Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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01/06/2015 (Nº 1) DO REAL AO IDEAL
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                                              EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

                                                                DO  REAL  AO IDEAL

                “ Somos mais sensíveis ao que é feito contra os costumes do que contra a Natureza.”

                                                                                                            (Plutarco, 100 d. C.)

Assim como o homem não é o centro do Universo, a Educação por si só não deve ser a única responsável pela salvação do Planeta. Somente com a formação integral do ser humano é que podemos proporcionar melhores condições de uma vida duradoura e salutar para todos os habitantes  da nossa Casa Maior. Este cidadão deverá cultivar bons hábitos de vida: desde o ato de  gostar de si mesmo,  e de desejar ao seu semelhante um “bom dia”, uma “boa tarde” ou um “muito obrigado” até as tarefas mais complexas desempenhas durante a sua vida como agente do desenvolvimento social, político, econômico do mundo. Isto significa que nossas ações devem ser sempre pautadas pelo cuidado, respeito e  afeto quando interferirmos no ambiente onde vivemos. E, para a conquista desta nova forma de comportamento, a Educação Ambiental se diz presente e proporcionará importantes instrumentos para este desafio.

E, objetivando diagnosticar o nível de conhecimento e interesse e também determinar o grau de aceitação da Educação Ambiental como parte integrante do cotidiano dos professores, alunos e pais da comunidade, conduzimos uma pesquisa por amostragem, em Fevereiro de 2002, em uma escola particular do município de Cariacica-E.S. Esta instituição conta com 40 professores e 800 alunos, divididos em três turnos e está situada em uma comunidade de classe média baixa.

A amostra pesquisada foi a seguinte: 20 pais  residentes na comunidade, 15 professores e 40 alunos de duas oitavas séries escolhidos intencionalmente, pois o objetivo era de trabalhar com os alunos residentes próximos à escola.  

Por acharmos que os alunos já possuíam relativo conhecimento sobre temas ambientais, o questionário foi aplicado por um professor das oitavas séries. Portanto sem orientação. Quanto aos professores, entregamos o questionário para cada um e solicitamos que o trouxesse no dia seguinte. Entretanto para os pais, preferimos aplicá-los pessoalmente, tendo em vista que para a grande maioria dos mesmos  os temas ambientais ainda eram desconhecidos. Por esta razão, deveriam ser acompanhados durante o preenchimento e, esclarecendo, quando necessário, algumas dúvidas e melhorando a compreensão dos enunciados. Esta fato, contudo, não interferiu nas respostas e, conseqüentemente, nos resultados apresentados.

A seguir, apresentaremos o resultado da pesquisa através de algumas respostas mais significativas do instrumento aplicado aos professores, que continha 12 perguntas.

A primeira pergunta do questionário foi: “Há quanto tempo atua no magistério?”. A maioria (53,5%) respondeu que militava no magistério “há mais de dez anos.” Isto demonstra que grande parte já tem uma larga experiência no processo docente-educativo.

Quanto à segunda pergunta formulada para definir “Meio Ambiente.”, além das alternativas apresentadas, poderiam ser inseridas outras, caso não encontrasse a mais completa. Dentre várias respostas, a mais votada foi a opção “é tudo que está a nossa volta.”, com 26,5% e logo a seguir a opção “é tudo isto”, com 20%, significando que todas as alternativas presentes contribuíram de forma individual ou associada às demais opções para a conceituação de Meio Ambiente. Como parâmetro  estabelecemos a conceituação de Meio Ambiente como sendo “tudo que está a nossa volta.”

Entretanto, dois professores (13,5%) acrescentaram as alternativas “é vida” para definir Meio Ambiente. A resposta é muito interessante porque enseja reflexão mais profunda sobre o assunto. Entendemos que o Meio Ambiente pode ser vida más também morte. No reino animal e vegetal a morte de um elemento de uma espécie se transforma em oportunidade para o nascimento de outro elemento da mesma espécie ou espécie diferente. Entretanto, se continuarmos a poluir o ar, contaminando a água e envenenando os alimentos podemos interferir negativamente no Meio Ambiente e alterar profundamente esta relação de vida-morte-vida. Neste caso, viver em um ambiente com estas características é sinal apenas de morte para alguns  elementos ou algumas espécies.

Nas demais respostas (40%), observamos que  aparecem aquelas conotações fragamentárias, atomizadas e reducionistas.

A visão restrita dos demais professores sobre questões ambientais enseja uma falta de conhecimento, reflexão e de consciência para com o seu entorno. Podemos sugerir que estes fatos estejam ligados à falta de interesse e/ou dificuldades de se obter informações. Outrossim, para alguns professores participantes da pesquisa, este tema não tem nada que ver com suas disciplinas, não percebendo assim, que a questão ambiental é um problema que deve ter conotação multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Ou seja, é uma postura, um comportamento, uma forma de atuar, etc. Portanto, esta questão não é de responsabilidade de uma disciplina ou deste ou daquele professor, aluno, funcionário da instituição, dos pais, desta ou daquela escola: todos somos  responsáveis!  Nem os excluídos  por qualquer forma de discriminação estão a salvo do compromisso para com o meio ambiente.

Para a 3a pergunta cujo enunciado era “Você acha que tem uma educação ambiental desenvolvida?”, não houve grande desvio entre uma resposta e outra, ou seja, entre o grau “Muito desenvolvida” e “Pouco desenvolvida”. Más, na média os professores demonstraram um bom nível de conhecimento e consciência quanto aos problemas ambientais. Era de se esperar: afinal eles são os formadores de opinião, são os dirigentes, os guias do processo de ensino-aprendizagem, pois é na escola e da escola que se espera ações organizadas para o processo de desenvolvimento e de formação de  cidadãos em condições de transformar (para melhor) o mundo.

Na pergunta 6, “Acha que pode incluir Educação Ambiental em todas  as disciplinas?”, a resposta afirmativa corrobora o fato de que reconhecem, desta forma, que os temas sobre o Meio Ambiente podem transitar livremente por todas as disciplinas, além da sala de aula e da escola. No desdobramento desta pergunta, aparece outra “Por que?”, solicitando  uma justificativa para qualquer resposta, seja ela positiva ou negativa.

Nas justificativas variadas para a pergunta “Por que?”, três professores responderam positivamente. O primeiro respondeu “é um assunto interdisciplinar”. O segundo disse que “ é um assunto que vivenciamos todos os dias.”  “É uma postura do educador”, respondeu o terceiro.

Contudo, dois professores fizeram menções negativas. Um disse que “é complicado em Ciências Exatas.” O outro disse: “iria fugir do assunto.” Quanto à primeira justificativa, podemos afirmar que quando fazemos os mais simples cálculos, como  por exemplo, a quantidade de chuva que cai num determinado lugar ou quanto de lixo a escola produz, já se está aplicando um conhecimento matemático elementar, más muito importante dentro do contexto ambiental. Por sua parte, a segunda justificativa  “iria fugir do assunto”, parece que a intenção é  transferir a responsabilidade para outra(s) disciplina(s), por exemplo, Biologia,  Geografia, etc., ou podemos deduzir que o professor tem uma visão distorcida ou limitada do Meio Ambiente, Ou mesmo plagiando Pilatos!

Para a pergunta número 9 “Na rua, quando você está com um pedaço de papel de bala, salgado, etc. nas mãos, você?”, as respostas obtidas não surpreenderam muito, para o tipo de comportamento exigido. Ou seja, 73% dos entrevistados disseram que “ jogam o papel na lixeira” enquanto que 27% afirmaram que “levam para casa ou até a uma lixeira.” Pelo que pudemos perceber ninguém joga lixo nas ruas ou  nos passeios. Um resultado semelhante foi encontrado também nas respostas da pesquisa aplicada aos alunos e pais. Entretanto, o que se constata é bastante lixo nas vias públicas e também em menor quantidade nas dependências da escola e adjacências. Isto leva a crer que boa parte dos entrevistados tem atitudes inconscientes: ao mesmo tempo que dizem defender o meio ambiente, jogam lixo nas ruas e passeios. Na teoria, fala-se muito e na prática pouco se faz efetivamente para melhorar o ambiente. Quando estamos entrevistando face-to-face uma pessoa é uma coisa, quando a observamos de longe  é possível captar ações  que contrariam o seu discurso.

Este fato mostra que é importante a alternância/variância dos métodos científicos (entrevista-observação) que devem ser empregados durante uma pesquisa científica.  

A pergunta número 10 que trata dos “três problemas ambientais mais importantes no Brasil, apresentou  respostas refletindo as linhas gerais dos meios de comunicação de massa quando da abordagem dos principais problemas ambientais veiculados nos telejornais ou programas de grande audiência. Como estes temas provocam grande impacto nos cidadãos, são eles que se destacam mais. Ao mesmo tempo, os temas ou problemas mais localizados, tendem a permanecer em segundo plano. Ações simples do dia-a-dia  podem provocar o mesmo impacto, entretanto de maneira mais lenta e profunda. Nestes casos,  os efeitos viriam a médio e longo prazos.

As resposta foram as seguintes: “ Poluição” recebeu 60% dos votos dos professores. O “Lixo”, em segundo lugar, juntamente com o “Desmatamento” receberam 46,5%. Quanto ao lixo, as nossas ações diárias podem fazer a diferença, se reciclarmos os resíduos que produzimos, através de ações integradas com os órgãos públicos e outras instituições.

“Em que medida você colabora com o meio ambiente?” foi a pergunta de número 13 e as respostas foram “Muito Alta” com 40%  e “Alta”, também com 40%. Regular apareceu com 20%. Estas respostas estão fundamentadas  nas condutas mais simples referentes ao Meio Ambiente no nosso cotidiano. Para os entrevistados, ações básicas como a coleta de lixo, o acondicionamento em sacos plásticos e o depósito em local adequado são consideradas ações importantes para melhorar os condições ambientais locais. Certamente, existem dezenas e centenas de outras ações (simples ou complexas) que são de fundamental importância para um ambiente sadio. Pouco adianta criticar aqueles que destroem as florestas, contaminam o ar e os mares, e assassinam as baleias no Pacífico, se no mesmo instante, a pessoa que está criticando joga a ponta de cigarro na calçada, atira papel no chão, buzina sem necessidade e desperdiça alimentos. A minha ação local faz a diferença global!

Quanto à última pergunta “Tem recebido capacitação em Educação Ambiental?”. “Pouca” foi a resposta de 40%. “Nenhuma”, 33% e “Muita”, 27%. Apesar de considerarmos a Educação Ambiental  ainda jovem, as escolas, de maneira geral, ainda não se prepararam para vivenciar esta prática e muito menos para capacitar e /ou reciclar os profissionais que serão os agentes de orientação e transmissão dos conhecimentos e valores dentro do âmbito escolar. Portanto, mesmo os professores na sua grande maioria, têm uma visão fragmentada ou estreita do que seja a verdadeira vida ambiental.

Prof. Zenobio Eloy Fardin

Rua Cinco de Maio, 01 – apto.302

29l44-210 – Campo Grande –ES.

Telefax: (027) 3336-3418

E-mail: zenobiofardin@bol.com.br

Graduado em Geografia

Pós-Graduado em EPB

Mestrando em Educação (enfoque em Educação Ambiental)


 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos