Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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13/03/2010 (Nº 31) PERCEPÇÃO AMBIENTAL: AVALIAÇÃO DO PERFIL DE CIDADANIA AMBIENTAL DOS ESTUDANTES DOS CURSOS DE LICENCIATURA DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ (IFPA)
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Educação Ambiental em ação 31

PERCEPÇÃO AMBIENTAL: AVALIAÇÃO DO PERFIL DE CIDADANIA AMBIENTAL DOS ESTUDANTES DOS CURSOS DE LICENCIATURA DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARÁ (IFPA)

 

Vívian Ribeiro Santos1

André Ribeiro de Santana2

Luiza Nakayama3

 

1 Graduada em Licenciatura Plena em Biologia pelo IFPA. GPEEA. E-mail: vivian.rsantos@gmail.com.

 

2 Doutorando em Educação em Ciências e Matemáticas pelo PPGECM, NPADC/UFPA. GPEEA -. E-mail: mestredeo@yahoo.com.br.

 

3 Doutora em Genética Bioquímica e Molecular, NPADC/UFPA, E-mail: lunaka@ufpa.br;  sverdepororoca@ufpa.br.

 

 

RESUMO

Em virtude da diminuição da qualidade ambiental, surgem novas metodologias educacionais como a Educação Ambiental que busca sensibilizar a sociedade para a preservação ambiental. O objetivo deste trabalho foi conhecer a percepção ambiental dos alunos dos cursos de licenciatura do IFPA. Foram aplicados 219 questionários com 23 perguntas de múltipla escolha, relacionadas às suas percepções em relação a importância de trabalhar a Educação Ambiental nas instituições de ensino. 57,1% dos alunos acham que o meio ambiente será importante para sua formação, mas não tem estímulo para discuti-lo. 86,3% dos alunos conhecem o conceito coleta seletiva, mas a maioria respondeu que não separaria seu próprio lixo. 60,3% dos entrevistados conhecem o conceito de Biodiversidade e se consideram parte integrante desta. 86,3% disseram que pretendem trabalhar a temática ambiental com seus alunos independente da disciplina ministrada e preferem fazer isto através de projetos e pesquisas. Entre as formas sugeridas para ministrar o tema meio ambiente a que teve maior porcentagem de escolha foi de forma interdisciplinar, conforme sugerem os PCNs. Concluímos que trabalhar a Educação Ambiental é imprescindível para sensibilizar os educandos da atual crise ambiental e de seu importante papel, enquanto futuros docentes, neste processo.

 

Palavras-Chave:             Qualidade ambiental; Preservação; Percepção ambiental; Educação ambiental.

INTRODUÇÃO

                       

            A qualidade ambiental vem diminuindo a cada dia em virtude de atitudes descontroladas por parte da sociedade que infelizmente está preocupada apenas com o acúmulo de capital, deixando de lado a preocupação com o meio ambiente. O modelo de desenvolvimento econômico que rege nossa sociedade está diretamente relacionado com os problemas ambientais que vêm atingindo a natureza e, consequentemente, a população. Segundo Evaso et al. (1996), este é um modelo de desenvolvimento ecologicamente predador, socialmente perverso e politicamente injusto. Foi pautado na atual crise ambiental que surgiram grandes debates e discussões internacionais sobre a temática ambiental, dentre os quais é importante citar a Conferência de Estocolmo (1972) e a ECO 92 (conferência realizada na cidade do Rio de Janeiro) (OLIVEIRA, 2008).

            Neste sentido a concepção de Desenvolvimento Sustentável surge, em caráter urgente, como um dos caminhos para a construção de uma sociedade mais consciente dos problemas ambientais que estão surgindo e mais preocupada com a conservação da natureza. Portanto, se nós cidadãos pretendemos viver num mundo habitável para nossas futuras gerações, devemos ter como nossa prioridade máxima atingir uma relação sustentável com o resto da biosfera (RICKLEFS, 2003).

            A cidadania ambiental é algo que engloba ações e condutas que podem estar voltadas (ou não) para a melhoria e conservação do meio ambiente. Assim, as pesquisas realizadas no âmbito da percepção ambiental nos permitem compreender a relação do homem com o meio ambiente a partir de análises dos diferentes grupos socioeconômicos que desempenham diferentes ações na sociedade. O termo percepção ambiental pode ser entendido como sendo uma tomada de consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se está inserido, aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo (FERNANDES et al, 2006).

            A formação de professores e suas implicações são fatores fundamentais para o estudo e compreensão da importância de inserir a educação ambiental nas instituições de ensino. Uma relevante questão existente na análise de cursos de formação de professores diz respeito ao conhecimento, sua construção e seu significado no contexto social de modo a proporcionar uma prática de reflexão voltada para um posicionamento político e capacidade de ação do sujeito como elemento integrante e integrado da dinâmica social. Neste sentido, a Educação Ambiental pressupõe novas atitudes sociais e novos critérios de tomada de decisões por parte dos profissionais envolvidos no processo educativo e guiados pelos princípios da sustentabilidade. Isso implica educar para formar um pensamento crítico, criativo e reflexivo, capaz de analisar as complexas relações da realidade natural e social, para atuar no ambiente com uma perspectiva global, porém diferenciada pelas diversas condições naturais e culturais que o definem (TORALES, 2004).

Em virtude desta realidade a Educação Ambiental tem como um dos principais objetivos buscar uma metodologia de ensino que leve à reflexão sobre a postura do ser humano em relação aos mecanismos responsáveis pela degradação do meio ambiente e pela formação da consciência ecológica de cada cidadão sem deixar de incluir nesta discussão a construção do conhecimento considerando a transversalidade deste tema e a inclusão do mesmo nos projetos curriculares conforme a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que incluíram esse tema nos currículos de ensino fundamental. Dentro deste contexto, os PCNs, tornam-se um importante instrumento de apoio para implantação das questões ambientais no ambiente educacional. Segundo os PCNs, o meio ambiente, enquanto transversal, sugere a abordagem da Educação Ambiental em todos os ciclos da educação fundamental (BRASIL, 1998).

A transversalidade permite que o professor desenvolva o trabalho com os alunos de modo dinâmico e não como uma disciplina obrigatória, permitindo que no âmbito escolar trabalhem-se conceitos, valores e atitudes que digam respeito a um melhor relacionamento entre homem e natureza e aluno e professor. Segundo Reigota (1995), a prática pedagógica precisa ser criativa e democrática, sendo fundamentada no diálogo entre professor e aluno.

Trabalhar a temática ambiental de forma transversal e transformadora não é tarefa fácil, mas cabe a nós enquanto educadores introduzir esta necessidade de refletir sobre nossas ações e verificar o quanto elas interferem no equilíbrio de nossos ecossistemas.

Sendo a escola um espaço de discussão e articulação para o despertar da consciência ambiental, é preciso clareza na definição destes conceitos e é nesse sentido que torna-se importante conhecer o perfil dos futuros docentes a serem formados por esta instituição de ensino no âmbito da percepção ambiental. É necessário, que os licenciandos conheçam o ambiente, no qual estão inseridos, pois somente assim é que estarão realmente preparados para trabalhar a Educação Ambiental de forma integradora com seus alunos independente da disciplina que ministrarem.

METODOLOGIA

 

Foram aplicados 219 questionários com 23 perguntas de múltipla escolha relacionadas a percepção dos estudantes em relação ao meio ambiente e a importância de trabalhar a Educação Ambiental independente do grau de ensino ou disciplina ministrada.

A elaboração do questionário foi baseada no trabalho de Carvalho e Furtado (2007), Fernandes et al. (2006) e Valdameri (2004). Algumas questões foram adaptadas, exclusivamente, para os alunos dos cursos de licenciatura do IFPA, em virtude de se tratar de uma pesquisa voltada a futuros professores.

Todos os questionários foram aplicados durante o horário de aulas e a participação dos alunos foi voluntária e anônima. A coleta dos dados foi realizada entre os meses de setembro e outubro de 2008. A pesquisa incluiu os seguintes cursos de licenciatura plena da instituição: Biologia, Física, Geografia, Matemática, Pedagogia e Química. O curso de Letras não foi incluído na pesquisa por se tratar de um dos cursos recém criados na instituição possuindo apenas uma turma.

Todos os dados coletados foram tabulados em uma planilha no programa Excel e, em seguida, transferidos para o programa SPSS 5.0 for Windows (Software Statistical Package for the social Sciences), onde foi possível analisar as freqüências absolutas e porcentagem das respostas coletadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            Foram aplicados 219 questionários num total de aproximadamente 500 alunos, de acordo com informações obtidas na Gerência de Registros e Atividades Discentes (GIRAD), matriculados nos cursos de licenciatura do IFPA. A amostra utilizada foi representativa da comunidade considerando uma margem de erro de 5% e um intervalo de confiança de 95%.

              Dos 219 alunos que fizeram parte da pesquisa 36,5% tem entre 21 e 24 anos. Em relação ao semestre que estão cursando, 37,4% estão matriculados no 2º semestre, 35,1% no 6º semestre e 27,4% no 4º semestre. A porcentagem dos alunos matriculados por curso de licenciatura obtida foi: Licenciatura em Química (23,7%), Licenciatura em Biologia (23,3%), Licenciatura em Matemática (16,9%), Licenciatura em Física (14,6%), Licenciatura em Geografia (14,6%) e Licenciatura em Pedagogia (6,8%).

            Quando questionados se na sua instituição de ensino existe algum projeto relacionado à Educação Ambiental 53,3% disseram que não, 44,3% disseram que sim e 0,5% disseram não saber. Dentre os que disseram não, 67,6% são do curso de Matemática e 66,7% do curso de Pedagogia, demonstrando que os alunos destes cursos, certamente, não costumam trabalhar em nenhum tipo de projeto voltado à Educação Ambiental dentro da instituição. A porcentagem dos alunos que disseram sim reafirma tal fato, pois 58,8% são do curso de Biologia, demonstrando que muitos destes ainda acreditam que a Educação Ambiental esteja relacionada apenas com a área de ciências biológicas.

            Segundo os licenciandos, assuntos relacionados ao meio ambiente são eventualmente (44,3%) ou raramente (29,7%) discutidos na instituição e, a maioria (35,2%) gostaria que tais assuntos fossem discutidos através de uma disciplina específica ou em todas as disciplinas (32%); 30,6% gostariam que os assuntos fossem escolhidos em conjunto pelos professores e alunos e apenas 2,3% não considera necessário discutir o meio ambiente.

Como 53,3% dos alunos responderam que não existe nenhum projeto voltado à Educação Ambiental na instituição, consequentemente, 57,1% respondeu nunca ter participado de qualquer curso ou evento relacionado ao meio ambiente dentro do IFPA. Dentre estes, 26% são do curso de Matemática e 20% do curso de Química. Por outro lado, dentre os que disseram que já participaram de algum curso ou evento na instituição 35% são do curso de Biologia e 29% do curso de Química. Entretanto, quando indagados se participariam de um curso ou projeto sobre meio ambiente, caso fosse oferecido na instituição, 46,6% respondeu que sim, dependendo do assunto e 38,8% disse que sim, qualquer que fosse o assunto.

            A maioria dos entrevistados (57,1%) considera o tema meio ambiente importante na sua formação profissional, apesar de não ter pleno estímulo para discuti-lo; 19,6% disseram que será importante conhecer o meio ambiente para sua formação profissional; 17,8% acham que este é um assunto para ser discutido apenas por especialistas e 5,5% consideram o conhecimento que tem hoje acerca do assunto suficiente para sua formação.

Abordar o tema meio ambiente significa tomar como objeto de estudo o somatório de condições essenciais à vida, incluindo a natureza, o homem e o produto das relações entre estes (FREITAS; RIBEIRO, 2007). Segundo o artigo 225 da Constituição Federal Brasileira (BRASIL, 1988), todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo este um bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, sendo dever do poder público e à coletividade o papel de defendê-lo e preservá-lo. Dessa forma, fica claro o papel tanto por parte das autoridades quanto da população zelar pelo seu patrimônio natural, ou seja, pelo conjunto de fatores físicos, químicos e biológicos que permite, abriga e rege a vida no nosso planeta (BRASIL, 1981).

            Quando questionados sobre a definição correta de meio ambiente os alunos demonstraram que se consideram parte integrante deste, já que 77,6% optaram pela alternativa que o definiu como sendo as interações entre as diferentes formas de vida existentes no planeta, incluindo os seres humanos. Apenas uma pequena parcela (1,4%) define meio ambiente como as interações entre diferentes formas de vida, sem incluir o homem, 16% consideram como meio ambiente os recursos naturais e 5% acham que são apenas os animais e as plantas.

            Sem dúvida, a responsabilidade de cuidar do meio ambiente deve ser atribuída a toda a sociedade que acredita que através de medidas simples seja possível amenizar os impactos ambientais. Segundo Freire (2000):

 

 

[...] aceitar o sonho de um mundo melhor e a ele aderir é aceitar entrar no processo de criá-lo. Processo de luta profundamente ancorado na ética. De luta contra qualquer tipo de violência. De violência contra a vida das árvores, dos rios, dos peixes, das montanhas, das cidades, das marcas físicas de memórias culturais e históricas [...] (p. 132)

 

 

            Ao serem questionados sobre de quem é a responsabilidade de cuidar do meio ambiente a grande maioria (92,2%) respondeu que é de todos, apenas 5,5% acham que a responsabilidade é da sociedade, 1,8% responderam que é do Governo Federal e apenas 0,5% acham que é do estado.

Ao pedir para que os entrevistados opinassem sobre as leis na área ambiental obteve-se um resultado interessante, pois 47,9% acham que ao mesmo tempo em que deveriam aplicar as leis existentes também deveriam criar novas e 44,7% acham que é necessário apenas aplicar as leis existentes, demonstrando que os alunos são conscientes de que apesar de existirem leis a sociedade não as respeita e continua degradando o meio ambiente de forma desordenada e desumana.

            Segundo Mousinho (2003), Desenvolvimento Sustentável é o modelo de desenvolvimento econômico, social, científico e cultural das sociedades garantindo mais saúde, conforto e conhecimento, sem exaurir os recursos naturais do planeta, que busca o equilíbrio entre o desenvolvimento socioeconômico e a preservação do meio ambiente. É um termo abrangente que engloba aspectos econômicos, sociais e ambientais.  Tal conceito foi sendo cada vez mais difundido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), órgão criado pela Organização das Nações Unidas para realizar um estudo sobre a situação ambiental e prioridades a serem estabelecidas na Conferência do Rio, em 1992.

Diante disso, conhecer o conceito de Desenvolvimento Sustentável é importante, principalmente, para os futuros docentes. Felizmente, quando indagados a respeito deste conceito observamos 50,7% de acerto. Ao comparar estes resultados com os cursos verificou-se que o maior número de acertos foi dos alunos do curso de Geografia (62,5%), seguido dos cursos de Biologia (58,8%) e Pedagogia (53,3%).

            Embora o desemprego seja um problema evidente em nossa sociedade 68% dos entrevistados disseram que não aceitariam um pouco de poluição em troca de mais empregos, demonstrando que os futuros professores, apesar de preocupados com o mercado de trabalho não deixam de observar a importância de cuidar do meio ambiente. Apesar disso, mais da metade (63%) disseram que jogam no lixo doméstico produtos como, pilhas, lâmpadas fluorescentes e baterias de celular; apenas 26,5% responderam que devolvem em locais próprios e 10,5% na loja onde compraram. Este fato é decorrente não apenas pela falta de conhecimento sobre os riscos ambientais que estes produtos podem causar a população, mas pela falta de informações por parte dos fabricantes que não alertam sobre estes riscos nas embalagens de seus produtos.

            Isto nos mostra que os alunos do IFPA, assim como a maioria da população, desconhecem a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 257 de 30.06.99 que aborda os impactos ambientais negativos em virtude deste descarte inadequado e trata de sua disposição final, que vigora no país desde 27.07.2000. Os abalos causados na saúde e no meio ambiente por estes resíduos são evidentes, pois pilhas e baterias lançam níquel e cádmio que são metais pesados bioacumulativos que praticamente não são eliminados pelo organismo, podendo causar graves problemas de saúde (Números – Veja, SP, 22 de novembro de 2000). As lâmpadas fluorescentes também são prejudiciais a saúde, pois liberam mercúrio que é um metal pesado e tóxico, além de não biodegradável contaminando o solo e a água (ADDISON, 2003).

              Dentre as conseqüências da disposição inadequada do lixo no meio ambiente estão problemas como: a proliferação de vetores de doenças, por exemplo, ratos, baratas e micróbios; a contaminação dos lençóis subterrâneos e do solo, além da poluição do ar, causada pela fumaça proveniente da queima espontânea do lixo exposto e da grande quantidade de veículos que circulam pelas ruas. Os países produzem uma grande quantidade de lixo todos os anos e, nem metade deste é destinada a coleta seletiva ou a projetos de reciclagem. A cidade de Belém produz principalmente lixo composto por matéria orgânica (58%), e produtos recicláveis como vidros, metais, plásticos, papel, etc., estão em torno de 36%. Embora a coleta de lixo da cidade aconteça três vezes por semana e cobrir uma área de 90% dos domicílios, é comum nos depararmos com grandes quantidades de lixo nas ruas.

              Diante desta realidade, é evidente que o lixo é responsável por um dos mais graves problemas ambientais dos últimos anos, logo, seria interessante que a coleta seletiva fizesse parte do cotidiano de toda a sociedade, mas para isso é necessário que se tenha conhecimento do significado de coleta seletiva, especialmente para os professores que são uns dos principais responsáveis pela construção de conhecimento. Em amplo sentido coleta seletiva é um sistema de recolhimento de resíduos recicláveis e reutilizáveis previamente separados seletivamente, de acordo com sua constituição (GUIMARÃES; LEITE, 2005). Ao serem indagados sobre o conceito de coleta seletiva, 86,3% responderam que é o recolhimento de materiais passíveis de serem reciclados, 7,8% disseram que é um centro de triagem para limpeza e separação de resíduos, 1,8% acham que é a venda de materiais com benefícios para a comunidade e outros 4,1% não souberam conceituar coleta seletiva. Apesar de a maioria dos entrevistados ter dado o conceito correto de coleta seletiva, quando perguntados sobre a possibilidade de cada morador ter que separar seu próprio lixo mais da metade (54,3%) disse que apenas alguns separariam, 28,8% acham que só separariam se houvesse uma lei que obrigasse; 8,2% acreditam que mesmo que a população separasse a prefeitura não faria a coleta, 5,5% disseram que ninguém separaria e apenas 3,2% acreditam que todos separariam.

O termo Biodiversidade representa a variedade de comunidades vegetais e animais que se interrelacionam e convivem num espaço comum, que pode ser um ecossistema ou um bioma. Segundo Lamin-Guedes e Soares (2007), dentro deste conceito é importante incluir a espécie humana como componente fundamental deste sistema, além de ser altamente dependente dos serviços e bens ambientais oferecidos pela natureza. Ao serem questionados sobre a definição de Biodiversidade, mais da metade dos alunos (60,3%) respondeu ser a variedade de animais e vegetais em um ecossistema, 21,9% acham que é o conjunto de seres vivos que habitam um ambiente, 12,3% responderam que são espécies de animais ou vegetais que indicam modificações de um ambiente e 1,8% acham que é a relação entre o clima e os organismos vivos. Apenas 3,7% não souberam responder. O desconhecimento destes alunos sobre o conceito de Biodiversidade, talvez possa ser atribuído a não abordagem deste tema em alguns cursos da instituição, o que é um fato lamentável, pois o tema meio ambiente é considerado transversal pelo programa curricular nacional e deve ser abordado de maneira interdisciplinar independente do grau de ensino. Quando estes resultados foram comparados com o curso, observou-se que os alunos do curso de Geografia apresentaram o maior número de acerto (71,9%), seguido do curso de Biologia (66,7%), talvez por estes cursos apresentarem em suas grades curriculares a disciplina Ecologia.

A inclusão da temática ambiental em cursos de formação de professores e de licenciatura é um processo recente e decorre em virtude de debates internacionais sobre meio ambiente e Educação Ambiental. No Brasil, conforme já foi citado anteriormente, este tema é apresentado como tema transversal pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), que consideram sua inserção em todos os níveis de ensino. Portanto, compreender a problemática ambiental, assim como formas de amenizar os impactos que a ação antrópica vem causando na natureza, é de vital importância para que profissionais da educação estejam aptos a trabalhar este tema em sala de aula despertando a consciência ambiental em seus alunos. Felizmente, os entrevistados demonstraram estar cientes deste fato, pois, quando questionados se pretendem trabalhar o tema meio ambiente com seus alunos 86,3% disseram que sim, 11% disseram talvez. Quando comparados estes resultados com os cursos, observou-se que entre os alunos de Biologia todos os entrevistados afirmaram que pretendem trabalhar o tema meio ambiente com seus alunos; no curso de Física 75%; no curso de Geografia 96,9% disseram; no curso de Matemática 70,3%; no curso de Pedagogia 93,3% e no curso de Química 82,7%. No que diz respeito à maneira como os futuros docentes pretendem abordar o tema meio ambiente com seus alunos, os métodos mais votados pelos entrevistados foram projetos (35,6%) e pesquisas (32,4%).

Uma das questões apresentadas aos acadêmicos sugeria que apontassem de acordo com suas experiências, qual a maior dificuldade encontrada para trabalhar sobre o tema meio ambiente nas escolas, a maioria respondeu orientação pedagógica (34,7%), em segundo lugar ficou a falta de material didático (24,2%) e em menor proporção a participação dos alunos (6,8%). Este resultado nos mostra que apesar das instituições promoverem alguns trabalhos e projetos em Educação Ambiental, falta mais articulação entre os professores, em especial os professores dos cursos de licenciatura, que são profissionais que atuam no processo de formação opiniões e influenciam na conduta de seus alunos.  Se houvesse mais estímulo por parte dos professores os alunos, com certeza, estes iriam se interessar mais, não apenas pela problemática ambiental, mas em encontrar maneiras de amenizar os impactos que vem sendo causados ao ambiente. Além disso, faz-se necessário que o governo atue investindo mais na educação, tanto em projetos voltados a Educação Ambiental como na qualificação de seus profissionais e na estrutura física das escolas e universidades.

Quando perguntado sobre em que o professor deve ter conhecimento prévio para trabalhar Educação Ambiental com seus alunos, a maioria (35,6%) respondeu assuntos da atualidade; 26,9% disseram que é importante que o professor domine todas as temáticas propostas (Terra, solo, água e ar; flora e fauna; poluição; assuntos da atualidade; questões sociais e processos físico-químico-biológicos); 11,0% marcaram processos físico-químico-biológicos; apenas 7,8% marcaram terra, solo, água, e ar, juntamente com questões sociais; 5,9% marcaram poluição e 5,0% marcaram flora e fauna.

            Por fim, perguntamos de que forma a preservação do meio ambiente deve ser ministrada aos alunos na opinião dos nossos futuros docentes, tivemos como resultado 70,8% afirmando que é de forma interdisciplinar, 7,8% na disciplina de Ciências/Biologia, 12,8% de forma universal e 8,7% em disciplina específica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A pesquisa realizada sobre a percepção ambiental dos estudantes de Licenciatura do IFPA implicará em reflexões de contribuirá com futuras discussões voltadas para a preocupação ambiental baseadas no perfil dos futuros professores a serem formados pela instituição em relação ao seu grau de conhecimento sobre o meio ambiente no qual fazem parte.

Desde a década de 1970 discussões sobre os impactos ambientais vem se intensificando, na mesma proporção que os desastres ecológicos também vêm ocorrendo no mundo e servindo como desencadeadores de reflexões.

Certamente foi possível alcançar o objetivo principal deste trabalho, traçar o perfil da cidadania ambiental dos alunos licenciandos desta instituição que, apesar de demonstrarem maturidade e conhecimento em alguns tópicos em particular, ainda tem muito a conhecer sobre a natureza e suas constantes interações.

Uma parcela significativa acredita que a temática ambiental é um assunto que deveria ser abordado através de uma disciplina específica, o que nos mostra que, embora estudem os princípios criados pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), já que freqüentam cursos de Licenciatura plena, não estão preparados para abordar este tema de forma transversal, ou seja, atrelado as suas respectivas disciplinas de formação.

Entre os alunos entrevistados 57,1% nunca participou de nenhum curso ou evento relacionado ao meio ambiente. Por outro lado, muitos demonstraram interesse em participar de algum curso ou projeto, caso fosse oferecido na instituição, dependendo do assunto ou qualquer fosse o assunto abordado. Alguns mesmo não tendo tempo disseram que também gostariam de participar. Um fato preocupante constatado foi que 57,1% dos alunos disse que o assunto meio ambiente será importante para sua formação, mas não tem estímulo para discuti-lo, ou seja, ambos reconhecem a importância de estudar este assunto, mas falta algo que os estimulem para levar esta abordagem para seus planos de trabalho. Uma forma de mudar esta realidade seria a inclusão de cursos e projetos nos cursos de licenciatura da instituição, pois, esta seria uma forma dos alunos conhecerem e participarem ativamente de trabalhos voltados a esta temática tão importante para sua formação profissional.

Felizmente grande parte dos entrevistados demonstrou conhecer o conceito de meio ambiente, especialmente os alunos de Pedagogia que, apesar de não terem na sua grade curricular nenhuma disciplina que relacionada a este tema provaram saber que fazem parte da natureza.

Mais de 90% dos alunos admite que a responsabilidade de cuidar do meio ambiente é de todos, entretanto, embora 68% dos entrevistados responderem que não aceitariam um pouco de poluição em troca de mais empregos, mais da metade (63%) disseram jogar no lixo doméstico, pilhas, lâmpadas fluorescentes e baterias de celular.

Apesar de mais de 86% dos alunos responderem que corretamente o que significa coleta seletiva, quando levantada a possibilidade de cada morador separar seu próprio lixo, a maioria respondeu que ninguém separaria. O que nos leva a concluir que mesmo sabendo o significado e o objetivo de fazer coleta seletiva do lixo muitos não se comprometeriam a separar seu lixo, já que é mais fácil apenas colocá-lo na porta para o lixeiro levar.

Avaliando o perfil dos alunos, segundo suas percepções enquanto futuros docentes constatou-se que os licenciandos são conscientes da importância de trabalhar o meio ambiente em sala de aula e a maioria disse que pretende trabalhar esta temática com seus alunos e prefere fazer isto através de projetos e pesquisas, talvez por considerarem uma forma mais atrativa para seus alunos desenvolver projetos nesta área do que apenas ministrar aulas em sala. Entretanto, a maioria acha que a falta de orientação pedagógica é uma das maiores dificuldades encontradas para trabalhar o meio ambiente nas escolas. Esta realidade deixa claro que existe carência de projetos voltados para o preparo de profissionais que saibam abordar este assunto de maneira eficiente.

Estar atualizado no que acontece pelo mundo é uma forma de estar preparado para abordar temas atuais como a Educação Ambiental e a conservação do meio ambiente. Felizmente, os entrevistados estão cientes disto, pois a grande maioria respondeu que para trabalhar a Educação Ambiental o professor deve ter conhecimento prévio em assuntos da atualidade.

A educação precisa ser encarada como uma forma de relação humana voltada a promover a cidadania entre aqueles que fazem parte de uma mesma situação sócio-ambiental. Somente assim será possível fazer um trabalho de sensibilização humana, considerando a Educação Ambiental como uma ação ecológica.

O resultado desta pesquisa permitiu a realização uma profunda reflexão sobre valores pessoais acerca das atitudes em relação ao meio ambiente em que vivemos. Além de perceber a importância de realizar trabalhos como este que busca verificar e avaliar a percepção ambiental de futuros profissionais que atuarão no ramo da educação, pois estes são os atores principais no processo de construção da consciência ambiental de seus alunos independente do grau ou modalidade de ensino.

REFERÊNCIAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos