Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/12/2009 (Nº 30) O zoneamento ecológico-econômico como referencial metodológico de um programa de Educação Ambiental aplicado em áreas rurais
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O zoneamento territorial como parte integrante de um programa de educação ambiental aplicado em áreas rurais

O zoneamento ecológico-econômico como referencial metodológico de um programa de educação ambiental aplicado em áreas rurais

1(1) Euler Batista Erse

1(2) Tainá Tavares de Carvalho

1(3); Emilye Ribeiro Silva

1(1)Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Professor Colaborador da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá – FAFIPAR; www.GEDASSA fafipar.br Grupo de Estudos em Desenvolvimento Agrário Sustentado e Segurança Alimentar – GEDASSA. E-mail: erseeuler@yahoo.com.br.


1(2)Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá – FAFIPAR;


1(3)Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá – FAFIPAR;



Resumo

A atuação dentro de uma comunidade ribeirinha através de projetos ligados ao conceito de desenvolvimento sustentável gera uma necessidade de se trabalhar tanto a conscientização quanto a informação. Neste trabalho, realizaram-se atividades de capacitação ligadas à educação ambiental que procuraram salientar a condição dos produtos biológicos como fontes renováveis conectando essa à educação e cidadania necessária para a manutenção da economia envolvida nos processos de explotação sustentável dentro da região-alvo do trabalho. Os documentos gerados podem ser classificados em etapas básicas geralmente utilizadas para um zoneamento ecológico-econômico: Informações sobre as condições sócio-econômicas dos moradores; levantamento da flora e fauna potencialmente utilizáveis na Mata Atlântica e uma proposta de zoneamento territorial inserida dentro da área de abrangência do trabalho.


Palavras-chave: Educação Ambiental; Zoneamento Ecológico-Econômico; Mata Atlântica


Abstract

The performance inside of a marginal community through projects to the concept of sustainable development generates a necessity of working as much awareness as information. In this work, on activities of qualification to the environmental education had been become fulfilled that they had looked to point out the condition of the biological products as sources you renewed connecting this to the education inside and necessary citizenship for the maintenance of the involved economy in the process of sustainable exploration of the region-target of the work. The generated documents can be classified in basic stages generally used for a ecological-economic zoning: information about social-economic conditions of the inhabitants; survey of the potentially usable flora and the fauna in inserted Atlantic and a proposal of territorial zoning inside of the area of the work.


Key Words: Environmental education; ecological-economic zoning; Mata Atlântica



Introdução

Dentro do contexto da Educação Ambiental, parâmetros metodológicos que adotem modelos de gerenciamento ambiental participativo são cada vez mais uma referência a ser seguida. Numa condição ideal, a opinião das comunidades na discussão dos problemas é respeitada ao se propor mudanças na percepção e na atitude de seus habitantes que, paulatinamente, e de forma ascendente, adquirem o poder social e econômico, político e intelectual, para, com a devida orientação, definir, analisar, assumir e resolver seus problemas. A Educação Ambiental, baseada nesses parâmetros, é considerada um instrumento condicionador de massa capaz de atenuar o conflito social existente entre o ser humano com suas necessidades, e o espaço físico, promovendo um processo de auto-diagnóstico e autogestão, a médio e longo prazo, pelas pessoas diretamente afetadas, disseminando um embasamento ideológico convergente às pretensões políticas, sócio-econômicas e culturais.

A percepção ambiental é um processo difuso e abstrato para ser apreendido como indicador técnico-científico, mas um concreto fator de experiência psíquico-cognitiva pessoal que, mesmo com características de individualidade, pode ser percebida com um indicador de comportamento sócio-cultural em relação ao espaço vivido (Tuan, 1980: 278 p.). Segundo BASSANI (2001: 47-57 pp.), o processo perceptivo não é passível de recepção informativa, pois ocorre como produto sensorial do ambiente em um dado momento, implicando formulação de estruturas e capacidades interpretativas de motivação ambiental antrópica.

