvimento de uma técnica promissora (há 10 mil anos) e de fácil compreensão por todos os membros da comunidade - a agricultura - permitiu a conversão do estilo de vida nômade para o estilo sedentário. Com isso, outros tipos de impactos ambientais se estabeleceram: a concentração de exploração e o acúmulo de lixo (Krüger, 2001).

O desenvolvimento industrial, que elevou os níveis de CO2 atmosférico (principal gás relacionado ao aquecimento global), e o avanço tecnológico resultaram num estilo de vida cuja base é a exploração dos bens naturais, causando a degradação do meio ambiente. Um dos resultados desse relativo descaso com a questão ambiental é a ausência de estatísticas sobre emissões de poluentes, o que dificulta uma análise mais sistemática do desempenho ambiental da indústria (Young & Lustosa, 2001).

No tocante à perda da biodiversidade, no que diz respeito à sua relação com a ação humana, podem-se estabelecer relações diretas e indiretas. A caça, por exemplo, seria uma influência direta onde determinadas espécies são afetadas devido à sua importância econômica ou cultural, podendo tornar-se extintas ao longo do tempo. As relações indiretas, por sua vez, seriam provocadas justamente por atitudes que serão discutidas no presente estudo, ou seja, são efeitos de ações pontuais causadoras de destruição e poluição de habitats (Machado et al., 2006).


A Importância da Atitude Individual

O ambientalismo, na origem, tinha seu objeto de escolha situado entre a preservação do meio natural e o desenvolvimento. Entretanto, baseado no consenso de que atualmente já não se faz necessário abrir mão da preservação do meio ambiente para promover o desenvolvimento e que este por sua vez se faz necessário num mundo globalizado, o pensamento ambientalista se preocupa, hoje, com que tipo de desenvolvimento deve ser implementado na sociedade (Layrargues, 1997). Considerando as duas necessidades - crescer e conservar - o processo de desenvolvimento se torna viável de forma sustentável, somente se todas as esferas sociais e políticas (governos, micro e grandes empresas e a própria população) se comprometerem a investir neste tipo de crescimento.

Assim, é evidente a responsabilidade das entidades públicas e privadas para a diminuição dos impactos ambientais. Mas e nós enquanto cidadãos, o que nos cabe fazer? A ação individual é extremamente importante e contribui para a formação de uma rede social onde é realizada a efetiva luta por melhores condições ambientais. Para tanto, faz-se necessário que a população entenda a gravidade da situação e a necessidade de mudá-la.

No aspecto individual, cada cidadão tem um papel fundamental no combate à crise ambiental, em prol do desenvolvimento de uma nova cultura ambientalista (Jacobi, 2003). As pequenas atitudes do cotidiano tomadas por um cidadão podem não só modificar as atitudes de outros como também podem ser responsáveis por uma mudança significativa no hábito diário da população (Trigueiro, 2006).

A National Geographic Society e a GlobalSca realizaram uma pesquisa de acompanhamento mundial (1.000 pessoas em cada 17 países), chamada de Greendex ou Índice Verde, com o objetivo de medir e monitorar o impacto do comportamento dos consumidores no meio ambiente. A pesquisa realizada em 2008 e 2009 revelou que as pessoas estão mais sensibilizadas para atitudes que beneficiam os recursos naturais do planeta. O Brasil ficou, surpreendentemente, em primeiro lugar no ranking em 2008, mas foi o único que caiu na classificação em 2009, indo para o segundo lugar, perdendo somente para a Índia (BBC Brasil, 2009).

Práticas cotidianas como abordadas na pesquisa Greendex atribuem à sociedade a responsabilidade que lhe cabe, sensibilizando-a para as tomadas de atitudes em prol do desenvolvimento sustentável. A Educação Ambiental se insere nesse contexto, no sentido de informar os cidadãos para que estas práticas aconteçam.


