Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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AMBIENTES COSTEIROS: SUGESTÕES DE DINÂMICAS ESCOLARES PARA ESTIMULAR A PERCEPÇÃO AMBIENTAL
Luana Portz1 & Rogério Portantiolo Manzolli2
1Doutoranda e 2Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geociências da UFRGS
Centro de Estudos Costeiros e Oceânicos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Geociências, Avenida Bento Gonçalves, 9500. Porto Alegre, RS, Brasil. CEP: 91509900. Telefone (51) 84063628, 33089846. E-mail: luanaportz@gmail.com
RESUMO: O ambiente costeiro, em especial as praias, vem sendo alvos de graves alterações no seu equilíbrio natural. Para garantir a sustentação e a harmonia tanto dos interesses econômicos como ambientais neste espaço, de forma simultânea, tornam-se necessárias ações de planejamento e gestão para a integração das mesmas, de modo a reduzir os conflitos gerados. Neste sentido, a implementação de programas de educação ambiental torna-se um componente fundamental e um importante instrumento para o entendimento e, consequentemente, para a conservação deste ambiente. Este trabalho tem como objetivo sugerir dinâmicas escolares com a finalidade de estimular a percepção das crianças sobre as formas e processos existentes nas nossas praias, partindo-se dos sentidos da audição, visão e tato. Foram elaboradas atividades para desenvolver a criatividade e estimular o poder de distinguir o certo do errado, através do uso de imagens (exemplo: fotografias), poemas e atividades lúdicas (exemplo: jogo da biodiversidade nas dunas e formando cadeias e teias alimentares).
Palavras Chaves: dunas costeiras, educação ambiental, dinâmicas escolares.
Introdução Os ambientes costeiros são áreas de transição ecológica, os quais desempenham importante função de ligação e de trocas entre os ecossistemas terrestres e marinhos. Abrigam diversos ecossistemas como florestas tropicais, manguezais, recifes de corais, sistema de dunas, entre outros, os quais proporcionam o habitat para muitas espécies. Características químicas próprias, como a elevada concentração de nutrientes, o gradiente térmico e a salinidade variável, e ainda as condições de abrigo e de suporte a reprodução e a alimentação nas fases iniciais de muitas espécies de origem marinha, classificam estes ambientes como complexos, diversificados e de extrema relevância para a sustentação da vida no mar (Cicin-Sain e Knecht, 1998). Estes ambientes, em especial as praias, possuem uma beleza cênica diferenciada, o que gera um desejo da população de se instalar o mais próximo possível deste ambiente. O crescente aumento das áreas residenciais e, consequentemente, das áreas de recreação, vem provocando graves alterações no equilíbrio natural deste ambiente. Uma destas alterações é o pisoteio da vegetação das dunas frontais, causado pelo deslocamento das pessoas de suas residências até a praia. Outro tipo de degradação que ocorre relacionada a crescente urbanização é a extração irregular de areia das dunas frontais. Esta areia é usada como aterro na construção civil e como matéria prima de argamassas e concreto, comprometendo a qualidade destas construções. Esta extração irregular também compromete a estabilidade natural deste ambiente (Hesp, 2002). Somando-se a estes, a introdução acidental de espécies exóticas (resultantes da limpeza de jardins, deposição de lixo orgânico, etc) ou intencional (usadas em programas de fixação e estabilização de areia), tais como a “Onze-horas” (Carpobrotus chilensis), tem resultado na formação de comunidades vegetais totalmente diferentes das originais, alterando também a estrutura da fauna acompanhante (Cordazzo et al., 2006). O efeito combinado, tanto das perturbações naturais quanto das ações antrópicas, podem levar a uma perda da estabilidade da costa, induzindo a mudanças nas unidades fisiográficas, e assim alterando consideravelmente a paisagem. Desta forma, para garantir a sustentação e a harmonia, tanto dos interesses econômicos, quanto dos interesses ambientais no espaço litorâneo, de forma simultânea, faz-se necessárias ações de planejamento e gestão para a integração das mesmas, de modo a reduzir os conflitos gerados. Neste sentido, a implementação de programas de educação ambiental torna-se um componente fundamental e um importante instrumento para o entendimento e, consequentemente, para a conservação deste ambiente, já que os sistemas humanos e os sistemas ambientais interagem de duas formas: onde as ações humanas causam diretamente mudanças ambientais e onde estas mudanças afetam diretamente o que os seres humanos valorizam (Camargo, 2003). A Educação Ambiental constitui-se em um processo permanente, nos quais os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio-ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir e resolver problemas ambientais, presentes e futuros (Dias, 2000). Assim, a educação converte-se num projeto estratégico com o propósito de formar valores, habilidades e capacidades para orientar a transição para a sustentabilidade (Leff, 2001). Neste contexto este trabalho tem como objetivo propor atividades escolares com a finalidade de estimular a percepção das crianças sobre a formação e processos existentes nos ambientes costeiros.
