Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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13/03/2010 (Nº 31) A contribuição de uma unidade de ensino superior para o desenvolvimento sustentável
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A CONTRIBUIÇÃO DA FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

A contribuição de uma unidade de ensino superior para o desenvolvimento sustentável

 

Yara Maria Lima Mardegan 1, Maria Ines de Almeida Gonçalves 1, Silene Migliorini 1, Mariana Cristina Ferreira Silva 1 , Ricardo Kenji Kawauchi 1,  Humberto Oyamanda Tamaki 2, Orestes Marraccini Gonçalves 2, Gisele Sanches da Silva 2, Leonardo Brian Favato 3, Marco Antonio Saidel 3, Rosario Dominguez Crespo Hirata 1

 

1 Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP

2 Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP

3 Coordenadoria do Espaço Físico, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP

e-mail: rosariohirata@usp.br

 

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo avaliar a contribuição de ações e intervenções de uma unidade de ensino superior para o desenvolvimento sustentável. A implantação do programa de coleta seletiva e gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, em 2002, promoveu o aumento da segregação de material reciclável (4% para 12% dos resíduos sólidos totais), na FCF/USP. Atualmente, são geradas 5,7 toneladas de resíduos/mês (orgânico: 59%, infectante: 21%, químico: 9% e reciclável: 11%). A campanha de minimização de resíduos promoveu o uso da caneca durável por 47% da comunidade FCF e resultou na redução no consumo de copos descartáveis de 50 a 59%, de 2004 a 2006. Outras ações da FCF têm ênfase na educação e gestão ambiental e incluem recepção aos calouros, palestras, oficinas, cursos e eventos anuais. Estas ações promovidas pela Comissão FCF do Programa USP Recicla e outras Comissões da instituição, integram-se às intervenções dos Programas de Uso Racional de Água (PURA) e Permanente para o Uso Eficiente de Energia Elétrica (PURE). O PURA monitora o consumo de água per capita na USP e sua implantação na FCF resultou na redução de 73% no consumo, de 210 para 57 litros/pessoa/dia de 1998 a 2001. Atualmente o consumo de água tem-se mantido entre 25 e 40 litros/pessoa/dia que é inferior à média de outras unidades (50 litros/pessoa/dia) com as mesmas características operacionais. O PURE visa estimular o uso racional de energia elétrica. A implementação do sistema de monitoramento do consumo de energia elétrica (SISGEN) revelou que a FCF contribui com 2,4% do consumo total do campus da capital que é um perfil similar ao de outras unidades da USP. Em conclusão, as ações integradas dos programas USP Recicla, PURA e PURE na FCF têm contribuído para a minimização do impacto ambiental e o estimulo ao desenvolvimento sustentável na universidade.

 

Palavras-chave: desenvolvimento sustentável, gestão ambiental, USP Recicla

 

1.     INTRODUÇÃO

O ambiente urbano é um dos mais poluídos, nele ocorrem vários tipos de poluição: atmosférica, visual, sonora, lixo e outros. Uma das principais poluições que causam grande degradação ao meio ambiente e ameaça ao ser humano é o lixo urbano. Poucas cidades dispõem de aterros sanitários apropriados e raríssimas são as que possuem usinas de tratamento. A maioria das cidades deposita o seu lixo em lixões que podem comprometer a saúde de pessoas que porventura tenham acesso. Este risco a saúde se deve à inadequada separação dos resíduos comuns dos perigosos, tais como o lixo hospitalar (agulhas contaminadas, remédios vencidos e outros) e lixo tóxico (pilhas e baterias que contêm metais pesados como o chumbo, mercúrio e cádmio).

As atividades acadêmicas e de pesquisa contribuem para a geração de resíduos comparável à atividade industrial, pois embora as quantidades sejam menores, alguns resíduos têm alta periculosidade. Atualmente, esta situação não pode mais ser ignorada por instituições acadêmicas, e de fato diversas unidades e universidades brasileiras, vêm se preocupando com o tema em questão e vem incluindo em suas atividades o gerenciamento de resíduos perigosos.

A implantação e manutenção de programas de gerenciamento de resíduos em universidades, instituições de ensino e pesquisa, tanto governamentais como particulares, apesar dos custos operacionais que acarretam, traz ganhos e vantagens das mais significativas, entre elas, a de propiciarem aos estudantes o ensino adequado de como lidar com os resíduos produzidos em pesquisa e em salas de aula, o que minimiza danos ao ambiente, além de se trabalhar num local seguro, saudável e não poluente, em consonância com os preceitos da ecologia.

A Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP) executa intensa atividade nas áreas do ensino, da pesquisa e prestação de serviços , requerendo, por conseguinte, a  manipulação adequada e segura de uma grande variedade de equipamentos, substâncias químicas e materiais biológicos. A FCF não pode se furtar de atuar com princípios e práticas ecologicamente corretas comprometendo-se com o estabelecimento de uma política ambiental voltada à preservação e manutenção do meio ambiente e com reflexos sobre a saúde e segurança dos indivíduos.

Desde 1999, as comissões assessoras da Diretoria da FCF, Comissão FCF do Programa USP Recicla (FARMA Recicla) e Comissão de Descartes de Produtos Químicos e Perigosos, têm se empenhado em implementar campanhas e programas fundamentados nos princípios dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar). As atividades destas comissões visam o mapeamento, a quantificação e o registro dos resíduos gerados com a finalidade de estabelecer procedimentos e implementar ações operacionais e gerenciais que contribuam para a minimização dos resíduos gerados na Universidade de São Paulo.

 

2.     PROBEMA:  A GESTÁO Dos RESÍDUOS da FCFUSP

O gerenciamento dos resíduos de uma empresa ou instituição consiste de um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando a proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente (ABNT, 2004).

Uma gestão de resíduos sólidos eficiente deve contemplar as etapas de manuseio, armazenamento, transporte, reciclagem, tratamento e disposição final dos resíduos e ser realizada dentro de uma hierarquia na priorização das ações através dos seguintes passos: a) Prevenção da geração de resíduos sólidos; b) Minimização da geração e a toxicidade dos resíduos; c) Reciclagem de resíduos, podendo após tratamento vir a ser matéria-prima; d) Tratamento de resíduos sólidos visando a descontaminação ou destoxificação para a viabilização de sua reciclagem e d) Tratamento com a finalidade de uma disposição mais segura do ponto de vista ambiental (SBRT, 2008).

Com a finalidade de reduzir o impacto ambiental dos resíduos gerados e de atender ao disposto no plano de metas do Sisema de Gestão Ambiental, a FCF buscou implementar medidas e ações que visassem minimizar a produção de resíduos sólidos. Através da aplicação dos princípios dos 3Rs (redução, reutilização e reciclagem), ações e atividades de conscientização foram realizadas com ênfase no gerenciamento mais adequado de seus resíduos de modo a reduzir os riscos ocupacionais, sanitários e ambientais.

 

3.     OBJETIVOS

O presente trabalho teve como objetivo expor o modelo adotado pela FCF para gerenciamento de seus resíduos em atendimento às disposições legais e às práticas ambientais e de segurança do trabalho que resolveu adotar mediante o estabelecimento de uma Política Ambiental, documentada e divulgada no meio acadêmico e comunidade em geral.

 

4.     METODOLOGIA

O referencial adotado pela FCF para implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) foi a versão em português da ABNT, de dezembro de 1996, da Norma ISO 14001, qual seja, a norma NBR ISO 14001:1996.

As estratégias e ações do Programa são planejadas e executadas de acordo com três eixos articulados entre si: Educação Continuada, Tecnologia, Comunicação e Divulgação.

 

4.1. Educação Continuada

A metodologia do trabalho realizado na FCF incluiu a pesquisa-ação-participante (MINAYO, 2000) e a educação conscientizadora (BRANDÃO, 1982) visando a facilitar o entendimento dos riscos de acidentes no local de trabalho e procedimentos adequados quanto ao manuseio, tratamento e descarte dos resíduos da área de saúde. As intervenções ocorreram sob a forma de treinamentos teórico-práticos, palestras, produção e distribuição de folhetos e informativos destinados a um público de mais de 900 pessoas, entre docentes, servidores não-docentes, alunos e estagiários da FCF.

4.2. Tecnologia

No eixo de Tecnologia, são incluídas, entre outras, atividades de orientação e estruturação de Diagnóstico do Lixo, Coleta seletiva de materiais recicláveis, descarte adequado de resíduos não-recicláveis, instalação de composteiras para resíduos orgânicos.

4.3. Comunicação e Divulgação

As atividades do eixo de Comunicação incluem a elaboração de ferramentas de mídia, como página de Internet e o boletim eletrônico, a produção de materiais de divulgação (vídeos, catálogos, folhetos, cartazes, painéis, broches, marcadores de páginas e outros materiais), a promoção ou participação em eventos (Seminários, Mostras, Feiras da Sucata, Encontros, Simpósios e outros) e a montagem e manutenção de murais informativos, entre outras.

 

5.     RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

5.1     Ações implementadas para a adequada gestão de resíduos

A gestão dos resíduos gerados na FCF se dá através do trabalho articulado das Comissões responsáveis pela implementação e rotinas que têm como objetivo a padronização de procedimentos em suas áreas e laboratórios para o dimensionamento, controle e destinação final adequada dos resíduos. Atualmente a FCF gera média mensal 5,7 toneladas de resíduos por mês, sendo 59% orgânico, 21% infectante, 9% químico e 11% reciclável.

5.1.1     Resíduo químico

Grande parte do que é utilizado em laboratórios universitários, sejam eles de pesquisa ou de ensino, em algum momento, pode se tornar resíduo perigoso. Alguns exemplos são os solventes, sais e reagentes, embalagem de produtos perigosos, material biológico, equipamentos com defeito, quebrados, ou fora de uso, termômetros quebrados, computadores desatualizados e fora de uso. Uma visita despretensiosa à maior parte dos laboratórios acadêmicos permite constatar a presença deste tipo de material, que pode acarretar problemas de segurança, saúde e se constituir em impacto ao ambiente se descartado de forma indiscriminada. A minimização deste problema consiste em reduzir a produção de dejetos, tratar e descartar adequadamente este material (TAUCHEN; BRANDLI, 2006).

Em 2002, a Comissão de Descartes de Resíduos Laboratoriais obteve recursos da FAPESP para estruturar a Unidade de Descartes, Tratamento, Recuperação, Reutilização e Reciclagem de resíduos químicos (UDTR3). Naquela ocasião, o passivo de produtos químicos vencidos estocados há mais de 30 anos foi adequadamente acondicionado e descartado.

Atualmente, os resíduos químicos perigosos são segregados, acondicionados e destinados a empresas com licença ambiental para tratamento específico ou disposição final (zancanaro Jr., 2002; FELLI, 2003). Com a finalidade de aperfeiçoar o gerenciamento dos resíduos químicos perigosos na FCF, foi elaborado o fluxograma ilustrado na figura 1.

As orientações sobre o manejo, tratamento, acondicionamento e descarte de produtos químicos são disponibilizadas para os laboratórios geradores na pagina da FCF (FCF/DESCARTES, 2008).

Periodicamente são enviadas mensagens explicativas e de alerta quanto à necessidade de cumprimento das normas internas, das legais, das dificuldades e riscos que um descarte irregular ou irresponsável pode provocar e da responsabilidade que cabe ao gerador de resíduos perigosos.

 

Figura 1 – Fluxograma de procedimentos de descarte de resíduos químicos.

 

5.1.2     Resíduo Radiológico

Os rejeitos radiológicos gerados na FCF-USP, em média 2 l/mês, obedecem às normas estabelecidas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) que cobrem as atividades relativas ao gerenciamento de material radioativo, da origem ao destino final, originados em instalações que usam materiais radioativos, entre eles Universidades (CNEN, 2008).

Os laboratórios geradores possuem Planos de Radioproteção com especificação dos radioisótopos utilizados e respectivos procedimentos de manuseio, armazenamento e gerência de rejeitos e responsável técnico credenciado pelo CNEN. Os rejeitos radioativos são segregados, acondicionados e destinados a empresas com licença ambiental para tratamento específico ou disposição final (CNEN, 2008).

 

5.1.3     Resíduos Infectantes

Os resíduos infectantes são um dos grupos de Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) (ABNT, 1993). Os RSS são os provenientes de qualquer unidade que execute atividades de natureza médico-assistencial humana e animal, centros de pesquisa, desenvolvimento ou experimentação na área de farmacologia e saúde; medicamentos e imunoterápicos vencidos ou deteriorados e aqueles provenientes de necrotérios, funerárias, serviços de medicina legal e barreiras sanitárias (BRASIL, 2001; BRASIL, 2004).

