Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2010 (Nº 34) TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS NA INDÚSTRIA CELULOSE RIOGRANDENCE
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Educação Ambiental em Ação 34

 

TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS NA INDÚSTRIA CELULOSE RIOGRANDENCE

 

Francisco Jose Bernardes ¹

Profª Luciana Fofonka²

 

 

RESUMO

 

O presente estudo é resultado de um projeto realizado para o curso Tecnólogo em Gestão Ambiental/ UNIASSELVI. Além da pesquisa bibliográfica também foi feita uma visita técnica na Celulose Riograndence, RS para levantamento dos dados. Apresentamos aqui um resumo do processo de tratamento de efluentes líquidos da indústria Celulose Riograndence, como é feito o plantio das mudas selecionadas de eucalipto e a sua colheita; Como ocorre a separação da lignina existente nos cavacos de eucalipto, o tratamento realizado no efluente gerado neste processo, bem como o retorno do efluente tratado para o aqüífero.

 

Palavras-chave: Celulose Riograndence; celulose; efluentes líquidos.

 

 

 INTRODUÇÃO

 

           Com a evolução da produção industrial e as exigências impostas pela mercado  para a  preservação do meio ambiente, sem  que ocorra  a perda da competitividade, as indústrias foram obrigadas a  melhorarem seu desempenho ambiental cumprindo exigências ambientais cada vez mais severas,  usando técnicas e métodos  para a máxima eficiência nos processos de uso, conservação e reuso dos recursos naturais por elas utilizadas.

 

           Na indústria de papel e celulose, o mercado consumidor começa cada vez mais a valorizar produtos que afetem minimamente o meio ambiente, tal posição do grupo consumidor pode ser fato decisivo para o sucesso ou falência de uma indústria.

 

A Celulose Riograndense, faz parte do grupo CMPC com sede no Chile, é uma empresa gaúcha presente no mercado internacional de celulose de fibra curta de eucalipto. Com uma fábrica no município de Guaíba no Rio Grande do Sul, é um exemplo de indústria de papel e celulose em nosso estado, ela ocupa hoje uma área de 106 hectares, investindo no cultivo de florestas de eucalipto como fonte de suprimento de matéria-prima sustentável em 38 municípios de nosso estado. A fábrica tem uma capacidade de produção anual de 450 mil toneladas de celulose,

empregando direta e indiretamente quatro mil colaboradores.

 

Segundo Viana (2002) apud SANTOS; GALBIATI; MOSCHINI, 2010, p. 286):

 

O Brasil possui vantagens comparativas para assumir posição de destaque no comercio internacional de produtos florestais. No entanto, o país tende não apenas a reduzir sua participação no mercado mundial, como se arrisca em futuro próximo a importar para atender ao próprio mercado interno. Para que isso não ocorra é preciso superar os diversos fatores que inibem o desenvolvimento do setor de florestas plantadas no país. 

 

 

2.  PREPARO DA MADEIRA

 

           A celulose Riograndense quanto a sua matéria prima optou pela utilização do eucalipto para produção de celulose de fibra curta, devido o clima e solo dessa região do estado ser propício para seu desenvolvimento. São realizadas colheitas de sete em sete anos totalizando três colheitas. Este processo ocorre em três etapas, colheita, corte e descascamento onde cascas, folhas e galhos ficam no local da colheita enriquecendo o solo com matéria orgânica.

 

Os transportes das toras de eucalipto se dão totalmente via terrestre. Estas toras ao chegarem até a indústria passam por uma lavagem para retirada de impurezas grosseiras como terra e areia. Após a lavagem as toras são encaminhadas para picadores de alta potência, estas toras são transformadas em cavacos que seguem para peneiras vibratórias onde são classificados em aceitos, subdimencionados e superdimensionados. Os cavacos selecionados são postos em uma grande pilha e armazenados em silos, de onde sairão para o cozimento na indústria, onde ocorre a dissolução da lignina e liberação da celulose.

            

           Com os cavacos no tamanho correto os mesmos são levados para o cozimento no digestor em uma solução de hidróxido e sódio e sulfeto de sódio, este cozimento recebe o nome de cozimento Kraft ocorrendo a uma temperatura de 150°, todo este processo para a degradação eficiente da lignina e separação das fibras, obtendo-se uma massa constituída de fibras individualizadas e o licor residual que por sua colação escura é denominado licor negro. A massa escura é enviada a filtros lavadores onde a polpa celulósica é separada do licor negro. O licor do cozimento é recuperado no setor de recuperação de licores. Para o branqueamento da celulose do processo de polpação Kraft, são removidos de 90 a 95% da lignina residual, que age como um cimento nas fibras de celulose, o branqueamento da polpa Kraft é feito em seqüências de processos isto para otimizar o uso dos reagentes químicos e preservar a qualidade da polpa. A fase de secagem da polpa celulósica ocorre nas fábricas em que não há máquinas de papel integradas a suas operações, a secagem se faz necessária para redução de custos com transporte a polpa é desaguada a uma consistência de 90 a 95%, nas máquinas de secagem a água fresca é usada para selagem das bombas, chuveiros e resfriamento das unidades hidráulicas.

 

3. CONTROLE DE EFLUENTES LÍQUIDOS  

                                                                               

                                       

           As fábricas de celulose utilizam grandes quantidades de água, conseqüentemente geram grandes quantidades de efluentes, estes valores podem aumentar em 150% quando as fábricas utilizam máquinas antigas e não há preocupação com a utilização da água fresca captada. Os efluentes gerados são ricos em sólidos suspensos, matéria orgânica dissolvida e em fábricas que utilizam o cloro para o branqueamento, a predominância de compostos organoclorados. Dentre os parâmetros de controle de efluentes das fábricas de celulose podemos citar:

- DBO (demanda bioquímica de oxigênio) indica a quantidade de material biodegradável do efluente, é a quantidade necessária de oxigênio para oxidar a matéria orgânica dissolvida.

- DQO (demanda química de oxigênio) é a medida de oxigênio consumido durante a oxidação química do material orgânico.

- Sólido em suspensão mede a massa seca de sólidos secos retidos em filtro se 1,2 µm expresso em mg/L.

- Cor é determinada visualmente após comparação conhecida de determinadas soluções, a cor real é medida após a remoção da turbidez.

- AOX é uma medida dos alógenos orgânicos adsorvíeis quantidade aproximada de material organoclorado do efluente.

- Toxidade e dioxinas: a toxidade pode ser aguda ou crônica. A aguda é medida pela morte de 50% de uma espécie de peixe ou micro crustáceo selecionada em 96 horas de observação. A crônica relaciona-se a efeitos a longo prazo incluindo também letalidade das espécies. As dioxinas são normalmente os compostos cíclicos aromáticos clorados.

 

            Com a globalização cada vez mais a indústria de celulose está se modernizando investindo em pesquisa e nova tecnologias. Para que o processo gere menos efluentes sem que haja perda da qualidade da celulose, usa-se o descascamento a seco, a pré-deslignificação com oxigênio, pesquisas no chamado TEF (total efluente free), ou seja, o fechamento completo de circuitos no processo. O controle de qualidade dos cavacos por peneiras reduz o uso de agentes químicos no processo. Controle de derrames consiste em conjuntos elevatórios de tanques que ativados por condutivímetro aciona o sistema que em um eventual derrame (spill), as comportas dos efluentes são fechadas e bombeadas para os tanques.

 

           Em fábricas de celulose modernas o tratamento de efluentes é composto de quatro etapas distintas com diferentes objetivos:

-Tratamento preliminar onde os sólidos grosseiros são removidos e ocorre o resfriamento. No tratamento primário os sólidos em suspensão são removidos.

-Tratamento secundário biológico que consiste na remoção da matéria orgânica biodegradável e a toxidade do efluente;

-Tratamento terciário consiste na remoção da cor e polimento do tratamento secundário, geralmente as fábricas de papel e celulose adotam até o tratamento secundário em seus efluentes. A Celulose Riograndense aplica o tratamento terciário em seu efluente para posterior lançamento do efluente já tratado ao aqüífero.

 

            No tratamento secundário as indústrias geralmente adotam dois tipos de processos aeróbios para tratamento de seu efluente: lagoas aeradas e lodos ativados. No processo de lagoas aeradas são lagoas geralmente com 2m a 3m de profundidades com sistemas de aeração, superficiais mecânicos, difusores de ar ou compressão de ar, estas são seguidas de lagoas de decantação ou polimento (no caso da fábrica dispor do terceiro tratamento), onde o material particulado decanta para a remoção de sólidos em suspensão antes do lançamento para o corpo receptor.

 

O lodo proveniente da decantação fica retido no fundo da lagoa e geralmente é um volume reduzido devido à oxidação e/ou mineralização destes sólidos, a limpeza das lagoas é feita através de dragas que podem ocorrem em um tempo superior a dez anos. Como no processo de lodos ativados não ocorre à recirculação do lodo, e faz-se necessária a remoção de DBO e toxicidade, há retenção hidráulica do lodo de 5 a 10 dias para que estes dois processos ocorram. Como este processo necessita de uma grande área e demanda tempo para a retenção hidráulica opta-se por um sistema de alta taxa de lodos ativados.

 

No processo de lodos ativados os tanques de retenção possuem de 4-5m e uma área ocupada em menor que a utilizada pelas lagoas aeradas. Consistem em reatores biológicos equipados com sistema de aeração e seguidos de decantadores biológicos para a remoção dos sólidos biológicos, diferente das lagoas aeradas a recirculação da biomassa ou lodo biológico, permite manter altas concentrações de microorganismos no tanque de aeração, sendo assim reduzindo o tempo de retenção hidráulica (12-24 horas).

 

 

CONCLUSÃO

 

É notório que a indústria de celulose é de fundamental importância para a  nossa economia, gera empregos e dividendos para nosso país, mas quanto à geração de impacto ambiental negativo  necessita de acompanhamento e fiscalização  pelos órgãos governamentais e pelo mercado consumidor, que na falta ou falha da fiscalização do governo será o primeiro a sofrer as conseqüências. A educação ambiental amplamente divulgada e transmitida de forma simples e interessante seria ferramenta fundamental para que o mercado consumidor atual e futuro cobrassem das empresas um maior comprometimento com, a questão ambiental.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

MIELI,  João Carlos de Almeida, Sistemas de avaliação Ambiental na Indústria de Celulose e Papel. Tese apresentada a Universidade Federal de Viçosa, como parte do programa de pós-graduação em ciência Florestal para obtenção do titulo de doutor scientiae, VIÇOSA, P.42, 2007. Disponível em: www.tede.ufv.br/tedesimplificado/tde.../3/TDE.../texto%20completo.pdf . Acesso em  29 set. 2010.

 

 

SANTOS, José Eduardo dos  et al . Gestão e Educação Ambiental: Água, Biodiversidade e Cultura. São Carlos : Rima Editora , 2010. p. 242.

Ilustrações: Silvana Santos