Metodologia Este projeto foi inspirado no livro “Educação dos Sentidos e Mais...” do escritor Rubens Alves (2005), onde se partiu dos sentidos da audição, visão e tato para propor as dinâmicas para as escolas. Além disso, foi utilizada a metodologia desenvolvida junto ao projeto Argos (Pereira et al., 2006) e as experiências descritas no livro Jogos para Atores e Não-Atores (Boal, 2007).
Proposição das atividades “E qual seria a tarefa primordial da educação senão levar-nos a aprender a amar, a sonhar, a fazer nossos próprios caminhos, a descobrir novas formas de ver, de ouvir, de sentir, de perceber, a ousar pensar diferente... a sermos cada vez mais nós mesmos, aceitando o desafio do novo?” Rubens Alves (2005). As dinâmicas e vivências procuram desenvolver uma linguagem comum e prática, envolvendo, como tática de aproximação, às realidades divergentes. Através disso, aglutinaram-se duas das vertentes do conhecimento: o científico e o popular, tendo como meta o despertar da consciência e o envolvimento das crianças com o espaço em que vivem.
A arte de ver Os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os que nos fornece a maior quantidade de informações. É o que nos da uma capacidade de mais fácil compreensão científica. A reflexão sobre o que vemos pode desenvolver nossa criatividade e estimular nosso poder de distinguir o certo do errado. A estimulação visual nos ajuda a identificar todos os elementos que uma imagem pode nos transmitir (Rubem Alves, 2005). Como as explicações conceituais são difíceis de aprender e fáceis de esquecer, temos o caminho das imagens. Uma boa imagem é inesquecível, sendo assim, ao invés de explicar os conceitos, nada melhor do que mostrar (Rubem Alves, 2005). Dentro deste enfoque, o uso de imagens, como as fotografias, torna-se um grande instrumento de apoio pedagógico. Este recurso pode ser utilizado para mostrar cenários de meios preservados ou degradados, no qual estimule às ações ambientais.
Sugestão - A ação da natureza
Objetivo
Texto de apoio:
AtividadesEstimular os alunos a identificar, nos locais onde vivem, as alterações causadas pelo homem (exemplos: presença de quiosques, casas, etc), e após avaliar como estas alterações interferem no ciclo natural do meio ambiente. A partir desta identificação, deveram buscar uma nova ordem, diferente das identificadas, que resultem numa melhor interação com o meio ambiente.
Sugestão - O poder das ondas
FIGURA 1: Praia de Xangri-lá, litoral norte do RS. Fotografias Luana Portz
Objetivos
Atividades
Sugestão - A vida na praia
Objetivo
Texto de apoio: Os Ctenomys flamarioni são conhecidos como tuco-tuco, vivem nas dunas frontais escondidos em extensas galerias de túneis subterrâneos. O principal alimento deste animal são as folhas do capim de praia, que também servem para construírem seus ninhos. Eles tem cor clara, similar a cor da areia, evitando desta forma de serem vistos e capturados pelos seus predadores.
Atividades Incentivar os estudantes a buscar, em livros, revistas, etc, outros organismos que vivem no sistema praia e dunas, como a Bolacha da Praia (Mellita quinquiesperforata), o Caramujo Cesto Pequeno (Buccinanops duartei), o Corrupto (Sergio mirim), o Marisco branco (Mesoderma mactroides), a Tatuíra (Emerita brasiliensis), etc. Tendo estas informações poderão ser criados objetos de decoração para a escola, como móbiles, painéis, entre outros.