Atualmente, os resíduos infectantes gerados nos laboratórios de ensino, pesquisa e de serviços da FCF compreendem 21% do total de resíduos gerados. Nas unidades geradoras, se dá a segregação e o acondicionamento desta classe de resíduos para posterior tratamento e descarte.

Os resíduos infectantes são tratados por processos que visam transformar as características iniciais dos resíduos, com a finalidade de reduzir ou eliminar a carga microbiana e o risco de causar doença (HIRATA, 2003b). Na figura 2 encontra-se o fluxograma da rotina de descarte dos RSS.

 

 

 

Figura 2 – Fluxograma de procedimentos de descarte de resíduos infectantes.

 

5.1.4     Resíduo sólido comum

Os resíduos sólidos gerados na FCF são manuseados e descartados de acordo com o plano de gerenciamento dos resíduos dos serviços de saúde (PGRSS), que contêm instruções para o manuseio, tratamento, acondicionamento e descarte de resíduo sólido comum. Atualmente, 11% dos resíduos totais gerados na FCF consistem de material reciclável.

As orientações sobre o manejo de resíduo sólido, que inclui o resíduo orgânico e o material reciclável, estão dispostas no PGSA “Gerenciamento de Resíduos Diversos” (HIRATA, 2003a). Este procedimento aplica-se a todos os setores da FCF e tem por objetivo identificar, planejar e assegurar que todas as etapas do processo de armazenamento e destinação final de resíduos diversos sejam executadas de forma a garantir a conformidade com os requisitos estabelecidos. Na figura 3, encontra-se ilustrado o fluxograma do procedimento de descarte de resíduo orgânico e reciclável.

 

Figura 3 – Procedimento de descarte de resíduo orgânico e reciclável.

 

5.2     Atividades da Comissão FCFUSP Recicla

Com a finalidade de reduzir o impacto ambiental dos resíduos gerados e de atender ao disposto no plano de metas do Sistema de Gestão Ambiental da FCF (FCF/SGA, 2007), a Comissão FARMA Recicla tem procurado implementar medidas e ações que visam minimizar a produção de resíduos sólidos através da aplicação dos princípios dos 3Rs (redução, reutilização e reciclagem) (SATO, 1999; USP, 2007). Os programas de coleta seletiva tem sido implementados em diversos tipos de empresas e instituições privadas e governamentais. São importantes instrumentos de reflexão sobre os valores humanos e sociais que contribuem para conscientização ambiental (GRIMBERG; BLAUTH, 1998).

Em 2003, foi proposta a implantação do programa de coleta seletiva na FCF com a finalidade de reduzir a geração de resíduos e de separar e recolher, desde o ponto de geração, dos materiais potencialmente recicláveis (USP, 2007). Este programa contou com o apoio institucional para a aquisição de lixeiras para a adequada segregação de material reciclável nas dependências da FCF.

O Programa de coleta seletiva na USP foi instituído oficialmente, em 2007, com o estabelecimento de um convenio entre a USP e a Prefeitura da cidade de São Paulo. Atualmente este programa tem em cada unidade um gestor que é responsável por organizar o diagnóstico do lixo, monitorizar a coleta seletiva e propor ações para o aperfeiçoamento do programa na unidade.

A Comissão FARMA Recicla tem realizado diversas atividades de orientação com ênfase no gerenciamento mais adequado dos resíduos gerados na FCF de modo a reduzir os riscos ocupacionais, sanitários e ambientais. A Educação ambiental tem sido um dos temas chaves dessas atividades com a finalidade de estimular a conscientização da comunidade FCF para as questões de segurança ocupacional e ambiental (Gonçalves et al., 2003a; 2003b).

As ações e intervenções da Comissão FARMA Recicla tem se pautado em três eixos temáticos propostos pelo Programa USP Recicla, a saber: Comunicação e Divulgação, Educação Ambiental e Tecnologia (gestão de resíduos). As atividades realizadas pela Comissão FARMA Recicla desde 2002 encontram-se relacionadas na Tabela 1.

O monitoramento de ações e repercussões do programa de gerenciamento de resíduos sólidos na FCF foi avaliado em 2006 (GONÇALVES et al., 2006). De 2002 a 2006, foram realizadas 22 atividades de divulgação e comunicação, atingindo 5416 pessoas e 5 apresentações de trabalhos em congressos. Foram realizadas 19 atividades de educação ambiental para um público de 713 pessoas, com total de 13238 horas, destacando-se o treinamento sobre Manuseio Correto dos RSS. Foram também implantadas a infra-estrutura, a operacionalização e a manutenção do Programa de Coleta Seletiva. Com base nos resultados obtidos, concluiu-se que a implantação do programa de gerenciamento de resíduos contribuiu para a promoção das boas práticas no manuseio, descarte e minimização dos resíduos gerados na Instituição, e a mudança pessoal de comportamento visando à saúde ocupacional e ao desenvolvimento sustentável.

 

Tabela 1. Ações e intervenções da Comissão FARMA Recicla

 

Eixos Temáticos

 

Comunicação e Divulgação

Ações

Comunicar e divulgar temas relacionados com a gestão de resíduos e gestão ambiental no Informativo FCFUSP.

Divulgar o Programa USP Recicla na Semana de Recepção aos Calouros.

Organizar e realizar o Encontro Anual da FARMA Recicla.

Participar em eventos científicos sobre gestão ambiental e gerenciamento de resíduos.

Intervenções

Criação do Logo da Comissão FARMA Recicla;

produção de materiais (marcador de página, folhetos sobre resíduos infectantes, princípio dos 3Rs e outros);

realização de encontros anuais da FARMA Recicla e Feiras da Barganha;

campanhas de minimização de resíduos e reutilização de materiais;

atividades durante a semana de recepção dos calouros;

publicação de textos (Espaço FARMA Recicla) no Informativo FCF; apresentação de trabalhos, em eventos científicos, sobre as ações pró-ambientais.

 

Educação ambiental

Ações

Planejar e realizar cursos e treinamentos em gestão de resíduos e coleta seletiva.

Intervenções

Palestras e filmes sobre a preservação do meio ambiente;

apresentação de filmes com conteúdos de educação ambiental;

cursos e treinamentos sobre “Práticas seguras no manuseio e descarte de resíduos de laboratório”, “Coleta seletiva e manejo com resíduos de serviços de saúde na FCFUSP”, e outras.

 

Tecnologia

Ações

Aperfeiçoar e monitorar o programa de coleta seletiva na FCFUSP.

Auxiliar no processo de gerenciamento dos resíduos dos serviços de saúde (RSS).

Intervenções

Diagnóstico do lixo;

implantação da coleta seletiva;

adoção de canecas duráveis;

projeto “Dissertações e Teses ecologicamente corretas”, em parceria com a Comissão de Pós-Graduação;

elaboração de procedimentos de gestão ambiental para o SGA.

Fonte: FARMA Recicla (2007).

 

Uma contribuição importante do Programa USP Recicla é a campanha de uso de canecas duráveis, com a finalidade de reduzir o consumo de copos descartáveis. Esta campanha se estende a docentes e funcionários e alunos de graduação da FCF, desde 2004, e a alunos de pós-graduação desde 2007.

Um estudo recente avaliou a o consumo de copos descartáveis de 2002 a 2007 e a percepção sobre a utilização de canecas duráveis na FCF (Migliorini et al., 2007). Em 2002, 757 centos de copos de café e 1956 de água foram consumidos. Comparado com 2002, houve 24% de redução no consumo de copos descartáveis em 2003 e 59%, 56% e 50% nos anos de 2004, 2005 e 2006, respectivamente, como apresentado na figura 4. A pesquisa de opinião foi feita por entrevista com 135 pessoas, entre servidores, professores, pós-graduandos e alunos de graduação. Observou-se que 47% dos entrevistados utilizam a caneca durável, principalmente alunos de graduação. A implementação das canecas duráveis foi considerada boa estratégia de conscientização ambiental por 71% dos entrevistados. Os resultados desse estudo mostraram que a campanha de utilização de canecas duráveis teve um impacto significativo no consumo de copos descartáveis e teve boa aceitação pela comunidade FCF.

Figura 4 - Consumo de copos descartáveis.

5.3     Contribuição do Programa PURA

O Programa de Uso Racional de Água (PURA) monitora o consumo de água per capita na USP. A implantação do Programa PURA na FCF não só resultou em queda no consumo logo após as intervenções estruturais e operacionais do Programa, realizadas nos anos de 1998 e 1999, como resultou também na manutenção e ampliação dos patamares reduzidos de consumo de água na unidade.

Da intervenção do programa PURA pode-se observar que no primeiro período avaliado, de 1998 a 2001, registrou-se uma queda de 73% no consumo per capita, de 210 para 57 l/pessoa/dia (2º semestre). Vale registrar, porém, que pesam nesta redução a falta de dados de setorização, o que implicou a adoção de uma porcentagem do consumo da ligação de tarifação que abastece o Conjunto das Químicas como sendo relativo aos blocos da FCF (exceto o 13b). Como o sistema de reservação deste Conjunto apresentava uma elevada perda de água, antes da implementação do pura-usp, este fato teve influência nos valores per capita e no aumento de sua queda para patamares além dos decorrentes da eliminação de vazamentos internos aos blocos e substituição de equipamentos.

No período seguinte, de 2002 a 2006, por outro lado, considerou-se como consumo da FCF a somatória dos consumos reais da ligação de tarifação do bloco 13b e das ligações de setorização dos demais blocos. Neste período, o consumo per capita tem se mantido entre cerca de 25 e 40 l/pessoa/dia (com exceção dos valores extremos anteriormente justificados).

Vale registrar que, conforme pesquisas realizadas no campus, as Unidades que apresentam uma tipologia de uso semelhante à FCF - misto de laboratorial e humano - têm apresentado indicadores de consumo de cerca de 50 l/pessoa/dia, estando a FCF, portanto, abaixo deste valor.

Esses dados indicam a efetiva participação da FCF no programa PURA, contribuindo para a gestão contínua da demanda de água, a conscientização dos usuários na preservação dos recursos naturais e o comprometimento institucional com o uso racional da água.

 

5.4     Contribuição do Programa PURE

O Programa Permanente para o Uso Eficiente de Energia Elétrica (PURE) visa a conscientização da comunidade universitária com relação ao uso racional de energia elétrica. Esta ação se dá através de palestras e distribuição de material sobre o programa na FCF por intermédio do gestor PURE.

O PURE tem um sistema de monitoramento de energia elétrica predial denominado SISGEN. A implementação deste sistema permite verificar o comportamento de consumo de energia elétrica nas unidades universitárias e seu impacto no consumo total do campus universitário (CUASO) da capital. Na figura 4, são apresentados os perfis de consumo de energia elétrica dos prédios da FCF, nos anos de 2004 a 2007.

Pode-se observar que o consumo de energia elétrica da FCF se manteve constante durante o período analisado e representou 2,3 a 2,5% do total de energia elétrica consumido pela USP-campus capital. Não houve variação significativa no perfil de consumo energético entre os conjuntos de prédios da FCF. Esta característica de “congelamento” foi também observada nas demais unidades da USP, o que comprova que as ações conjuntas desenvolvidas entre o PURE e a FCF vêm sendo bem sucedidas.

 

Figura 4 – Perfil de consumo de energia elétrica da unidade em relação ao consumo total do campus universitário.

 

Atualmente a FCF consome 2,4% do total de energia elétrica consumida pelo campus, o que corresponde a um gasto mensal, para a USP, de aproximadamente R$ 37.000,00.

Neste sentido, o PURE continua gradativamente expandindo suas atividades junto às Unidades, buscando obter resultados positivos para a Universidade e contribuindo com a sociedade no sentido de ajudar a constituir uma consciência racional sobre o uso adequado dos recursos do nosso planeta, contando com o apoio da FCF.

 

6.     Conclusão

Os resultados deste estudo permitem concluir que a implementação dos programas USP Recicla, PURA e PURE tem sido bem sucedidas na FCF. O programa USP Recicla têm contribuído para a conscientização ambiental e o estabelecimento de procedimentos que permitem a gestão mais adequada de resíduos sólidos na FCF. Com o apoio da Direção e de outras comissões da FCF, as intervenções da Comissão FCF têm estimulado a redução do consumo e a reutilização de materiais, assim como sua reciclagem, de acordo com os princípios dos 3 Rs, nos quais o programa USP Recicla se pauta. Os programas PURE e PURA tem importante papel para o uso racional de água e de energia elétrica na FCF. Portanto, ações integradas destes três importantes programas da USP têm contribuído para a minimização do impacto ambiental e o estimulo ao desenvolvimento sustentável na universidade.

 

7.     REFERÊNCIAS bibliográficas

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Obs: Trabalho apresentado no I Encontro Latino Americano de Universidades Sustentáveis – ELAUS.

Ilustrações: Silvana Santos