O Papel da Educação Ambiental

Antes mesmo de discutir a sua importância, se faz pertinente conceituar o que é Educação Ambiental mostrando que definição norteou a execução do presente estudo acerca dessa temática. A definição base foi a apresentada no artigo primeiro da Lei nº 9.795/99 que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA (BRASIL, 1999):

Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. (LEI Nº 9.795, de 27 de abril de 1999).


Essa mesma lei define que a Educação Ambiental é direito de todos devendo estar presente no processo educativo em caráter formal e não-formal.

Visto que existe uma definição e disposição dos princípios básicos de Educação Ambiental na legislação do Brasil, sugere-se que de fato exista uma busca da emergencial mudança na estrutura social em prol de um novo estilo de vida, promotor de uma relação harmônica e de um desenvolvimento sustentável no âmbito formal e não-formal da Educação Ambiental.

Alguns órgãos e instituições têm promovido uma nova cultura, onde o papel de cada indivíduo é reconhecer-se e portar-se como um verdadeiro cidadão perante as novas propostas sócio-ambientais. Contudo, pode-se identificar, em alguns casos, a prática de uma Educação Ambiental meramente conteudista e conceitual, vista como uma “Didática da Ecologia”. Essa forma de aplicação da Educação Ambiental é capaz de racionalizar o indivíduo para uma concepção pró-ambiental, entretanto, este é um entendimento pobre e vazio, visto que dessa forma ocorre uma interpretação reducionista do Meio Ambiente (Cartea, 2005).

Para Muller & Farias (2005) a Educação Ambiental se revela como instrumento que contribui na formação de cidadãos críticos perante a sociedade, sendo um processo longo e contínuo de aprendizagem de uma filosofia onde o trabalho é participativo e tanto a família quanto escola e sociedade, devem estar envolvidas.

Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo identificar se existe (ou não) no comportamento das pessoas, o reflexo de uma preocupação com a crise ambiental; verificar a realização (ou não) de atitudes individuais voltadas à preservação do meio ambiente e verificar se a prática da Educação Ambiental tem colaborado para uma mudança de atitudes da população, no que diz respeito ao meio ambiente.



MATERIAL E MÉTODOS


O trabalho em questão é de caráter exploratório e buscou analisar as atitudes cotidianas, relacionadas ao meio ambiente, em um grupo de pessoas nos Municípios do Rio de Janeiro e de Nilópolis, a fim de entender se atitudes estão sendo tomadas no sentido de minimizar os problemas ambientais, e para bem analisar o papel da Educação Ambiental neste contexto sócio-ambiental.

Os dois pontos de maior abordagem no estudo foram: a Água, devido à sua importância para a manutenção da vida no planeta e infelizmente, por sua contaminação ameaçadora por diversos processos antrópicos; e o Lixo, por ser uma das principais fontes de contaminação ambiental e ainda sim, ser grandemente produzido pela população. Justifica-se também o foco nesses dois pontos, pelo fato de ambos estarem diretamente ligados aos hábitos cotidianos da população.

A pesquisa de campo ocorreu entre janeiro e fevereiro de 2009 e a amostra foi composta por 45 pessoas selecionadas aleatoriamente.

O instrumento de coleta empregado foi um questionário semi-estruturado com 11 (onze) questões referentes aos dados gerais dos informantes e sobre problemas ambientais e atitudes possíveis de serem realizadas por cada cidadão no seu dia-a-dia, capazes de contribuir de alguma forma ao enfrentamento destes mesmos problemas.

A partir da análise das informações obtidas, as respostas foram organizadas e categorizadas de forma a facilitar a interpretação dos resultados.

Com intenção de facilitar a leitura dos dados, os números obtidos em porcentagem foram arredondados, no limite de até uma casa decimal.


