Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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12/12/2009 (Nº 30) Percepção dos cronistas coloniais sobre o manguezal brasileiro durante os séculos XVI E XVII
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PERCEPÇÃO DOS CRONISTAS COLONIAIS SOBRE O MANGUEZAL BRASILEIRO DURANTE OS SÉCULOS XVI E XVII

Percepção dos cronistas coloniais sobre o manguezal brasileiro durante os séculos xvi E xvii

Arthur Vinícius de Oliveira Marrocos de Melo ¹

Betânia Maria da Silva 2.

¹Professor de Educação Ambiental da Escola Técnica Regional ETR. Rua Gervásio Pires, 653, Boa Vista – Recife – PE CEP 50070-050. Email arthur_marrocos@yahoo.com.br

2 Professora de Ciências da Prefeitura de Piranhas – Al. Email betaniamaria@gmail.com


RESUMO

Os primeiros registros existentes da descrição dos manguezais no Brasil datam de 1500, ano do descobrimento e quem realizou esses registros descritivos são chamados de Cronistas Coloniais, que eram pessoas que viveram ou passaram pelo país e descreveram os ambientes vistos, muitos não tinham formação específica, mas descreveram as riquezas do país com uma riqueza de detalhes que nos servem até hoje como base de estudos para várias áreas. Por esse motivo, resolvemos estudar a percepção que os cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII tinham do ecossistema manguezal existente no Brasil nessa época.

PALAVRAS CHAVES - Cronista colonial, percepção ambiental e ecossistema manguezal

INTRODUÇÃO

Schaeffer-Novelli (1999) define o manguezal como um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés. É constituído de espécies vegetais lenhosas típicas (angiospermas), além de micro e macroalgas (criptógamas), adaptadas à flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigênio. Segundo esta autora, ele ocorre em regiões costeiras abrigadas e apresenta condições propícias para alimentação, proteção e reprodução de muitas espécies animais, sendo considerado importante transformador de nutrientes em matéria orgânica e gerador de bens e serviços.

Para Schaeffer-Novelli (1999) os manguezais destacam-se como fonte de matéria orgânica particulada e dissolvida para as águas costeiras adjacentes constituindo a base da cadeia trófica com espécies de importância econômica e/ou ecológica; área de abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação de espécies marinhas, estuarinas, límnicas e terrestres, além de pouso de aves migratórias; proteção da linha de costa contra erosão, assoreamento dos corpos d’água adjacentes, prevenção de inundação e proteção contra tempestade; manutenção da biodiversidade da região costeira; absorção e imobilização de produtos químicos, filtro de poluentes e sedimentos, além de tratamento de efluentes em seus diferentes níveis; fonte de recreação e lazer associada a seu apelo paisagístico e alto valor cênico e fonte de proteína e produtos diversos, associados à subsistência de comunidades tradicionais que vivem em áreas vizinhas aos manguezais.

Já Soares (1993) define o manguezal, substantivo coletivo derivado de mangue e com etimologia controvertida, nos seguintes termos: Biótopo limítrofe entre o epinociclo, o limnociclo e o talassociclo, ou seja, área de terra costeira, sujeita a marés, inundada perenemente por uma mistura de água doce e água salgada (água salobra), onde proliferam plantas características dos habitats palustres, como as avicênias, rizóforos e lagunculárias. Os caules dessas plantas emitem numerosas raízes adventícias e as suas raízes naturais invertem o seu geotropismo, ficando com as pontas emersas (raízes respiratórias ou pneumatóforos). Os animais mais comuns neste tipo de ecossistema são os caranguejos, os anelídeos e as larvas de insetos.

O manguezal tem características muito peculiares em relação aos outros biomas vegetais nativos são ecossistemas que se caracterizam por altas taxas de produtividade primária, que é originária dos fortes fluxos externos de materiais e energia a que estão sujeitos, utilizando a energia e matérias de um ambiente para convertê-lo em diversidade de produtos e serviços, muitos dos quais têm valor econômico imediato (CINTRÓN, 1987).

A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas sejam os grandes “berçários” naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo da sua vida (CPRH, 2006).

Os primeiros registros da existência de manguezais na costa brasileira datam da época do descobrimento do Brasil, em 1500, quando Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei de Portugal, D. Manuel, sobre a exuberante beleza geográfica e a abundante riqueza natural da nova terra conquistada, da gente que nela habitava, da fartura de alimentos que nela havia e da fauna e da flora que nela existiam. No decorrer de toda a história do Brasil, os cronistas coloniais e historiadores, como: Marcgrave e Piso (naturalistas), José de Anchieta, Frei Vicente do Salvador, Gabriel Soares, Auguste de Saint-Hilaire e outros, registraram em seus diários de viagens, a presença de uma densa vegetação lenhosa que formava imensos bosques às margens dos oceanos, sob a influência das marés (FUNDAJ, 2006).

Os cronistas coloniais, em maior ou menor grau de envolvimento, cumpriram o papel de informantes coloniais: em uma visão predominantemente utilitarista, trataram de descrever as riquezas minerais e produtos naturais do Novo Mundo a ser colonizado pelas respectivas metrópoles. Os cronistas coloniais, do ponto de vista da história natural, antecederam no Brasil a fase dos naturalistas profissionais com formação científica, tais como Marcgrave e Piso. Não tendo formação nem conhecimentos especializados sobre a natureza, grande parte deles era formada por missionários religiosos, colonos ou aventureiros, com maior ou menor pretensão historiadores, mas cronistas na acepção da palavra. Muitos, vistos com os olhos atuais, eram ignorantes e preconceituosos; alguns poucos surpreendem-nos, não sendo naturalistas, pela aguda capacidade de observação da natureza.

Dentre os cronistas coloniais do século XVI destacam-se: Caminha, Thevet, Staden, Gândavo, Anchieta, Lery, Cardim e Souza e do inicio do século XVII destacam-se Abbeville, Brandão, Salvador, Kinivet e Antonil. Cada cronista tinha uma percepção particular desse ambiente, seja ela positiva ou negativa.

A Percepção ambiental foi definida como sendo "uma tomada de consciência do ambiente pelo homem", ou seja, como se auto-define, perceber o ambiente que se está localizado, aprendendo a protegê-lo e cuidá-lo da melhor forma. (faggionato, 2006).

Outra definição para a percepção ambiental é que ela é uma experiência sensorial direta do ambiente em um dado instante que se dá de mecanismos perceptivos propriamente ditos e principalmente cognitivos, não sendo considerada como um processo passivo de recepção informativa, já que implica em certa estrutura e interpretação da estimulação ambiental antrópica para compreender melhor as inter-relações entre homem e o meio ambiente, suas expectativas, julgamento e condutas (DEL RIO, 1996). Mesmo sendo única, a percepção pode ser emoldurada pela inteligência, adquirindo novas cores e nuanças de acordo com as diferentes maneiras pelas quais as pessoas conhecem e constroem a realidade (SILVA et al., 2003).

Objetivamos registra a percepção ambiental que os cronistas coloniais do século XVI e XVII tinham a respeito do manguezal para que se possa compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e até mesmo condutas, embora essas percepções foram feitas com pureza, retratando um ambiente desconhecido para a época. Achamos que os relatos são negativistas, já que se tratava de um ambiente muitas vezes desconhecidos pelos cronistas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada uma revisão bibliográfica do tema em internet, livros e artigos científicos, sobre os cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII e sobre o ecossistema manguezal brasileiro, bem como eram as percepções dos mesmos em relação a esse ecossistema e os trabalhos relacionados a essa área.

Para tanto, foram realizadas visitas as bibliotecas da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, Biblioteca da Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ e a Biblioteca do Estado de Pernambuco.

Os dados foram sistematizados sob a forma de relatos históricos, em ordem cronológica e, posteriormente, foi elaborado um quadro resumo sobre as citações dos cronistas coloniais com enfoque especial à importância que era dada ao manguezal.

RESULTADOS

Segundo SCHAEFFER – NOVELLI (1995), referências sobre plantas de mangue são conhecidas desde o ano 320 A.C., através do relatório do General Nearco quando acompanha Alexandre Magno em suas campanhas no Delta do Indo ao Golfo Pérsico, onde registrou a ocorrência de árvores de 14 metros de altura com flores brancas que cresciam no mar e tronco suportados por raízes com aspecto de candelabro. Esse aspecto é característico das raízes do mangue vermelho (Rhyzophora mangle) está, inclusive vinculado à designação de Kandelia para um dos grupos desses vegetais, cuja referência aparecendo no trabalho de Abou’l Abbas el Nabaty, um botânico mouro que em 1230 viajou pela Arábia, Síria e Iraque, quando chamou essas plantas de Kendela.

Como primeiro relato sobre o ecossistema manguezal ou qualquer coisa que nos lembre esse ambiente temos a Carta de Pero Vaz de Caminha que foi o primeiro cronista colonial do Brasil, essa Carta, relata o primeiro encontro dos portugueses com os nativos brasileiros e o meio ambiente encontrado (UFCG, 2006).

cronistas do século xvi

Tabela I – Percepção dos Cronistas Coloniais do século XVI sobre o Ecossistema Manguezal.

Cronistas

Época

Biografia

Descrição



Pero Vaz de Caminha



1500 (*)



Missivista português nascido provavelmente no Porto, responsável pela redação do primeiro documento da história do Brasil.

Neste ilhéu, onde fomos ouvir missa e sermão, espraia muito a água e descobre muita areia e muito cascalho. Enquanto lá estávamos foram alguns buscar marisco e não no acharam. Mas acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande e muito grosso; que em nenhum tempo o vi tamanho. Também acharam cascas de berbigões e de amêijoas, mas não toparam com nenhuma peça inteira”.




André de Thevet




1557 (*)


Francês, Franciscano, cosmógrafo da expedição de Villegaignon em sua missão para fundar a França Antártica.

Ostras agarravam-se às raízes das árvores de mangue (certamente Rhizophora mangle), formando verdadeiros cachos. Estas raízes eram cortadas pelos indígenas, que preferiam as ostras menores do manguezal às maiores do mar por serem aquelas mais saborosas e sadias e estas causadoras de febres”.

Em seguida refere-se às árvores carregadas de ostras, cujos ramos e troncos os aborígines costumavam cortar quando a maré baixa, para se suprirem de alimento. Indubitavelmente tratava-se do “mangue” (R. mangle)) e de outras árvores de gêneros e espécies diferentes que o vulgo denominava “mangue seriva, etc.” (p. 112-113)

Cronistas

Época

Biografia

Descrição



Hans Staden



1556 (*)


Alemão, naufragou no litoral paulista por volta de 1549. Feito prisioneiro pelos índios tupinambás

Estava uma vez os portugueses numa localidade da terra de Brannenbucke (Pernambuco) chamada, a que já me referi, e ai aconteceu-nos de ficar num rio com o barco seco, porque a maré baixara. Vieram muitos selvagens para nos atacar”.(p. 265-266)

Pero de


Magalhães Gândavo

1576 (*)



Historiador, gramático e cronista português do século XVI nascido em Braga, autor do primeiro manual ortográfico da língua portuguesa e da primeira história do Brasil.

No Capítulo 8º - Dos Bichos da Terra, da obra intitulada Tratado da Terra do Brasil, 1995 ele descreve:

Também há muita infinidade de mosquitos, principalmente ao longo de algum rio entre umas árvores que se chamam mangues, não pode nenhuma pessoa esperá-los; e pelo mato quando não há viração são muito sobejos e perseguem muito a gente [...]” (pág. 32 e 33)

[...] chamam peixes bois, os quais são tão grandes que os maiores pesam quarenta, cinqüenta arrobas. Têm o focinho como o de boi e dois cotos com que nadam à maneira de braços. As fêmeas têm duas tetas, com o leite das quais se criam os filhos. O rabo é largo, rombudo, e não muito comprido, não têm feição alguma de nenhum peixe, somente na pele quer se parecer com toninha.” (Pág. 89)

Cronista

Época

Biografia

Descrição




Padre José de Anchieta




1799 (**)


Entrou na Companhia de Jesus, aportou na Bahia As anotações do Pe. Anchieta eram transmitidas aos superiores da Ordem na Europa.

Também há árvores, que por toda parte cobre os braços de mar, onde crescem; cujas raízes estendendo-se, uma desde quase o meio do tronco, outras do ponto em que os galhos ao nascer se levantam, quase do comprimento da lança, pouco a pouco vergam para a terra, até lá chegarem, depois de muitos dias”.

