Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2010 (Nº 34) Educação Ambiental e Restauração de mata ciliar:
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Educação Ambiental em Ação 34

Educação Ambiental e Restauração de mata ciliar:

remanescentes de Mata Atlântica em Bandeirante, Santa Catarina

 

 

 

Eliandra Gomes Marques

Pós-graduanda dos Cursos de Especialização em Educação Ambiental e de Mídias na Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

E-mail: fuberti@terra.com.br

 

 

 

Resumo: Este trabalho tem como objetivo principal aprofundar os debates sobre os problemas encontrados no ecossistema Mata Atlântica e expor a situação que se encontra o extremo oeste catarinense onde havia cobertura total de floresta nativa. Nesse sentido, busca-se analisar as características do ecossistema em estudo e verificar problemas ambientais existentes, buscando soluções por meio da Educação Ambiental (EA).

 

 

Palavras-Chaves: Ecossistema; Mata Ciliar; Educação Ambiental.

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

O município de Bandeirante ocupa faixa de fronteira e está situado na microrregião de São Miguel do Oeste, na mesorregião do Oeste Catarinense, limitando-se a oeste com a República Federativa da Argentina, pela Província de Missiones. Sua população é de um pouco mais de 3 mil habitantes, sendo que a grande maioria, cerca de 70%, vive no meio rural. Dista 700Km de Florianópolis, capital do Estado, tendo uma área rural de um pouco mais de 143km2.

Cabe especial destaque, o fato de localizar-se sobre o Aqüífero Guarani, uma das mais importantes reservas subterrâneas de água doce do Planeta. Os principais rios do município são: Rio Peperi Guaçu, Rio das Flores, Rio Bandeirante, Rio Índio e Rio Lajeado dos Porcos. O clima preponderante é o Temperado Úmido. Sua economia é essencialmente agrícola, baseada na suinocultura, avicultura, produção de grãos, gado de corte e leiteiro. Todas de grande potencial poluidor de mananciais. A renda mensal da maioria das famílias é de certo modo baixa devido ao cultivo de culturas tradicionais desenvolvidas com níveis tecnológicos restritos, limitada por áreas agrícolas não mecanizáveis, com isso o êxodo rural e urbano são elevados.

A problemática apontada está no Arroio Bandeirante, município de Bandeirante/SC, que abastece a cidade e está assoreado por não mais ter sua proteção ciliar. Propomos, após análises, soluções de curto a longo prazos para o restabelecimento das formações ciliares e revitalização do curso hídrico, evitando o racionamento de água periodicamente, bem como ações educativas permanentes.

 

 

 

1 MATA ATLÂNTICA: REMANESCENTES

 

 

Há quase 500 anos atrás a Mata Atlântica abrangia 17 estados brasileiros em uma faixa de 3.500 Km de extensão que acompanha o litoral brasileiro do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, penetrando até o leste do Paraguai e nordeste da Argentina em sua porção sul. O estado de Santa Catarina era coberto por 99% de mata atlântica e hoje resta muito pouco.

Com a invasão dos colonizadores portugueses, em 1500, de suas caravelas puderam ver uma paisagem diferente. Como narrou o escrivão Pero Vaz de Caminha em uma carta que fez para o rei de Portugal,

 

... a hora de vésperas, avistamos terra! Primeiramente um grande monte, muito alto e redondo; depois, outras serras mais baixas, da parte sul em relação ao monte e, mais, terra chã. Com grandes arvoredos. (CAMINHA, 1500, p. 9 ).

 

 

O que Caminha e seus companheiros de tripulação viram dos navios é o ambiente que hoje  denominamos Mata Atlântica. Ela recebeu este nome justamente porque está próxima ao oceano Atlântico. Os montes arredondados, a terra chã e os grandes arvoredos caracterizam este bioma, que hoje se reduz a apenas 7% do que era na época da chegada dos portugueses.

Diante da imagem que surge sobre o exposto acima, é possível observar na em mapas comparativos da abrangência de Mata Atlântica antes e pós-descobrimento.

A natureza exuberante que se estendia cerca de 1,3 milhão de quilômetros quadrados de Mata Atlântica na época do descobrimento marcou profundamente a imaginação dos europeus. Mais do que isso, contribuiu para criar uma imagem paradisíaca que ainda hoje faz parte da cultura brasileira, embora a realidade seja outra. A exploração predatória a que fomos submetidos destruiu mais de 93% deste “paraíso”. Uma extraordinária biodiversidade, em boa parte peculiar somente a essa região, seriamente ameaçada.