RESULTADOS E DISCUSSÃO


A partir da análise das respostas, obteve-se a interpretação de dados aqui explicitados:

A Questão 1 relaciona-se à preocupação da população em relação ao consumo excessivo de água : “No seu banho, na hora de lavar a louça ou escovar os dentes, você tem a preocupação de fechar a torneira (e/ou chuveiro)?”. Verificou-se que 51% das pessoas, demonstraram sempre ter a preocupação em não desperdiçar água durante sua higiene pessoal; 42% manifestam essa preocupação somente às vezes e apenas 7% nunca se preocupam com o desperdício. (Fig. 1)

A Questão 2 também se refere ao desperdício de água: “Você lava a calçada da sua casa com mangueira?”. Novamente foi verificado que a maioria (76%) demonstra um comportamento favorável, evitando o desperdício de água desta forma. (Fig. 1)


Figura 1 - Aspectos referentes as questões 1 (“No seu banho, na hora de lavar a louça ou escovar os dentes, você tem a preocupação de fechar a torneira (e/ou chuveiro)?”) e 2 (“Você lava a calçada da sua casa com mangueira?”).


Apesar da obtenção de bons resultados no presente estudo, outras pesquisas apontam aspectos menos animadores em relação aos gastos excessivos de água. Por exemplo, uma pesquisa promovida pela OMS - Organização Mundial da Saúde - (Fonte: IGEDUCA – www.igeduca.com.br) revela que existe grande desperdício de água no Brasil em comparação a outros países, ou seja, há um maior gasto de água do brasileiro em relação à média mundial. Segundo a pesquisa, em geral uma pessoa necessita de 110 litros de água por dia. No Brasil, são gastos 220 litros por pessoa ao dia. Tal diferença é também apontada por Rebouças (2003), que ressalta que os índices de perdas totais da água tratada e injetada nas redes de distribuição das cidades variam de 40% a 60% no Brasil, contra 5% a 15% nos países desenvolvidos.

As Questões 3, 4, 5 e 6 destacam a produção e o destino do lixo como sendo pontos relevantes no cenário atual da crise, já que no mundo, a quantidade de lixo produzida é muito grande. Talvez pelo descaso atribuído ao lixo, não haja uma preocupação com o cuidado, tratamento e destino do mesmo, resultando em solos e rios poluídos contribuindo para o aumento do desequilíbrio ambiental (Cunha e Caixeta Filho, 2002).

Na 3ª Questão pergunta-se: “Você joga lixo na rua?”. Observa-se que 76% dos entrevistados afirmam nunca jogarem lixo na rua, porém, 24% afirmam jogar em determinadas situações. Destes, 20% afirmaram que jogam lixo na rua “quando não estão perto de alguma lixeira”, 2% jogam “quando estão dentro de algum veículo” e ainda 2% jogam “quando estão sem bolsa”.

Embora o resultado aqui apresentado em relação ao despejo indevido de lixo nas ruas seja razoável, ainda não é compatível às estatísticas de outros autores em relação aos gastos orçamentários dos governos para a retirada do lixo deixado nas ruas da cidade.

Jogar lixo na rua significa prejuízo, tanto com mão de obra para fazer a retirada desse lixo, quanto para a reparação de eventuais danos causados por acúmulo de lixo em tubulações dos sistemas de esgoto. Cunha e Caixeta Filho (2002) destacam que as despesas financeiras relacionadas ao gerenciamento do lixo urbano no Brasil está em torno de 7% a 15% do orçamento dos municípios.

Trigueiro (2006) afirma que só no município do Rio de Janeiro, em 2005, foram gastos 203 milhões de reais para a retirada de lixo do espaço público. E que a sujeira das ruas já representam 44% de todo o lixo da cidade, contrariando os 5% de grandes cidades do mundo.

Além do lixo domiciliar e comercial, a situação se agrava com a enorme quantidade de lixo tecnológico, industrial e de resíduos de saúde produzidos atualmente. E quando despejado em aterros despreparados, o lixo provoca sérios problemas de cunho social e ambiental como a poluição dos solos e das águas, além de atrair vetores de doenças, que por sua vez atingem diretamente os catadores, ampliando a problemática sócio-ambiental.