Contudo, trata-se de um importante indicador da condição do meio, uma vez que a sua qualidade é percebida pelo ser humano através do estado de equilíbrio ecológico entre os fatores bióticos e abióticos (Oliveira, 1997: 15-21 pp.). Desta maneira, a percepção pode ser lapidada e concretizada pela cognição, absorvendo através das interações com o ambiente, novas concepções de conhecimento e construção da realidade, sendo a Educação Ambiental uma ferramenta multidisciplinar de intervenção dinâmica e bastante eficiente neste processo na medida em que pode suscitar condutas, valores e atributos favoráveis a estabilidade ecológica (Silva et al, 2003).

Para que haja um resgate positivo da relação ser humano X natureza, deve-se aplicar uma metodologia que abranja: interdisciplinaridade; adequação a realidade; orientação para encontrar soluções; desenvolvimento do senso crítico; técnicas participativas que incentivem a reflexão, integrando a linguagem formal e informal (Santos, 2000). Também deve ser trabalhado o incentivo às atividades práticas e experiências dos cidadãos e cidadãs da comunidade (Quintas, 2000: 161p.), reintegrando os moradores à situação local do ambiente natural e construído, valorizando sua cidadania e projetando-o para a realidade global. Todo este direcionamento das ações deve ser dirigido para que o público-alvo possa estar habilitado a exercer atividades auto-sustentáveis.

Seguindo esta orientação, foi trabalhada nesta atividade a preparação de um esboço de plano de utilização territorial, utilizando-se como sua principal ferramenta, a educação ambiental e conscientização da diretoria e conselho fiscal de uma OSCIP recém criada no bairro Guaraguaçú, cidade de Pontal do Paraná - PR. Esta foi instruída quanto à necessidade de um uso sustentável da região-alvo de projetos futuros.

A partir da avaliação do ambiente feita por meio de ferramentas metodológicas que generalizem os aspectos sócio-culturais da comunidade envolvida no processo fundamentou-se o trabalho basicamente, nos elementos físico-ambientais do meio ambiente e social em questão. Desta forma, procurou-se proporcionar a fundamentação necessária para que aquela possa compreender e avaliar os diversos elementos componentes do meio ambiente-alvo, assim como das futuras atividades a serem implantadas.

Reuniram-se para a execução do trabalho, os diversos conceitos envolvidos na temática proposta no trabalho como educação, planejamento, zoneamento, representação social, espaço físico e comunidade. Estes múltiplos conceitos foram trabalhados através da representação de cenários reais e da identificação de impactos e conflitos de uso, apresentados e reunidos em unidades ambientais e zonas ambientais, as quais representam verdadeiramente tais cenários.

Foi executado então, o ensino não-formal através da elaboração do perfil ambiental da comunidade, sob uma abordagem da ecologia humana, fornecendo subsídios importantes para um planejamento seguro, mais próximo das carências reais desejadas. Utilizando-se do levantamento dos aspectos ambientais, sociais, econômicos e culturais da comunidade, procurou-se traçar uma teia de interações entre os participantes da diretoria da OSCIP e os alunos da faculdade objetivando através da revelação das prioridades daquela e da determinação de estratégias para a elaboração de programas diretores para a região-alvo. A metodologia específica trabalhada pelas equipes é descrita em seguida:


Metodologia

Neste trabalho, foi utilizado uma proposta de planejamento ligado à educação que baseou-se nos elementos que compõe o meio ambiente, suas potencialidades e fragilidades, conflitos de uso, determinantes sócio-econômicos, qualidade de vida, representações sociais e anseios da comunidade localizada próxima à área destinada pelo plano diretor da cidade de Pontal do Paraná ao “Parque Nacional do Guaraguaçú.”.

O trabalho foi realizado utilizando-se da educação ambiental formal prevista no conteúdo programático da disciplina de educação ambiental da turma de ciências biológicas da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá – FAFIPAR. Procurou-se integrar a Educação Ambiental formal à não formal através da técnica pedagógica do projeto (Dias, 2003: 541 p.) Buscam-se diferentes soluções possíveis para um dado problema, com a intervenção dos professores da disciplina junto a grupos de alunos que conduzem um determinado projeto.

Como estratégia definida, elaborou-se uma metodologia de trabalho em grupo, a qual envolveu a participação de equipes de alunos contendo 6 a 8 membros, sendo cada uma desta responsável pela execução de uma tarefa específica. A classe pôde abordar os diferentes aspectos de um mesmo problema assim como focalizar problemas distintos. Cada equipe de alunos se responsabilizou por uma tarefa a ser executada ao longo do tempo destinado ao componente prático da disciplina (12 semanas). Estas tarefas foram supervisionadas pelo presente autor – professor da disciplina de Educação Ambiental – de forma que, sob a sugestão do mesmo, os alunos planejaram, executaram e avaliaram uma parte do projeto sob um tema específico.

Como método de trabalho, utilizou-se o zoneamento ambiental da unidade ambiental de Mata Atlântica inserida no contexto da comunidade como um norteador de idéias e debates junto à mesma provendo os alunos da turma de ciências biológicas das mais diversas representações sociais com formas específicas de participação popular.

Como estratégia de repasse de informações para a diretoria da OSCIP criada pela comunidade, foi elaborado um curso intitulado “Uso Sustentável da Terra”. Tal curso foi coordenado pelo presente autor e ministrado pelos alunos de Educação Ambiental do curso de Ciências biológicas da citada faculdade.

O objetivo geral do curso foi “Promover a Educação Ambiental por meio de um curso participativo que proponha um zoneamento territorial de uso sustentável na área localizada às margens do rio Guaraguaçú – Pontal do Paraná” e os objetivos específicos foram:

1 - Informar os participantes da diretoria e conselho fiscal da OSCIP do bairro sobre as possíveis atividades a serem desenvolvidas pelos técnicos;

2 - Conscientizar os mesmos da importância da realização das atividades de cunho sustentável na área-alvo;

3 - Promover a participação da diretoria e conselho fiscal quanto ao seu papel de agentes difusores de informação e participação dentro do bairro Guaraguaçú.

Quanto à participação dos alunos neste processo, estes foram divididos pelo professor em equipes de trabalho na qual cada uma ficou responsável pela execução de uma tarefa com atividades específicas, organizadas do seguinte modo:


Grupo 1 - Ciclo de Palestras sobre temas relacionados com desenvolvimento sustentável:

Foram elaboradas pelos alunos e supervisionadas pelo professor, palestras a serem apresentadas na comunidade sobre os seguintes temas:

a – Desenvolvimento Sustentável;

b – Saúde e Higiene pessoal / social;

c – Ética e Cidadania;

d – Cooperativismo.


Grupo 2 – Execução de um Mini-Laudo Biológico da área-foco:

Foi realizado pelos alunos um levantamento da biota existente dentro da área-foco do trabalho. Este trabalho teve participação efetiva dos participantes do curso inseridos na comunidade envolvida, tendo estes ajudado na listagem, coleta e confecção de um mural expositivo das espécies da flora da Mata Atlântica contendo algumas espécies coletadas em saída de campo com a presença do professor e guiados por um mateiro residente no bairro Guaraguaçú.

As atividades desta equipe foram as seguintes:

a – Levantamento empírico da Fauna e flora;

b – Coleta de espécies da flora;

c – Confecção de um mural digital e expositivo das espécies;

d – Palestra de resultados na comunidade.


Grupo 3 - Levantamento sócio-econômico do bairro Guaraguaçú:

Quanto a essa equipe, foi realizado pelos alunos e orientados pelo professor as seguintes atividades relacionadas a um levantamento sócio-econômico do bairro inserido na área-foco do trabalho:

a – Preparação de um questionário;

b – Aplicação do questionário no bairro;

c – Tabulação dos resultados obtidos;

d – Palestra de resultados na comunidade.

Os parâmetros sócio-econômicos levantados pelos alunos foram: Escolaridade, número de componentes familiares por casa, renda mensal do chefe de família, casa, tipo de trabalho do chefe de família, renda complementar familiar, utilização de crédito rural, classificação da residência, conservação da residência, iluminação elétrica, água para consumo, destino dos dejetos, cultivo de horta, criação de animais, uso do rio Guaraguaçú, uso ou não do rio, tipo de atividade no rio, necessidade de atendimento médico regular e regularidade de atendimento médico regular.