Segundo ambientalista do WWF-Brasil:

 

A Mata Atlântica é uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo. De fato, é o ecossistema brasileiro que mais sofreu os impactos ambientais dos ciclos econômicos da história do país. Para se ter uma idéia da situação de risco em que se encontra, basta saber que à época do descobrimento do Brasil ela tinha uma área equivalente a um terço da Amazônia, ou 12% do território nacional, estendendo-se do Ceará ao Rio Grande do Sul. Hoje, está reduzida a apenas 7% de sua área original. (WWF-BRASIL)

 

 

Séculos de exploração madeireira predatória, queimadas, exploração agrícola, pecuária e urbana, destruíram 93% da Mata, a área com maior densidade de vida do mundo – em apenas um hectare foram encontrados 450 espécies de árvores. O pouco que resta continua sofrendo todo tipo de pressão imaginável. Cada agressor tem sua desculpa particular para continuar a estúpida destruição.

Dias (2002) destaca que a perda maciça de floresta, na atualidade, provoca a maior crise de extinções que a Terra já testemunhou em 65 milhões de anos. E completa: “estamos destramando os fios de uma complexa rede de segurança ecológica; a maior parte dos seres humanos ainda não reconhece o valor dessa rede.” (DIAS, 2002, p. 25).

Do que ainda resta, é possível verificar o quanto esse ecossistema é rico em biodiversidade. A biodiversidade da Mata Atlântica é maior mesmo que a da Amazônia. Há subdivisões da mata, devidas a variações de latitude e altitude. Há ainda formações pioneiras, seja por condições climáticas, seja por recuperação, zonas de campos de altitude e enclaves de tensão por contato. A interface com estas áreas cria condições particulares de fauna e flora.

A Mata Atlântica é composta por uma série de ecossistemas cujos processos ecológicos se interligam, acompanhando as características climáticas das regiões onde ocorrem e tendo como elemento comum a exposição aos ventos úmidos que sopram do oceano. Isso abre caminho para o trânsito de animais, o fluxo gênico das espécies e as áreas de tensão ecológica, onde os ecossistemas se encontram e se transformam.

No que se refere à fauna, já foram encontradas cerca de 260 espécies de mamíferos, 620 de aves, e 260 de anfíbios, além de muitos répteis e insetos. Ela abriga 383 dos 633 animais ameaçados de extinção no Brasil.

Quanto ao relevo, a Mata Atlântica se estende por toda a planície costeira, alcançando a cadeia de montanhas que acompanha a costa brasileira. Esta cadeia recebe nomes diferentes de acordo com a região pela qual passa. No sudeste, por exemplo, um pedaço dela recebe o nome de Serra do Mar.

O solo desta mata é em geral bastante raso, pouco ventilado, sempre úmido e recebe pouca luz, pois a maior parte da luminosidade é absorvida pelas folhas das árvores mais altas.

A vegetação da Mata Atlântica é conhecida principalmente por sua exuberância e diversidade, é uma das mais ricas do planeta. A Serra do Mar (SP) contém mais de 800 espécies de árvores, sem falar nas plantas não arbóreas, como as trepadeiras, ervas e gramíneas.

Como está espalhada por todo litoral brasileiro, a Mata Atlântica está submetida a climas diferentes, de acordo com cada região. Sendo assim existem pedaços da mata marcadas pelo clima subtropical úmido no sul; outros marcados pelo clima tropical e outros ainda que ocorrem muito próximas à caatinga semiárida nordestina. Entretanto, existe um fenômeno que marca todas as regiões de floresta atlântica, de norte a sul do país: a grande quantidade de chuvas, resultado da proximidade do mar e dos ventos que sopram do oceano em direção ao continente. Esses ventos levam massas de ar muito úmidas, as quais, quando encontram as montanhas que cercam a Mata Atlântica, se condensam e se transformam em chuva.

Mas é na relação complementar entre a floresta e a água que a importância desse bioma pode ser melhor compreendida. Os remanescentes regulam a vazão dos rios, atenuando as enchentes, e após as chuvas permitem que a água escoe gradativamente.

É comum pensarmos na complexidade de um bioma por aspectos de sua fauna e flora, mas um elemento fundamental para a existência da biodiversidade é a água. E se a água é essencial para dar vida a um bioma como a Mata Atlântica, suas florestas têm um papel vital para a manutenção dos processos hidrológicos que garantem a qualidade e volume dos cursos d'água. Além disso, as atividades humanas desenvolvidas dentro do bioma também dependem da água para a manutenção da agricultura, da pesca, da indústria, do comércio, do turismo, da geração de energia, das atividades recreativas e de saneamento.

Hoje a maioria da área litorânea que era coberta pela Mata Atlântica é ocupada por grandes cidades, pastos e agricultura. Porém, ainda restam manchas da floresta. As conseqüências geradas pela destruição das florestas é uma das maiores demonstrações da inconsciência humana e uma das mais graves alterações que se impõe a Terra, através dos tempos.

Chocante é que no estado de Santa Catarina que tinha 99% de cobertura de Mata Atlântica hoje restam apenas o Parque Nacional da Serra do Itajaí (federal), a RPPN Rio das Lontras (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (estadual) que estão amparados. O resto vive descoberto, realizando o trabalho de formiguinhas para restaurar os vestígios.

O enfoque desse estudo, e sua aplicação, será realizado no município de Bandeirante/SC que dentre os rios que cortam o município está o Arroio Bandeirante – rio de grande importância por suas águas abastecerem o perímetro urbano.

 

 

2 ARROIO BANDEIRANTE:

RESTAURAÇÃO DE MATA CILIAR E AÇÕES SUSTENTÁVEIS

 

 

O Arroio Bandeirante é um importante rio que abastece o município de Bandeirante, entretanto ele está assoreado devido às ações degradantes do Homem como o desmate desenfreado das áreas ciliares, fato que comprometeu sua nascente e modificou seu curso, ocasionando uma supressão da fauna e da flora. 

Como soluções para contornar essa situação assoladora estão sendo feitas a indução e a condução de propágulos autóctones presentes na área, assim como o plantio de mudas ou semeadura direta de sementes de árvores nativas, recolhidas de áreas remanescentes, em trechos de floresta a ser reabilitada a fim de que ocorra o processo de frenagem degenerativa de carregamento das partículas sólidas do solo, como silte, argila, areia e matéria orgânica, e o isolamento da área ciliar com cercas com vistas à aceleração do processo de reabilitação (RODRIGUES & LEITÃO FILHO, 2000).

Restaurar as formações ciliares degradadas do Arroio Bandeirante e proteger sua nascente e mata remanescente, para conservar seu manancial melhorando a qualidade e quantidade dos recursos hídricos, restabelecer seus processos ecológicos e acelerar o processo de reabilitação com ações que envolva a comunidade através da Educação Ambiental destaca-se como o objetivo central do projeto.

Pretende-se, diante do objetivo central: Diminuir os processos de erosão e assoreamento, melhorando a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos; Regularizar a vazão das águas superficiais pela redução de velocidade de escoamento; Aumentar a capacidade de infiltração das águas provenientes das chuvas para o abastecimento dos lençóis freáticos; Formar corredores naturais, que sofreram fragmentação, para que fique garantido o fluxo da fauna silvestre evitando o isolamento e a perda total de seus habitats; Garantir o fluxo gênico da flora e a biodiversidade; Dar cumprimento à Legislação Ambiental; Sensibilizar as famílias ribeirinhas sobre a importância da restauração da mata ciliar para a recuperação do Arroio Bandeirante, envolvendo-as nas ações e orientando-as tecnicamente; Capacitar as famílias envolvidas com alternativas sustentáveis; Realizar campanhas educativas sobre a importância da preservação do Arroio para uma qualidade de vida da população do município e cadastramento visando outorga; Promover conscientização para o não lançamento de resíduos sólidos nas margens do Arroio bem como organizar mutirões para a limpeza dessas margens; Incentivar a adoção de sistemas de tratamento de esgoto no município, assim como a construção de fossas, sumidouros e filtros como solução de esgotamento para grupos de moradias que são abrangidas pelo Arroio e adequação de estábulos e sistemas de manejos de dejetos animais de acordo com as legislações ambientais; Implantar programa de educação ambiental nas escolas e na comunidade;  Coordenar, monitorar, avaliar e gerenciar as ações; Disseminar informações e experiências permanentemente.

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

Com a disseminação da Educação Ambiental têm-se os benefícios globais: conservação da biodiversidade; aumento estoques de carbono em florestas e solo redução de pobreza (melhoria de produtividade) e combate à degradação das terras; e os benefícios locais e nacionais: proteção da água e do solo; restauração de serviços e funções dos ecossistemas e geração de oportunidades de trabalho e renda. Tudo com vistas no pleno desenvolvimento sustentável.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

CAMINHA, Pero Vaz. Carta a Dom João. São Paulo: Abril Educação, 1982.

DIAS, Genebaldo Freire. Iniciação à Temática Ambiental. São Paulo: Gaia, 2002.

RODRIGUES, Ricardo Rodrigues; LEITÃO FILHO, Hermógenes de Freitas. Matas ciliares: Conservação e recuperação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp, 2000.

WWWF-BRASIL. Mata Atlântica. Disponível em: http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/biomas/bioma_mata_atl/agua_mata_atlantica/ Acesso em: 25 abr 2009.

 

Ilustrações: Silvana Santos