Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
05/06/2010 (Nº 32) Entrevista com LUCIANO RODRIGUES, para a 32ª Edição da Educação Ambiental em Ação
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revista educação ambiental em ação 32

Entrevista com LUCIANO RODRIGUES, para a 32ª Edição da Educação Ambiental em Ação (www.revistaea. org)
Por Bere Adams - Revista Educação Ambiental em Ação (REAEA)

 

Apresentação: O entrevistado desta edição é Luciano Rodrigues, professor formado em Biologia, que há sete anos desenvolve atividades de Educação Ambiental com crianças e jovens através de fazendas escolas do município de Viamão/RS. Luciano é autor do programa Turminha do Verde, desenvolvido há dois anos em escolas de educação infantil do município. É possível conhecer um pouco mais do seu trabalho pelo blog http://turminhadove rde.blogspot. com/ onde apresenta detalhes sobre as escolas onde atua. Lá também é possível apreciar as fotos de suas práticas de EA com crianças de quatro a seis anos. Vamos conhecer um pouco mais da sua caminhada e dos trabalhos que desenvolve.

 

Revista Educação Ambiental em Ação (REAEA) - O que despertou seu interesse pela Educação Ambiental (EA)? Conte-nos um pouco de como começou sua caminhada na EA.

 

Luciano (L) – Bem, iniciou-se no ano de 2004, quando ainda estava na graduação de biologia. Ano em que eu iniciei como monitor em uma fazenda escola do município de Viamão – RS, onde recebia turmas de alunos de escolas públicas e privadas, da educação infantil até do nível superior.  O objetivo principal era possibilitar que os alunos pudessem visualizar na prática o conteúdo passado pelo professor em sala de aula, e dessa forma, possibilitar que o mesmo realizasse uma associação entre a teoria de sala de aula com a pratica que estava observando, despertando a curiosidade e contribuindo para a construção do conhecimento. Todo este trabalho era realizado na prática, através de trilhas ecológicas, onde eram trabalhados os exemplos práticos dos conteúdos vistos pelos alunos em sala de aula. Como o objetivo não era ficar limitado ao conteúdo curricular e o local era propício, associava-se um trabalho de Educação Ambiental enriquecida de explicações e visualizações praticas. Além das trilhas ecológicas a fazenda possui um espaço físico destinado ao trabalho com répteis, onde se encontra uma pequena coleção didática, sendo este ambiente destinado a aulas sobre ecologia deste grupo de animais. A fazenda também é considerada como um criadouro conservacionista do Ibama, possuindo assim, uma grande quantidade de animais representantes da fauna brasileira, o que nos possibilita a realização de um trabalho sobre a ecologia destes animais, estudando desde sua alimentação, habitat, situação de ameaça, comportamento, contrabando de animais silvestres, entre outros. Ao longo desses anos, trabalhando nesse local, pude observar o quanto as crianças da educação infantil ficam encantadas com tudo o que observam, e ao mesmo tempo, pude verificar o quanto elas são “carentes” de informações relacionadas a questões ambientais. Quando elas se deparavam com os animais era visível o olhar de “novo”, de surpresa e ao mesmo tempo era evidente a curiosidade que eles transpareciam. Toda essa carência e, principalmente, a curiosidade que despertavam me serviram de incentivos que me levaram a cogitar e, mais tarde, a por em prática a Educação Ambiental nas escolas de educação infantil.   


REAEA - Quando nos conhecemos pela Internet você afirmou que trabalha EA com jovens e com crianças. Tendo experiência com essas diferentes faixas etárias, o que muda, na prática da EA de um público para o outro?

 

L – Muda muito... Principalmente a questão da linguagem a ser usada. Você tem que levar em conta que crianças nesta faixa etária, de quatro a seis anos, não conseguem compreender muito bem o abstrato. Portanto, se você trabalhar somente desta forma, em poucos segundos perderá toda a atenção de seus alunos. Há pesquisas que apontam que para cada ano de vida ganho por uma pessoa, aumenta em um minuto a sua capacidade de concentração como ouvinte em um determinado assunto. Seguindo por esse princípio, podemos então dizer que o aluno que tem quatro anos de idade ficará concentrado no professor por aproximadamente quatro minutos, após isso, a tendência é ele cansar e começar a se dispersar. Na prática, isso parece ser verdade. Em função disso, as aulas com crianças devem ter muita ludicidade e devem ser práticas. O professor tem que trazer os seus alunos para a sua aula, fazendo-lhes questionamentos, despertando suas curiosidades, escutando seus depoimentos e realizando suas explicações de forma a contribuir para a construção de uma consciência ecológica. Já o trabalho com jovens pode ser usado uma linguagem mais aberta, afinal eles possuem maior  compreensão do abstrato. Mas não deve-se esquecer do lúdico. Apesar de eles serem maiores, é importante a ludicidade de acordo com as faixas etárias, isso fará com que seu trabalho não se torne monótono e faça com que toda a sua programação vá pelo “ralo”.

         
REAEA - O que mais lhe chama a atenção no trabalho de EA com as crianças pequenas?

 

L – A curiosidade que elas despertam pelas coisas é algo fascinante. Assim como o quanto elas incorporam os assuntos trabalhados, de forma que se tornam fiscalizadoras no seu ambiente de convívio, sendo questionadores e realizando cobranças aos pais e familiares. Com muita frequência recebo relatos de pais, onde os filhos os repreenderam dizendo que aquilo que eles estão fazendo não está certo, e que lá na escola ele aprendeu que tem que ser de tal forma. Isso mostra que os objetivos estão sendo alcançados e que muitos alunos estão, desde então, construindo uma consciência ecológica, o que me deixa muito feliz e realizado.

 

REAEA - Das atividades que você desenvolve qual é a que desperta maior curiosidade nas crianças?

 

L – As aulas com animais! Geralmente levo animais em meio líquido, onde o objetivo é trabalhar a morfologia, mostrando-lhes as partes do corpo, o comportamento, o habitat, a ameaça que ele vem sofrendo, como podemos ajudar a preservar, etc. Sempre levo animais que apresentam, de uma forma geral, uma certa rejeição pelas pessoas, e o objetivo é desmistificar  essa ideia, de forma mostrar-lhes a importância daquele animal para nós e para o meio ambiente.



REAEA - O que você acha mais difícil, ao desenvolver atividades de EA com as crianças?

 

L – Montar as atividades! Você tem que ter todo um cuidado para que sua atividade chame atenção, seja lúdica, seja prática, não seja difícil ou cansativa para não desestimular os alunos. Se isso acontecer você terá que ajudar cada um dos alunos e enquanto você faz isso o restante da turma estará completamente disperso, o que dificultará o trabalho.

 

REAEA - Quando você planeja suas atividades de EA, onde busca inspiração e subsídios para suas práticas?


L –
Gosto muito da Permacultura, muitas ideias tiro de lá, e outras eu mesmo invento. Sempre trabalho com materiais reaproveitáveis, no entanto muitos eu ganho, e outros eu compro em espaços de reciclagem.

 

REAEA - De uma forma geral, por sua experiência em várias escolas ao longo destes anos, você acha que os professores trabalham a EA de forma interdisciplinar?

 

L - Se considerarmos a totalidade de professores, podemos, infelizmente, dizer que poucos trabalham de forma interdisciplinar. Em função disso, de uma forma geral, a EA acaba muitas vezes sendo responsabilidade de professores de ciências ou de geografia. Como muitas escolas são conteudistas, voltadas extremamente ao currículo, a EA acaba sendo enfatizada somente em datas comemorativas ao longo do ano.

 

REAEA - Qual é, para você, o grande desafio da EA?

 

L – Chegar a todas as escolas públicas e poder realmente ser trabalhada de uma forma interdisciplinar por todos os professores, em todos os níveis.


REAEA - Como você se sente desenvolvendo a EA com as crianças?

 

L – Realizado!!!


REAEA - Por falar em resultados, você acha que já estão ocorrendo mudanças significativas na sociedade, a partir de ações educativas de EA?

 

L – Claro. É muito importante que nós continuemos essa caminhada, assim como outros colegas venham fazer parte dela.

 

 REAEA - Fale-nos um pouco sobre seus projetos futuros, e deixe uma frase, ou um pensamento, para os leitores e leitoras da nossa revista...

 

L – Bem, o objetivo é atingir mais escolas de educação infantil com o programa “Turminha do Verde”, de forma a contribuir para que um número maior de alunos desenvolva uma consciência ecológica auxiliar na construção de um futuro cidadão com responsabilidades ambientais. “Peço a todos os colegas de EA que sempre ajudem-se uns aos outros nessa árdua, mas muito gratificante caminhada da EA.” Frente a isso gostaria de colocar à disposição dos colegas o meu e-mail lucianobiolog@ yahoo.com. br e msn lucianofaquir@ hotmail.com para trocas de informações, sugestões e críticas. Gostaria de agradecer à Bere e à revista REAEA. Muito obrigado e abraço a todos.

 

 REAEA – Luciano, nós agradecemos pela sua participação nesta edição da revista e desejamos cada vez mais sucesso em suas práticas, que são exemplo de EA e certamente servirão de inspiração para muitos professores, principalmente dos que trabalham com crianças pequenas. Muito obrigada!

Ilustrações: Silvana Santos