Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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13/03/2010 (Nº 31) Processos erosivos e seu impacto socioeconômico: um estudo no contexto ambiental no bairro Jacu, município de Açailândia-MA.
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Processos erosivos e seu impacto socioeconômico: um estudo no contexto ambiental no bairro Jacu, município de Açailândia-MA.

 

 

                                                                                Zilmar Timoteo Soares*.

Licenciado em Biologia Pela Universidade Estadual do Maranhão, e Doutor Em Educação Pela Wisconsin International University USA. zilmarsoares@bol.com.br

          

                                                                    Hallan   Jefferson Santos Nobre.

 Licenciado em Biologia pela Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão, hallanjjefferson@hotmail.com

 

                                                                         Jorge Augusto Silva da Silva

 Licenciado em Biologia pela Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão, . jorgeaugusto@hotmail.com

 

 

RESUMO

 

O presente estudo relata através de pesquisa os processos erosivos e os impactos sócio-econômicos gerados no bairro Jacu, no município de Açailândia-MA, Brasil. O município de Açailândia está entre as cidades do país que mais sofre problemas ambientais (deslizamentos, assoreamento, escoamento superficial), tal fato justifica um estudo aprofundado dos fatores que predispõem o bairro Jacu, em destaque, uma das áreas mais afetadas do município de Açalândia. Assim, objetivou-se analisar os fatores causadores dos processos erosivos com intuito de informar a população e os órgãos competentes para que se tomem medidas que amenizem a degradação crescente que assola o bairro.  Como metodologia utilizou-se o estudo teórico aliado a pesquisa in locu, analisando o grau impactante no bairro através de entrevista com moradores e estudo analítico das condições ambientais, utilizando-se de máquina fotográfica e computador. Investigar as alterações no ambiente, apresentando soluções para o impacto ambiental e socioeconômico.

 

Palavras-chave: Erosão - Impacto socioeconômico - Deslizamento.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A questão ambiental representa na atualidade uma das temáticas mais discutidas pela humanidade. Esse fato se deve fundamentalmente pelas formas de desenvolvimento geradas pelo homem, que passa a ver a natureza como fonte de recursos inesgotáveis, no entanto, o uso indiscriminado dos recursos naturais é responsável por alterações irreversíveis no meio ambiente, seja ele urbano ou rural.

O crescimento desenfreado da população mundial fez com que houvesse necessidade de mais áreas para habitação e produção de alimentos. A devastação de áreas para agricultura apresenta como um dos fatores que pressiona a exploração desordenada do meio ambiente contribuindo para a degradação da fauna de flora. De acordo com Corrêa (1995), é lamentável que o homem desrespeite a capacidade de suporte das terras, não levando em conta os seus fatores limitantes, favorecendo a agressão ao meio ambiente das mais variadas formas.

Atualmente estudar formas de amenizar as ações antrópicas no meio ambiente é questões discutidas em todo mundo. Harmonizar a convivência do homem com o meio ambiente fez com que várias áreas do conhecimento fossem desenvolvidas e criadas, de modo que a sustentabilidade e preservação sejam posto em foco principal da nova era.

Partindo do pressuposto que diversos impactos gerados ao meio ambiente tem refletidos sobre a qualidade vida do homem focaliza-se os processos erosivos em meio urbano como objeto de estudo deste trabalho, pois estes são reflexos do crescimento desordenado da população sem estudo prévio dos impactos ambientais gerados que se reflete em problemas sócio-econômicos e ambientais configurando em causas sociais que prejudicam a qualidade de vida da população.

No município de Açailândia-Ma, o risco de erosão está associado à topografia irregular, à condição geológica de formação sedimentar, a precipitação na estação chuvosa, ao aprofundamento dos canais abertos pelo esgoto e a inadequada dos cortes de ruas. Sendo assim, pequenas ravinas evoluem para voçorocas de grandes dimensões, causando desastres, como a derrubada de casas, que se ampliam a cada estação chuvosa Soares, (2008).

No período chuvoso um grande escoamento superficial acomete a área urbana em decorrência das características da topografia e relevo, assim como, altos índices pluviométricos na região. Esse fenômeno causa alguns problemas sociais urbanos como desmoronamento de residências e algumas marcas físicas no terreno resultante do processo erosivo como é o caso das voçorocas.

Relacionando as ações antrópicas, Açailândia passou por um processo acelerado de devastação de suas florestas sem estudo prévio que ocasionou o processo erosivo em todo o município, quer seja na zona rural como na zona urbana.

Observando à zona urbana, o processo parece ser mais destruidor devido ao intenso fluxo migratório na época da formação da cidade, que criou espaços bem diferentes num contexto social.

As periferias são povoadas de pessoas de pequena formação no que diz respeito à retirada da vegetação das encostas dos morros, assim como, a delimitação das áreas de construção de suas causas.

Outro problema que atinge o município de Açailândia está no assistencialismo que tem sido um empecilho na solução dos problemas sociais e ambientais. Esse problema é causado pelos os administradores e o empresariado local que distribuem lotes aos segmentos menos favorecido da população com fins eleitoreiros, lotes em locais sem nenhuma estrutura urbana, assim surgem vários bairros em locais inadequados, causando prejuízos para o meio ambiente e para a população. Estes problemas vêm acontecendo desde ano de 1999, devido às fortes chuvas, à falta de manutenção das ruas, ao acúmulo de lixo e aos esgotos a céu aberto.

Diante desses problemas despertou o interesse de investigar esta situação, objetivando conhecer os processos erosivos e seu impacto socioeconômico que atinge a população do bairro jacu, bem como chamar a atenção das autoridades competentes para a situação dessas áreas, colocando em risco a vida da população.

A metodologia aplicada nesta pesquisa ocorreu em duas etapas. Estudo teórico e pesquisa de campo. Para o estudo teórico foram utilizados documentos, livros, artigos e sites que relatam os problemas ambientais e geomorfológicos que promovem os processos erosivos no bairro Jacu do município de Açailândia-MA, sendo estes analisados e sintetizados para compor os resultados.

Na pesquisa campo foram utilizados questionários, direcionados à população local, com pergunta abertas e fechadas, procurando conhecer os problemas ambientais, correlacionando-os com os problemas socioeconômicos, análises das questões ambientais e estudo do impacto ambiental causado pelo aumento da população.

Na história da evolução do homem, com o domínio das técnicas agrícolas, o homem descobriu como cultivar o solo e criar animais. A postura nômade passa a se caracterizar pelo sedentarismo, fazendo com que este pudesse se fixar num determinado ambiente, o impacto sobre a natureza começou assim, aumentar gradativamente: alterações nas cadeias alimentares, as queimadas, a poluição do solo, do ar e da água lima & Gusmão & Miranda, (2007).

A sedentarização do homem e o surgimento das primeiras cidades, a população humana passou a crescer mais ainda, assim os impactos sobre o meio ambiente eram lentos e localizados.

 

 

[...] o limiar entre o homem submisso à natureza e senhor dela é marcada pela Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX. Nunca até então, o homem tinha reunido tamanha capacidade de transformação da natureza e os impactos ambientais passaram a crescer aceleradamente chegando a provocar grande desequilíbrio na escala global (Sene, 1994, p. 381 apud Lima; Gusmão; Miranda, et al., 2007, p. 14).

 

 

Com o crescimento da população mundial o aumento de áreas para habitação e a produção agrícola, apresentaram fatores que propuseram a exploração desordenada das terras e contribui para a degradação do solo.

De acordo com Corrêa (1995), tal fato se justifica com o desrespeito do homem a capacidade de suporte das terras, desconsiderando o suporte biológico e seus fatores limitantes, favorecendo a agressão ao meio ambiente das mais variadas formas.

Os constantes conflitos que ocorrem entre o uso potencial e adequado e o uso efetivo das terras trazem como conseqüências o declínio da produtividade e o desgaste provocado pela erosão Furtado & Oliveira & Pereira, (2000).

Pedron et al., (2008) aponta que a erosão trata-se de um fenômeno resultante da desagregação, transporte e deposição ou sedimentação das partículas contidas no solo proveniente da atividade da chuva e/ou do vento.

Desenvolvimento que significa ato de crescer, progredir, não deve ser entendido necessariamente como crescimento ilimitado, uma vez que os ecossistemas têm seus limites para fornecer energia a esse crescimento. A crise em que, atualmente vive a sociedade, é causada pelo modelo de desenvolvimento vigente, crise eco-ambiental, ou seja, ecológica (saturação das bases dos recursos naturais) e ambiental (saturação da capacidade de recuperação do meio natural) e ecopolítica, diretamente relacionada com os sistemas institucionais e de poder para a distribuição e o uso dos recursos naturais.

As preocupações ambientais não são ficção científica, mas sim um perigo real que aumenta a cada dia. Qualquer dano ambiental que ocorre num ponto da terra acaba por afetar todo o planeta. Os números da degradação ambiental são simplesmente alarmantes, não são exagerados e nem são produtos de mentes pessimistas, mas um fenômeno mundial crescente Barbieri, (1996).

Cerca de 10% das terras potencialmente férteis do planeta já se converteram em desertos, e outros 25% estão em processo de desertificação. Todos os anos são perdidos oito milhões e meio de hectares por causa da erosão e sedimentação. Mais de vinte milhões de hectares de florestas tropicais são devastados todos os anos AGENDA 21, (1992).

A ordem econômica internacional é hoje desnivelada e injusta, e por isso destrói os sistemas ecológicos e as sociedades que deles dependem. Existe, assim, uma ligação direta entre as políticas econômicas e o empobrecimento ambiental e humano, que provoca uma desigualdade cada vez maior entre a qualidade de vida nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. Uma das principais causas da deterioração ambiental é a ordem econômica vigente no mundo, pois hipoteca o caráter sustentável do planeta Barbieri, (1996).

Os atuais modelos de desenvolvimento não podem durar muito tempo, havendo um tipo para os países ricos e outro, muito deferente, para países pobres. Esses modelos de desenvolvimento deveriam mudar no mundo inteiro, uma vez que o sistema econômico internacional criado pelos países industrializados forçou os países em desenvolvimento a optarem por um modelo inapropriado, em que muitas pessoas partilham de poucos recursos, e poucas pessoas monopolizam a maioria dos recursos naturais.

De acordo com Naves (2001), os economistas neoclássicos, abandonaram as preocupações com o longo prazo e limitaram-se a análise de alocação de bens e serviços no curto prazo, restringindo a teoria às mercadorias escassas e as quais o mercado atribuía preço. O mesmo autor observa ainda, que o conceito de externalidade formulado por Pigou, em 1920, só foi associado à questão ambiental em anos mais recentes, quando a qualidade do ambiente se agravou e quando os custos de despoluição começaram a assumir valores significativos.

Segundo Naves (2001), a partir de 1950 alguns economistas, na crítica aos resultados do crescimento econômico, passaram a introduzir reflexões sobre a problemática ambiental e desenvolveram análises que tratavam endogenamente o meio ambiente e os recursos naturais.

Para Barbieri (1996), o modelo que produziu os estilos de vida do mundo industrial e gerou uma minoria privilegiada nos países em desenvolvimento é insustentável. A ECO-92 centralizou seu enfoque em mudanças no comportamento econômico mundial, com o objetivo de garantir a segurança ambiental do Globo.

Açailândia é um município do estado do Maranhão, que surgiu na década de 60, com a construção da rodovia BR-010. Foi fundada em 1981 tem uma população de 106.357 habitantes, segundo os dados de 2006 do (IBGE). Sua densidade demográfica alcança 18,3 habitantes por Km², com área de 5.806.307 km², com um clima equatorial e fuso horário UTC-3. Tem Índice de Desenvolvimento Humano de 0,666 PNUD, de acordo com os dados de 2000 do IBGE; PIB de R$ 822.233.823,00, dados de 2003, PIB per capital de R$ 8.382,27, dados de 2003.

Iniciou suas atividades econômicas com a extração da madeira, atualmente, o comércio, a indústria moveleira, o pólo siderúrgico, a agricultura e a pecuária são as principais atividades econômicas Soares, (2005).

 

 

           Figuras 01e 02: Início do desenvolvimento do município de Açailândia-MA

         Prefeitura de Açailândia 2008

 

A partir de então o desenvolvimento do município, baseou-se na exploração extrativista de madeira fazendo com que, várias empresas e indústrias viessem para o município. As primeiras indústrias a se instalarem foram a Usina Canguru e Serraria Pica-Pau no ano de 1962 Soares, (2005).

Nos anos 60, Açailândia cresceu rapidamente. A ocupação desordenada, corte das florestas e a industrialização mudaram a paisagem e trouxeram problemas. Um deles foi erosão que assume proporções dramáticas, as imensas voçorocas vêm avançando contra as ruas e casas e ameaçando boa parte do espaço urbano. As tentativas de controle, feitas pela prefeitura de forma centralizada, não surtiram efeito, indicando que a solução requer nova estratégia, baseada em estudos da origem e natureza do processo erosivo e na adoção de uma gestão urbana compartilhada entre autoridades e a população.

Percebeu-se que o risco de erosão está associado à topografia irregular, à condição geológica de formação sedimentar, a precipitação concentrada na estação chuvosa, ao aprofundamento dos canais abertos pelo esgoto a céu aberto e à orientação inadequada dos cortes de ruas. Pequenas ravinas evoluem para voçorocas de grandes dimensões, causando desastres, como a derrubada de casas, e ampliando a cada estação chuvosa o número de desabrigados Soares, (2008).

O primeiro desses desastres ocorreu em 1981, quando 32 famílias tiveram suas casas destruídas e foram transferidas para uma área denominada de Vila Tancredo. Em 1989, ampliada por ‘invasões’, essa vila também já sofria com a erosão. As invasões de terras urbanas estão na maioria dos bairros ou vilas, como partes da vila Tancredo (1985), a Vila Ipiranga (1986) e a Vila Bom Jardim (1988) Santos, (1999).

Em 1994, após intensas chuvas, os problemas erosivos na periferia da cidade se intensificaram: as voçorocas cresceram, avançando mais sobre ruas e casas, até atingir grandes dimensões. Nos bairros periféricos, essas voçorocas servem, muitas vezes, como depósitos de lixo e área de lazer para as crianças.

Além de constituir um problema social sério, as voçorocas afetam o precário abastecimento de água de Açailândia, já que a forte erosão transporta grande carga de sedimentos para os dois cursos d’água – o rio Jacu e o córrego Boa Esperança – que circundam a cidade.

Já o assoreamento, surgiu há pelo menos 20 anos, quando as serrarias começaram a derrubar a floresta exuberante existente nas bordas do planalto cortadas pelos dois cursos d’água. Os locais desmatados serviam como áreas de moradia para a mão-de-obra barata dessas indústrias, sem nenhuma infra-estrutura básica.

Em Açailândia, o assistencialismo tem sido um empecilho à solução dos problemas sociais e ambientais. A administração e o empresariado local distribuem lotes a segmentos menos da população, com fins eleitoreiros. Surgiram assim as Vilas Capelosa, no final dos anos 80, e em época recente a Vila Ildemar.

Hoje na Vila Ildemar, 12 anos após a sua criação, há pelo menos 25.000 casas dispostas em ruas bem planejadas, terreno plano, mas já apresenta sinais de ravinas profundas impedindo o tráfego de ônibus e carros pequenos na maioria das ruas .

Este problema vem acontecendo desde ano de 1999 devido às fortes chuvas e a falta de manutenção das ruas. O acúmulo de lixo e os esgotos a céu aberto também contribuíram para ao aparecimento das ravinas.

A cobertura vegetal original é oriunda de mata ombrófila (árvores de mesma altura), reduzia a velocidade do escoamento superficial. A floresta atenuava os efeitos dos agentes diretos de formação de ravinas e voçorocas, também limitadas pela formação de húmus, que garantia a estabilidade do solo ao elevar o teor de agregados. A vegetação original está descaracterizada: o corte de espécies de valor econômico, as derrubadas para a formação de pastagens, o avanço da agricultura e a produção carvoeira mudaram a paisagem Soares, (2008).

O clima é marcado por temperaturas altas e um regime tropical de chuvas, com uma longa estação seca e outra com chuvas abundantes, concentradas nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril. Essa concentração leva à formação de crostas na superfície do solo, que aumenta o volume e a velocidade do escoamento superficial. A composição sedimentar do solo, o excesso de chuvas em poucos meses e a retirada da cobertura vegetal tornaram o relevo altamente suscetível à erosão Soares, (2008).

O bairro Jacu localizado na região noroeste da periferia da cidade de Açailândia, surgiu na década de 80, está próximo dos limites periurbanos da cidade, iniciando-se às margens da Rodovia Belém-Brasília. Apresentam-se com inúmeros pontos indicativos do desordenamento ambiental, como presença de moradias próxima da mata de galeria, depósitos do lixo e muitas áreas degradadas com presença de ravinas e voçorocas.

O bairro inteiro não apresenta rede de esgotos. Dessa forma, as ruas apresentam-se continuamente irrigadas por canais de esgotos a céu aberto que provocam mau cheiro que pode contribuir para provocar doenças e afetar no aspecto sócio-econômico.

Baseado nos dados da FUNASA (1992 apud Pedron et. al., 2008) a disposição do lixo e o esgoto urbano são vetores para propensão de doenças, como ancilostomíase, ascaridíase, amebíase, cólera, disenteria bacilar, esquistossomose, estrongiloidíase, febre paratifóide, salmonelose, teníase e muitas outras.

O riacho Açailândia passa nas proximidades do bairro, sendo que, nas ruas Juazeiro, Uruguai e Gonçalves Dias, corre próximo ao fundo das casas. O mesmo recebe uma quantidade considerável de lixo e esgoto provenientes das residências.

A maioria da população residente no bairro é de baixa renda, sendo que, muito vieram em busca de moradia barata, por causa da oportunidade de ganhar um terreno e ter sua casa própria

Ao estudar a degradação ambiental ocorrida pelo escoamento superficial e a erosão no bairro Jacu, in locu foram selecionadas aleatoriamente algumas áreas afetadas. Fez-se uso de GPS (Modelo Garmin E-trex) e câmera digital (Sony S70) para fotografar e marcar os pontos com coordenadas geográficas no intuito sistematizar a pesquisa.

Os pontos selecionados estão entre as partes mais afetadas pelo processo erosivo, nas ruas e encostas dos córregos. Também foram vistos áreas de deslizamentos e construções impróprias, características de um crescimento desordenado do bairro, como também, áreas afetadas pelo problema do lixo e o assoreamento.

Por fim, foram pesquisados moradores locais, selecionados de modo aleatório fazendo de uso de um questionário com 10 perguntas com opções pré-estabelecidas onde se buscou analisar a interação dos mesmos com os problemas sócio-ambientais do bairro correlacionado com os problemas socioeconômico.

Buscou-se na pesquisa enfatizar as interações da comunidade do bairro Jacu com os impactos ambientais gerados em toda região. Pois o mesmo está listado como uma das regiões urbana mais propensa a deslizamento.

É sabido que as características da região como: solo, relevo, recursos hídricos e vegetação, estão intimamente relacionados às causas do processo erosivo. Pode-se considerar que a fragilidade dos solos frente às características do relevo, torna a região diretamente dependente da vegetação de cobertura.

O crescimento desordenado em áreas urbanas pode implicar em modificações importantes no ecossistema natural. A falta de técnica de construção adequada aliada a ocupação sem planejamento, estão entre as principais causas.

A interação da comunidade local sobre a fragilidade no equilíbrio deste ambiente pode estar associada aos constantes problemas que assolam o bairro Jacu.

 

Figuras 03 e 04 Construções impróprias favorecendo desmoronamento, (bairro Jacu).

   

Fonte: Halan e Jorge

 

A falta de fiscalização dos órgãos ambientais também favorece o livre crescimento populacional sobre estas áreas, causando riscos ao ambiente e a própria população.

O crescimento em áreas, vistas como não propícias, estão associados aos fatores socioeconômicos e educacionais, pois a população de baixa renda influenciada pela gratuidade ou baixos custos nas terras distantes dos centros urbanos vão a buscas de áreas.

A criação do bairro Jacu, em uma área próxima do centro urbano, foi diretamente influenciada pela política local com a doação de loteamentos para população de baixa renda em troca de favores político. Foram esses fatores, que ocasionaram a instalação de moradias e empreendimentos que diante a legislação ambiental seriam inviáveis a implantação.

Como observado na Figura 03, às casas e atividades como suinocultura foram instaladas as margens do riacho Açailândia e Jacu. Como se sabe, estas ações aliado outras práticas como lavagem de roupa, retirada da vegetação propiciam o assoreamento e contaminação dos recursos hídricos.

Foi observado que a prática da construção de casa em loteamento com alta inclinação é comum em todo bairro. As características do solo na região mostram-se frágeis e diretamente dependentes da vegetação que retém com suas raízes as camadas superficiais evitando o deslizamento. Conforme Costas e Jungman (2008) o surgimento de ocupações irregulares aumenta a possibilidade de deslizamentos de terras.

Segundo Pedron et al. (2008), áreas de encosta dependem da presença da vegetação, pois estas protegem o solo da ação da chuva, favorecendo a penetração da água no solo e assim promove a união das partículas tornando-o resistente a erosão.

No entanto, na Figura 04 é observado à transformação do meio pela urbanização, não há proteção alguma sobre o solo favorecendo na região um alto grau de perigo para deslizamentos.

 

Figuras 05 e 06: Voçorocas distribuídas por ruas da cidade, (bairro jacu).

     

Fonte: Halan e Jorge

 

A compactação do solo, devido às atividades urbanas, fragiliza as ruas do bairro na absorção da água, tal ação ocorre durante as chuvas, fortes enxurradas que arrastam todo o solo provocando o aparecimento de ravinas e voçorocas, em áreas onde há maiores inclinações no bairro.

Pedron et al. (2008, p.9) afirma que “a falta de planejamento urbano e cumprimento da legislação vigente favorecem a excessiva impermeabilização da superfície urbana pelo revestimento de terrenos e/ou pela compactação dos solos”.

A Figura 05 mostra que não há nenhuma estrutura criada para conter estes problemas ambientais, como asfalto, esgoto, sistema de drenagem ou condutor da água proveniente das chuvas. Isto torna as ruas intrafegáveis durante o período chuvoso.

A Figura 06 mostra que o problema do lixo em terrenos baldios no bairro é comum, práticas culturais associadas à falta de conscientização ambiental por parte da população local, fazem com que outros agravantes tornem a qualidade de vida cada vez mais degradante. É visto que a população também faz uso do lixo para conter as “crateras” e que ainda existem casas habitadas nas suas proximidades.

 

 

Figuras 07 e 08: Retirada da vegetação gerando assoreamento e deslizamento de terra, (bairro Jacu)

    

Fonte: Halan e Jorge.

 

 

Os deslizamentos são causados pelo assoreamento, pela fragilidade do solo que não possui cobertura vegetal desencadeando problemas tanto para o meio ambiente quanto para a população.

As Figuras 07 e 08 mostram que o problema é algo comum no bairro Jacu, fato que vem ocorrendo por não haver um planejamento urbano associado a falta de leis ambientais, colocando em risco a população que muitas vezes desconhece os problemas futuros que terão de   enfrentar.

Anualmente, um número cada vez maior de moradores do bairro Jacu, são obrigados a saírem de suas casas para não ser soterrado pelos deslizamentos (Figura 07) ou mesmo desabarem pela perda do solo (Figura 08), evidencia-se uma falta de comprometimento do município na implantação de políticas ambientais preventivas para população.

Algumas medidas podem ser eficazes na redução dos riscos de deslizamentos, como a preservação da vegetação nas encostas, a implantação de rede de esgoto, construção de canaletas, coleta regular do lixo, não construir nas encostas, colocar lonas plásticas nos paredões no período de chuva e proteger as barreiras com a plantação de gramínea.

 

Figura 09: Canaletas de escoamento.

Fonte: Halan e Jorge.

 

As estruturas criadas pelo município são paliativas, frente aos problemas ambientais causados pelo assoreamento, de modo, que põe o município em evidencia diante dos problemas ambientais. 

O trabalho de campo foi realizado para enfatizar as causas ambientais ocorridas no bairro associando as interações antrópicas e ao fator educativo da comunidade.

As entrevistas foram realizadas aleatoriamente em vários pontos do bairro Jacu priorizando as áreas mais afetadas pela erosão. Foram pesquisados 28 morados, que responderam questões relacionadas aos aspectos ambientais, socioeconômico, moradias e político

 

                    

Gráfico 01: Tempo que reside no bairro.

Fonte: Halan e Jorge

 

 

Verificou-se que a grande maioria (71,4%), já mora há mais de 5 anos no local, 28,6% estão a menos de 5 anos, (35,7%) há mais de 10 anos. Assim, foi possível conhecer de perto os problemas mais comuns do bairro, que vem deste a situação precária do ambiente as condições socioeconômicas.

 

 

Gráfico 02: Condições de obtenção dos lotes.

Fonte: Halan e Jorge

 

Analisando os aspectos que levaram a busca de moradia no local, detectou-se que, 21,4% dos moradores, principalmente os mais antigos, obtiveram o lote através de doação na década de 80, 21,4% conseguiram os lotes ou casas devido ao baixo custo e está próximo ao centro da cidade, (57,1%) não respondeu que motivos levaram a escolher o bairro como moradia. Observou-se que a população de baixa renda busca uma moradia própria mesmo em condições precárias correndo o rico de soterramento.

 

Gráfico 03: Retirou a vegetação nativa para construir.

Fonte: Halan e Jorge.

 

Analisando o gráfico 03, 28,6% dos moradores ainda tiveram que desmatar a vegetação nativa próxima ao rio que corta o bairro, tanto para limpeza do lote quanto para o aproveitamento da madeira. Já os demais (71,4%), responderam já terem obtido o lote com a área limpa, todavia observou-se in locu que estes moradores permanecem no centro do bairro e/ou adquiriram as casas de terceiros através de compras.

Diante desse resultado, fica claro que os habitantes do bairro não estão preocupados com os problemas ambientais, mesmo que estes lhes tragam prejuízos. Isso ocorre, porque o nível de escolaridade é baixo, as condições socioeconômicas são degradantes e a facilidade de deslocamento para o centro da cidade.

Outro fator social observado na escolha do bairro é a aproximidade que ele tem com a BR 010 (Belém Brasília), facilitando assim, a venda de drogas para as pessoas que trafegam na BR. As condições geográfica do bairro que impossibilita a entrada da policia facilitando a criminalidade.

 

 

Gráfico 06: Atuação do município no combate a erosão

Fonte: Halan e Jorge

 

Segundo os moradores (100%), não há um programa da prefeitura para resolver o problema. Os administradores públicos só aparecem no bairro no período de eleição, passado a eleição, os projetos desaparecem, tendo que esperar mais quatro anos para ouvir novas promessas.

Na região do bairro onde mora pessoas com poder socioeconômico mais elevado, já construíram canelas, periodicamente há recolhimento de lixo. No entanto, não há por parte da Prefeitura, um projeto para a urbanização do bairro, no que se refere à colocação de asfalto, reflorestamento da mata de galeria, mudança dos moradores das áreas de risco, programas social e ambiental e muros para contenção de deslizamento.

Concluindo as análises das entrevistas e do processo de observação, fica notório que bairro tem muitos problemas, no entanto, o maior deles está relacionado ao meio ambiente que acaba por afetar toda a comunidade em diversos aspectos sociais

 

CONCLUSÃO

 

O município de Açailândia é destaque em estudos pelos impactos erosivos e a suscetibilidade a deslizamentos. Tal junção, há anos, tem gerado quadros alarmantes de insegurança e baixa qualidade de vida para população.

Sabe-se que corrigir as interações do homem na natureza com medidas preventivas, certamente, é bem menor se comparado aos possíveis acidentes ecológicos e de degradação generalizada. A necessidade de recuperar um quadro ambiental deteriorado deve ser prioritária, haja vista que determinados recursos naturais, uma vez mal utilizados ou deteriorados, tornam-se irrecuperáveis.

Ao analisar as imagens fotográficas, a pesquisa realizada com os moradores, pode-se constatar que o desencadeamento do processo erosivo em todo bairro, deu-se pelo crescimento desordenado, sem planejamento urbano de suporte para região.

As características de solo e o relevo do bairro Jacu traçam um perfil de um sítio urbano favorável e condições naturais que induzem facilmente ao surgimento de erosões. O relevo configura-se como um dos influenciadores, assim como a fragilidade do solo diretamente dependente da vegetação que tinha suporte físico (fixação e absorção) e biológico (proteção e ciclagem). Seus solos são arenosos e argilosos.

Considera-se que a necessidade da implantação de plano de educação ambiental, junto à população do bairro Jacu, deve partir da escola com programas educação e conscientização  associado aos temas transversais, de maneira interdisciplinar, associado os problemas locais ao currículo dos alunos.

Tendo em vista o caso do bairro Jacu é de caráter de urgência a intervenção dos órgãos públicos, no sentido de interditar áreas próximas dos riachos e usar meios artificiais, como curvas de nível, terraciamento, barreiras de contenção no intuito de conter os processos erosivos.

É sabido que muitos dos córregos que permeiam o bairro Jacu têm grande importância econômica para todo município, e que o crescente assoreamento, ocasionado pela erosão, é um fator preocupante, pois reduz o fluxo de água, comprometendo, desta forma, o seu estado perene.

A intervenção pelos órgãos de serviço social e saúde na região deve estar presente nas ações de combate as doenças provenientes do lixo e esgotos urbanos a céu aberto, quanto aos níveis de desigualdade social, criar moradias alternativas no intuito de remover residências a mercê de possíveis deslizamentos deve ser colocado como um ícone primordial.

Todavia, um planejamento ambiental adequado deve ser implantando no bairro de modo que envolva toda comunidade, buscando metodologias voltadas para a gestão ambiental participativo envolvendo prefeitura, associações, comunidades, ONGs entres outros, no intuito de buscar soluções condizentes com a realidade local.

 

REFERÊNCIAS

 

AÇAILÂNDIA. Prefeitura municipal de Açailândia. Disponível em: . Acesso em: 12 nov. 2008.

AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o desenvolvimento. Rio de Janeiro, 1992.

BARBIERI, Edson.  Desenvolver ou preservar o ambiente? São Paulo: Cidade Nova, 1996.

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Ilustrações: Silvana Santos