Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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03/09/2010 (Nº 33) EXISTE UM MANEJO RACIONAL DE ÁGUA NO CAMPUS DE DOIS IRMÃOS DA UFRPE?
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EXISTE UM MANEJO RACIONAL DE ÁGUA NO CAMPUS DE DOIS IRMÃOS DA UFRPE

EXISTE UM MANEJO RACIONAL DE ÁGUA NO CAMPUS DE DOIS IRMÃOS DA UFRPE?

 

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA

 

 

Paulo Ricardo Barbosa Batista¹

 UFRPE. E-mail: prbbatista@hotmail.com

 

Karine Matos Magalhães²

UFRPE. E-mail: karinemmagalhaes@yahoo.com.br

 

Alfredo Matos Moura Junior³

UFPE. E-mail: alfmoura2002@yahoo.com.br

 

RESUMO

 

Este trabalho teve como finalidade o levantamento e classificação da utilização dos recursos hídricos no Campus Dois Irmãos da Universidade Federal Rural de Pernambuco, investigando a existência de um manejo racional deste recurso utilizado pela Instituição. Diagnosticou-se o uso da água através da aplicação de questionários, entrevistas e de observações as dependências da UFRPE, mapeando assim, os pontos de água existentes no Campus e suas condições de funcionamento, conservação e tipo dos equipamentos envolvidos no uso da água. Verificou-se que a Universidade Federal Rural de Pernambuco, não administra racionalmente o fornecimento de água no Campus, não se enquadrando, portanto, em nenhuma política de sustentabilidade, assim como, ficando fora do perfil das Instituições que já praticam o manejo racional de água.

 

Palavras-chave: manejo racional, água, gestão ambiental.

 

1 INTRODUÇÃO

A conservação da água pode ser definida como qualquer ação que reduza a quantidade de água extraída em fontes de suprimento; reduza o consumo de água; reduza o desperdício de água; aumente a eficiência do uso de água; ou, ainda, aumente a reciclagem e o reuso de água (GONÇALVES et al., 2005). A quantidade de água existente no mundo é imutável, enquanto que a população humana cresce aceleradamente. E, de fato, o futuro da espécie humana e de muitas outras pode ficar comprometido, a menos que haja uma melhora significativa na administração dos recursos hídricos terrestres, ou seja, uma maior fiscalização e uma utilização mais racional das águas doces superficiais (DACACH, 1990).

A gestão da demanda de água é realizada por meio de: acompanhamento do consumo; ampliação da rede de setorização e telemedição; conserto de vazamentos; cuidados com operação e manutenção dos sistemas prediais; reformas em redes hidráulicas em locais com grandes e constantes perdas; otimização das atividades que consomem água; implantação de práticas de uso racional da água e, quando possível, de reuso; divulgação, campanhas de conscientização e treinamentos (PURA - USP, 1998). O uso racional e a busca por fontes alternativas de água são iniciativas para a sustentabilidade e formas de garantir não só o abastecimento no presente como, também, o suprimento no futuro (HAFNER, 2007).

As Universidades deveriam ser locais com sistemas de gestão que servissem de modelo para os demais seguimentos da sociedade, principalmente, pela concentração de conhecimentos e pesquisas. Algumas Instituições já começaram seus programas de gestão, contudo, nenhuma informação sobre a existência de programas na Universidade Federal Rural de Pernambuco, desta forma, o presente trabalho vem levantar e caracterizar o uso da água nesta Instituição.

 

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Metodologia

 

A presente pesquisa foi desenvolvida entre agosto e novembro de 2008, no Campus de Dois Irmãos da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) (8°0'52"S   34°57'1"W), situada a 15 km a oeste do centro da cidade do Recife, PE, limitando-se com o Parque Estadual de Dois Irmãos e com a comunidade de Sítio dos Pintos, Córrego da Fortuna.  Este Campus, o principal da Instituição, possui uma área de 147 ha., com 132 edificações e uma população de aproximadamente 9000 usuários, entre alunos, professores, técnicos administrativos, funcionários da manutenção e transeuntes, distribuídos em períodos intercalados ou em períodos contínuos, ao longo de 3 turnos: manhã, tarde e noite.