A arte de ouvir A arte de ouvir é a mais importante para a aprendizagem do amor, do viver juntos e da cidadania. Somente quando paramos de tagarelar é possível ouvirmos a verdade. Todo mundo quer ser escutado, inclusive as crianças, no silêncio das crianças existe um programa de vida: os sonhos... e dos sonhos que nasce a inteligência (Rubem Alves, 2005).
Sugestão – A vida na praia
Objetivo
Texto de apoio:
Há Um Barco Esquecido na Praia
(Padre Zezinho)
AtividadesApós a leitura do texto, cada aluno completará, em uma folha a pergunta: “O que aconteceria se...? Em seguida este passa sua folha adiante e recebe outra já completada. Esta serve de base para uma nova pergunta. Ex: O que aconteceria se não tivesse mais pescador? O que aconteceria se eu só comesse peixe?... E assim por diante”.
Sugestão – Tramandaí
Objetivo
Texto de apoio: “O frio de renguia cusco/ afasta/ após as águas de março/ a horta urbana das praias/ a passagem das frentes/ traz de volta/ a tribo das pranchas/ rasgando ondas tubulares/ no paliteiro serpenteante/ da plataforma pesqueira/ ao largo/ petroleiros corcoveiam/ nas cristas e cavas/ dos bancos em movimento/ aproando as bóias ancoradas/ diante do frio/ que se traz o mar/ na barra mutante/ sangradouro das lagoas nortenhas/ entre botes rebocadores/ as tatuíras sem cessar/ deslocam anfíbios/ os seres no estuário/ garças e jererês/ dançam nas velhas pontes/ arpoando cardumes flecheiros/ botos esguiam tainhas obesas/ às tarrafas lançadas no canal/ parceria comunitária/ labirinto meandrante/ de histórias de vida/ entre as areias e o junco” (Wa ching 2004). Atividades
A arte de tocar É através do tato que o amor se realiza. E como compreender a natureza sem amá-la? O aprender através do tocar está em experimentar o ambiente, sentir as diferenças, como tocando as plantas e assim aprender o porquê delas existirem (Rubem Alves, 2005).
Sugestão – A ação do vento
Objetivo
Texto de apoio: ... Esse “morador de parte nenhuma” que não conhece fronteiras e por isso encontramos o seu sopro de vida em paragens literárias tão longínquas como, a China, o Togo, o Iraque, El Salvador ou a vizinha Espanha. ... O “vento é muito mais que ar em movimento (…) formaliza um catavento de civilizações (…) assumiu, desde os mais remotos dos tempos, uma forte presença cultural”. ... É essa capacidade transformista do vento que se molda à paisagem e a desarruma e com facilidade interage com o homem, que garante o culto de todos os povos. Podemos ver os moinhos de Cervantes e Quixote, ou o simples remoinho que varre as folhas secas da soleira da porta (autor desconhecido).
Atividades Os alunos deverão observar em recortes de jornal ou revistas as esculturas que se formam com a ação do vento, representativas de cada ambiente, como nas dunas, nas rochas, e até mesmo nas árvores, que crescem direcionadas com a direção do vento dominante. Uma vez identificadas estas formas os alunos criaram uma obra dentro deste conceito.
Sugestão - As plantas da praia
Objetivo
Texto de apoio: Esta planta vive na parte superior da praia, sendo responsável pela fixação inicial da areia e pela formação das dunas incipientes, que vão servir como uma primeira barreira durante as ressacas no mar. A Blutaparon portulacoides é muito resistente e possui uma glândula que elimina o sal ajudando a enfrentar a maresia. As suas folhas servem de habitat para as larvas das mosca-das-tocas e como alimento para pequenos roedores, como o tuco-tuco (Cordazzo, et al, 2006).
Atividades Incentivar os estudantes a buscar outras espécies de plantas que vivem no sistema de dunas e formular idéias sobre os seus benefícios para este sistema. A partir de discussões levantadas em sala de aula sobre o crescimento das plantas, os alunos deverão identificar os processos que levam a formação das dunas e aumento de seu volume.