A 4ª Questão questiona a seleção do lixo, em caráter domiciliar e pessoal: “Você seleciona seu lixo, em casa?”. O resultado foi que 24% dos participantes afirmaram somente selecionar seu lixo, às vezes. A maioria, 65%, afirmam nunca selecionar o lixo. Destes, 2% alegam que não selecionam o lixo por nunca terem tido uma devida orientação; 22% por simplesmente não se preocuparem com isso; 30% por não haver uma coleta seletiva no bairro onde moram e 11% não souberam responder o motivo pelo qual não selecionam seus lixos. Uma parcela menor (24%) seleciona o lixo às vezes.

Entre os que responderam que sempre selecionam seu lixo em casa (11%), nota-se que os motivos que os movem à ação de selecionar, não refletem, em sua maioria, uma preocupação relacionada ao meio ambiente, e sim em facilitar de algum modo, o trabalho de quem vai manipular esse lixo. Deste modo, 1,4% afirmam fazer isso para ajudar os catadores; 2,1% para facilitar na hora da coleta; mais 2,1% para evitar acidentes como cortes, por exemplo; e apenas 2,8% o fazem com o objetivo de reciclar os materiais. Os outros 2,8% não responderam por que selecionam seu lixo.

Apesar de parte dos entrevistados realizarem a seleção do seu lixo, tem-se que seu esforço se torna vão, pelo mesmo motivo que considerável parcela dos entrevistados afirmam não selecionar seu lixo: o fato de não haver a prática da coleta seletiva por parte do órgão público responsável pela coleta dos resíduos.

A prática da coleta seletiva é uma grande alternativa ecologicamente correta que desvia de aterros sanitários ou lixões, determinados resíduos que podem ser reciclados, aumentando a vida útil dos aterros sanitários e diminuindo a contaminação do meio ambiente. Além disso, com esse tipo de coleta, há uma maior disponibilidade de materiais recicláveis, minimizando a exploração dos recursos naturais.

Em março de 2007, o governador do Estado do Rio de Janeiro decretou “a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública estadual [...] e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis” (RIO DE JANEIRO, 2007).

Tal fato demonstra a preocupação que o Estado começa a ter com a coleta dos resíduos. Porém, cuidar somente do lixo produzido pelos órgãos públicos não é o suficiente para a mudança ser efetiva. A população inteira produz muito mais lixo do que as entidades do Governo, e obviamente necessita de mais investimento educativo e prático.

A 5ª Questão pergunta: “Você se preocupa com a quantidade de lixo que produz?”. Observamos que 40% nunca se preocupam; 38% demonstram preocupação às vezes, e 22% sempre se preocupam.

Neste caso, os resultados encontrados estão próximos da realidade observada por Trigueiro (2006), que destaca a discrepância do aumento de lixo em relação ao aumento da população da cidade do Rio de Janeiro, onde segundo a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana), foi de 124% contra 15% respectivamente, nos últimos 20 anos. Isso significa que a preocupação com a produção de lixo pela população carioca é realmente mínima.

É interessante destacar a pesquisa realizada pelo Instituto Akatu e pelo Indicator Opinião Pública (INSTITUTO AKATU e INDICATOR, 2001), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e o Programa Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), que teve como objetivo, conhecer melhor os hábitos de consumo e a visão de mundo dos jovens (faixa etária entre 18 e 25 anos). Esta pesquisa revelou que no Brasil, os jovens entendem que o modo como descartam seu lixo tem impacto direto no meio ambiente. Falando numericamente, 64% dos jovens entrevistados consideram que, de fato, o meio ambiente é afetado; 27% julgam que em nada afeta o modo como despejam seus resíduos; e 11% acreditam que o modo como descartam seu lixo, afeta somente a sociedade. Comparando-se com os outros países, o Brasil (64%), superado apenas pela Itália (85%), é o país que demonstra ter uma maior consciência de que o modo como o lixo é descartado pode afetar o meio ambiente.

Na Questão 6 quando questionados sobre o que pode ser feito para diminuir a quantidade de lixo produzida por cada um, obtemos que 35% reutilizam, reaproveitam ou reciclam seu lixo; 20% apenas evitam desperdiçar; 2% evitam produtos industrializados; e a maioria (36%), nada faz para a diminuição da produção individual de lixo (Fig. 2).



