Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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05/06/2010 (Nº 32) Educação ambiental no espaço de João Pessoa
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Conflito na coleta seletiva:


Educação ambiental no espaço de João Pessoa


Boaz Antonio de Vasconcelos Lopes

Email: lopes40-@bol.com.br


Resumo


Esse trabalho apresenta um estudo de caso em que são identificados alguns conflitos existentes no processo da coleta seletiva do projeto Acordo Verde implantada no bairro da Cidade Universitária relativo à Educação Ambiental. Foi usado como método de pesquisa a análise de discurso e os conceito de campo, capital e habitus. Obtido como resultado a identificação de alguns conflitos, tipificados e feito sugestões de superação.


Palavras-chaves:


Coleta seletiva; Educação ambiental; conflitos sociais; Análises de discursos.

1- Introdução

A Educação Ambiental vem assumindo novas dimensões a cada ano, principalmente pela urgência de reversão do quadro de deterioração ambiental em que vive-se, efetivando práticas de desenvolvimento sustentado e melhor qualidade de vida para todos e aperfeiçoando sistemas de códigos que orientam a nossa relação com o meio natural.

No Brasil a Educação Ambiental assume uma perspectiva mais abrangente, não restringindo seu olhar à proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas incorporando fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis. Mais do que um segmento da Educação, ten-se a educação em suas várias discursividades.

A educação ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de 1999. A Lei N° 9.795 – Lei da Educação Ambiental, em seu Art. 2° afirma: "A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal da informação. (ARLINDO, 2005)

Em João Pessoa desde o mês de setembro de 2000, existe o projeto Acordo Verde de educação ambiental e mobilização social, iniciado nos bairros de Tambaú, Cabo Branco, Manaíra e, agora, estende-se ao bairro Jardim Cidade Universitária, com o objetivo de diminuir a degradação do meio ambiente e, conseqüentemente, diminuir a quantidade dos resíduos depositados no Aterro Sanitário Metropolitano, através da coleta seletiva dos lixos residenciais.

O projeto Acordo Verde é de grande importância para a cidade de João Pessoa, porque busca contribuir para a conscientização da população e socializar os agentes ambientais (catadores) e suas associações pela transformação de lixo em renda.


Problema:

Quais os principais conflitos informacionais que passaram a existir a partir da implementação do projeto Acordo Verde no Bairro Jardim Cidade Universitária?

2- Coleta seletivas


São quatro os pressupostos filosóficos — ético, social, ambiental e informacional — para a abordagem das questões relativas à gestão sustentável dos resíduos sólidos urbanos e à educação para a redução, reutilização e reciclagem de resíduos pós-consumo, a serem tratados na Plataforma de Educação Sócio-ambiental do Programa Coleta Seletiva Solidária (BARBOSA, 2005).

Coleta seletiva ou recolha selectiva é o termo utilizado para o recolhimento em separado dos materiais que são passíveis de serem reciclados presentes no lixo doméstico. Dentre estes materiais recicláveis podemos citar os diversos tipos de papéis, plásticos, metais e vidros.


Figura 1: coletores de resídua


O lixo deteriorável (biodegradável), composto pelos restos de carne, vegetais, frutas, etc, é separado do lixo restante, podendo ter como destino os aterros sanitários ou entrarem num sistema de valorização de residuos (nos núcleos de tratameto).

A reciclagem se tornou uma ação importante na vida moderna, pois houve um aumento do consumismo e uma diminuição do tempo médio de vida da maior parte dos assessórios que se tornaram indispensáveis no dia a dia, suscitando um grave problema: qual o destino a dar quando o lixo perde utilidade?

No inicio, os resíduos resultantes da atividade humana tinham como destino as lixeiras ou então aterros sanitários. Contudo com o aumento exponencial da quantidade de resíduos e da evolução tecnológica, aliado ao interesse econômico de busca de mais matérias primas de baixo custo, o vulgarmente designado lixo, começa a perder o carácter perjorativo e passa a ser considerado como um resíduo passível de ser reaproveitado.

Com as tecnologias atuais, apenas uma ínfima parte dos resíduos urbanos não são passíveis de reaproveitamento, sendo direcionada para unidades de eliminação, normalmente os aterros sanitários. Felizmente a maior parte desses resíduos podem ser destinados ao reaproveitamento, quer seja reciclagem ou outros tipos de reaproveitamento.