Para o diagnóstico da infra-instrutura e uso da água dentro do Campus, foram utilizados questionários, entrevistas e observações como destacado a seguir:

 

2.1.1 Diagnóstico da infra-estrutura de fornecimento e uso da água e identificação das políticas de consumo, manejo e conservação de recursos hídricos pela Instituição

 

Inicialmente, para o conhecimento da infra-estrutura e políticas da Instituição em relação ao consumo, manejo e conservação da água, foram aplicados 3 (três) questionários e entrevistas junto aos responsáveis pela Prefeitura do Campus, pelo Departamento de Serviços Gerais e pelo Departamento de Manutenção da UFRPE, principais órgãos ligados ao uso da água dentro da UFRPE. Cada questionário apresentava 11 questões, sendo 10 assertivas e 1 subjetiva com objetivo de levantar as informações oficiais do Campus quanto a procedência da água, volume mensal médio consumido na Instituição, além dos procedimentos para manutenção e qualidade da água para as diversas formas de consumo.

A partir das primeiras informações obtidas, quando os poços artesianos foram caracterizados como a principal fonte de água do Campus, foram realizadas leituras diárias dos hidrômetros existentes, entre o período de Setembro à Novembro de 2008, sendo a unidade padrão utilizada o m³.

  Concomitantemente, foram quantificadas as estruturas que envolvem o uso da água no Campus, como: aparelhos sanitários, chuveiros, torneiras, bebedouros e mictórios, sendo anotadas, ainda, suas condições de conservação, a presença de possíveis vazamentos e o desperdício de água gerado com seu uso. A quantidade de aparelhos de ar-condicionado foi levantada, observando se nestes havia a presença de recipientes ou tubulação para coleta de água para posterior uso.

 

2.1.2 Diagnóstico da utilização da água no Campus pelo público consumidor

 

Para o diagnostico do uso da água pela população da UFRPE, foram aplicados 278 questionários, sendo: 99 entre os alunos, 91 entre os técnicos administrativos e funcionários do DSG (Departamento de Serviços Gerais) e 88 entre os professores. O questionário constava de 18 questões assertivas, onde a justificativa de 1 dessas assertivas, era do tipo subjetiva. Destas 18 questões, 15 foram para todos os usuários e 3 foram específicas para usuários da água destinada aos laboratórios da UFRPE.

 

3 RESULTADOS

 

3.1 Diagnóstico da Infraestrutura de Fornecimento de Água e Identificação das Políticas de Utilização e Conservação de Recursos Hídricos Pela Instituição. 

 

De acordo com as entrevistas e os questionários aplicados junto a administração do Campus sobre a água usada na UFRPE, verificou-se que, praticamente, 100% de todo recurso hídrico utilizado é proveniente de 8 poços localizados dentro do próprio Campus. A outra fonte de água utilizada na Instituição é destinada a suprir as necessidades da Estação de Aqüicultura, vinculada ao Departamento de Pesca – DEPAQ, e provem de um canal construído pela Universidade que transporta água do Canal do Açude do Prata, reservatório de água da Compesa para a cidade do Recife, diretamente ás instalações da Estação. Como não há controle do volume utilizado para a estação de aqüicultura não foi possível determinar o percentual de contribuição desta fonte de água para a Universidade.

Em relação aos poços, os oito estão distribuídos em diversas áreas do Campus: por trás do prédio de laboratórios do Departamento de Zootecnia; no pátio interno do Departamento de Serviços Gerais (DSG); na área interna do prédio CEGOE (Centro de Ensino e Graduação da UFRPE); por trás da Editora Universitária do Campus, atrás do prédio de Botânica, pertencente ao Departamento de Biologia; atrás da Biblioteca Central da UFRPE; na área interna do Departamento de Agronomia e na área interna da residência estudantil número quatro (casa 4).  