Jogos O jogo é algo intrínseco a cultura humana. Na nossa sociedade atual a relação entre jogo e educação tem sido muito discutida. Brincar é compreendido como um espaço privilegiado para as crianças recriarem a realidade vivida e compreendê-la. Nos jogos cooperativos, em que é necessário atingir um objetivo comum a todos, os participantes jogam uns com os outros e não contra. Joga-se para, juntos, superar os desafios e compartilhar o sucesso. O objetivo é minimizar a competição em prol de uma participação cooperativa. O jogo é, portanto visto como um espaço de experimentação de regras, de troca de experiências, de afinamento de habilidades, de interação social, de comunicação, etc (Costa, 2007). Sugestão: Jogo da biodiversidade nas dunas
Objetivo
Atividades O importante desta atividade não é o ato de jogar, mas a busca e discussões para a formulação do jogo.
Formando cadeias e teias alimentaresEste jogo serve de base para a compreensão dos sistemas marinhos complementando as aulas sobre cadeias e teias alimentares. Antes de iniciar o jogo deve-se confeccionar cartas, onde apareça o nome do ser vivo, e flechas para indicar o sentido do fluxo de energia. Dividi-se entre os participantes as cartelas com os organismos produtores, consumidores e decompositores e as flechas. Iniciam o jogo os estudantes que tiverem as cartas com os produtores, dando a seqüência na construção da cadeia, sempre respeitando o sentido do fluxo. Após a construção da teia, observe e tente compreender o ecossistema montado.
Considerações finaisUma das principais propostas deste trabalho é a implantação de ações de educação ambiental nas escolas, podendo ser aplicadas em associações de moradores e nas áreas freqüentadas por turistas e veranistas, pois através de um programa interdisciplinar e de campanhas informativas, pode-se chegar à conscientização da população frente ao meio ambiente, apontando os problemas existentes e discutindo soluções praticáveis.
Notas Finais Os interessados no material completo (com mais imagens) deve entrar em contato pelo e-mail citado nos dados da autora.
Referências Bibliográficas ALVES, R. Educação dos sentidos e Mais... Campinas, SP: Editora Versus, 2005. BOAL, A. Jogos para atores e não-atores. 10ª edição revisada e ampliada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. CAMARGO, A. L. B. Desenvolvimento Sustentável: Dimensões e Desafios. Campinas, SP: Papirus, (Coleção Papirus Educação), 2003. CORDAZZO, C.V.; PAIVA, J.B. & SEELIGER, U. Guia Ilustrado - Plantas das Dunas da Costa Sudoeste Atlântica. Pelotas: Editora USEB, 2006. COSTA, A.T.A. Ludicidade na Educação Ambiental. Disponível na internet via ttp://ecoar.org.br/avaliando2/ downloads/ EA4-Ludicidade.doc . Acessado em 26 de janeiro de 2007. CHING, W. Pampa Litoral. Rio Grande: ONG: Ballaena australis, 2004. Cicin-Sain, B.; Knecht, R.W. Integrated coastal and ocean management: concepts and practices. Washington D.C.: Island Press, 1998. DIAS, G. F. - Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 6ed, 2000. FRANÇA, A. A Ilha de São Sebastião. Estudo de Geografia Humana, São Paulo, FFCL - USP, Boletim 178, Geografia, n. 10, 1954. HESP, P.A. Coastal Sand Dunes: Form and Function. CDVN Technical Bulltin NO.4. Massey University, 28p, 2002. LEFF, E. Saber Ambiental: Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder./ Enrique Leff; tradução de Lucia Mathilde Endich Orth – Petropolis, RJ: Vozes, 2001. PEREIRA, M. B.; FREDO, G. C.; PORTZ, L.; MANZOLLI, R.P.; MELO, C. F.; OLIVEIRA, G. A.; RIBEIRO, F. B.; OLIVEIRA, T. C. F.; CARMO, L. S.; PALERMO, V; GONZÁ, C; FERREIRA, W & CAMPOS, P. T. Projeto Argos. In: Semana Nacional de Oceanográfia, 2006, Pontal do Sul, 2006.
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