A colecta seletiva, ou recolha seletiva tem como objetivo a separação dos resíduos urbanos pelas suas propriedades e pelo destino que lhes pode ser dado, com o intuito de tornar mais fácil e eficiente a sua recuperação. Assim pretende-se resolver os problemas de acumulação de lixo nos centros urbanos, e reintegrar os mesmos no ciclo industrial, o que trás vantagens ambientais e econômicas.

Os pontos onde são depositados para a recolha são denominados de lixões, ou ecopontos. Estes podem oferecer vários tipos de coletores, de acordo com as especificidades dos resíduos da zona e das respostas de tratamento existentes pela entidade que procede ao seu encaminhamento para os centros de valorização. A Coleta seletiva deve ser encarada como uma corrente de três elos. Se um deles não for planejado, a tendência é o programa de coleta seletiva não perseverar.

Figura 2: Filosofia da coleta seletiva

2.1 Espaço geografico

A Lei Complementar Estadual no. 59, de 2003, criou a Região Metropolitana de João Pessoa, constituída pelos municípios de Bayeux, Cabedelo, Conde, Cruz do Espírito Santo, João Pessoa (onde está localizado o bairro Jardim Cidade Universitária), Lucena, Mamanguape, Rio Tinto e Santa Rita. A região abriga atualmente uma população de 1.000.801 habitantes, segundo a estimativa 2006 do IBGE.

João Pessoa possui oficialmente 64 bairros, sendo Mangabeira (que faz fronteira com o bairro em estudo) o maior deles, com uma população de aproximadamente 100 mil habitantes. Geograficamente, João Pessoa é dividida em quatro zonas (Norte, Sul, leste oeste). O bairro do Jardim Cidade Universitária fica localizado na Zona Sul.

A cidade possui duas grandes reservas de Mata Atlântica, que funcionam como verdadeiros pulmões, além de mitigar o avanço da poluição. A primeira delas fica no bairro central do Róger (nessa região existia um vergonhoso aterro satitário) e denomina-se Parque Arruda Câmara (ou "Bica", como é popularmente conhecida, devido à presença da Fonte Tambiá no local).

A outra reserva florestal importante é a Mata do Buraquinho (fica perto do bairro em estudo e perto da UFPB), recentemente parte dela foi transformada em Jardim Botânico. Com cerca de 515 ha de mata virgem, cortada por riachos e fontes naturais, fica situada em um dos maiores reservatórios que abasteciam a cidade.

Compõem a rede hidrográfica da Grande João Pessoa nove bacias, sendo que a do Rio Paraíba é mais importante devido à sua área de influência na região em estudo. A importância destas bacias é representada pelo seu valor como elemento de equilíbrio ecológico e como fator amenizador do clima. Todos os rios da bacia são de natureza perene e têm seus cursos orientados para a zona do litoral apresentado padrão de drenagem sub-paralelo.

As áreas de atuação do Comitê de Bacia de domínio estadual foram definidas pela Resolução Nº 03 do CERH. Nesse sentido, o Comitê das Bacias Hidrográficas do Litoral Sul tem como área de atuação o somatório das áreas geográficas das bacias dos Rios Gramame e Abiaí.

A área de drenagem da bacia é de 589,1 km². O principal curso de água é o rio Gramame, com extensão de 54,3 km, e seus principais afluentes são os rios Mumbaba, Mamuaba e Água Boa. Caracteriza-se por uma série de conflitos a respeito de degradação da própria bacia, irrigação, registro de elevado índice de assoreamento do rio principal, atividade industrial, entre outros.

A EMLUR1 realiza a coleta de João Pessoa, que corresponde a 10% da coleta de resíduos do município. O restante dos resíduos é coletado por empresa prestadora de serviços. A coleta em áreas inacessíveis é realizada por carroção de tração animal.

A disposição final dos resíduos sólidos urbanos do município era feita, de forma inadequada, no Lixão do Róger, uma área de mangue de 17 ha localizada no bairro do Baixo Róger, próximo ao centro da cidade. Com a criação de um novo aterro sanitário, aquela área, atualmente, passa por um processo de recuperação ambiental.

Considerando-se como atendido todo o município pelos serviços de coleta, varrição e congêneres, a EMLUR atende cerca de 94% da população com os serviços de coleta e 55% com os serviços de varrição e congêneres. A coleta de resíduos sólidos na área de abrangências é executada de forma ordenada nas seguintes modalidades: coleta domiciliar regular; coleta de entulho e podas e a coleta de resíduos sólidos de serviços de saúde.

Sob o ponto de vista ambiental, os lixões podem causar poluição das águas superficiais e subterrâneas, devido à percolação do “chorume”, que é um líquido de cor preta altamente poluente, formado da degradação da matéria orgânica não-controlada. Podem causar a poluição do solo como também poluição atmosférica, devido à emanação de gases como o metano e o gás sulfídrico.

Os lixões também são um ambiente propício para a proliferação de macro e micro vetores, como ratos, baratas, mosquitos, bactérias, vírus e outros, que são responsáveis pela transmissão de várias doenças como leptospirose, dengue, diarréias, febre tifóide entre outras.

A disposição do lixo de forma inadequada traz problemas de ordem econômica, pois se joga fora materiais que poderiam ser reutilizados e/ou reciclados (papel, vidro, plástico e metal), desperdiçando-se energia, mão-de-obra e recursos minerais.

O problema social causados pelos lixões é que muita gente, por não ter onde trabalhar e morar, sente-se atraída para trabalhar na catação dos materiais recicláveis e acaba morando no mesmo local de “trabalho”, apresentando assim uma forma sub-humana de sobrevivência.

A área onde será implantado o novo Aterro Sanitário Metropolitano de João Pessoa (ASMJP) que fica no Engenho Mussuré, no Distrito Industrial, receberá o lixo do Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal da Região Metropolitana, composto pelas cidades de Santa Rita, Bayeux, Cabedelo, Lucena, Conde, Cruz do Espírito Santo e João Pessoa.

Os projetos específicos relacionados ao Aterro Sanitário Metropolitano de João Pessoa (ASMJP) contempla o EIA/RIMA, foram desenvolvidos pelo Grupo de Resíduos Sólidos (GRS – UFPE), que executou estudos regionais, levantamentos plani-altimétricos, sondagens e ensaios de laboratório, destinados a elaboração dos documentos técnicos:


3. O bairro do Jardim Cidade Universitária


È um bairro de classificado classe média, encontra-se em forte expansão imobiliária. Seu crescimento tem motivado uma grande especulativa dos valores dos terrenos e dos imóveis. Tem como limite o litoral sul e várias referencias organizacionais, quase sempre ligado à instituições de ensino.

O menor caminho até o bairro do Jardim Cidade Universitária é via a Avenida Pedro II segundo, em direção a Universidade Federal da Paraíba (ver o mapa da figura 3). Esse caminho, apesar de não ser o único, desemboca na principal dos bancários (a avenida de acesso) que corta perpendicularmente toda a extensão da área em estudo.

Figura 3: Orientação da área em estudo (UFPB)

Considerando os contornos do mapa anterior, passando pela UPB, seguindo em frente pela principal dos bancários até o contorno sul, vamos encontra pelo meio do caminho: o shopping Sul, uma universidade particular (UNIPE), uma universidade estadual (UEPB), uma escola particular de referencia (GEO) e, próximo, a sede da prefeitura.

As referencias destacadas anteriormente, pode dar um perfil dos habitantes desse bairro, que, de forma direta ou indireta, estão ligação à área da educação. Dessa forma, a principio, a hipótese é que um processo de educação ambiental nessa região tende ser bem sucedido.  


4. O espaço geopolitico do conflito


As ações políticas do poder publicam junto com a comunidade têm implantado na Capital uma forma pioneira de fazer a coleta seletiva. Através do projeto 'Acordo Verde', as pessoas que moram na região, cerca de 20 mil famílias, se comprometerão a fazer a separação dos resíduos. Já os catadores terão o compromisso de fazer o recolhimento e entregar o 'saco verde' para que o morador continue fazendo a separação do lixo seco do úmido.

A Emlur tem explicado que nessa etapa de implantação da coleta será firmado um acordo simbólico entre o agente e a população. Pelo processo, o morador receberá a visita do catador em companhia de um estagiário, que juntos darão informações sobre o projeto. "A família que fizer a adesão assumirá um acordo simbólico, onde se compromete a fazer a separação e dos resíduos recicláveis para o catador".

Com o acordo, os agentes também terão os seus deveres: comprometendo-se a passar para recolher o resíduo na data que ficou combinado com o morador, trocar um saco cheio por um vazio e ainda fazer uma prestação de contas mensal do montante que recebeu com a venda do material para a reciclagem.

O projeto, além de gerar renda para os agentes ambientais, tem o objetivo de diminuir a degradação do meio ambiente e, conseqüentemente, a quantidade dos resíduos depositados no Aterro Sanitário Metropolitano.

Com a coleta seletiva há a possibilidade do aumento da vida útil do aterro, uma vez que vários materiais, que antes eram depositados lá e que demoram vários anos para se decompor, terão como destino a reciclagem.


5. O projeto da coleta seletiva


O projeto pretende inverte a lógica atual de dependência que a coleta seletiva tem do catador, ao mesmo tempo em que possibilita para estes catadores ganhos subjetivos com o reconhecimento do seu papel social, permite ganhos objetivos por meio do acréscimo e da limpeza do material reciclável coletado do meio ambiente.

No bairro do Jardim Cidade Universitária, em um ato comemorativo, João Pessoa ganhou, em primeiro de agosto de 2007, um núcleo de coleta seletiva, que se somará aos já existentes e será um modelo para o projeto acordo verde. O empreendimento, instalado, gerará renda e inclusão social, em um primeiro momento, para as famílias de 36 agentes ambientais (catadores).

A obra foi realizada pela Prefeitura e a Emlur que com o novo núcleo (ver foto a seguir), os bairros de Anatólia, Jardim São Paulo, Jardim Cidade Universitária, Bancários e Mangabeira passarão a ser atendidos pela coleta seletiva.



Figura 4: galpão da coleta seletiva


Os folhetos da Emlur têm explicado que a coleta seletiva dentro de casa é muito fácil. Separe o material reciclável (papel, plástico, metal e vidro) do lixo comum. O material reciclável deverá ser destinado a um agente ambiental e o lixo comum continuará sendo recolhido normalmente pelos caminhões compactadores.

Entre os materiais que podem ser reciclados estão: jornal, revista, folhas de papéis, papelões, cartazes, garrafas e potes de vidro, caco de vidro, garrafas e embalagens de plástico, descartáveis, latinhas, enlatados, objetos de cobre e alumínio, ferro e outros.

De acordo com o projeto a ação é inovadora porque se propõe a estreitar a relação entre as pessoas envolvidas: moradores e catadores se conhecerão pelo nome, os moradores vão ajudar na preservação do meio ambiente e os agentes saberão quais são as pessoas que estão fazendo a separação dos resíduos e contribuindo com a sua renda.

O processo começou dentro da própria Emlur - todas as salas receberam cestos de lixo – decorado com material reciclável - nas cores azul e vermelho, para que seja realizada a separação de papel e plástico. Em locais específicos foram implantas os recipientes para a coleta dos resíduos nas cores amarela (metal), verde (vidro), vermelho (plástico) e azul (papel). O material de expediente recolhido é separado e encaminhado para a Oficina de Artes ou para os núcleos de coleta seletiva. Na Oficina de Artes, os artesãos e artistas plásticos transformam os resíduos em objetos de decoração e utensílios diversos, que são utilizados pela própria Emlur e por outras secretarias.


6. Identificação do campo e pesquisa


Como o objetivo é identificar os possíveis conflitos pelas falas dos agentes envolvidos no processo, o método de abordagem mais compatível é o da Análise de Discurso, um método essencialmente qualitativo e centrado em uma abordagem interpretativa; diferente da Análise de Conteúdo (mais quantitatvo).

Para Orlandi (2002), a Análise de Conteúdo constitui-se em uma ciência que empreende uma prática que se pretende neutra no plano do significado das falas, na tentativa de não alcançar diretamente o que haveria por trás do que se diz. A relação entre o pesquisador e seu objeto de análise é de distanciamento, mediada por uma abordagem metodológica que garantiria a desejada neutralidade.

Para Brandão (1996) O surgimento da Análise do Discurso se caracteriza não só por uma reorientação teórica da relação entre o que se fala e o não se fala objetivamente, como também por uma mudança da postura do observador em face do objeto de pesquisa. A linguagem, de um ponto de vista discursivo, não pode apenas representar algo já dado, sendo parte de uma construção social que rompe com a ilusão de neutralidade entre os limites do lingüístico e os do extralingüístico.

Para a análise do discurso, cabe ao pesquisador o entendimento da linguagem como forma de intervenção, a construção de saberes sobre o real, algo que exige o diálogo com outras perspectivas e configura uma iniciativa interdisciplinar.

Em um levantamento de campo, previamente foi identificamos que os conflitos, entre os agentes do processo do Acordo Verde, acontecem dentro de espaços geográficos bem definidos, os Campos de Conflitos2, em que os vários agentes manifestam suas opiniões (falas, discursos, etc.) a partir das experiências e valores trazido para dentro dos campos ou desenvolvidos dentro deles, o habitus3.

Pelos recortes que foi feito dos espaços discursivos foi identificado os seguintes campos de conflitos: as casas dos moradores, a Emlur, a associação dos catadores e o núcleo de triagem (local de trabalho dos catadores, extensivos as atividades de rua).

Cada um desses campos de conflitos é formado por vários membros internos (agentes), os quais interagem em uma relação de poder, quase sempre. Cada agente participa dessa relação recorrendo a determinado tipo de capital4 que trazem nos momento de conflitos, são as contrapartidas de cada um ao processo do Acordo Verde.

As relações, portanto, entre os agentes do acordo verde formam quatro campos de conflitos em que os capitais de cada um são trocados, como visto pela seguinte representação:


Figura 5: Espaços de análise


No desenho anterior os campos de conflitos estão representados por cada retângulo, cuja denominação aparece nas abas. As setas indicam que os conflitos acontecem nos interior de cada campo (áreas de conflito verticais), ou entre os campos de conflitos (áreas de conflitos horizontais).

O método da análise de discurso possui um campo de atuação de amplitude muito vasta, própria para aplicações em que se pretende levantar informações de natureza complexa, como o nosso.

Em relação ao estudo de campo observou-se categorias que expressão relações de poder que conservam noções típicas, entre as quais: gênero, organização, afetividade, gestão, financeira, confiança, política, ecológica, legitimação, confiança. experiência, etc.

A Emlur dividiu as ruas em setores e, para cada setor, definiu uma equipe de agentes ambientais (catadores) que, periodicamente, passam nas moradias que assinaram o acordo do projeto (moradia com selo), criando uma possível e futura relação de confiança entre os moradores e os agentes ambientais.

Coube aos moradores separarem a parte reciclada do lixo e coloca-las em sacos que são oferecidos eles pelos agentes no momento do recolhimento periódico do lixo.

Os sacos são colocados em carros motiveis (carrinhos de lixo) e conduzidos para ponto estratégicos localizados nas esquinas das ruas (as bandeiras) e alojados em caminhões da prefeitura e, por fim, são encaminhados para o núcleo de triagem. Entre as informações quantitativas principais levantadas do processo destacamos as seguintes:

Quantidade de discurso colhido: aproximadamente 10 horas;

Quantidade de discurso recortados: 82 áreas de conflitos;

Quantidade de núcleo do projeto: 4 (Mandacaru, lixão antigo,no novo aterro, Torre);

Quantidade de carrinhos de lixo por dia: 18 carrinhos recolhido dia/equipe (200 Kg)

Quantidade de peso de lixo recolhido: 4 000 Kg (3 caminões);

Quantidade de núcleo do acordo verde: 4;

Quantidade de dinheiro distribuído: ~ R$ 150,00 por quinzena/catadores;


Instrumento de levantamento de dados:


Câmeras;

Gravador;

Observação;

Software editor de áudio;

Software editor de vídeo;


6.1 Identificação dos conflitos


Ao re-escutarmos as falas gravadas foi-se recortando cada assunto citadas pelos agentes que demandasse uma área de atrito visível. Para a necessidade de nossos objetivos a noção de conflito que adotamos foi: um problema passível de ser identificado, objetivamente, dentro de um contexto de soluções.

Das escutas foram recortads 82 área de atritos e prezervadas as identidades de cada um dos entrevistados. Das 82 área de atritos foi possível identificar alguns conflitos recorrentes de interesse do objetos de pesquisa. Por essa concepção, conseguimos identificar os seguintes principais conflitos:


Interpretação

Classificação

Possíveis soluções

O acordo provoca uma mudança da rotina dos moradores

social

Propagar os benefícios das mudanças de rotinas dos moradores

Os moradores de perto do núcleo de triagem reclama da organização do centro de triagem

administrativo

Elevar o nível de organização do centro de triagem

Os moradores de perto do centro de triagem reclamam da poeira

administrativo

Elevar o nível de organização do centro de triagem

O número de associado é menor que a procura para se associar

administrativo

Elevar o número de núcleo de triagem nos bairros

A associação precisa de mais espaço

financeiro

A prefeitura precisa investir em mais espaço para associação

O coordenador da associação vislumbra a inserção social dos catadores via profissionalização dos associados.

Organizacional

A associação precisa ter uma visão de futuro bem definida

Alguns associados confundem doações pessoais e a doações a associação

Informacional

Desenvolver sistema de orientação sistêmica que informe os associados

O coordenador sugere que os associados ainda precisam desenvolver mais o espírito de cooperação

Cultural

Desenvolver o espírito de cooperação entre os associados

Quando na divisão do dinheiro há desconfiança

Cultural

Desenvolver o espírito de cooperação entre os associados

O volume de material está incomodado os moradores

Organizacional

Desenvolver competências administrativas da associação

Existe uma sobrecarga de responsabilidade em cima do coordenador

Organizacional

Fazer valer todas as funções da diretoria na associação

Entre os moradores existe aquele que percebe que há valores políticas em jogo

política

Intensificar a linha política do projeto entre os moradores

Alguns moradores demonstrar ter elevado grau de consciência ecológica

Política

Esclarecer as demissões ecológicas do projeto nas ruas

Existe uma maior dificuldade de se aceitar um catador masculino

Gênero

Sistematizar a abordagem dos homens catadores

Alguns moradores reclamam que existem outras prioridades que senão o acordo verde

Administrativo

Realizar também as outras necessidades básicas da população

Alguns moradores não entendem bem as finalidades do projeto

Informativo

Informar mais a população sobre o projeto

Uma das maiores reclamações é a falta de assiduidade dos catadores.

administrativo

Criar um mecanismo de controle que verifique a assiduidade dos catadores na coleta.

Os catadores que não entraram no projeto reclamam que não foram informados sobre o projeto.

informativo

Ampliar os mecanismos de divulgação do projeto junto aos catadores.

A seleção exclusiva do lixo reciclável pode está ampliando a exclusão dos que não entram no projeto

Administrativo

Desenvolver novas políticas de inclusão dos catadores que não entraram no projeto

A carga de da desconfiança recai mais sobre os catadores homens

Social

Desenvolver mecanismo de aceitação dos homens catadores entre os moradores.

Alguns moradores confundem a parceria do projeto com atividade pública

Informacional

Aumentar as informação a respeito das parcerias frente os moradores

Alguns associados acham que teria uma relação formal com a associação

Informacional

Informar para todos os associados mais condições da cooperação

Existe conflito entre catadores e catadoras quanto ao uso da força bruta

Organizacional

Se faz necessário definir funções dentro de cada equipe de catadores nas ruas

Existia desvio de matéria nas associação

Administrativo

Desenvolver o espírito cooperativo dos associados

Existe conflito de gênero dentro da casa dos moradores

Administrativo

Desenvolver mecanismo de apoio aos moradores para solucionar problemas operacionais do projeto em suas moradias

Os catadores clandestinos estão tirando os selos das moradias

Organizacional

Definir um outro local seguro para colar os selos

Para alguns moradores a imagem da prefeitura ainda está em baixa

Administrativo

As ações públicas precisão ser efetivas

Não houve um critério totalmente justo na escolha dos estagiários

Administrativos

Desenvolver ações coerentes na seleção dos serviços dos estagiários

Os estagiários têm mais dificuldade com os moradores mais velhos

informativo

Desenvolver orientação dirigida para lidar com os moradores mais velhos

A bolsa de trabalho das estagiárias é muito pouca.

Administrativo

Buscar forma de elevar o valor da bolsa

Os estagiários recebem assédios sexuais

Informativo

Orientar as estagiárias para lidar com os assédios sexuais

Os associados brigam quando da divisão dos serviços

Administrativos

Desenvolver uma política interna de gestão de pessoal nos centros de triagem

Quadro 1: identificação do conflitos informacionais do campo de pesquisa


7. Consideração finais


O uso de um método qualitativo como o da análise de discursos requer uma dedicação de quem pesquisa diferenciada. Uma vez que, não sendo uma proposta que se possa metigar, vários fatores de ordem subjetiva intervem de forma negativa nos resultados obtidos. Então, um procedimeto de pesquisa criterioso é o que pode fazer a diferença e efetividade da informação.

O conceito de campo, capital e habitus na pesquisa foi o que proporcionou o criterio que deu a coerencia necessária aos procedimentos do trabalho, Porque esses conceitos guardam em seu escopo uma tradição nos estudo das Ciência Sociais hoje, devido a uma filiação discursivas que tem sido aprofundado com o tempo.

O projeto Acordo Verde, pelo que abservamos, tem comprido seus objetivos que é entregar as comunidades que produzem os lixos e aquelas que podem tirar algum proveito econômico da coleta seletiva, tranfornando lixo em fonte de sobrevencia, de forma humanitaria e integrada à natureza.

Apesar dos exitos dos projeto, como todo relação humana, não poderia deixar de ser construido dentro de uma relação conflituosa; o que foi o identificado. São esses conflitos que caracterizam a existencia de relações livre e reais. E são esses conflitos que pode apontar os limites de um projetos como esse e mostrando saidas possiveis para o seu aprimoramento.

A pesquisa foi feita considerando os limites do bairro da Cidade Universitária, mas, foi observado que, pela recorrência de algumas tipologias de conflitos, é possível que esses listados sejam comuns a outros bairros. A sugestão é que o método adotado seja aprimorado e aplicado a outros casos.

8. Bibliografia


ARLINDO; Philippi Jr., ALAÔR; Cffé Aves. Curso interdisciplinar de direito ambiental. São Pualo: Manole, 2005.

BARBOSA, Erivaldo Moreira. Direito ambiental: Em busca da sustentabilidade, São Paulo: Scortecci, 2005.

BOURDIEU, Pierre. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Lisboa: Editorial Vega, 1978

______. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989

______. Razões práticas sobre a teoria da acção. Oeiras: Celta Editora, 1997

______. As estruturas sociais da economia. Lisboa: Instituto Piaget, 2001.

BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. São Paulo: Editora da Unicamp, 1999.

GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. Campinas, SP: Papirus, 1995.

KOFF, E. D. ; LIPOVETSKY, N. Educação Ambiental e o Ensino de Ciências: alguns pontos. Goiânia: Secretaria Municipal de Educação, 1996.

MEC/SEMAM/IBAMA. Educação Ambiental: Projeto de divulgação de informações sobre educação ambiental. Brasília: 1991.

ORLANDI, Eni P. Análise de discurso: princípio & procedimento. São Paulo: Pontes, 2002.

SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. 11 ed. São Paulo: Cortez, 1986.



1 A EMLUR (Autarquia Especial Municipal de Limpeza Urbana) é uma empresa pública de limpeza de ruas e coleta de lixos. Ela atua sobre a cidade de João Pessoa e faz também vários eventos públicos.


2 Para Bourdieu (1989,1997,2001), campo representa o espaço simbólico, no qual as lutas dos agentes determinam, validam e legitimam representações - é o poder simbólico. Nele se estabelece uma classificação dos signos, do que é adequado, do que pertence ou não a um código de valores.


3 Para Bourdier (1989,1997,2001), tem a função de efetivar a ligação entre as condições objetivas e os esquemas mentais. Ele representa a sociedade incorporada no indivíduo, a visão de mundo de cada pessoa.


4 Para Bourdieu (1989,1997,2001), capital é um conceito que discute a quantidade de acúmulo de forças dos agentes em suas posições no campo. Esse autor acima citado distingue, no decorrer de sua obra, quatro principais tipos de capital: o social, o cultural, o econômico e o simbólico (no qual se inclui o científico), entre outros.



Ilustrações: Silvana Santos