Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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EDUCAÇÃO
AMBIENTAL CRÍTICA NA FORMAÇÃO INICIAL DE EDUCADORES(AS) EM QUÍMICA DA UFPA:
DESVELANDO PARADIGMAS E TENDÊNCIAS E RECONSTRUINDO A FORMAÇÃO INICIAL Jondison Cardoso
Rodrigues1 1
Licenciado
em Química pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Pós-Graduando no
Curso de Especialização em Educação Ambiental e Uso Sustentável dos
Recursos Naturais pelo Núcleo de Meio Ambiente (NUMA)/UFPA e Mestrando
em Ciências Ambientais (Convênio UFPA/EMBRAPA/EMÍLIO GÖELDI), CEP: 66023-190
- Belém - PA - Brasil, dinho_chemy@yahoo.com.br Jovenildo
Cardoso Rodrigues3 3
Geógrafo
pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Economista pela Universidade da Amazônia
(UNAMA), Especialista em Planejamento do Desenvolvimento na Amazônia pelo Núcleo
de Altos Estudos Amazônicos (NAEA)/UFPA, Mestrando em Planejamento do
Desenvolvimento pelo NAEA/UFPA, CEP: 66023-190 - Belém - PA - Brasil,
jovengeo@yahoo.com.br Emanuelle
Silva Vieira4 4Licenciada
em Química pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém - PA, Brasil,
emenuelle_vieiras@yahoo.com.br Giselle
Trindade Damasceno5 4Licencianda
em Química pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém - PA, Brasil,
giselledasmaceno@yahoo.com.br Rafael
Macedo Bittencourt6 4Licenciando
em Química pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém - PA, Brasil,
ra_ma_bittencourt@yahoo.com.br. RESUMO
Nosso trabalho busca identificar e analisar os paradigmas e tendências
reveladas nas/em atividades socioambientais na Formação Inicial de
Educadores(as) em Química (FIEQ) da UFPA e ao mesmo tempo refletir sobre a
relevância da inserção da EAC (com dimensão complexa) no processo de FIEQ.
Cremos que ao revelarmos paradigmas e tendências subjacentes de práticas
socioambientais desenvolvidas na FIEQ, poderíamos intervir para reestruturação
do imaginário formativo e a construção de uma nova proposta pedagógica que
contemple a dimensão complexa. 1 INTRODUÇÃO Para respondermos à
problemática: Quais paradigmas e tendências
revelam-se nas/em atividades socioambientais no âmbito (não-)formal da Formação
Inicial de Educadores(as) em Química (FIEQ) da UFPA?
Estes paradigmas e tendências estariam contemplando “práticas”
de Educação Ambiental Crítica (EAC) com consciência da complexidade
socioambiental? Qual a relevância de se inserir a EAC na FIEQ?-, iremos nos
apropriar de matrizes teóricas para elucidar categorias e conceituações-epistêmicas,
como por exemplo, que é Educação Ambiental (EA), O que é EAC, isto é,
precisaremos mobilizar alguns dialogorizadores e interlocutores que possam
ajudar-nos a fazermos “jogos-ritos” interativos dialético (CARVALHO, 2003),
teóricos estes serão: serão: Loureiro
(2004; 2005; 2006A, 2006B), Gouvêa (2006), Viola (2006), Guimarães (1995;
2004), Guimarães & Vasconcelos (2006), Quintas (1992; 2004), Almino (2006), Tristão (2004), Medina (2001), Morin
(1999; 2003), Thomaz (2006), Jacobi
(2005), Santos & Schnetzler (1997), Rodrigues
et al (2008), Rodrigues (2007), Carvalho (2001),
Campos (2000), Minayo (1996), Bunge (1972). Para
iniciarmos nosso trabalho, é relevante falarmos que desde
1970 segundo Gouvêa (2006), estamos envolvidos em transformações sem
precedentes nas esferas econômica, política, sociocultural e ambiental. Essas
transformações, configuradas pela reestruturação produtiva do processo
capitalista, encerradas sob os ditames do pensamento neoliberal e do processo de
globalização (VIOLA, 2005). “Reestruturações que vem desestruturando”
conquistas sociais e transparecendo as fragilidades econômicas, políticas e de
organização social da maioria dos estados nacionais do Planeta. É bom deixar claro
que estas “transformações” em todas as esferas como expostos acima, não
