Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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13/03/2010 (Nº 31) Relação dialética entre teoria e prática sobre educação ambiental: um desafio para professores de geografia de um colégio público em Itabuna, BA
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Relação Dialética entre Teoria e Prática sobre Educação Ambiental: Um Desafio para Professores de Geografia de um Colégio Público em Itabuna, BA

Relação Dialética entre Teoria e Prática sobre Educação Ambiental: Um Desafio para Professores de Geografia de um Colégio Público em Itabuna, BA.

1Reubis Almeida Silva, 2Sheila Matos Viana Soares & 3Ricardo Matos Santana.

1 Geográfo, Especialista em Educação Geoambiental e Professor da Prefeitura Municipal de Itabuna. 2 Bióloga, Mestre em Produção Vegetal e Professora de Biologia da Rede Estadual de Educação da Bahia. 3 Enfermeiro, Mestre e Docente da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

Email: areubis@yahoo.com.br

Resumo

A Educação Ambiental é transformadora de valores e atitudes, e que, através de conhecimentos e novos hábitos, cria uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações entre o ser humano, a sociedade e a natureza, com o objetivo de atingir o equilíbrio local e global, visando a melhoria da qualidade de vida. A questão ambiental não é um tema limitado às Ciências, os temas transversais surgiram para minimizar esta separação do conhecimento. Os temas transversais buscam romper com as propostas pedagógicas convencionais que separaram o processo educacional, compartimentando os conteúdos em estruturas disciplinares, o que significa dizer que tais temas traz, em si, embutida a perspectiva da interdisciplinaridade. A mudança de comportamento e a conscientização estão relacionadas com pequenos gestos de cada um, envolvendo, justamente, a tomada de consciência do indivíduo como cidadão, em todos os níveis da sociedade. Para tanto é preciso que se inicie da base. Buscando respostas para minorar os problemas ambientais, este trabalho buscou analisar a aplicação do sistema integral educação e meio ambiente pelos professores de um colégio público em Itabuna. Para tanto o presente artigo descreve como os PCN's estão sendo aplicados por estes professores, além de investigar se estes conhecem os temas transversais. Verificou-se nessa pesquisa a ausência da aplicabilidade dos temas transversais e da interdisciplinaridade. Observou-se também que os professores entrevistados não fazem cursos de aperfeiçoamento e de qualificação e que a maioria deles não conhece nenhum projeto de EA na região em que lecionam.


Palavras-chave: educação, meio ambiente e temas transversais.


1. Introdução

De acordo com Oliveira (2006), a partir do momento em que o ser humano se sentir como elemento complementar do meio ambiente, os problemas ambientais poderão ser minimizados. Como o ser humano não se ver como parte da natureza, sua maior preocupação está relacionada exclusivamente à questão econômica, o que está provocando uma cadeia de desequilíbrio no Planeta. Diante desse contexto, acredita-se, estar na Educação Ambiental e nos bancos escolares uma das soluções para amenizar esta problemática de ordem ambiental, social e até mesmo econômica que assolam o Planeta Terra.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, 1977), Educação Ambiental (EA) é definida da seguinte forma: “Educação Ambiental é o processo de reconhecer valores e aclamar conceitos para criar habilidades e atividades necessárias que sirvam para compreender e apreciar a relação mútua entre o homem, sua cultura e o seu meio circundante biofísico. A EA também inclui a prática de tomar decisões e auto-formula um código de comportamento com relação às questões que conservem a qualidade ambiental (ANDRADE, 2000).

A EA é transformadora de valores e atitudes, e que, através de conhecimentos e novos hábitos, cria uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações entre o ser humano, a sociedade e a natureza, com o objetivo de atingir o equilíbrio local e global, visando a melhoria da qualidade de vida (GUIMARÃES, 1995).

O Ministério da Educação criou através da Lei Federal nº 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), com esta nova LDB, o ensino Médio passou a integrar a etapa do processo educacional, que a Nação considera básica para o exercício da cidadania, e o acesso às atividades produtivas. E o Poder Legislativo Brasileiro, através da Lei Federal nº 9795/99 criou a lei que trata da Educação Ambiental, esta bem mais abrangente, onde envolve o ensino formal e o não formal.

A educação formal não é a única capaz de desenvolver o processo da realização da EA, o ideal seria uma parceria com a educação não-formal. Por educação não-formal entende-se o processo educativo, desvinculado ou não do poder oficial, mas que se realiza fora da escola e se caracteriza pela flexibilidade de métodos e conteúdos pela diferença do público de destino, geralmente adulto (LUDKE,1986). Colley et al. (2002) define educação não-formal, como qualquer tentativa educacional organizada e sistemática que, normalmente, se realiza fora dos quadros do sistema formal de ensino.

A questão ambiental não é um tema limitado às Ciências, os temas transversais surgiram para minimizar esta separação do conhecimento. Os temas transversais buscam romper com as propostas pedagógicas convencionais que separaram o processo educacional, compartimentando os conteúdos em estruturas disciplinares, o que significa dizer que tais temas traz, em si, embutida a perspectiva da interdisciplinaridade (TORRES, 2003). A proposta de temas transversais, que integra o conjunto das proposições conhecidas como Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), do Ministério da Educação e do Desporto (1997), configura uma inovação, pois acrescenta ao currículo, além do rol de disciplinas, o tratamento de temas referentes à problemas atuais da vida social. Esses temas foram propostos para proporcionar maior flexibilidade e abertura no currículo, podendo ser contextualizados e priorizados de acordo com a necessidade local. Os temas indicados são: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo.

Para Leff (2001) a interdisciplinaridade que deve estar presente na EA não deve ser apenas um somatório ou a articulação entre as diferentes disciplinas, deve ser além do diálogo entre as disciplinas, a busca de novos saberes que considerem as culturas, os potenciais da natureza e os valores, teorias e práticas necessárias à vida e à formação humana, ele mostra que é necessário criar condições para se pensar interdisciplinarmente o ambiente.

Segundo os PCN´s (BRASIL, 1997), o distanciamento entre os conteúdos programáticos e a experiência dos alunos, certamente respondem pelo desinteresse escolar. Conhecimentos relacionados a priori tendem a se perpetuar nos rituais escolares, sem passar pela crítica e reflexão dos docentes, tornando-se desta forma, um acervo de conhecimentos quase sempre esquecidos. Com isso verifica-se que a prática é importante na construção do saber pedagógico do professor, ela pode e deve enriquecer-se com conhecimentos teóricos. O conhecimento teórico é o conhecimento organizado e aceito pela comunidade científica ou acadêmica, que socializa conceitos, leis e princípios que foram socialmente construídos e pertencem a um determinado campo do saber. Dessa maneira, pode-se concluir que não existe prática sem teoria e vice-versa. É necessário que embora os conceitos de teoria e prática sejam diferentes, eles formem uma unidade inseparável. Toda a atividade humana envolve, em alguma medida, tanto a ação concreta sobre a realidade quanto a representação dessa realidade. Assim sendo, quando tomamos teoria e prática em sentido amplo, podemos afirmar que não há prática sem teoria, nem teoria sem prática.

A aprendizagem significativa pressupõe a existência de um referencial que permita aos alunos identificar e se identificar com as questões propostas. Essa postura não implica permanecer apenas no nível de conhecimento que é dado pelo contexto imediato, nem muito menos pelo senso comum, mas visa estimular a capacidade de compreender e intervir na realidade, numa perspectiva autônoma e desalienante. A construção das aprendizagens significativas segundo Ausubel (PELIZZARI et al., 2002) implica a conexão ou vinculação do que o aluno sabe com os conhecimentos novos, quer dizer, o antigo com o novo. A reforma do ensino supõe a reforma do currículo e, por conseqüência, dos propósitos e condições para que a educação seja eficaz.

A mudança de comportamento e a conscientização estão relacionadas com pequenos gestos de cada um, envolvendo, justamente, a tomada de consciência do indivíduo como cidadão, em todos os níveis da sociedade. Para tanto é preciso que se inicie da base. Buscando respostas para minorar os problemas ambientais, este trabalho buscou analisar a aplicação do sistema integral educação e meio ambiente pelos professores de um colégio público estadual de Itabuna, BA. Para tanto o presente artigo descreve como os PCN's estão sendo aplicados por estes professores; além de investigar se estes conhecem os temas transversais principalmente quando se trata da EA. Buscou-se também analisar os conhecimentos dos professores sobre a interdisciplinaridade e se estes a utilizam em sua prática escolar.

Acredita-se que a ausência da aplicabilidade dos temas transversais e da interdisciplinaridade tem prejudicado o despertar de uma consciência crítica nas crianças em idade escolar, impedindo a percepção do meio ambiente como "seu lar" e/ou como fruto do meio. A ausência de cursos de aperfeiçoamento e de qualificação da função do professor, aliado a falta de comprometimento, e até mesmo a acomodação diante da situação, tem contribuído para a não aplicação dos temas transversais e da interdisciplinaridade nas escolas.


2. Metodologia

2.1 Tipo de pesquisa

Realizou-se uma pesquisa de campo descritiva, de caráter qualitativo, por possibilitar o uso e o desenvolvimento de uma grande variedade de recursos e técnicas (MARTINS E BICUDO, 1989). Para Triviños (1992), a pesquisa qualitativa permite compreender a situação crítica onde a mesma ocorre, sem criar situações simuladas que distorcem a realidade, ou que levam à interpretação ou generalização equivocadas.

Minayo (1999, p.101), diz que a investigação qualitativa requer como atitudes fundamentais a abertura, flexibilidade, a capacidade de observação e de interação com o grupo de investigadores e com os atores sociais envolvidos. Seus instrumentos costumam ser facilmente corrigidos e readaptados durante o processo de trabalho de campo, de acordo com as finalidades da investigação. A geografia tem uma posição privilegiada em abordagem qualitativa e pode ser usada na investigação de problemas que surgem no dia-a-dia da prática de ensino da geografia.


2.2. Sujeitos e Campo da pesquisa

A vida cresceu e se desenvolveu na terra como uma trama, uma grande rede de seres interligados, interdependentes. Essa rede entrelaça de modo intenso e envolve conjuntos de seres vivos e elementos físicos. Para cada ser vivo que habita o planeta existe um espaço a seu redor com todos os elementos e seres vivos que com ele interagem, por meio de relação de troca de energia: esse conjunto de elementos, seres e relações constitui o seu meio ambiente.

Explicado dessa forma, pode parecer que, ao se tratar de meio ambiente, se está falando somente de aspecto físico e biológico. Ao contrário, o ser humano faz parte do meio ambiente e as relações que são estabelecidas - relações sociais, econômicas e culturais - também fazem parte desse meio e, portanto, são objetos da área ambiental.

Considerando o exposto, escolheu-se trabalhar com os professores de geografia, visto que estes procuraram buscar explicações para aquilo que, numa determinada paisagem, permaneceu ou foi transformado, isto é, os elementos do passado e do presente que nela convivem e podem ser compreendidos mediante a análise do processo de produção e organização do espaço (BRASIL, 1997). Dessa forma, foram eleitos como sujeitos da pesquisa, os oito professores de geografia, que lecionam no Ensino Fundamental 2, em um colégio público estadual de Itabuna, BA.

O município de Itabuna está localizado na Zona Fisiográfica Cacaueira, Região Sul do Estado da Bahia, na Microrregião de Itabuna – Ilhéus, com as seguintes coordenadas geográficas: 14º 48’ de latitude, 39º 18’ de longitude, altitude 40 m, área de 444,8 Km², distante de Salvador, capital do estado 433 Km. Em 1996, sua população era de 183.403, e segundo o censo de 2000, esta população hoje corresponde a 196.456, com uma taxa de crescimento anual de 1.73%. Sua população está distribuída da seguinte forma: homens 94.192, mulheres 102.264, urbano 190.888, rural 5.568 (IBGE, 2007).

O local da pesquisa é um dos maiores colégios públicos da região, funciona durante os três turnos, oferece turmas da 5ª série ao 3º ano formação geral, Ensino Médio e Magistério.


2.3. Procedimentos para coleta de dados


Para a coleta de dados, optou-se pela entrevista semi-estruturada, por considerá-la a técnica que melhor possibilita alcançar os objetivos propostos pela pesquisa. Entrevista, como afirma Lakatos e Marconi (1992, p.107), "é uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica; proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária." É um modo de comunicação onde determinada informação é transmitida de uma pessoa para outra.

As oito entrevistas foram agendadas pelo pesquisador, separadamente, de acordo com a disponibilidade dos professores. Seguiu-se um roteiro, onde possibilitou que algumas das informações fossem obtidas espontaneamente, utilizando-se do recurso do gravador e, assim, evitando a perda de informações necessárias à análise.


2.4. Procedimentos para análise dos dados


O volume de informações, obtido através das entrevistas, foi ordenado e sistematizado de modo a permitir uma maior aproximação à realidade concreta da prática dos professores, no que diz respeito ao modo como estes têm trabalhado o tema Educação Ambiental. O tratamento dos dados foi operacionalizado através dos seguintes passos propostos por Minayo (1999): ordenação dos dados, classificação dos dados e análise final, onde buscou-se identificar os principais problemas que inviabilizam a aplicação do tema transversal Meio Ambiente dos PCN´s Nacionais. A ordenação dos dados iniciou-se através da transcrição das fitas-cassete, releitura do material e organização dos relatos; momento em que as falas dos professores, referentes a cada questão do roteiro de entrevista, foram agrupadas por respostas, utilizando um quadro para fazer a seleção destas, onde em seguida foi feita uma planilha e a confecção de alguns gráficos e tabelas, através de freqüência relativa simples.

A classificação dos dados foi realizada através de uma “leitura flutuante” e exaustiva dos textos, prolongando uma relação interrogativa com eles, onde apreendeu-se as idéias centrais, as estruturas de relevância dos sujeitos e a constituição de um corpus. O Corpus foi compreendido como um conjunto de informações e representações específicas. Em seguida, foi feita uma leitura transversal de cada corpo. Esta leitura possibilitou recortar de cada entrevista a essência daquilo que nos deu um maior embasamento para a construção de temas e tópicos para a construção dos gráficos. Através do processo de aprofundamento da análise, o movimento classificatório foi refeito e aperfeiçoado, quando mostrou-se necessário.

Na análise final, os dados foram trabalhados a partir da aproximação da metodologia dos PCN´s, onde, lembrando Goldenberg (1998), estabeleceu-se uma compreensão e comparação entre as diferentes respostas, as idéias novas que apareceram, e o que estes dados levam a pensar de uma maneira mais ampla.

3. Resultados e discussão

Foi adotado como orientação da pesquisa empírica a abordagem qualitativa, buscando abordar os elementos que compõem o cenário de estudo, se os professores de geografia (da 5ª a 8ª série) estão trabalhando os PCN´s de forma "satisfatória", e qual o nível de conhecimento de alguns professores sobre o assunto EA.

A princípio foi feito um levantamento para saber qual o perfil dos professores que estavam lecionando a disciplina geografia no colégio. Pode-se perceber que todos os entrevistados possuíam nível superior (Figura 1), porém, nem todos eram formados em geografia. Observa-se na Figura 1, que outros profissionais da educação também estavam lecionando geografia no colégio.


Figura 1 - Distribuição dos professores de geografia do ensino fundamental,

do colégio em estudo, por formação superior.




Percebe-se também que a disciplina geografia, é lecionada por profissionais de diversas áreas, o que pode levar a uma não compreensão de assuntos pertinentes a própria disciplina. Segundo Duarte (2008), uma projeção feita pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) mostrou que os professores da rede pública não assumem as disciplinas para as quais receberam formação superior específica. O estudo demonstra que apenas 28,8% (dos 354.475 graduados em licenciaturas) lecionam na área na qual foram formados. O despreparo é ainda mais grave nas regiões Norte e Nordeste, onde 69% e 67,5%, respectivamente, não atuam em sua área de formação. Já no Sul e Sudeste ocorre o inverso. Para lecionar geografia, deve estar claro que é um componente curricular e, como tal, deve estar referido ao Projeto da Escola e, dentro deste, ao plano da área e da disciplina como um todo. Compreender os fundamentos da Geografia significa conhecer a sua trajetória como ciência e como disciplina escolar, e considerar os pressupostos teórico-metodológicos que lhes dão sustentação.

Em relação a experiência profissional dos entrevistados, observa-se que a maioria dos professores concluíram o ensino superior e atuam em sala de aula num intervalo de 0 à 10 anos conforme descrito na Tabela 1. Por terem concluído o curso superior a pouco tempo podemos pensar que a maioria dos professores não estão desatualizados, em relação as mudanças ocorridas no sistema educacional. Porém, seria pouco diante de tantas mudanças que ocorrem hoje no mundo globalizado. Segundo Fusari (1992) a rotina do funcionamento da Escola pode ser a possibilidade de o professor aperfeiçoar, continuamente, sua competência docente-educativa, o mesmo podendo ocorrer com diretores, assistentes e demais profissionais que atuam no sistema formal de ensino. A formação contínua é o conjunto de atividades desenvolvidas pelos professores em exercício com objetivo formativo, realizadas individualmente ou em grupo, visando o desenvolvimento pessoal e profissional (GUIMARÃES, 2004).



Tempo de ensino (anos)



Porcentagem


00 ----- 10


62,5%


11 ----- 20


25%


21 ----- 30


12,5%


Total


100%


Tabela 1 - Tempo de ensino, em sala de aula, dos professores de geografia do ensino fundamental 2 em um colégio público estadual de Itabuna, BA.


A Prática de Ensino vem sendo alvo de reflexão há pelo menos duas décadas, comemoradas no ano de 2000, durante o X Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (CANDAU, 2000). Nas últimas décadas, pesquisas realizadas têm demonstrado, com nitidez, a falência da formação dos educadores para uma atuação competente nas escolas públicas do ensino fundamental e médio (FUSARI, 1992). Observa-se de acordo com a Tabela 2 que a minoria dos professores do colégio público estadual estava fazendo algum curso de especialização, ou curso ligado a disciplina que lecionam. Sabe-se que a formação profissional do professor deve se dar como uma ação contínua de reflexão crítico investigativa sobre a realidade educacional, e não pelo simples acúmulo de informações em cursos preparatórios.


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Tabela 2 – Professores do ensino fundamental 2 que lecionam geografia e estão fazendo algum curso ligado à disciplina no colégio em estudo.


Os meios auxiliares são pouco explorados pelos professores do colégio público estadual (Tabela 3), sendo que o vídeo foi o recurso que mais apareceu nas respostas deles. Esse comportamento dos professores de pouco utilizarem os recursos didáticos pode prejudicar a aprendizagem significativa do aluno sobre meio ambiente. Pois, os recursos didáticos são componentes do ambiente de aprendizagem que estimulam o aluno. Podendo ser o computador, livros e recursos da natureza. Dessa forma, podemos ver que tudo o que se encontra no ambiente onde ocorre o processo ensino-aprendizagem pode se transformar em um ótimo recurso de didático, desde que utilizado de forma adequada e correta. Segundo Gil (1991), os meios utilizados para informar as pessoas têm os seguintes objetivos respectivamente: 1) organizar e sumarizar os dados de forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação e, 2) procurar o sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente adquiridos.


Recursos

Porcentagem

Vídeos

40%

Apostilas

30%

Artigo

10%

Cartazes

10%

Nenhum

10%

Total

100%

Tabela 3 – Tipos de recursos utilizados pelos professores de geografia

em um colégio público estadual de Itabuna, BA.


Segundo informação dos professores, o colégio, não realiza nenhuma atividade para trabalhar o tema EA entre os docentes, nem com os alunos. Informam, também, que existe um projeto de educação ambiental que nunca foi colocado em prática, mas são realizadas atividades isoladas para explorar o tema. Estes eventos estão ligados à preservação da natureza, tais como passeatas e desfile, durante o dia da árvore e até mesmo durante o desfile de 07 de setembro. Não podemos adjetivar a educação ambiental, e não devemos nos limitar a preservação de matas, florestas, e animais. Mas cuidar da qualidade de vida, do ambiente em que vivemos.

Quando perguntado se o colégio tem mostrado algum interesse em trabalhar com o tema EA (Tabela 4) com seus professores e conseqüentemente com seus alunos, a maioria dos professores informou que esse interesse apresentou-se apenas de forma regular (no sentido de insatisfatório). É muito importante o entrosamento entre a instituição e os membros que pertence a ela, pois se não houver uma harmonia entre estes, com certeza não ira surtir um grande efeito o trabalho pretendido. A instituição tem que elaborar um projeto, preparar e capacitar as pessoas encarregadas de trabalhar com este, oferecer condições logísticas e de pessoal, divulgar esses trabalhos para que outras pessoas que não façam parte da instituição tomem conhecimento do trabalho desenvolvido por ela, e quem sabe contribuir para que este trabalho venha a ganhar novos adeptos.


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Tabela 4 - Interesse do colégio em trabalhar com os professores e alunosde geografia com tema EA.


O interesse em trabalhar com os alunos sobre determinados temas, de grande importância para a vida destes futuros cidadãos, não pode só depender da instituição. Este deve partir também dos professores, que devem se reunir para trabalhar com os temas transversais de forma coesa.

A integração dos diferentes conhecimentos pode criar as condições necessárias para uma aprendizagem motivadora, na medida em que oferece maior liberdade aos professores e alunos para a seleção de conteúdos mais diretamente relacionados aos assuntos ou problemas que dizem respeito a vida da comunidade. Todo conhecimento é socialmente comprometido e não a conhecimento que possa ser aprendido e recriado se não se parte das preocupações que as pessoas detêm (BRASIL, 1997).

A ocorrência de interdisciplinaridade entre os professores de geografia (da 5ª à 8ª série) do colégio em estudo, segundo estes ocorre de forma regular para a maioria deles (Tabela 5).


Interdisciplinaridade para os professores

Porcentagem

Pouco

38%

Regular

49%

Insuficiente

13%

Total

100%

Tabela 5 - Ocorrência de interdisciplinaridade entre os professores de geografia do ensino fundamental 2, em um colégio público estadual de Itabuna, BA.


Esta interdisciplinaridade permitirá uma interação com o conhecimento de outras disciplinas ao dar, assim, uma maior ênfase aos temas transversais, dentre estes, o tema meio ambiente. Estudos têm revelado que a interdisciplinaridade ainda é pouco conhecida. E é com o objetivo de contribuir para o entendimento desse tema que apresentaremos a seguir um breve resumo das principais concepções e controvérsias em torno desse tema (FAZENDA, 1994).

Não podemos atribuir o trabalho com o tema EA somente a professores ligados a área de ciências. Neste caso estamos nos referindo aos professores de geografia, devendo todos estarem engajados no processo, mas percebemos que os próprios professores de geografia, parece não estar mostrando muito interesse em se reunir para tratar do tema EA (Figura 2). Muitos se queixaram de tempo, e justificam que precisam trabalhar mais para ganhar um salário melhor.


Figura 2 - Reunião dos professores do ensino fundamental de geografia do colégio em estudo para tratar do tema EA com alunos.


De acordo com a pesquisa, observou-se que falta tempo para os professores se reunirem com os colegas, para tratarem do tema EA (Figura 2), mas esse tema deveria ser abordado constantemente na sala de aula, o que não ocorre. A sociedade atual vive numa época de acontecimentos diferentes que se manifestam em relação ao clima e ao aparecimento de grandes problemas nas áreas produtivas de alimento do planeta. Compreender que adotando uma política que promova a importância da educação ambiental voltada principalmente para a sustentabilidade já nas escolas primárias, as novas gerações terão uma mentalidade conservacionista e será muito mais fácil programar políticas que visem à utilização sustentável dos recursos ambientais no futuro (ABREU, 2008).

Além de trabalhar com a temática, seria de grande importância conhecer algum tipo de projeto local relacionado a EA, para que se possa discutir com os alunos a influência que este exerce sobre sua vida. A Tabela 6 mostra que a maioria dos professores não conhece qualquer tipo de projeto de EA local, concluindo assim que esses projetos não estarão em discussão em sala de aula. Os professores que informaram conhecer algum programa local relataram sobre o projeto de reciclagem de lixo de Itabuna.


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Tabela 6 - Conhecimento quanto a projetos de EA local pelos professores que lecionam geografia no ensino fundamental 2 de um colégio público estadual de Itabuna, BA.


Na região de Itabuna, devido a sua exuberância, seja na fauna ou na flora, existem diversos projetos de EA, principalmente devido às instituições da UESC, Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), Instituto de Estudos Sócios Ambientais da Bahia (IESB), Grupo de Resistência as Agressões ao Meio Ambiente (GRAMA), e até mesmo nas Prefeituras Municipais.

Como foi verificado na pesquisa que os professores demonstravam idéias divergentes uns dos outros, foi solicitado que eles conceituassem interdisciplinaridade (Tabela 7). Diferentemente das concepções desses professores, na proposta de reforma curricular do Ensino Médio, a interdisciplinaridade deve ser compreendida a partir de uma abordagem relacional, em que se propõe que, por meio da prática escolar, sejam estabelecidos interconexões e passagens entre os conhecimentos através de relações de complementaridade, convergências ou divergências (BRASIL, 1997).


Tabela 7 – Conceito de interdisciplinaridade para professores do ensino fundamental 2 de um colégio público estadual de Itabuna, BA.


Como já foi dito a interdisciplinaridade não é apenas uma questão de comentar com os alunos determinados assuntos ligados a outras disciplinas, até mesmo porque não existe nenhuma disciplina independente, elas estão todas entrelaçadas. Deve ser feito um planejamento, para que todos trabalhem o mesmo tema ao mesmo tempo, e não fujam de sua área, nem dos objetivos propostos. Porém todos devem ter conhecimento dos temas transversais (Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação Sexual), pois estes devem fazer parte da discussão de todas as disciplinas.

Muitas questões sociais poderiam ser eleitas como temas transversais para o trabalho escolar, uma vez que o que os norteia, a construção da cidadania e a democracia, são questões que envolvem múltiplos aspectos e diferentes dimensões da vida social. Foram então estabelecidos os seguintes critérios para defini-los e escolhe-lo: urgência social, abrangência nacional, possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental, favorecer a compreensão da realidade e a participação social (BRASIL,1997).

4. Conclusões

Tendo em vista os alunos do ensino fundamental como os futuros residentes e ocupantes deste espaço que ora se apresenta tão degradado e mal conservado, temos que orientá-los, para que, estes, saibam valorizar a natureza que os rodeiam e possam viver em harmonia, sem degradar o meio ambiente.

Alguns governantes vivem criando leis e baixando decretos, mas podemos perceber que estes não têm nenhum compromisso com o meio ambiente, com a EA e deixam os professores com a responsabilidade de conscientizar nossa juventude. Estes se apresentam totalmente “vazia”, sem uma visão crítica e absorvendo idéias prontas e acabadas, através da televisão e outros meios de comunicação, que são utilizados para manipular a massa. Podemos observar ainda que alguns professores não estão assimilando o que o governo coloca como proposta, que são os PCN´s, onde o básico seria que todos tivessem no mínimo conhecimento.

O papel do professor é crucial, pois a ele cabe também apresentar, escolher os objetivos, os conteúdos e atividades de aprendizagem de forma que os alunos compreendam o porquê e para que do que aprendem. E, assim, desenvolva expectativas positivas em relação à aprendizagem, sentindo-se motivados para o trabalho escolar.

Mas é importante que se motive também os professores, pois estes, estão em constantes reivindicações por melhores salários. É importante ganhar bem para poder investir em livros, adquirir revistas, jornais e materiais que possam lhe dar suporte para dar uma boa aula, e isso tem um custo alto. Muitos professores só têm acesso a computadores quando estão na escola, quando todos deveriam possuir pelo menos um computador em casa.

O governo lança planos, projetos, leis que se referem a educação mas não se preocupa em capacitar os professores para que esses sejam trabalhados de forma coerente, pois sempre apresenta soluções em período eleitoral, visando adquirir sempre algum beneficio em troca.

A educação é sim a solução para uma sociedade melhor, em todos os aspectos, para um ambiente harmonioso, para uma vida melhor, mas não devemos esperar por ninguém. Cada um deve fazer sua parte, pois, o que destruímos hoje com certeza vai nos fazer falta amanhã, uma vez que, a destruição do meio ambiente refletirá em todos

5. Referências

ABREU, C. A Importância da Educação Ambiental: Sustentabilidade. Atitudes sustentáveis, 2008. Disponível em < http://www.atitudessustentaveis.com.br/conscientizacao/a-importancia-da-educacao-ambiental-sustentabilidade/>. Acesso em 25 jun. 2009.


ANDRADE, A.C.M. de; RANIERI, C.L.; et al. Análise Qualitativa dos resíduos sólidos ( lixo ) das praias do Una e Rio Verde da estação Ecológica de Juréia – Itatins/ IF. In: Semana Nacional de Oceanografia, 13, 2000, Santa Catarina. Anais... Santa Catarina: FURB, p.332-333, 2000.



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DUARTE, T. Professor formado é insuficiente. Gazeta do povo. 2008. Disponível em: <http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=756485&tit=Professor-formado-e-insuficiente>. Acesso em: 02 de jul. 2009.


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Ilustrações: Silvana Santos