Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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13/03/2010 (Nº 31) AÇÕES AMBIENTAIS COM PESSOAS QUE CONVIVEM COM O HIV DO GRUPO DE APOIO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SANTA MARIA (HUSM)
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Educação Ambiental em ação 31

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

 

Ações ambientais com pessoas que convivem com o HIV do grupo de apoio do Hospital universitário de Santa Maria (Husm)

                                                                                   Simone Terezinha Dias de Oliveira

 

RESUMO:

Projeto de Educação Ambiental, de caráter não-formal, desenvolvido junto ao Grupo de Apoio a portadores de HIV do Hospital Universitário de Santa Maria, objetivando  buscar  através de debates e oficinas temáticas uma motivação para eleição de valores  acerca do meio ambiente e  uma conscientização da realidade do nosso planeta. Ao   abordar a situação do meio ambiente, pode-se observar que através de mudanças cotidianas  como  cuidados com o lixo doméstico, uso da água de forma consciente, separação e destino correto aos resíduos,  entre outras atitudes simples podem contribuir para melhoria da situação mundial e o equilíbrio entre  homem e o ambiente, bem como o respeito e o cuidado à “Vida” nas diferentes formas.

 

PALAVRAS CHAVES: Vida, Educação Ambiental, cuidar.

 

ABSTRACT

Project of Environmental Education of non-formal feature, developed with the Group of Support to people with HIV from the University Hospital from Santa Maria, with the goal of seeking, through discussions and thematic workshops, a motivation for choice of values about the environment and an awareness of the reality of our planet. Talking about the situation of the environment, it can be noticed that through daily changes such as care of household waste, use of the water in a conscious way, separation and correct destination to the wastes, among other simple actions, can contribute to the improve of the world situation and the balance between man and environment, as well as respect and care to the “Life” in different ways.

 

 

 

 

KEY WORDS: Life, Environmental Education, to take care of.

 

 

 

 

Em 2003 foi criado o grupo de apoio do Hospital Universitário de Santa Maria com a intenção de proporcionar aos usuários do serviço de infectologia do Hospital um espaço de reflexão a cerca das nuances que a doença traz ao indivíduo portador do vírus e doente de AIDS. É um momento de reflexão a cerca do tratamento, de situações vivenciadas como o preconceito, e a não aceitação da doença. Estímulo ao autocuidado, troca de experiências e geração de renda por meio de oficinas que procuram desenvolver habilidades e talentos artesanais.

O grupo de apoio a portadores de HIV é um espaço de discussão e aconselhamento aos usuários do setor de Infectologia HUSM, que tem finalidades diversas que começam pela adesão ao tratamento, aceitação da doença a assuntos diversos e confecção de artesanatos. Não    critérios de seleção, simplesmente o interesse por parte dos pacientes, até mesmo para conviver e trocar experiências com pessoas que possuem e enfrentam problemas semelhantes.

As reuniões do grupo de apoio têm participação da equipe de enfermagem, psicólogo, farmacêutica e assistente social, nas quais são discutidos assuntos diversos visando uma melhor aceitação e melhorias na adesão ao tratamento medicamentoso e no psicológico com a troca de experiências entre os participantes buscando sanar dúvidas e buscar melhorias na qualidade de vida aos usuários do setor.

O convívio social é importante para pessoas com HIV, aumentando sua auto-estima e devem ser incentivados. Ao descobrir ser portador do HIV percebe-se que as pessoas reagem de diferentes formas.Algumas ocultam e não aceitam o diagnóstico, não se tratando, até ter alguma manifestação séria que as obrigue a procurar o auxílio médico, outras após passar por essa fase resolvem assumir-se como portadores do vírus, porém pessoas normais e que devem ter uma vida igual a que tinham antes, fazendo tratamento, cuidando e valorizando sua saúde e vida, acima de qualquer coisa, buscando sempre o seu bem-estar e qualidade de vida.

A Educação Ambiental pode proporcionar uma maior interação do ser humano em questão, de forma a promover ações de valorização da vida, que no caso é o primeiro direito, nas diferentes formas, fazendo com que a vontade de viver bem e em harmonia com o meio e os semelhantes fosse maior que o medo da morte. Este trabalho se justifica devido à necessidade cada vez maior das pessoas desenvolverem uma consciência ecológica e preocupação com as causas ambientais, buscando um mundo no sentido geral, mais “sustentável”.

O trabalho no primeiro momento iniciou com discussões e conhecimento da realidade de cada um, vendo suas dificuldades e problemas enfrentados dentro da sua comunidade relacionada às questões ambientais, para depois desse levantamento prévio,  realizações  de ações que virão a tentar melhorar ou amenizar essas questões a começar por cada um, no seus dia-a-dia, cuidados com os resíduos produzidos diariamente, forma adequada de armazená-los para posteriormente descartá-los, caso estejam contaminados ou não,  uso responsável dos recursos naturais, e problemas ambientais apresentados pela mídia.

            Buscou-se trabalhar isso de uma forma agradável, com oficinas e materiais expositivos, vídeos, slides para que esses momentos tornassem agradáveis, de discussão, sensibilização  e argumentação a todos os participantes. As temáticas voltadas para a apresentação da realidade ambiental mundial.

            O principal objetivo foi fazer com que mudanças, mesmo que pequenas fossem adotadas, a começar pela eleição de valores de preservação de recursos naturais e utilização de forma sustentável e sem desperdício.

            Utilizando de termos como o “cuidar” nas diferentes formas, falava-se da questão da importância do cuidado com o Planeta como nossa primeira casa, até o cuidado com si próprio com comportamentos de “preservação e conservação” da saúde de cada um.

            A preocupação e reflexão se direcionaram para que através de discussões fizesse-se  perceber que a Terra e os seres humanos somos algo único e que se deve trabalhar no sentido de preservações indissociáveis, buscando no sentido geral a preservação da vida.

Essa pesquisa-ação teve como objetivo inicial aproximação, bem como levar esclarecimentos dados pela Educação Ambiental de forma a melhorar a vida e a convivência dos participantes do grupo de apoio em questão, à influência dos fatores ambientais na vida de qualquer indivíduo, e no caso, o Grupo de apoio a pacientes com HIV do Hospital Universitário de Santa Maria, que possui reuniões semanais as terças à tarde nas dependências do  mesmo Hospital. Com  objetivos de esclarecer dúvidas relacionadas à Educação Ambiental no cotidiano dessas pessoas, e ampliaria a levar isso até o meio onde eles vivem e promover oficinas relacionadas ao tema como, cuidados com o lixo e materiais contaminados (seringas, medicamentos), cuidados com alimentos, água e diminuição de resíduos entre outros.

            Herbert de Souza (Betinho)em seu texto “o dia da cura” no diz:”A cura da AIDS, existia antes mesmo de existir, e de que seu nome era Vida”, nesse sentido estando preservando o ambiente em que vivemos, estaremos preservando a nossa vida e de futuras gerações e no caso do grupo,que esse saberes e aprendizados possam contribuir para melhoras na vida e no cotidiano desse grupo e contribuir para um pensar que é nas pequenas ações que começa a caminhada por um mundo melhor, onde possa existir mais harmonia homem-natureza. 

Uma Trilha, caminhada, ou mesmo a observação do nosso meio, motiva-nos a sentirmos privilegiados por tudo que temos a nossa volta, pois estamos em uma realidade que, apesar dos problemas, ainda temos estações do ano definidas, temos verde, temos “vida” a nossa volta e temos que lutar para que futuramente nossos indivíduos também possam ter o mesmo privilégio, e é essa conscientização que buscamos através da Educação ambiental.

Promovendo uma melhor consciência critica e fazendo com essas pessoas sintam-se capazes de se empenhar em uma causa para ajudar seus semelhantes e até mesmo diminuir essa visão de preconceito que muitos ainda têm sobre pessoas portadoras do vírus, como se fossem incapazes de lutar por causas, vistos apenas como pessoas “doentes”.

Além das questões ambientais, esses momentos junto ao grupo funcionavam também como um instrumento no processo terapêutico buscando através de um ambiente humanizador uma maior interação entre paciente-grupo, paciente-profissionais, pois todos tinham abertura a falar da sua realidade, o que poderia ser feito para mudar, ampliando seus horizontes, assim essas trocas e a preocupação com o meio, tornou-se  uma forma de amenizar as preocupações voltadas apenas para a doença e sim, para a Vida.

Estabelecendo um ambiente de observação e escuta, compartilhando estes momentos vivenciados pela realidade na busca de soluções para os desafios em que são deparados, verifica-se a importância de cada vez mais ações de conscientização nas comunidades, escolas e diferentes ambientes se fazem necessárias para que não esperamos o fracasso ou grandes catástrofes como as que tem ocorrido para que algo seja feito.podemos mudar a realidade dos problemas ambientais se cada um fizer sua parte e exiga dos governantes mais ações para essa temática.

A questão dos esgotos e lixos nas cidades é um exemplo de que o governo não se preocupa como deveria com as questões ambientais, em nossa cidade temos exemplo, onde apesar de termos estação de tratamento de esgoto, uma porcentagem baixa do esgoto é tratada.

Questões reflexivas e criticas como essas foram bastante debatidas no grupo, a questão de nossa cidade implantar coletas de lixo com containeres apenas nos bairros centrais foi também discutida, sendo que integrantes do grupo possuem familiares que sobrevivem da coleta de matérias, a importância da separação e utilização de luvas.Trabalhou-se também no sentido de adotar medidas saudáveis no descarte de resíduos, como no caso de agulhas utilizadas para aplicação de medicações em casa ou restos de medicações, a importância de devolve-los a um setor de saúde para o descarte adequado, ou em caso de não ter como, utilizar-se de garrafas pets tampadas para descarte de agulhas, evitando assim que pessoas da coleta virem a se picarem ou contaminarem-se.

            As práticas de Educação Ambiental no grupo deram aos integrantes uma oportunidade de reflexão, abrindo aos sujeitos novas possibilidades de problemática ambientais e novas compreensões das relações Sujeito-mundo, construindo sensibilizações, posturas éticas e valores. Para que ao sair das reuniões eles passem esses valores à diante ou ajam criticamente frente a situações de degradação ambiental, até mesmo denunciando a órgãos competentes.

             Transformar-se em um sujeito ecologicamente correto é um processo longo e que exigiria mudanças bruscas no modo de agir e viver ao qual estamos acostumados, porém se cada vez mais ações na busca de conscientização e busca por um modo de vida mais sustentável forem tomadas, estaremos no caminho certo por um mundo mais saudável agora e para nossas futuras gerações.

Os resultados desse processo eram notados ao longo das semanas no inicio das discussões era perguntado: O que você conseguiu mudar na sua rotina essa semana que estaria a contribuir para o processo de melhoria ambiental?As respostas eram as mais diversificadas, desde a diminuição de água em lavagens de roupas, caixas de descarga, separação do lixo, conscientizações nas comunidades em que residem, até mesmo no preparo em alimentos em casa de forma a não desperdiçar, a questão do pensar nos resíduos na hora da compra e o destino aos mesmos.

Estabelecendo um ambiente de observação e escuta, compartilhando estes momentos vivenciados pela realidade na busca de soluções para os desafios em que são deparados, verifica-se a importância de cada vez mais ações de conscientização nas comunidades, escolas e diferentes ambientes se fazem necessárias para que não esperemos o fracasso ou grandes catástrofes como as que têm ocorrido para que algo seja feito. Podemos mudar a realidade dos problemas ambientais se cada um fizer sua parte e exiga dos governantes mais ações para essa temática.

Através de ações simples pode-se perceber que muito foi feito, apesar do projeto ter tido duração de tempo curto, o resultado foi positivo e conclui-se que mesmo em um grupo com as mais diversas preocupações, desde o manter-se vivo e saudável, pessoas podem ser conscientizadas e mudam atitudes, então vamos trabalhar por um mundo mais sustentável e de melhorias, muito ainda, pode e deve ser feito.

As práticas de Educação Ambiental no grupo deram aos integrantes uma oportunidade de reflexão, abrindo aos sujeitos novas possibilidades de problemática ambientais e novas compreensões das relações Sujeito-mundo, construindo sensibilizações, posturas éticas e valores. Para que ao sair das reuniões eles passem esses valores à diante ou ajam criticamente frente a situações de degradação ambiental, até mesmo denunciando a órgãos competentes.

  

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Ilustrações: Silvana Santos