Apesar de não haver nenhum plano de controle sobre o volume de água utilizada no Campus, dois destes poços (no Departamento de Serviços Gerais – DSG e no Prédio do CEGOE) apresentam aparelhos de medição instalados. Contudo, apenas um, o do DSG, estava em funcionamento. As leituras do hidrômetro em funcionamento revelaram um consumo médio de 1169,15 m³/dia tendo sido utilizado, ao longo dos meses de medição, um total de 70.149 m³, ou seja, 70.149.000L em apenas um dos poços da Instituição. O consumo diário variou entre 0 e 3291m³, sendo os menores valores registrados em dias de sábado e domingo, onde não há expediente no Setor (Gráfico 1). Considerando-se como sendo este o consumo médio da Universidade, e extrapolando-se estes valores para o público geral da Instituição (9.000 pessoas) pode estimar que 3,9m³/pessoa/mês é o consumo médio na UFRPE.

 

 

 

Gráfico 1. Leituras diárias do volume de água consumido no poço artesiano do Departamento de Serviços Gerais (DSG), do campus de Dois Irmãos da Universidade Federal Rural de Pernambuco - URFPE, entre 13 de Setembro e 13 de novembro de 2008.

 

Quando as condições dos poços, não foram observados vazamentos. Contudo, nas caixas d’água dos poços havia em 75% das edificações a presença de gotejamento, escorrimento de água, musgos e samambaias.  Em apenas duas caixas, os da Botânica e do CEGOE, não foram observados indícios de vazamento. Segundo os entrevistados é um dos objetivos da Instituição aplicar políticas de reuso e conservação da água, o que deve estar sendo refletido na conservação dos poços.

Anualmente, testes bacteriológicos, físico-químicos e de metais são realizados com amostras da água coletada nos poços do Campus. Contudo, nem todos os resultados foram disponibilizados para os autores. Foi informado apenas que os testes de metais e os físico-químicos não apresentaram anormalidades, garantindo assim, que água possa ser usada de uma forma geral, sem maiores riscos para a saúde de todos os usuários do Campus.  

Da mesma forma que não há controle do consumo de recursos hídricos na Instituição, não há um sistema de gestão nem campanhas que envolvam o uso racional de água pela UFRPE. Pelo fato não haver cobrança ou taxação pelo consumo da água, isto pode incentivar o desperdício deste recurso tão importante e ameaçado. Desta forma, é necessário que haja a aplicação de políticas de reuso e conservação da água.

Com relação às estruturas que envolvem o uso da água, foram relacionados 694 pontos de uso de água na UFRPE, entre: bebedouros, torneiras, vasos sanitários, chuveiros e mictórios (Tabela 1). Destas 694 estruturas ou pontos, 241 (34,73%), encontravam-se com algum problema de conservação do aparelho e apresentavam gotejamento ou presença de “fio d’água”, em outras palavras, desperdício de água. Os sanitários se destacaram com 53,4% de perda de água, seguido pelos bebedouros com 48,94%, apresentando gotejamento sem acionamento e/ou mediante acionamento.

 

 

Tabela 1. Total de aparelhos que envolvem o uso de água, catalogados  no  Campus de Dois irmãos da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, entre Agosto e  Outubro de  2008.

Aparelhos

Quantidade de Pontos Registrados

% - Totais registrados

% - Situação de Vazamento

Bebedouros

47

6,77

48,94

Chuveiros

74

10,66

28,38

Mictórios

53

7,64

32,10

Torneiras (uso geral)

343

49,43

37,90

Bacias Sanitárias

177

25,50

53,40

Total

694

100

34,73

 

 

Um total de 997 aparelhos de condicionadores de ar foram contabilizados devido a estes gerarem água durante seu uso. Alguns possuíam algum tipo de recipiente ou jarro contendo plantas para acumular ou reutilizar a água produzida em gotejamento. Em outros foi instalado um sistema de canaletas, mangueiras e/ou tubos não com o intuito de direcionar a água para coleta ou armazenagem, e sim, de evitar que os pingos caíssem nas pessoas ou se acumulassem no piso. Nos demais, a água produzida era totalmente desperdiçada.