O “Mangue” (R .mangle) o impressionou graças às suas raízes adventícias e raízes ascendentes. A ele referiram-se depois disto quase todos os escritores repetindo mais ou menos a mesma descrição. (p. 101)

Cronista

Época

Biografia

Descrição



Jean de Léry



1578 (*)


Calvinista e acompanhou Villegaignon ao Rio para fundar a França Antártica. Tinha como objetivo transmitir os ensinamentos do Mestre na nova terra.

[...] Existem ainda caranguejos terrestres a que os Tupinambás chamam ussa, e surgem aos bandos nas praias e outros lugares pantanosos. Quando alguém se aproxima, fogem de costas e se salvam com celeridade nos buracos abertos nos troncos e raízes das árvores, donde não podem ser tirados sem perigo por causa de seus ferrões, embora possa a pessoa chegar facilmente até o buraco visível. Mais magros que os caranguejos marinhos, quase não têm carne e exalam cheiro de raiz de cândamo, não sendo de bom paladar”.

(*) Correspondente ao ano ou período em que publicaram a obra.

(**) Corresponde ao período que os autores estiveram e ou residiram no Brasil.


CRONISTAS DO SÉCULO XVII:


Tabela II – Percepção dos Cronistas Coloniais do Século XVII sobre o Ecossistema Manguezal.


Cronista

Época

Biografia

Descrição


Claude d’Abbeville


1614 (*)


De origem Francesa, chegou em São Luiz do Maranhão em julho de 1612 fazendo parte da segunda tentativa de colonização francesa no Brasil.

Por outro lado, do cabo de Tapuitapera, próximo ao Maranhão, até o rio das Amazonas, há tantas ilhas ao longo da costa que se faz impossível chegar à terra firme; tanto mais quanto esta se acha coberta de certas árvores a que dão o nome de Apparituriers, cujos galhos se vergam e ao tocarem o chão criam raízes formando outras árvores que crescem e deitam novos galhos, os quais criam raízes e formam novas árvores; e de tal modo se entrelaçam árvores e raízes que parecem constituir uma só planta alastrando-se por toda parte.”. (p. 137-138)

Há também muitas qualidades de uegnomoin, maiores do que dois punhos juntos e proporcionalmente grossos são quase inteiramente azuis e tem as pinças das patas da frente do tamanho de um punho. moram nos buracos que fazem no chão ou no pé das árvores, muitos são tirados com dificuldade. O ujá-uaçu, caranguejos de mais de um pé, se encontra nas pedras entre as outras. O aratú, um pouco menor que o precedente, é rajado de amarelo e azul. é também encontrado no mar. Os siris também se encontram no mar. Há azuis e brancos.” ( p. 197 e 198)

Cronista

Época

Biografia

Descrição


Ambrósio Fernandes Brandão


1618 (*)


Cristão-novo residente em Pernambuco autor da Obra “Diálogos das Grandezas do Brasil” que consiste num diálogo entre Brandônio, português com longo anos de residência no Brasil, um pregoeiro das virtudes da terra e Alvino, um reinol recém-chegado que a tem pela “mais ruim do mundo”.


No Diálogo Terceiro,, tem a seguinte citação:

- Alviano: Isto parece dos contos do Trancoso e, como tal, não me persuado a dar-lhe crédito.

- Brandônio: [...] chegou um criado meu, a quem trazia ocupado no recebimento dos dízimos dos açúcares, que então estava a meu cargo, chamado por sobrenome o Comilão, e em grande segredo, depois de nos metermos ambos em uma câmara, me disse que, indo a buscar o dia antecedente um pouco de peixe a uma rede que pescava no Rio do Extremo, achara na praia grande quantidade de certa cousa, que logo me amostrou, com me meter na mão uma bola daquilo que dizia haver achado, a qual pesaria, segundo minha estimação, de seis para sete arráteis, e que do semelhante era tanta a quantidade que estava na praia, junto dágua, que gastaram ele e dois negros, que consigo levava, mais de três horas em o acarretarem em uma forma, que fora de açúcar, e dois cabaços, até porem tudo desviado da praia e caminho entre alguns mangues, e que ele junto fazia um arrazoado monte. (pág. 113-114)

- Alviano: Que qualidade é desse marisco?

- Brandônio: Diferente da que tem todos os demais, porque se acha nele sangue na forma que o têm os pescados, sem embargo de estar encerrado dentro na sua concha, cousa de que todo outro semelhante marisco carece, e sobretudo o que mais espanta é que, nas conjunções das luas, lhe acode o mênstruo, como costuma vir às mulheres. (pág. 187-188)


Frei Vicente Salvador


1627 (*)


Missionário e historiador franciscano nascido em Matuim nos arreadores de Salvador da Bahia, exerceu os cargos de cônego, vigário-geral e governador do bispado da Bahia, até entrar para a ordem franciscana.

Ao longo do mar, e em algumas partes muito espaço dentro dele, há grandes matas de mangue, uns direitos e delgados de que fazem estas cercas e caibros para as casas, outros que dos ramos lhe descem as raízes ao lado delas sobrem ostras, que depois de cima lançam outras raízes, e assim se vão continuando, de ramos a raízes a ramos, até ocupar um grande espaço, que é coisa de admiração.” (p.28-29)

[...] Mariscos há em muita quantidade, ostras, umas que se criam nos mangues, outras nas pedras e outras nos lodos, que são maiores (...) Há muitas costas de caranguejos, não só na água do mar e nas praias entre os mangues, mas também em terra entre os matos, há uns de cor azul chamados guaiamuns” (p-46-47).

Cronista

Época

Biografia

Descrição


Antony Kinivet


1625 (*)

Membro da expedição de Thomas Covendish, em sua segunda viagem de circunavegação para o Mar do Sul.

Pelo espaço de três meses durante que estive com este homem, cuidei da casa; ia à beiramar com seus bacorinhos, e daí lhe trazia todos os dias um cesto cheio de caranguejos que habitam na areia lamacenta, em buracos tão profundos que neles se pode meter o braço inteiro”. (Knivet 1947 apud Soffiati Netto, 2004).

(*) Correspondente ao ano ou período em que publicaram a obra.

(**) Corresponde ao período que os autores estiveram e ou residiram no Brasil.


Conseguimos constatar que a percepção dos cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII é basicamente neutra (descritiva) e ou positiva (utilitarista), os cronistas enfocaram a utilização da matéria-prima que pode ser retirada desse ecossistema, seja ele para a alimentação, construção de moradia, etc.

Diante do exposto, constatamos que nossa hipótese foi negada, porque a percepção dos cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII sobre o ecossistema manguezal brasileiro é basicamente neutra (descritiva) e/ou positiva (utilitarista).





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Carta a El Rei D. Manuel, Dominus: São Paulo, 1963. Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro >, acesso em: 11 set. de 2006

CINTRÓN, G. Caracterización y manejo de áreas de manglar. IN: Simpósio sobre Ecossistemas da Costa Sul e Sudeste Brasileira: Síntese dos Conhecimentos, Cananéia, 1987. Anais... Cananéia: Academia de Ciências do Estado de São Paulo, 1987, p. 77-97.

CPRH – Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. <www.cprh.pe.gov.br/frme-index-secao.asp?idsecao=208>, acesso em: 08 set. 2006

DEL RIO, V. Cidade da mente, cidade real: Percepção ambiental e revitalização na área portuária do Rio de Janeiro. IN: DEL RIO, V.; OLIVEIRA, L. (Orgs.) Percepção ambiental: a experiência brasileira. São Paulo: Studio Nobel. São Carlos: UFSCAR, p.3-22, 1996.

FUNDAJ – Fundação Joaquim Nabuco –, acesso em: 03/09/06

SILVA, C.W.M.; LYRA, L.H.; ALEMIDA-CORTEZ, A.S. Educação ambiental contribuindo para a preservação da mata de Dois Irmãos, Recife-PE. Revista Eletrônica do Mestrado de Educação Ambiental, Rio Grande, v.15, p. 21-33. 2003 , acesso: 01 set. de 2006

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da zona costeira e marinha. São Paulo: PROBIO- Programa Nacional da Biodiversidade; PRONABIO- Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira, 1999. Disponível em: , acesso em: 02 set. de 2006

SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal: Ecossistema entre a terra e o mar. São Paulo: Caribbean Ecological Research, 1995.

SOARES, J. L. Dicionário Etimológico e Circunstanciado de Biologia – São Paulo: Scipione, 1993.

UFCG – Universidade Federal de Campina Grande Disponível em: Acesso: 04 set. 2006

Ilustrações: Silvana Santos