Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
13/03/2010 (Nº 31) Iniciando crianças em Educação Ambiental: Estudo de caso
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=825 
  
I - Introdução

Iniciando crianças em Educação Ambiental: Estudo de caso



Bethânia Alves Sena. Especialista em Metodologia das Ciências Naturais-Biologia pela UEPA. betalsena@yahoo.com.br

Fernanda Alves Sena. Graduada em Pedagogia pela UEPA. Integrante do GPEEA-Sala Verde Pororoca-NPADC/UFPA fasena1@hotmail.com.

Ana Paula Alves Sena Barbosa. Graduada em Pedagogia pela UEPA. Integrante do GPEEA-Sala Verde Pororoca-NPADC/UFPA, anapaula-barbosa@hotmail.com

Resumo

Sabemos que o interesse pela questão ambiental surge por termos consciência de que ela faz parte de nossa vida e é motivado por fatores sociais, econômicos e outros. Já os estudos com as temáticas ambientais justificam-se por sensibilizar a sociedade para adoção de uma política ética e solidária em relação ao meio ambiente, formar um cidadão atuante e consciente a fim de buscar soluções para problemas ambientais, além de informar-se sobre a legislação ambiental para utilizar seus direitos constitucionais e de cidadania. O ambiente, nesse caso, deve ter as características de todos que ali convivem e as crianças sentirem que aquele lugar lhes pertence (BLASI, 2008). Observamos que as crianças passaram a ter uma nova percepção de ambiente, pois conseguiram verbalizar a sua compreensão e percepção a respeito do meio ambiente com bastante clareza e detalhes. É necessário também refletir sobre a formação dos professores, para que cada um repense sobre sua função, busque mais conhecimentos teóricos que lhe dê suporte para mudar a prática. Nesse desafio à educação pode ser uma alternativa.



I - Introdução

A educação ambiental é um tema abrangente e chama atenção pelas relações que a sociedade estabelece com a natureza. O interesse pela questão ambiental surge por termos consciência de que ela faz parte de nossa vida e é motivado por fatores sociais, econômicos e outros. Já os estudos com atemáticas ambientais justificam-se por sensibilizar a sociedade para adoção de uma política ética e solidária em relação ao meio ambiente, formar um cidadão atuante e consciente a fim de buscar soluções para problemas ambientais, além de informar-se sobre a legislação ambiental para utilizar seus direitos constitucionais e de cidadania.

O homem é um dos elementos do ambiente, formado de partes: o biólogo, o racional, o emocional, que estão em permanentes integração e inter-relação entre si e com os outros elementos da natureza, nos diferentes níveis de sua evolução. Esta influência recíproca fez nascer os homens sociais, que ao incorporar todas estas dimensões alicerça a historia da construção humana em estreita e continua reciprocidade” (Ana Lúcia Carneiro Leão e Lúcia Maria Alves, 1999).

Definir educação ambiental é falar sobre ensino-aprendizagem, dando-lhe uma nova dimensão ambiental, contextualizada e adaptada à realidade interdisciplinar, vinculada aos temas ambientais locais e globais.

Antes mesmo de aprendermos as primeiras letras, nossa primeira leitura é a do ambiente. O primeiro questionamento que pode fazer, quanto à concepção de meio ambiente, é o da compreensão da nossa própria existência.

O senso comum nos leva a perceber que o meio ambiente é tudo aquilo que nos envolve.

A educação tem sido sugerida como a salvadora dos problemas ambientais, como se a busca de alternativas para um desenvolvimento sustentável se desse apenas pela mudança de mentalidade, via educação.

A educação ambiental deve ser desempenhada de forma a entender eqüitativamente as necessidades ambientais e de desenvolvimento das gerações presentes e futuras, de acordo com a realidade de cada indivíduo independente do grau de sua escolaridade.

Em função disso, torno-se necessário o trabalho de estimular os alunados das séries iniciais para a consolidação de um entendimento mais amplo no que diz respeito ao processo de educação ambiental. Ou seja, a educação ao trabalhar as questões ambientais não deve ser reduzida somente ao ensino ou a defesa da ecologia, também deve levar o educando ao tratamento, a análise e a reflexão da sua realidade mediada com o meio.

Para este fim, deve ser usado mecanismo inovador para que a aprendizagem se torne algo significativo para o educando, fazendo com que o mesmo entenda e aprenda a partir de sua forma de ver o mundo. No entanto, ainda existem metodologias tradicionais no ensino e na aprendizagem que dificultam e bloqueiam a evolução da aprendizagem dos educandos, como a falta de incentivo o que resulta no pouco interesse dos mesmos.

Com isso, realizamos através deste projeto de pesquisa, um levantamento de dados que serão conseqüentes das alternativas educacionais aplicadas que irá abranger as questões ambientais.

É neste contexto, objetivamos pesquisar a compreensão dos alunados do ensino fundamental menor (1º série), sobre educação ambiental dentro e fora do âmbito escolar norteando o uso e a preservação dos recursos naturais de acordo com seu conhecimento adquirido e vivenciado.

Para isso ministramos uma aula teórica em sala de aula:

  • Aplicamos questionários fechados em cada turma; analisar e comparar os conhecimentos adquiridos ao longo das aulas por cada turma;

  • Levantamos dados através de gráficos das respostas obtidas pelos alunos;





II - Metodologia

O trabalho de pesquisa foi realizado no colégio Santo Afonso, situado na Rodovia Arthur Bernardes s/n°, Telégrafo. Em duas turmas da 1° série do ensino fundamental, com alunos na faixa etária de 7 a 9 anos de idade, onde em uma turma foi ministrado uma aula teórica e na outra uma uma aula prática.

Foram utilizadas duas metodologias diferenciadas: teórica e prática.

  • Metodologia Teórica; As aulas foram direcionadas para conceitos já formados citando apenas exemplos vivenciados no dia-a-dia dentro da sala de aula.

  • Metodologia Prática; Foi levado todo material para a escola onde ministramos a aula integrando os alunos a fim de conhecer um espaço de preservação ambiental e educação ambiental relacionado ao seu cotidiano.

Aplicamos um questionário fechado com 2 questões voltadas para o tema educação ambiental, com as seguintes perguntas:

  1. Todos os seres vivos fazem parte do meio ambiente?

  2. Andando em sua rua identifique os elementos que fazem parte do meio ambiente?

Analisamos a compreensão dos respectivos alunos sobre o tema educação ambiental, através das respostas que obtivemos.





III - Resultado e discussões

Através dos dados dos questionários que foram aplicados obtivemos como resultado:

A primeira questão foi: “Todos os seres vivos fazem parte do Meio Ambiente?”.

Todas as crianças responderam que sim, mas tiveram como referência o seu cotidiano, isto é, mesmo com a nossa presença ensinando e mostrando situações adversas, mesmo assim as crianças trazem estas questões ao seu convívio.

As idéias ligadas à temática ambiental não surgiram de um dia para outro. Numerosos fatos de âmbito internacional foram delineando o que conhecemos hoje por Educação Ambiental (EA).

Implementar a Educação Ambiental nas escolas tem se mostrado uma tarefa exaustiva. Existem grandes dificuldades nas atividades de sensibilização e formação, na implantação de atividades e projetos e, principalmente, na manutenção e continuidade dos já existentes.

Segundo ANDRADE (2000), “... fatores como o tamanho da escola, número de alunos e de professores, predisposição destes professores em passar por um processo de treinamento, vontade da diretoria de realmente implementar um projeto ambiental que vá alterar a rotina na escola, etc, além de fatores resultantes da integração dos acima citados e ainda outros, podem servir como obstáculos à implementação da Educação Ambiental”. Dado que a Educação Ambiental se dá por atividades pontuais, mas também precisa passar por toda uma mudança de paradigmas que exige uma contínua reflexão e apropriação dos valores que remetem a ela, as dificuldades enfrentadas assumem características ainda mais contundentes.

O ensino da Botânica permeou todas as atividades de seis semanas na escola. Conceitos de educação ambientais puderam ser trabalhados de forma inédita e integrados, atentando para sua presença no cotidiano. Dos alimentos consumidos às árvores existentes nas calçadas e debaixo da água, das plantas nativas às artificiais, das visitas temáticas aos conceitos aprendidos em sala-de-aula, o passeio por estes temas acabou gerando diferentes enfoques sobre o tema.

A experiência pela qual passamos possibilitou, a nós e aos professores da escola pública, repensar a prática e transformá-la. Nós, professores, continuamos buscando “brechas” para realizarmos trabalhos interdisciplinares que possibilitem múltiplos olhares para os conhecimentos científicos. Todos nos que estávamos envolvidos no projeto, aprendemos e também ensinaram bastante.

Para SILVA (1997), “Utilização de um corpo metodológico e conceitual é capaz de permitir a construção e avaliação de projetos elaborados a partir de diferentes realidades cognitivas e sociais”. É importante aliar a metodologia utilizada a realidade em que estamos trabalhando para que possamos conseguir alcançar o objetivo desejado.

A segunda questão foi: “Andando em sua rua, identifique os elementos que fazem parte do seu meio ambiente”.

O quadro abaixo representa a freqüência que as repostas tiveram.





Mais uma vez as crianças utilizaram como exemplo elementos que fazer parte da sua vida cotidiana.



Educação é o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano visando à sua melhor integração individual e social”. MAGALHÃES, 2006.







Impossível pensar o processo de ensino-aprendizagem sem múltiplas interações. O ensino formal, em que o aluno não participa e não interage em seu processo de construção do conhecimento, é algo mais do que questionável atualmente. Dessa forma, podemos citar, dentre várias vantagens dos projetos, a mais importante, que é a troca da passividade do aluno pela interação. Os projetos, com certeza, parecem suprir essa necessidade de fazer com que o aluno rompa com sua passividade e interaja de diferentes maneiras em todas as etapas de sua execução.

Embora não tenha um ”certo” e um “errado”, ancoramos a EA na perspectiva da Teoria Crítica, onde as pesquisadoras devem construir um projeto pedagógico que legitime uma forma crítica da prática intelectual”. (McLaren, 1997).



Acreditamos que, de certa forma, os alunos ainda não estão acostumados com a autonomia, e, nos projetos, precisamos trabalhar com essa questão. Se não estabelecermos como primeira regra contar aos nossos alunos o que é um projeto e como se trabalha com o ato de projetar, eles terão a sensação de que estão "perdidos", pois não existe, no projeto, o professor dirigindo e ditando as tarefas, as atividades, a cor da caneta, a forma da maquete, o tipo de cartaz, etc. Entendido primeiramente o que é um projeto e qual o seu papel dentro dessa dinâmica, as regras seguintes são aquelas relacionadas às etapas de um projeto, que são norteadoras para seu planejamento, execução, depuração, apresentação e avaliação.

A interdisciplinaridade ou a multidisciplinaridade seria um requisito essencial de qualquer projeto; isso se todos os projetos fossem interdisciplinares. Na prática, um projeto pode iniciar com apenas um professor de uma única disciplina tratando de um determinado conteúdo programático.

No decorrer do projeto, conforme interesses e necessidades, outros professores e outras disciplinas podem interagir com o projeto em questão e, dependendo da forma, a multi ou a interdisciplinaridade poderão acontecer espontaneamente.

Para que a educação aconteça, é necessário que as informações e conhecimentos façam sentido tanto para quem os transmite quanto para quem os recebe. É preciso que o professor e o aluno, ou visitante de exposição, se apropriem dos conteúdos; tomem posse deles. Para tanto é preciso que o transmissor, tanto quanto o receptor dos conteúdos, ultrapasse posições passivas e seja participante da ação educativa. A educação é, portanto, um processo dinâmico que requer um educador agente e um educando participativo.



Obviamente, ao assumirmos que a EA é realmente um processo educativo, cabe questionar qual é a base pedagógica que orienta as nossas ações. Cabe aos/às educandos e educadores refletir sobre os diversos paradigmas, e sobremaneira, agir para a transformação necessária”. (Sato, 1997, p.12).



Como vimos, a ação do educador não se reduz à transmissão de informações e conhecimentos, mas é ativa na construção de tramas que articulam conteúdos, mundo, vida, experiências (suas e dos alunos) num todo significante: é neste sentido que o professor é mediador.

Para MORAN (1997), “O ensinar chega a resultados participativos quando está integrado em um contexto estrutural de mudança do ensino aprendizagem onde professores e alunos vivenciam processos de acordo com a sua realidade”.

A experiência pela qual passamos possibilitou, a nós e aos professores da escola pública, repensar a prática e transformá-la. Nós, professores, continuamos buscando “brechas” para realizarmos trabalhos interdisciplinares que possibilitem múltiplos olhares para os conhecimentos científicos. Todos nos que estávamos envolvidos no projeto, aprendemos e também ensinaram bastante.

A utilização de uma abordagem estratégica no processo de ensino/ aprendizagem, resultou na elaboração de estratégias sobre Educação Ambiental, além disso a utilização de um corpo metodológico e conceitual nos permitiu construir e avaliar nosso projeto que foi elaborado a partir de diferentes realidades cognitivas e sociais.



IV - Conclusão

Através desta metodologia que aplicamos (questionário fechado) com as crianças, percebemos o quanto foi importante e proveitoso, pois a partir desses conhecimentos em educação ambiental eles se tornaram mais conscientes e compromissados com a natureza, pois acreditamos que a informação e a vivência participativa são dois recursos importantes para ensino-aprendizagem voltado para o “desenvolvimento da cidadania” da “consciência ambiental”.



V – Referências bibliográfica



ANDRADE, D. F. Implementação da Educação Ambiental em escolas: uma reflexão. In: Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 4.out/nov/dez 2000.



BLASI, M. A Configuração dos Ambientes. Organização dos Espaços Materiais e Tempos: Os Cenários para o Trabalho Escolar. Revista Aprendizagem a Revista da Prática Pedagógica. Ano 2. n. 4. Jan./Fev. 2008.



DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Gaia, 1992.

Grande Dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1999.



FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).



FRIZZO, Mariza Nunes. O ensino de ciências nas séries iniciais. 2º Ed. Ijuí: UNIJUÍ Ed., 1989.



LARCHER, Walter. Ecofisiologia vegetal. São Paulo: EPV, 1986.

McLAREN, Paul. Teoria crítica e significada da esperança. In GIROUX, H. Os Professores como Intelectuais. Porto Alegre: Artes Médicas, p. xi-xxi, 1997.



PENTEADO, Heloísa D. Meio ambiente e formação de professores. 5º ed. São Paulo: Cortez, 2003.



REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representação social. São Paulo, SP: Cortez, 1995.

SATO, M. Educação para o ambiente amazônico. São Carlos, SP: 1997. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas / Ecologia / Educação Ambiental) – UFSCar, 1997.



SILVA, Daniel José. Metodologia condutora do programa LARUS (Programa de Capacitação em Educação Ambiental). 1996. http://www.ufsc.br/prolarus/vfv.html l

SMYTH, John. Environment and education: a view of changing scene. In Environmental Education Research, v.1, n.1, 3-20, 1995.


Ilustrações: Silvana Santos