Grupo 4 - Apresentação de algumas propostas de projetos para área-foco:

Nesta equipe, após uma acareação com a comunidade envolvida, foram elaboradas pelos alunos sob a supervisão do professor, três propostas de projetos para a área-foco do trabalho. Tais propostas foram confeccionadas de acordo com o anseio da comunidade, levando-se em consideração todos os parâmetros sociais, econômicos, ambientais e legislativos envolvidos no processo:

a - Extrativismo Sustentável;

b – Ecoturismo;

c – Novas intervenções produtivas na área-foco;


Grupo 5 - Proposta de zoneamento da área-foco:

O trabalho desta equipe em particular foi a de desenvolver e apresentar para a comunidade informações relativas ao espaço cartográfico-ambiental da área-foco do trabalho. Sob a supervisão do professor, procurou-se demonstrar para a comunidade, a importância do planejamento ambiental para a adequada execução de projetos de cunho sustentável. Coube a esta equipe, em especial, condensar todas as informações obtidas nas demais equipes em uma proposta de zoneamento territorial para a área de mata atlântica inserida no bairro Guaraguaçú.

a – Levantamento de informações cartográficas;

b – Georeferenciamento da área-foco do trabalho;

c – Esboço de Zoneamento territorial da área-foco;


Resultados

Neste trabalho, os grupos de alunos da disciplina de educação ambiental da turma de ciências biológicas da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá – FAFIPAR - grupos 2 a 5 – apresentaram para a os membros componentes da OSCIP da comunidade de Guaraguaçú, palestras temáticas contendo os resultados finais de suas atividades de campo e sala de aula.

Figura 1 – Comunidade do Guaraguaçú assistindo palestras


Como resultados do grupo 2 - Mini-Laudo Biológico da área-foco, foram catalogadas 26 espécies da flora e 22 espécies da fauna nativas existentes na Mata Atlântica da região-foco do trabalho. Da flora, foram obtidas na coleta in loco. Para todas as espécies da flora, foram identificados por indivíduos da própria comunidade, seus respectivos usos potenciais, sendo coletadas 14 espécies com potencial de manejo sustentável, para artesanato, uso medicinal e comercialização. Segue-se uma listagem das espécies da flora e fauna cordata ocorrentes na área-foco da região:


Tabela 1 – Lista de espécies da flora pesquisadas pelos alunos em Guaraguaçú

NOME popular

Nome científico

potencial de uso

Anoga


Óleo medicinal (laxante natural) / Artesanato

Araçá

Psidium sp

Venda direta / Produtos culinários

Bacupari

Rheedia gardneriana

Produto medicianal

Cabeça-de-negro

Annona squamosa

Produto medicinal (contém muito açúcar)

Canela do mato

Cróton zehntneri

Tempero / Aromatizante

Cravo do mato

Tillandsia tenuifolia

Produto medicinal

Guanandi

Calophyllum brasiliense

Produto medicinal / extração de madeira / óleo

Guapê

Sizigium sp

Produto medicinal (controle da diabete)

Jambro

Eugeni bocainensis / oblongata

Venda direta / Produtos culinários

Muxinga

Microlicia isophylla

Venda direta / Produtos culinários

Palmito

Euterpe edulis

Venda direta / Produtos culinários

Papaguela


Venda direta / Produtos culinários / artesanato

Tucum

Bactris glaucescens

Produtos culinários / artesanato / óleo

Camarinha

Corema album

Venda direta / Produtos culinários

Ariticum

Rollinia sylvatica

Venda direta / Produtos culinários

Carova

Jacarandá pubaula

Produto medicinal (cicatrizante)

Chapéu-de-couro

Echinodorus grandiflorus

Produto medicinal

Arnica

Arnica montana

Produto medicinal (anestésico)

Ingá

Ingá sp

Venda direta / Produtos culinários / artesanato

Coronha

Ormosia arborea

Venda direta / Produtos culinários / artesanato

Tapiá

Alchornea triplinervia Muell. Arg.

Venda direta / Produtos culinários / artesanato

Cipó corda-de-viola

Ipomoea purpurea Roth

Artesanato

Cipó Timbopeva


Artesanato / produção de vassouras

Coquinho Jerivá

Syajrus romanzofiana

Venda direta / Produtos culinários / óleo

Malacraia


Artesanato (semente)




Figura 2 – Mural de plantas apresentado à comunidade


Tabela 2 – Lista de espécies da fauna cordata pesquisadas pelos alunos em Guaraguaçú

NOME popular

Nome científico

Nome POPULAR

Nome científico

Cágado-pescoçudo

Hydromedusa tectifera

anu-preto

Crotophaga ani

jacaré-papo-amarelo

Caiman latirostris

anu-branco

Guira guira

Lagarto-coral

Diploglossus fasciatus

corujinha-do-mato

Otus choliba

cobra-de-vidro

Ophiodes fragilis

pica-pau-de-cabeça-amarela

Celeus ffavescens

Lagarto-teiu

Tupinambis merianae

joão-de-barro

Furnarius rufus

cobra-de-duas-cabeças

Leposternon microcephalum

bem-te-vi

Pitangus sulphuratus

cobra-cipó

Chironius bicarinatus

tamanduá-mirim

Tamandua tetradactyla

Muçurana

Clelia plumbea

Tatu

Dasypus septemcinctus

falsa-coral

Oxyrhopus clathratus

Quati

Nasua nasua

Caninana

Spilotes pullatus

Lontra

Lontra longicaudis

coral-verdadeira

Micrurus corallinus

Jaguatirica

Leopardus pardalis

Jararaca

Bothrops jararaca

Puma

Puma concolor

Jaracuçu

Bothrops jararacussu

Cateto

Pecari tajacu

inhambu-guaçu

Crypturellus obsoletus

Veado

Mazama sp.

Biguá

Phalacrocorax brasilianus

Preá

Cavia aperea

socó-grande

Ardea cocoi

Capivara

Hydrochaeris hydrochaeris

garça-branca-pequena

Egretta thula

Cutia

Dasyprocta azarae

pato-do-mato

Cairina moschata

Paca

Agouti paca

Gavião-caramujeiro

Rosthramus sociabilis

ouriço-cacheiro

Sphiggurus sp.

Carcará

Polyborus plancus

Jaçanã

Jacana jacana

saracurinha-da-mata

Amaurolimnas concolor

piriquito-verde

Brotogeris tirica


Como resultados do grupo 3 - Levantamento sócio-econômico do bairro Guaraguaçú, obtiveram-se, após a elaboração e aplicação do questionário pelos alunos, os seguintes valores percentuais, representados nos seguintes gráficos:

Gráfico 1 – Escolaridade dos membros familiares da comunidade


Gráfico 2 – Número de componentes familiares por família


Gráfico 3 – Quantificação da renda mensal por família


Gráfico 4 –Tipo de consumo de água pela família


Gráfico 5 –Tipo de criações animais na comunidade


Gráfico 6 –Percentagem de cultivo de horta no terreno na comunidade


Gráfico 7 –Tipo de uso dos recursos naturais da Mata Atlântica


Como resultado do grupo 4 - Apresentação de algumas propostas de projetos para área-foco:, foram discutidas algumas propostas de projetos, entre elas:

1 - a criação de um programa envolvendo projetos de:

a) ecoturismo na área de Mata Atlântica inserida dentro do bairro Guaraguaçú com as seguintes atividades: caminhadas por trilhas naturais já criadas dentro da mata e por estradas de terra na região adjacente à mesma, tirolesa, rapel, trilhas suspensas, entre outras atividades recreativas,

b) ecoturismo no rio Guaraguaçú com passeios de barco na bacia hidrográfica de Guaraguaçú,

c) ecoturismo científico, com propostas de montagem de estruturas para receber integrantes de instituições governamentais e particulares, tais como universidades e faculdades, associações, organizações não governamentais como ONGs E OSCIPs e a comunidade em geral interessada na ciência e no conhecimento do ecossistema da região,

d) ecoturismo antropológico-cultural que pretenderia levar, à comunidade turística e em geral, o conhecimento da cultura regional e indígena da região;

2 – Um programa de aqüicultura orgânica potencialidades dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do Guaraguaçú;

3 – Um programa de Emissão Zero que inclui projetos de agricultura orgânica, em acordo com a vocação local, de cultivo de mamona para produção de Biodiesel no aterro sanitário do município de Pontal do Paraná localizado no bairro de Guaraguaçú e projetos de biossistemas integrados (sistemas de integração produtiva entre as atividades granjeiras e aqüicultoras);

4 - Um programa de Extrativismo Sustentável envolvendo a explotação de recursos naturais da Mata Atlântica, com projetos de reflorestamento das áreas degradadas e extração e replantio sustentável de ervas medicinais endêmicas da região e plantas com potencial extrativista para fins de artesanato.

Como resultados do Grupo 5 - Proposta de zoneamento da área-foco foi realizado, utilizando-se de um GPS e com auxílio de “mateiros” da própria comunidade, um georeferenciamento da área-foco do trabalho: a Mata Atlântica inserida no Bairro Guaraguaçú. Os pontos georeferenciados foram inseridos dentro de esboço digital de zoneamento territorial elaborado com a participação dos alunos da faculdade e integrantes da própria comunidade. Este esboço se encontra representado a seguir:

Figura 3 – Zoneamento da área-foco do trabalho


Discussão e conclusões

O trabalho aqui desenvolvido teve como foco principal uma demanda que a micro-região, conhecida como comunidade de Guaraguaçú, parecia apresentar. Alguns dos membros da comunidade inserida dentro da área de entorno da Mata Atlântica, davam sinais de que desejavam uma melhoria na qualidade de vida do bairro em questão. Com vocação para a atividade agrária extrativista, utilizavam os recursos do meio ambiente de maneira desordenada. Artesanato, exploração dos recursos aquáticos presentes no rio Guaraguaçú e extração de samambaia para fins de venda estavam entre suas principais atividades de complementação da renda familiar.

Podemos observar que, segundo os resultados obtidos no questionário aplicado na comunidade, praticamente a metade da população não passa do primeiro grau de escolaridade. Apesar disso, sua renda mensal é relativamente boa, pois exercem funções de prestadores de serviço básicos fora de seu local de residência de maneira bastante eficiente. Este potencial, com a criação do parque, pode ser bem explorado se o mesmo estiver conduzido de forma que a comunidade entenda os processos envolvidos em uma Unidade de Conservação desta espécie e se acostume a tirar proveito de sua capacidade de prestar serviços. Percebe-se, por exemplo, que dos recursos naturais presentes no bioma de Mata Atlântica, a comunidade utiliza apenas o rio Guaraguaçú para a pesca e do Meio Ambiente como um todo, apenas para recreação própria. A comunidade não tira proveito de sua capacidade de prestar serviços correlacionando o ambiente do entorno á atividades que poderiam ser catalisadoras de geração de trabalho e renda, como por exemplo o ecoturismo.

Apesar destes fatos, pessoas consideradas como “líderes naturais” dentro da comunidade, entendendo que poderiam aproveitar de maneira mais adequada os futuros empreendimentos previstos no Plano Diretor para seu bairro, aproximaram-se de membros da comunidade universitária a fim de suas considerações pudessem ser entendidas e aproveitadas de alguma forma.

Assim, uma Organização Social de Interesse Público foi criada dentro do bairro tendo como membros pessoas moradoras do bairro e da comunidade universitária. O objetivo foi envolver pessoas interessadas em determinadas ações que levassem a um compartilhamento dos conhecimentos sobre o meio ambiente a fim de obter respaldo para mudanças de atitude e conseqüente apoio ao uso sustentável do mesmo.

Seguindo as recomendações de (Santos, 1997), foi trabalhado o repasse de informações através de objetos e experiências de campo e por meios ilustrativos, com o propósito não simplesmente de instruir, mas de provocar e estimular idéias. O zoneamento ambiental foi escolhido como ponte de ligação entre a comunidade e o manejo da área.

Um processo educativo foi criado utilizando o cenário ambiental do entorno, de forma a permitir uma participação ativa dos atores sociais envolvidos. Alguns autores, como Jacobson (1991), referem-se que programas capazes de desenvolver a “educação conservacionista” podem ser voltados à manutenção dos recursos naturais. Isto exige o desenvolvimento de metodologias dinâmicas, interdisciplinares, dentro de um contexto de produção integrada de conhecimento, levando em consideração as diversas representações sociais sobre os problemas da região em questão.

Um importante processo foi considerado ao se trabalhar a educação ambiental nesta comunidade: De acordo com as recomendações da UNESCO/ UNEP (1997: 126 p.), na Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, procurou-se “lograr que os indivíduos e a coletividade compreendam a natureza complexa do meio ambiente natural e do meio criado pelo homem, resultante da integração de seus aspectos biológicos, físicos, sociais, econômicos e culturais, e adquiram os conhecimentos, os valores, os comportamentos e as habilidades práticas para participar responsável e eficazmente da prevenção e solução dos problemas ambientais, e da gestão da questão da qualidade do meio ambiente”.