 

 

3.2 Diagnóstico da utilização da água no Campus pelo público consumidor

 

            A maioria dos usuários tem consciência do problema de escassez de água como um problema ambiental. Os entrevistados também acreditam no esgotamento desta água, e afirmam possuir hábitos de economia de água em casa e na Instituição (Tabela 2).

 

Tabela 2. Pesquisa em Questionário aplicado aos usuários do Campus da UFRPE, entre Agosto e Setembro de 2008, sobre temas como a noção da escassez mundial de água, a crença no esgotamento desta água e hábitos econômicos de uso de água em casa e na própria UFRPE.

Questão

Aluno

Professor

Funcionário

Total

2) Noção do problema mundial de escassez de água

95 têm consciência

88 têm consciência

72 têm consciência

       255

3) Crença no esgotamento da água

74 acreditam

77 acreditam

52 acreditam

       203

4) Economia de água em casa

63 possuem o hábito

57 possuem o hábito

65 possuem o hábito

       185

5) Economia de água na UFRPE

66 possuem o hábito

53 possuem o hábito

65 possuem o hábito

       184

 

 

Foi diagnosticado que 74,82% dos entrevistados observaram algum tipo de desperdício de água no Campus. Os principais problemas apontados foram relacionados em torneiras (29,44%); sanitários (23,82%); bebedouros (15,96%); tubulação (13,03%); rega das plantas (12,13%) entre outros (5,62%) (Tabela 3).

 

 

Tabela 3. Aparelhos em situação de vazamento ou desperdício de água no Campus da UFRPE, relatado em questionário aplicado à usuários do Campus, entre Agosto e Setembro de 2008.

Aparelhos em Situação de           Vazamento ou Desperdício

TOTAL

(%)

Torneira

131

29,44

Bebedouro

71

15,96

Sanitário

106

23,82

Irrigação de plantas

54

12,13

Em canos, na tubulação

58

13,03

Outros

25

5,62

TOTAIS/GRUPO

445

100

 

A maioria de usuários do Campus (89,57%) entende o significado do termo sustentabilidade. Pelo entendimento do termo sustentabilidade, destacam-se o corpo discente (96,97%), seguido pelo corpo docente (95,45%) e funcionários (75,82%). Entre os funcionários, contudo, 12,09% afirmam que nunca ouviram falar do termo, bem como outros 12,09% afirmam desconhecer o que este significa (Gráfico 2).

 

Gráfico 2. Percepção  sobre  o   que  significa  Sustentabilidade,  em questionário aplicado  aos  usuários  do Campus  da  UFRPE,  entre Agosto e Setembro de 2008.

 

Em relação à existência de uma política para o uso da água na Instituição, 53,54% dos alunos observam que não existe tal política, enquanto 26,98% não sabem informar e outros 17,99% afirmem que a UFRPE desenvolve muito poucas ações efetivas para o uso de sua água. Uma minoria, 8,63%, afirmam que a Universidade desenvolve sim, políticas para o uso da água. Entre os professores, 50% afirmam não notar a existência de campanhas internas, enquanto que, 12,50% notam. 13,64% não sabem informar e 23,86% responderam que a Instituição desenvolve poucas ações efetivas (Gráfico 3)..

Entre os funcionários, quando os mesmos são questionados com relação a existência de campanhas e políticas para uso da água pela Instituição, nota-se que um elevado percentual (40,66%) afirma que não sabe informar, quando comparado as respostas dos alunos e professores. Embora 12,09% afirmem que há campanhas de conservação de água na Instituição, eles não as consideram suficientes. 35,16% afirmam que não há a existência delas (Gráfico 3)

 

Gráfico 3. Percepção sobre políticas para o uso da água da  UFRPE em questionário aplicado aos usuários do Campus entre Agosto e Setembro de 2008.

 

Dos 278 usuários questionados, 45,30% o equivale a 123 usuários, fazem uso dos laboratórios da UFRPE, os quais usam água destilada, onde em seu processo de fabricação há a perda de água. Quanto à perda dessa água verificada pelo público da UFRPE, no processo de destilação nos laboratórios,  45,57% afirmam que há desperdício da água envolvida em tal processo. Nesses laboratórios, foi encontrada a presença de aquários, onde apenas 19,23% dos usuários trabalham com o reuso desta água, sendo uma parte descartada e uma parte reutilizada.