é uma “crise civilizatória”1 (GUIMARÊAS, 2004) “recente”2
(QUINTAS, 1992), e sim um recrudescimento de um modelo paradigmático societário
insustentável, o capitalismo. Diante
desse cenário de crise civilizatória, é necessário repensamos e construirmos [...] um novo patamar
societário e de existência integrada às demais espécies vivas e em comunhão
com o mundo, precisamos superar as formas de alienação que propiciam a
dicotomia sociedade/natureza. Alienação é causa e efeito de um longo processo
histórico de expropriação dos meios de produção e reprodução sociais da
maioria. Tal expropriação implica não só não se ter os chamados meios
materiais de existência, mas também os meios simbólicos dados
fundamentalmente pelo processo educacional, ambos negados a milhões de
brasileiros e a bilhões de pessoas no planeta (LOUREIRO, 2004, p.16). Um
dos componentes e agentes transformativos que soergue como forma de se construir
um modelo (uma racionalidade paradigmática)
alternativo sustentável é a Educação Ambiental Crítica
(EAC). Por isso, o objetivo do nosso trabalho é identificar e analisar os
paradigmas e tendências reveladas nas/em atividades socioambientais na Formação
Inicial de Educadores(as) em Química (FIEQ) da UFPA e ao mesmo tempo refletir
sobre a relevância da inserção da EAC (com dimensão complexa) no processo de
FIEQ. Ao revelarmos os paradigmas e tendências subjacentes de práticas
socioambientais desenvolvidas na Formação Inicial de Educadores(as) em Química
UFPA, poderíamos reengendrar “[...] a
inserção interventiva para reestruturação do imaginário formativo e a
construção de uma nova proposta pedagógica de formação inicial de
educadores em Química” (RODRIGUES et al, 2008, p. 94), e consequentemente sejamos capazes de
(re)construir um sujeito ecológico3 com forte Conteúdo Emancipatório4
para intervir complexamente no/com o/pelo o/para o mundo. Mas o que é EA e o
que busca? E EAC, o que é?, essas indagações responderemos abaixo. 2
DESENVOLVIMENTO
A Conferência de
Tbilisi em 1977 foi o marco acerca da definição e objetivos da EA, na qual a
EA passou a ser um processo permanente
no qual indivíduos precisar-se-iam tornar conscientes do seu ambiente e
adquirem conhecimento, valores, habilidades, experiências e a determinação
para agir individual e coletivamente, prevenido e resolvendo problemas presentes
e futuros (TRISTÃO, 2004). No entanto, essa vertente fora e é muito criticada por
sua dimensão comportamentalista contemplativa e acrítica, por exemplo, no âmbito
educacional, segundo Medina (2001),
conduzirem a processos de ensino-aprendizagem na quais as mediações sociais,
cognitivas e afetivas encontrarem-se fragmentadas. Logo segundo a mesma autora o
processo educativo, visaria a uma melhoria na qualidade do ensino, pela introdução
de novos conteúdos, estratégias, habilidades “instrucionais”
e modelos de gestão da classe, logo esquecendo a essência complexa5
da EA. A Essência (ou essências
complexas) de categorizações e definições sobre EA vieram se reconstruindo,
por exemplo, Thomaz (2006, p. 72), diz que EA: “[É um] processo educativo de busca de novos valores, sensações e
percepções, no e para o ambiente natural e social”. Jacobi (2005) por
sua vez aduz que EA no processo educativo é o apontamento para a necessidade de
elaboração de propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança
de atitude e práticas sociais, desenvolvimento de conhecimentos, capacidade de
avaliação e participação dos educandos. Já no que tange a
categorizações e definições sobre EAC, Guimarães (1995, p. 28) fala que É uma educação crítica
da realidade vivenciada, formadora da cidadania. É transformadora de valores e
atitudes através da construção de novos hábitos e conhecimentos, criadora de
uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações
integradas ser humano/sociedade/natureza objetivando o equilíbrio local e
global, como forma de obtenção da melhoria da qualidade de todos os níveis de
vida. Esta categorização
de Guimarães converge com de Medina (1998), em que diz: [Educação Ambiental
Crítica é um] [...] processo que consiste em propiciar às pessoas uma
compreensão crítica e global do ambiente, para elucidar valores e desenvolver
atitudes que lhes permitam adotar uma posição consciente e participativa a
respeito das questões relacionadas com a conservação e a adequada utilização
dos recursos naturais, para a melhoria da qualidade de vida e a eliminação da
pobreza extrema e do consumismo desenfreado. A Educação Ambiental visa à
construção de relações sociais, econômicas e culturais capazes de respeitar
e incorporar as diferenças (minorias étnicas, populações tradicionais), à
perspectiva da mulher e à liberdade para decidir caminhos alternativos de
desenvolvimento sustentável, respeitando os limites dos ecossistemas, substrato
de nossa própria possibilidade de sobrevivência como espécie (apud
MEDINA, 2001, p. 18). Já para Layrargues
citado por Quintas (2004), aduz que EAC é um processo eminentemente político,
que visaria o desenvolvimento nos educandos de uma consciência crítica acerca
das instituições, atores e fatores sociais geradores de riscos e respectivos
conflitos socioambientais. Depois desta tessitura
preferimos tecer fios, do que seria EAC6. Logo falaríamos que são
representações, categorizações e conceituações que se espraiariam e
interconectariam desde a imersão profunda das transformações e modificações
em uma perspectiva dialética no ethos,
atitudes e comportamentos do ser humano (ética); como também seria o
questionamento a participação e a “práxis política”7 para
desvelar todas as crenças e ideologias que enganam a sociedade. Além disso, a EAC
buscaria o reencanto utópico (estético) de inter-relação (re-integração
do) homem-natureza (e cultura-natureza)8 como uma espécie de
sensitividade social ou de novas sensibilidades (solidariedade) para com o meio
ambiente, nas quais essas perspectivas entrelaçar-se-iam como teias de saberes
para construção de uma dialogia que produza sentidos (associações,
inter-relações, interações e retroações incessantes e indissociáveis-,
complexas) para que os seres humanos saibam (con)viver em um mundo cheio de
indefinições, contradições, ambigüidades, imprevisibilidade,
imponderabilidade e multireferenciadade, como também se retrolimentem de uma
perspectiva “utópica existencial” de uma Sociedade Sustentável, que
partiria da tolerância as singularidades e as auto-referencialidades de todas
as espécies. Esta concepção de EAC ao mesmo tempo em que busca entrelaçar as
categorias: Ética, Política e Estética também auferem negar o fracionamento
do conhecimento, o padrão de sociedade vigente (hiperconsumista) e ao modus
operandi da educação (não-)formal, da Ciência e da Filosofia dominante
(LOUREIRO, 2004; 2005)9. Em vista do exposto, a
relevância da incorporação da EAC na FIEQ, não seria apenas de construir um
ideário na qual venha propor e promover justificativas e exercícios de conexões
entre o que se aprende e apreende, através da tomada de consciência e da relação
entre o conhecimento e auto-conhecimento e explanadas desde a Formação Inicial
(THOMAZ, 2007; TRISTÃO, 2004), mas também desenvolver atividades
socioambientais práticas no âmbito (não-)formal da FIEQ que possa “criar
condições para que os estudantes se fortaleçam e se constituam como indivíduos
políticos” (GIROUX, 1997 apud GOUVÊA,
2006, p. 167), e também para que os/as Educadores(as) e futuros(as)
Educadores(as) possam combater a “cultura da inocência”10 e
possam intervir complexamente no/com o/pelo o/para o mundo. 2. 1 METODOLOGIA UTILIZADA Nosso
projeto de pesquisa norteou-se precipualmente, no método de histórico e dialético11.
E que se sucedeu através de vários
momentos de investigação: de levantamentos bibliográficos, Pesquisa
documental (dos Programas de Pesquisa, de Ensino e Extensão-, como também na
inter-relação dos mesmos, mas ligado a Graduação, isto é, a FIEQ); do
Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Química (PPCLQ));
aplicação de questionários com os/as discentes de Licenciatura em Química da
UFPA, entrevistas do tipo semi-estruturada com os/as docentes da UFPA. O
primeiro momento deu-se através de levantamentos bibliográficos intrínsecos a
construção, formação e epistemologia de saberes acerca dos campos de
conhecimentos: EA, EAC, Tendências Pedagógicas Ambientais, FIEQ, Epistemologia
da Complexidade, e que se tornou
alicerce epistemológico para analisar o PPCLQ
da UFPA e os Programas (de Pesquisa, de Ensino e de Extensão-, como também da
inter-relação dos mesmos, mas ligado a Graduação, isto é, a FIEQ), e assim
vislumbrar a vertente de EAC. O
segundo momento fez-se com a aplicação
de questionários com os(as) discentes (com total de vinte) através das
perguntas: O que é Educação
Ambiental? O que é Educação Ambiental Crítica e qual o seu objetivo?; Como
você trabalharia com seus futuros(as) educandos(as) a dimensão Ambiental?;
Como a Educação Ambiental Crítica é abordada no currículo do curso de Formação
Inicial de Educadores(as) em Química da UFPA?; Quais
as concepções de Educação Ambiental trabalhada no curso de Formação
Inicial de Educadores(as) da UFPA?; Qual o sentido e qual a relevância
da incorporação da EAC na FIEQ para sua Formação de futuro(a) Educador(a) em
Química?. O
terceiro momento fez-se através de entrevistas do tipo semi-estruturada, com (três)
docentes, na qual serviu como material
para reunião de elementos para análises do foco específico (objetivo) que
este estudo propôs-se fazer. As perguntas da
entrevista semi-estruturada feitas foram:
Que espaços pedagógicos você utiliza em práticas socioambientais?; O
que é Educação Ambiental? O que é Educação Ambiental Crítica e qual o seu
objetivo?; Como você Professor(a) desenvolve com educandos(as) práticas
socioambientais complexas na FIEQ durante o semestre (ou
ano)?; Como você trabalharia com
os(as) formandos(as) a Dimensão Ambiental?; Como a
Educação Ambiental Crítica é abordada no currículo do curso de formação
Inicial de Educadores(as) em Química da UFPA?; Quais as concepções de Educação
Ambiental trabalhada no curso de Formação Inicial de Educadores(as) da UFPA?;
Relate uma prática pedagógica que você realizou e que você considera uma prática
socioambiental de dimensão complexa?. Quanto
à natureza da pesquisa, utilizou-se a metodologia qualitativa. Este recurso apresenta-se
como o mais apropriado para a continuação da pesquisa, à medida que tal
metodologia permite trabalhar com o universo de significados, aspirações e
atitudes (MINAYO, 1996). Enveredadas essas à necessidade de explanar, rever,
aprofundar, redimensionar e consolidar referencial teórico para que edifique o
incremento definições, representações simbólicas, e que segundo concepção
de Bunge (1974), as representações simbólicas seriam descrições que
incidiriam sobre as traduções específicas de liberdade e autonomia de
saber(es) e categoria(as) expressas dialogicamente. Assim ajudariam no
embasamento teórico da discussão e da ação epistemológicas do processo
investigativo que objetivamos alcançar. No último momento fez-se
a sistematização e triangulação das informações para que se possa
analisar e problematizar, em vista de atingir
os objetivos pretendidos. 2.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os
Paradigmas e tendências desveladas e que transpareceram nos nossos resultados,
poderiam ser elencados por nós de forma reflexiva e as vezes entrecruziva
(entre docentes e discentes e ouras vezes entre o PPCLQ e os Programas de
Pesquisa, de Ensino e Extensão-, como também na inter-relação dos mesmos,
mas ligado a Graduação, isto é, a FIEQ ), ao apresentarem pensamentos e idéias
afins, como se pode ser vista abaixo: Tanto
nos docentes e discentes revelaram (tendências): Ø
Uma tendência de
Educação Ambiental contemplativa na
qual o processo aprendizagem dá-se de forma eminentemente empírica (LOUREIRO,
2006A) (aprendizagem reduzida à aquisição de certos conceitos
vistos na natureza) e como também uma EA (e/ou EAC) apenas relativa aos impactos
degradativos ambientais de substâncias químicas ao meio ambiente, e que
infelizmente vem sendo reforçada em trabalhos acadêmicos como de Silva (2007) e Matsunaga (2006); Ø
A EAC para os(as) docentes e
discentes “serviria” (funcionariam) como um instrumento somente reflexivo
sobre a realidade socioambiental e não uma luta social aliada às práticas
sociais emancipatórias;e Ø
As representações sobre dimensão
pedagógica da EA e a EAC seria basilada na dimensão informativa (esta
tendência revelou-se também no PPCLQ). No que concerne às tendências apresentadas nos Programas
de Pesquisa, de Ensino e Extensão (ligada a Graduação, isto é, a FIEQ), no
PPCLQ e nos/as docentes foram: Ø
Dispedagogia ambiental12
que pode ser entendida como a carência
de um projeto educacional que enfatize a importância dos aspectos político,
social, cultural, teórico e prático da educação na construção da
complexidade socioambiental na FIEQ. Agora tanto nos
docentes e discentes desvelaram (de forma paradigmática): Ø
Posturas derivadas do paradigma
cartesiano e da pedagogia tecnicista que postulam um sistema de ensino e visão
fragmentada (RODRIGUES, 2007) (houve, no entanto, a exibição desse paradigma,
em um Programa de Pesquisa em “Química Verde”); Ø
Formações Desvinculadas da
compreensão e integração e complexificação (pressupostos epistemológicos,
éticos, políticos, sociais, culturais, teórico-metodológicos e filosóficos)
e entre Tecnologia, Ciência e Educação (op.
cit); Ø
Descontextualização ao
compreender a particularidade das dinâmicas sociais e ambientais polarizadas e
não coadunadas; Ø
Abordagem “racional”, expressa
pelos(as) docentes e discentes permeadas pela super-valorização
dos conhecimentos científicos na Educação Ambiental, tanto no que diz
respeito a mediação da relação homem-natureza como no que diz respeito aos
fundamentos da Educação, paradigma já expresso no trabalho de Campos (2000); Ø
Práticas socioambientais pedagógicos
dos docentes pautadas apenas nas certezas e na unidimensionalidade; e Ø
O estabelecimento de relações
simplistas e lineares com a problemática socioambiental e a proposição de práticas
pouco crítico-emancipatória de pensamento complexo (que questionamento do padrão
hiperconsumista societário). Nos discentes
desvelarem (de forma paradigmática): Ø
“Limitação compreensiva e
incapacidade discursiva”13 (GUIMARÃES; VASCONCELLOS,
2006) de lidar com a complexidade do real, das questões socioambientais da
atualidade e dos aspectos de complementaridade de processos numa perspectiva
relacional: científica e ambiental. CONCLUSÃO Vivenciamos um cenário
de instabilidade, transições e “Crise(s)”. Cenários que desde 1970
passaram por várias transformações nas esferas econômicas, política,
sociocultural e ambiental. Transformações, configuradas pela reestruturação
produtiva do processo capitalista, encerradas sob os ditames do pensamento
neoliberal e no processo de globalização.
É claro que estas “transformações” em todas as esferas, não é
decorrida de uma “Crise Civilizatória”
“recente”, e sim um recrudescimento de um modelo de paradigmático
(insustentável) societário, o capitalismo. Diante
desse cenário de Crise Civilizatória, e em virtude das tendências e
paradigmas desvelados da FIEQ da UFPA: Educação
Ambiental contemplativa na qual o processo aprendizagem dá-se de forma
eminentemente empírica; EAC como apenas relativa aos impactos
degradativos ambientais de substâncias químicas ao meio ambiente; EAC como
instrumento somente reflexivo sobre a realidade socioambiental; dimensão pedagógica
da EA e a EAC basilada na dimensão informativa; Dispedagogia ambiental; posturas
arraigadas no paradigma cartesiano e tecnicista; Formações desvinculadas da
compreensão e complexificação; dinâmicas sociais e ambientais polarizadas e
não coadunadas; super-valorização
dos conhecimentos científicos na Educação Ambiental; Práticas
socioambientais pautadas apenas nas certezas e na unidimensionalidade; relações
simplistas e lineares com a problemática socioambiental e carência ao questionar o padrão hiperconsumista societário;
“Limitação compreensiva e incapacidade discursiva”-, faz-se necessário intervir
para reestruturação do imaginário formativo e a reconstrução
de uma nova proposta pedagógica que contemple a dimensão complexa, na qual
seja capaz construir um sujeito ecológico com forte Conteúdo Emancipatório,
na qual seja capaz de intervir complexamente no/com o/pelo o/para o mundo, a
partir da inserção da EAC. Isto é, a (relevância da) inserção da
EAC na FIEQ, que venha propor e promover não apenas justificativas e exercícios
de conexões entre o que se aprende e apreende (de tomada de consciência e da
relação entre o conhecimento e auto-conhecimento), mas também desenvolver
atividades socioambientais práticas no âmbito (não-)formal que possa criar
condições para que os(as) docentes e futuros Educadores(as) em Química
fortaleçam e constituam como indivíduos políticos que possam combater a
“cultura da inocência” e possam intervir complexamente.
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2005, p.187-189. Notas Finais 1
Esta Crise Civilizatória não se resume aos problemas de poluição
(aquecimento global e mudanças climáticas); de ineficiência no uso dos
recursos naturais; da criação e introdução de tecnologias limpas; ao
desajustes nas políticas demográficas, econômicas, jurídicas e educacionais
que estimulem os indivíduos e os agentes econômicos a introduzirem em seu
comportamento a consideração da variável ecológica. Mas também essa crise
se perfaz pela desagregação dos componentes éticos, políticos, sociais e
culturais, e que, portanto para superá-la (a crise) é necessário à inserção
de uma visão muldimensional, que assim possa implementar mudanças nos perfis
institucionais, nos modelos de convivência e participação política, nos padrões
de distribuição de riqueza e de consumo e nos valores culturais, e na disjunção
homem-natureza (GUIMARÊAS, 2004). 2
Essa Crise Civilizatória não seria “recente”,
pois segundo Quintas (1992), essa crise deu-se primeiro com descoberta do fogo e
conseqüentemente com a “invenção da agricultura” e domesticação de
animais. Com isso, o homem não provocou apenas modificações na cores, odores,
sabores e texturas no cozimento dos alimentos, com descoberta do fogo; mas
transformações culturais, e dialogando com Almino (2006), ocorria à reconstrução
de um novo ethos social, e que
indiretamente imbricado a descoberta do fogo, o homem fora introduzindo técnicas
de cultivo agrícola (com criação de ferramentas) e do pastoralismo (domesticação
de animais, para transformar o couro para ser utilizado vestuário), assim o
homem mudava sua forma de se relacionar consigo mesmo e com a natureza. 3
Sujeito Ecológico é uma sua versão new age é visto como alternativo,
integral, planetário, holista, dimensão epistemológica complexa para
enfrentar crise ambiental (CARVALHO, 2001) 4
Conteúdo emancipatório segundo Loureiro (2005, p. 1484) “é entendido, nesse
contexto, enquanto movimento de libertação consciente e de superação
permanente das formas de alienação material e simbólica, coletiva e
individual, existentes em cada fase historicamente definida”. 5
Segundo Morin (2003, p. 71), “O pensamento complexo é um pensamento que busca
distinguir (mas não separar), ao mesmo tempo em que busca reunir [...]
(contextualizar e globalizar) e de ressaltar o desafio da incerteza”. Isto é,
a complexidade contextualiza os fenômenos; globaliza, por considerar, as relações entre o todo e as partes, sendo o
conjunto das diversas partes ligadas ao contexto; multidimensiona, pois
cria múltiplas dimensões das unidades complexas, como o homem e
a sociedade, sendo o primeiro simultaneamente biológico, psíquico, social,
afetivo e racional, ao passo que a sociedade se caracteriza pelas dimensões
histórica, econômica, sociológica, religiosa; e complexifica, pois
considera a relação entre todos esses princípios, assegurando a
interdependência entre eles. 6
A EAC recebe outras denominações que segundo Loureiro (2006A) são sinônimos
(ou concepções similares) entre elas: Educação Ambiental Popular, Educação
Ambiental Transformadora, Educação Ambiental Emancipatória, aqui colocamos
nosso trabalho com o termo EAC, para denominar uma educação com matizes
conceituais com forte rigor teórico, para diferenciar EAC que perfaz e perpasse
pelo um fenômeno que busca racionalidade emancipatória fundida a matriz
complexa e dialética que aufere um conhecimento dinâmico e integrador da
cultura e natureza, metodologicamente construído por meio de permanentes
interrogações sobre o mundo, a sociedade, a espécie e próprio conhecimento e
respeitando as multireferencialidades das espécies, além de não visar
“interpretar, informar e conhecer a realidade, mas que busca compreender e
teorizar na atividade humana, ampliar a consciência e revolucionar a totalidade
que constituímos e pela qual somos constituídos. Por isso [essa Educação não
se satisfaz] [...] apenas com a construção de teorias abstratas, sob bases
idealizadas, que despejam uma enormidade de informações desconexas e
atomizadas e que não favorecem a intervenção qualificada dos agentes sociais,
mas apenas a proliferação de queixas individuais sobre o estado de miséria e
degradação [socio]ambiental, sem efeitos públicos [...]. Não é suficiente
também atuar sem a capacidade crítica e teórica. O que importa é transformar
pela atividade consciente, pela relação teoria-prática, modificando a
materialidade e revolucionando a subjetividade das pessoas” (LOUREIRO, 2006A,
p. 118), assim a EAC diferencia-se da EA genérica que é estritamente
biologizante, ecológica, não-denunciante de uma estrutura opressora, apolítica,
ahistórica, contemplativa, pseudo-educacional ao colocar a EA como meio de
salvação da natureza, como se desta não fossemos parte integrante e viva e
como esta fosse fraca, ingênua e pura, precisando ser preservada das
“maldades do homem”, esquecendo de qualificar as estruturas opressoras, além
dessa EA não buscar questionar e transformar essa ideologias dominantes, entre
elas o hiperconsumismo.
7
Práxis política refere-se ação intencional na sociedade, cuja forma mais
elevada é desta forma, é a práxis revolucionária de grupos e classes sociais
visando à transformação da sociedade (VARQUEZ apud
LOUREIRO, 2006B). Loureiro (2006A), diz que essa práxis política seria de
certa forma fomentada pela uma “aprendizagem Política” (p. 141). 8
Neste ponto concebendo o homem como um ser biológico, psíquico, social,
cultural, afetivo, racional, espiritual, como também um homem “sapiens y
demens (racional y delirante); faber y ludens (trabajador y lúdico); empiricus
y imaginarius (empírico e imaginador); economicus y consumans (económico y
dilapilador); prosaicus y poeticus (prosaico y poético)” (MORIN, 1999, p.
28). 9
Nosso pensamento vai ao encontro ao que diz Leff (2001 apud GOUVÊA, 2006,
p.165), “a educação ambiental deveria tentar articular, subjetivamente, o
educando ao conhecimento, bem como suas formas de produção, a descobrir os
sentidos e sabores do saber, a desenvolver, mais que o pensamento crítico, um
pensamento reflexivo e prospectivo capaz de combater condutas automatizadas, o
pragmatismo e o utilitarismo tão presentes na sociedade globalizada moderna”. 10
Giroux (2003 apud GOUVÊA, 2006,
p.167) “chama de cultura da inocência, difundindo através da mídia
transformações culturais que tendem a alterar o comportamento humano e regular
suas práticas sociais, tornando-se uma “força educacional substancial, senão
a principal, na regulação de significados, de valores e de gostos, que
estabelecem as normas e as convenções que oferecem e legitimam determinadas
posições do sujeito”. Uma cultura da inocência que é costumeiramente
enfatizada é considerar a formação educativa como atitude para o exercício
da cidadania, esquecendo que cidadania se “conquista” e não se “exerce”
(SANTOS; SCHNETZLER, 1997). Logo a formação seria para compreender e se ter
outra forma de encarar a relação homem/natureza e de identificar as condições
de existência que alienam e excluem, garantindo aos educandos a mobilização e
a construção de relações indispensáveis à compreensão da vida cotidiana e
da sobrevivência (GOUVÊA, 2006). 11“[ESSE
método baseia-se no pensamento marxista, cuja importância é] descobrir as
leis dos fenômenos de cuja investigação se ocupa, importa-se [em] captar
detalhadamente as articulações dos problemas de estudo, analisar as evoluções,
rastrear as conexões entre os fenômenos que os envolvem” (CAMPOS, 2000, p.
17). Isto é, é um método de interpretação da realidade, visão de mundo e
práxis; na qual o caráter material (os homens se organizam em sociedade para a
produção e a reprodução da vida) e histórico (como eles vêm se organizando
através de sua história) (op. cit). 12
A dispedagogia ambiental faz o professor acreditar que se ele desenvolve
atividades pontuais e desvinculadas da realidade sociocultural (hortas, jardins,
seleção de lixo, aproveitamento de matérias recicláveis) em algumas aulas,
principalmente na Semana do Meio Ambiente, ele já estará trabalhando educação
ambiental e “fazendo a sua parte”, como “manda o figurino” (GOUVÊA,
2006, p. 168). 13
Conhecido pelos mesmos autores como “armadilha
paradigmática”. |