Figura 2 - Aspectos referentes à questão 6 (“O que você faz para reduzir a quantidade de lixo que produz?).


Com o crescimento urbano e com o aumento da produção individual de lixo, é necessário que os locais de destino final de resíduos sejam devidamente tratados com precauções para que os danos ambientais sejam os mínimos possíveis. Afinal, a adoção de processos indevidos resulta em eventos graves do ponto de vista ambiental como contaminação dos solos, dos rios e até mesmo do ar - gases da decomposição - e até mesmo sanitário e social, como catação, proliferação de vetores e de doenças infecto-contagiosas. Já em condições adequadas, estes resíduos podem ser reutilizados, evitando o maior consumo dos recursos naturais, visto que diminui a necessidade de tratar, armazenar e eliminar os dejetos, minimiza os riscos para a saúde e para o meio ambiente e os gastos com a limpeza e manutenção das vias públicas (BARROSO, entre 2005 e 2009).

É verdade que não há como não produzir lixo, mas também é verdade que é possível ter controle sobre essa produção. De fato, diminuir a produção individual de lixo é uma conduta difícil de ser adquirida em uma sociedade acostumada a consumir cada vez mais. Assim, diversos programas de reciclagem promovem palestras de como reduzir essa produção, além de sites específicos para esse fim. Muitas pessoas ainda desconhecem esses meios de informação tão úteis à pratica de reciclagem, reutilização e redução, e talvez nessa situação e nesse momento, a Educação Ambiental, desempenhe papel fundamental, promovendo tais referenciais educativos.

Sabendo que existe um grande desperdício de alimento e que muito poderia ser reaproveitado, evitando inclusive uma maior demanda de lixo, a Questão 7 (Fig. 3) questiona: “Você aproveita restos de alimentos de alguma forma?”. Apenas 56% dos questionados aproveitam os restos e 44% nunca o fazem.



Figura 3 - Aspectos referentes à questão 7 (“Você aproveita restos de alimentos de alguma forma?”).


O tópico sobre reaproveitamento de alimentos foi escolhido para ser abordado neste trabalho por ter relação com a preservação do meio ambiente, pois quando se aproveitam restos de alimentos, obviamente, diminui-se a produção de lixo. Entretanto, é cabível salientar outros benefícios do reaproveitamento de alimentos, tais como: vantagem econômica e investimento nutricional.

Quando o alimento é utilizado integralmente, significa que nenhuma parte foi descartada, não houve prejuízo econômico. Além disso, muitos alimentos que são descartados como, por exemplo: talos de brócolis e de couve-flor, cascas de abobrinha, cenoura, etc., são ricos em vitaminas e minerais, e quando estes alimentos viram lixo tais elementos nutricionais são desperdiçados (ALVES et al., 2007). A devida incorporação desses restos na dieta diária significa um investimento nutricional, diminuição da produção de lixo e vantagem econômica.

A compra de produtos reciclados pode ser entendida como uma forma de valorizar a reciclagem e um ato de contribuir com o meio ambiente. Assim, a Questão 8 pergunta: “Você compra produtos reciclados?”. A maioria (67%) afirma comprar somente às vezes, 9% compram sempre e 24% nunca compram.

Alguns dos entrevistados afirmaram não comprar produtos reciclados, por serem mais caros do que os não reciclados. Segundo o site ECODEBATE (www.ecodebate.com.br), a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Maria Cristina Neves, entrevistada em julho de 2008, pelo Instituto Humanitas Unisinos, disse que o mercado ecológico virou grife e devido a isso, certos produtos ecológicos possuem um alto preço, sendo um forte obstáculo para a expansão do consumo consciente.

Quanto ao consumo ecológico, uma pesquisa realizada pelo professor André Lacombe e iniciada em 1998 no Rio de Janeiro, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), revela que este tipo de consumo ainda não é parte do hábito dos cariocas com alto poder aquisitivo, embora estes concordem que a mudança ambiental seja responsabilidade do governo, das empresas e também dos consumidores. Apesar de reconhecerem a importância de sua participação na preservação do meio ambiente, a população de uma maneira geral não consome de forma responsável. Em relação ao consumo de cadernos, obteve-se que 39,2% disseram que o preço é o mais importante na hora da compra. Outros 39,2% apontaram a marca, e 18,69% afirmaram que escolhem o caderno pela capa. Já o uso de papel reciclado na fabricação do produto foi identificado como primeiro critério de escolha por apenas 2,9% dos alunos, indicando pouca preocupação dos consumidores em consumir produtos reciclados (Fonte: www.ecodebate.com.br).

Embora, os dados do Greendex (2008-2009) evidenciarem que o Brasil continua sendo o país que menos compra produtos que agridem o meio ambiente, de 2008 para 2009 o número de pessoas com essa consciência caiu em 11%.

Mais uma vez, encontramos contradições estatísticas entre uma pesquisa e outra, em relação ao mesmo ponto de discussão.

A Questão 9 contempla a crise ambiental de forma mais direta quando pergunta: “Você acredita que vivemos um período de crise ambiental?”. Notavelmente as pessoas acreditam sim, que atualmente estamos vivendo um período de crise ambiental, já que 93% responderam “SIM”. Porém, 7% responderam “TALVEZ”, revelando não estarem totalmente convencidos.

Apesar dos inúmeros trabalhos, como o Greendex (2008-2009), por exemplo, campanhas, filmes, alertas da mídia, etc, que têm sido divulgados das mais diversas formas, algumas pessoas ainda manifestam um comportamento de incredulidade em relação à crise ambiental.

Na Questão 10Para você, as situações apresentadas acima são importantes para o meio ambiente?”, obtivemos que 91% identificaram as situações previamente apresentadas como importantes ao meio ambiente; 7% apesar de também fazerem essa identificação, reconhecem que não é o suficiente e 2% não responderam.

Houve uma boa percepção de 7% dos entrevistados, quando eles apontaram que tais atitudes não são o suficiente para uma mudança, apesar de serem importantes. Um deles, inclusive, manifestou a parcela de responsabilidade das grandes empresas, indústrias e do Governo.

A 11ª questão, “Para você, o que é Educação Ambiental e qual a sua importância?”, diferente das anteriores, é exclusivamente discursiva e por esse motivo é a única que não tem suas respostas categorizadas.

Evidentemente há um consenso de que a Educação Ambiental é um instrumento fundamental para o entendimento da importância da relação com o meio ambiente e de como preservá-lo. Apesar disso, as definições apresentadas para tal termo são heterogêneas.

A maioria dos entrevistados conseguiu definir Educação Ambiental de acordo com seus objetivos e importância: “É uma forma de conscientizar a população sobre sua relação com o meio ambiente e a importância de conservá-lo”; “É a formação de um indivíduo engajado na manutenção de um ambiente mais saudável”; “É o ensino a todo cidadão de como ajudar na preservação do meio ambiente”; “É o conhecimento sobre o ambiente a fim de ajudar a preservação e utilização dos recursos”.

Muitos citaram que as boas condições de vida para futuras gerações devem ser garantidas hoje, outros tantos usaram o termo ‘conscientizar’, indicando que deve haver um convencimento interior e individual que permita ao sujeito saber o porquê ele tem – ou não – determinadas atitudes que visam a preservação da natureza.

Houve quem definisse a Educação Ambiental como “qualidade de vida”, nada além disso, e quem dissesse: “não sei definir Educação Ambiental, mas sei que ela nos dá consciência do que fazemos de errado”.

Os dados obtidos mostraram também algumas definições muito próximas dos discursos da mídia, o problema é que tais discursos apresentam atitudes de responsabilidade ambiental ao invés de definir a Educação Ambiental em si: “é a separação do lixo, reaproveitamento de alguns objetos recicláveis”; “ensinar como aproveitar o lixo e ensinar a reciclar”; “é você fazer o que deve ser feito com seu lixo, reciclando o que puder, a importância é poluir menos ou não poluir”. Essas e também outras respostas salientaram que algumas pessoas associam a crise ambiental diretamente ao lixo: “Educação Ambiental é conscientizar a população sobre os danos que o lixo causa”; “é não jogar lixo na rua”; “é fazer com que as ruas, etc, fiquem mais limpas”.

Quanto à segunda parte da pergunta (referente à importância da Educação Ambiental), muitos dos que responderam consideram a Educação Ambiental algo realmente importante: “algo que só tem foco na mídia ultimamente, quando a situação já é crítica”; “a importância é vital”. Mas diversas outras respostas, ainda relacionadas à importância, baseavam-se na prevenção de alguma coisa, como esta por exemplo: “evitar futuros problemas gravíssimos em nossa natureza”.

Considera-se, assim, que as pessoas sabem para que serve a Educação Ambiental, pois suas definições são baseadas nas competências da mesma, mas é notável a carência maior de conhecimento para uma maior clareza do significado real e amplitude da Educação Ambiental. Foram repostas simples e talvez a semelhança das respostas com os discursos da mídia não sejam mera coincidência. O que parece, é que não houve um entendimento da importância da Educação Ambiental e sim uma reprodução de um discurso.


CONCLUSÃO


A presente pesquisa propôs-se a verificar de que forma a população exerce atitudes que contribuam para a preservação do meio ambiente, de que forma a população entende a Educação Ambiental, e então discutir o papel da Educação Ambiental neste contexto. Tomando por base os questionamentos feitos no início desse estudo, realizou-se um estudo dos procedimentos que pudessem ser capazes de respondê-los.

Foi possível perceber que a população não demonstra uma preocupação com o meio ambiente nas atitudes do seu cotidiano, ou seja, a preocupação está muito mais no plano teórico que no prático, exceto no que diz respeito ao gasto de água. As pessoas apontam ter um entendimento correto da forma como proceder, mas suas atitudes ainda não são compatíveis com o que se espera de uma sociedade que caminha (ou quer caminhar) em direção à preservação do meio natural.

Alguns ainda disseram que apesar da importância das atitudes individuais, coletivo também necessita acontecer.

No que diz respeito ao lixo, à sua deposição, seu destino e sua produção não são feitos de forma correta, corroborando os dados de pesquisas urbanas onde grande quantidade de dinheiro é utilizada na retirada de lixo dos grandes centros e para seu respectivo tratamento.

O pouco reaproveitamento dos alimentos se faz realidade. O desperdício e o alto nível de consumo são mais praticados do que o reaproveitamento, acelerando o processo de desenvolvimento exploratório em vigor em todo o planeta, um dos fatores contribuintes para a crise.

A preocupação em consumir produtos reciclados ainda não é suficiente para ser convertida em ação de consumo consciente e satisfatória à mudança de hábitos sociais.

Porém, como previamente destacado, as únicas atitudes tomadas pelos entrevistados que refletem preocupação ambiental são as relacionadas ao uso da água. Foi possível perceber isso, já que mais da metade dos participantes afirmaram se preocupar em evitar o desperdício da água através de pequenas atitudes, como por exemplo, no ato da sua higiene pessoal e a não utilização de mangueiras na lavagem de calçadas.

O reconhecimento da crise ambiental se mostrou como uma realidade entendida por quase a totalidade dos participantes revelando um bom resultado que anima uma continuação das ações educativas ambientais para o desenvolvimento de uma nova forma de vida.

Assim, verifica-se que, apesar de estar certa de que o meio ambiente enfrenta tempos difíceis, a sociedade ainda não tem se mobilizado efetivamente pra combater essa crise. Essa omissão parece refletir uma relação com a falta de informação e ao desconhecimento. Apesar de fortes campanhas publicitárias, sites informativos, palestras em locais formais e não-formais de ensino, parece que a prática da Educação Ambiental não encontrou um meio eficiente de vencer as barreiras construídas, ano após ano, por uma população acostumada a degradar, consumir recursos e não repô-los, inserindo-se aqui um dos grandes desafios da Educação Ambiental.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ilustrações: Silvana Santos