Como observado por Leal (1995: 35 p.), um planejamento deste trabalho procurou ser elaborado a partir da definição de unidades ambientais pode funcionar como plano motivador, que auxiliou discussões com o professor de Educação Ambiental, seus alunos e a comunidade, apontando à criação de plano coletivo, com ampla participação popular de determinados líderes.

Propostas de planejamento de regiões rurais, principalmente propostas de planejamento, sejam do espaço urbano ou rural, foram consideradas a priori, através de um sistema de planejamento ligado à educação. Isto correspondia aos elementos que compõe o meio, suas potencialidades e fragilidade, conflitos de uso, acertos, determinantes sócio-econômicos, qualidade de vida, representações sociais e anseios da comunidade a ser atingida. Procurou-se alcançar, em função de um planejamento objetivo e detalhado, a alguns programas aplicáveis, a serem difundidos através de conteúdos coerentes e racionais. O próprio planejamento visou permitir que o processo educativo esteja permanentemente sujeito a uma participação pública e revisão comum.

De acordo com Jacobson (1991), o simples fato de a população poder acessar um lugar com alguns representantes da flora e fauna nativa da cidade em que mora, já representa uma experiência educativa. Sejam quais forem os objetivos, sempre é exigida uma metodologia ativa relacionada ao meio, que deve-se fundamentar no uso do entorno imediato.

Se previamente, o espaço é interpretado e mapeado dentro de uma concepção holística, seus resultados podem ajudar a discussão e compreensão destas representações (Reigota et al, 1997: p. 123-128). Nesta perspectiva estas informações devem-se apresentar como um instrumento norteador para os debates com as comunidades.

À título de conclusão geral, ficam registrados neste trabalho, alguns pontos citados pela Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental (UNESCO / UNEP 1977: 126 p.), que guiaram de maneira genérica os membros participantes deste trabalho no aperfeiçoamento dos métodos de Educação Ambiental no exercício do desenvolvimento sustentável pretendido pela equipe para esta comunidade:

- Que determinados setores da comunidade, como os constituídos pelos habitantes rurais, os administradores, os trabalhadores da indústria e os líderes religiosos, precisam de programas de educação ambiental, adequados a cada caso;

- Os aspectos biológicos e físicos constituem a base natural do meio ambiente, enquanto que as dimensões socioculturais e econômicas define as orientações e os instrumentos conceituais técnicos com os quais o homem poderá compreender e utilizar melhor os recursos da natureza, para satisfazer as suas necessidades;

- a EA deve afastar-se da pedagogia exclusivamente informativa;

- Há de ser a contribuição de diversas disciplinas e experimentos educativos ao conhecimento e à compreensão do meio ambiente, assim como à resolução dos seus problemas e à sua gestão. Sem o enfoque interdisciplinar não será possível estudar suas relações, nem abrir o mundo à educação à comunidade, incitando seus membros à ação;

- Enquanto os alunos se mantiverem à margem da ação social, as relações entre a escola e a comunidade somente poderão se superficiais;

- A EA não poderá desenvolver-se plenamente se não incitar os indivíduos a descobrirem as opções que determinam as decisões;

- A EA deverá procurar estabelecer uma complementaridade estruturada de conhecimentos teóricos, práticos e de comportamento;

- A EA não-formal, deverá inspirar, a todos os membros de uma comunidade, atitudes próprias;

- utilizar o próprio meio ambiente como recurso educativo... As saídas e visitas dos alunos são indispensáveis em EA... Não se deve limitar exclusivamente a certos elementos privilegiados, como parques, reservas, etc...

- As atividades de EA devem ser o centro do programa porquanto permitem aos alunos, oportunidades de desenvolver uma sensibilidade a respeito dos seus problemas ambientais e buscar formas alternativas de soluções, conduzindo pesquisas no ambiente...

- A fonte de erros no planejamento tem sido a mesma: planeja-se sem o conhecimento devido do perfil ambiental das comunidades a serem envolvidas e do seu respectivo metabolismo;


Bibliografia


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Ilustrações: Silvana Santos