 

 

4 DISCUSSÃO

É através dos vários múltiplos usos da água que parte dela é desperdiçada, se tornando urgente o desenvolvimento de práticas referentes ao seu reuso, reciclagem e gestão da demanda. Pode se dizer que a demanda resulta não só do consumo e sim da soma do consumo e do desperdício (GONÇALVES, 2006). 

O controle da água constitui-se elemento essencial à sua gestão sustentável. Sendo necessário, porém, considerar cenários e metas racionais para que isso seja alcançado. O estabelecimento de uma política de gestão eficiente para controle da água depende da harmonização de diferentes ações (SILVA, 2008). O controle deve refletir o nível de falhas de uma política e está associado ao fato de que a valoração do meio ambiente é um dos aspectos mais críticos de todo o processo de decisão dos gestores públicos (FERREIRA, 2003).

O diagnóstico do uso dos recursos hídricos no Campus de Dois Irmãos da UFRPE deixa claro que não há planejamento ou manejo de água na Instituição. Não há um controle da quantidade de água utilizada, assim como não há hidrômetros suficientes, instalados nos 8 poços ao longo do Campus. E quando presentes encontram-se em condições de mau funcionamento, contudo, foi afirmado por todos os administradores entrevistados que é um dos objetivos da Instituição aplicar políticas de reuso e conservação da água, mesmo se não houver apoio da comunidade acadêmica.

Em todo o mundo, a troca de equipamentos convencionais para equipamentos com menor consumo de água tem sido estimulada pelos governos. A adoção de equipamentos economizadores ainda recebe respaldo graças a uma característica adicional: a economia de água ocorre independente da consciência do usuário (HAFNER, 2007). Importante ressaltar que, com a adoção de medidas economizadoras, além de ganhos econômico-financeiros, as empresas, as pessoas e a sociedade obtêm substanciais lucros ambientais (MARINHO, 2007).

Algumas Instituições, como o do Campus Zeferino Vaz da UNICAMP, já iniciaram programas de manejo racional da água. No caso da UNICAMP, O PRO-ÁGUA/UNICAMP, atingiu suas metas reduzindo o consumo médio mensal da UNICAMP de 98.000 a 100.000 m³, antes da campanha, para cerca de 80.000 m³ após a implantação do programa (PRO-ÁGUA/UNICAMP, 2001).

A USP também implantou um programa PURA de gestão de água (PROGRAMA DE USO RACIONAL DA ÁGUA). Além de benefícios indiretos como educação da população, o PURA-USP tem trazido uma expressiva redução do consumo de água (PURA-USP, 1998). Outra Instituição, no Campus Itambé, pertencente ao Instituto Presbiteriano Mackenzie já apresentava uma diminuição no consumo de água na fase de implantação do programa (ROCHA et al., 2006).

Ou seja, este é um caminho natural e deve ser seguido em breve pela UFRPE, que já apresenta um público e administradores interessados na gestão deste recurso natural.

Um trabalho de conscientização e educação voltado para a Instituição é muitas vezes refletido em sua população, a qual adquire hábitos que não serão só usados no período em que se encontram na Instituição, mas também, fora dela, no decorrer do “dia-dia” de cada um. Iniciar um processo de conscientização junto à sociedade sobre a problemática do uso racional e reuso da água é de suma importância para se alcançar resultados efetivos em programas de conservação dos recursos hídricos (NUNES, 2006). A conscientização da população que freqüenta um Campus universitário é um trabalho contínuo, nunca acabado, mesmo porque esta população se modifica com o passar do tempo (ROCHA et al., 2006).

Como levantado no presente trabalho, o consumo sustentável ainda não é uma prática em vigor na UFRPE, pois não há a vinculação de campanhas educativas internas, onde alguns usuários, entre eles, funcionários da Universidade, desconhecem o significado do termo “sustentabilidade”. O controle do volume de água usada não é registrado, há aparelhos que envolvem o uso da água em situação de vazamento, não há uma prática de reuso de água em vigor e um único departamento, no Departamento de Serviços Gerais (DSG), foi relatado um consumo, em 2 meses de pesquisa de 70.149m³, com uma média de 3,9 m³/pessoa/mês, acima das necessidades segundo a Organização das Nações Unidas (3,3m³/pessoa/mês) para atender as necessidades de consumo e higiene (SABESP, 2006).

É necessário tocar o individuo profundamente, desenvolver seu lado sensível, estimular sua criatividade e oferecer meios para que desenvolva suas habilidades. Dar a capacidade a cada um de solucionar problemas, de engajar-se em processos de mudanças (CULLEN JR., 2004). Talvez seja esse o caminho para a UFRPE, contudo,  um sistema de gestão de recursos hídricos no Campus é necessário. Inicialmente, recomenda-se a instalação de hidrômetros em todos os poços, estabelecendo, assim uma prática de medição individualizada; a elaboração de campanhas educativas; a manutenção e troca dos aparelhos envolvidos no uso da água por equipamentos mais econômicos. Ou seja, um programa que envolva o público, os administradores e a troca de aparelhos, propondo a empregabilidade de hábitos que preservem e conservem essa água, tanto em sua qualidade como em sua quantidade para que a UFRPE se enquadre dentro do perfil das Instituições que já praticam o manejo racional de água.

 

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REFERÊNCIAS

 

CULLEN JR., L.; RUDRAN, R.; PÁDUA, C. V.  Métodos de estudo em biologia da conservação, manejo da vida silvestre.  Curitiba: Fundação o Boticário de Proteção à Natureza, 2003.  667 p.

 

DACACH, N. G.  A água em nossas vidas.  Rio de Janeiro: EDC-Ed., 1990.  190 p.

 

FERREIRA, A. C.  Contabilidade ambiental: uma informação para o desenvolvimento sustentável.   São Paulo: Atlas, 2003.  297 p.

 

GONÇALVES, O. M. et al.  Conservação e reúso de água em edificações. São Paulo: Prol Editora Gráfica, 2005.  151 p.

 

GONÇALVES, R. F.  Uso racional da água em edificações.  Rio de Janeiro. ABES, Projeto PROSAB, 2006.  325 p.

 

HAFNER, A. V.  Conservação e reúso de água em edificações: experiências nacionais e internacionais.  2007.  161 f.  Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

 

MARINHO E. C. de A.  “Uso racional da água em edificações públicas”.   2007.     71 f.  Monografia (Especialização em Construção Civil) – Universidade Federal de Minas Gerais , Minas Gerais.

                                    

NUNES, R. T. S.  Conservação da água em edifícios comerciais: potencial de uso racional e reúso em shopping center.  2006.  144 f.  Dissertação (Mestrado em Programa de Planejamento Energético) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

 

PRO-ÁGUA/UNICAMP. Disponível em: <http://www.fec.unicamp.br/~milha/proagua>. Acesso em: 25 mai. 2010.

 

PURA-USP.  Disponível em: .  Acesso em: 8 out. 2008.

 

ROCHA, A. J. F. et al.  Estudo do uso racional da água implantado em um Campus da Universidade Presbiteriana Mackenzie  In: WORLD CONGRESS ON COMPUTER SCIENCE, ENGINEERING AND TECHNOLOGY EDUCATION.  2006, Itanhaém. Anais... São Vicente: COPEC, 2006. Disponível em: http://meusite.mackenzie.com.br/raquelc/WCCSETE2006UsoRacionaldaAgua.pdf>.  Acesso em: 27 out. 2008.

 

SABESP.  Disponível em: <http://site.sabesp.com.br.> Acesso em: 26 mai. 2010.

 

SILVA, F. J. A. da; De SOUZA, R. O. Seleção de política de controle de água com análise hierárquica de processo. Revista Tecnol, Fortaleza, v. 29, n.1, p. 16-26, Jun. 2008.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos