Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/03/2009 (Nº 27) TRABALHANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO “PROJETO SEMEANDO AS CORES”
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Educação ambiental em ação

 

TRABALHANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DO “PROJETO SEMEANDO AS CORES”

 

 

André Brandão Paes de Andrade (a)

Fernanda Alves Sena (b)

Ana Paula Sena Barbosa (c)

Zedeki Fiel Bezerra (d)

André Ribeiro de Santana (e)

Luiza Nakayama (f)

 

 

a) Especialista em Educação Ambiental e Conservação de Recursos Hídricos, Núcleo de Meio Ambiente – Universidade Federal do Pará (NUMA – UFPA), professor da SEDUC/PA. UFPA/NPADC-GPEEA/Sala Verde Pororoca.

 

b) Pedagoga pela UEPA (Universidade Estadual do Pará). UFPA/NPADC-GPEEA/Sala Verde Pororoca.

 

(c) Pedagoga pela UFPA. UFPA/NPADC-GPEEA/Sala Verde Pororoca.

 

(d) Especialista em História da Amazônia pela UNAMA. Professor da SEDUC-PA. Integrante do GPEEA-Sala Verde Pororoca-NPADC/UFPA.

 

(e) Doutorando em Educação em Ciências e Matemáticas pelo PPGECM/NPADC/UFPA, professor da SEDUC/PA, UFPA/NPADC-GPEEA/Sala Verde Pororoca.

 

(f) Doutora em Genética Bioquímica e Molecular, Professora do mestrado e doutorado em Educação em Ciências e Matemáticas do NPADC/ UFPA, coordenadora do Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação Ambiental (GPEEA)/Sala Verde Pororoca: espaço interativo socioambiental Paulo Freire da UFPA.

 

Autor para correspondência: Luiza Nakayama, lunaka@ufpa.br, fones: (91) 3201-7642 / 7487. Fax: 3201-7642 / 7487. Universidade Federal do Pará, Campus Universitário do Guamá. Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação Matemática e Científica - Campus Básico, GPEEA/Sala Verde Pororoca. Rua Augusto Corrêa, nº 1, Belém-PA/ 66075-110.

 

 

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

Paulo Freire (1987, p. 68).

 

 

RESUMO

 

 

Palavras-chave: Educação Ambiental, interdisciplinaridade, Arte-educação.

 

 

INTRODUÇÃO

A temática ambiental deve fazer parte não só da prática docente, mas também do cotidiano das pessoas. Nessa percepção, o papel do educador é propor novos hábitos e novas posturas que contribuam para a qualidade de vida da sociedade. Para Enrique Leff essas mudanças devem gerar uma racionalidade ambiental que:

 

[...] se funda numa nova ética que se manifesta em comportamentos humanos em harmonia com a natureza; em princípios de uma vida democrática e em valores culturais que dão sentido à existência humana. Estes se traduzem num conjunto de práticas sociais que transformam as estruturas do poder associadas à ordem econômica estabelecida, mobilizando um potencial ambiental para a construção de uma racionalidade social alternativa. (LEFF, 2001, p. 85).

 

 

Assim, acreditamos que as novas ações direcionadas aos alunos devem ser repensadas buscando a racionalidade ambiental, a qual promova o desenvolvimento socioeconômico compatível com a conservação e preservação da natureza, objetivando minimizar a degradação ambiental. Nessa perspectiva, o tempo de produção de bens de consumo deve ser associado ao tempo de capacidade de renovação da natureza - o imediatismo que domina o modo de produção deve ser substituído por uma nova lógica de respeito à natureza garantindo a existência das futuras gerações (MUNHOZ, 2004).

Dentro deste contexto iniciamos, no ano de 2002, um projeto em uma escola pública de ensino fundamental localizada na ilha de Caratateua, em Belém – Pará, próxima à margem do furo do Maguari. Trata-se de escola ribeirinha, que atende moradores das margens dos rios e igarapés da região, pessoas cujos estilos de vida são influenciados pela cultura cabocla amazônica, rica em interações extrativistas com a maior biodiversidade planetária, bem como por grandes contrastes econômicos, políticos e sociais (MENDES et al., 2008).

O “Projeto Semeando as Cores” teve como objetivo imediato solucionar o problema de baixa freqüência de alunos nas aulas de artes, causada por fatores como a precária situação socioeconômica e cultural dos discentes, que lhes dificulta adquirir materiais didáticos adequados, mesmo os essenciais, para o desenvolvimento da disciplina de Educação Artística. Assim, em sala de aula, começamos a mostrar ao aluno que o mesmo poderia produzir desenhos e pinturas “fabricando” material escolar (grafites, tintas, fixadores, papéis, pincéis, colas entre outros) utilizando produtos naturais da região.

Partindo do pressuposto que o ambiente escolar é propício para irradiar à população escolar e à comunidade do entorno, informações necessárias à aprendizagem global, favorecendo mudanças de paradigmas para a sustentabilidade (DÍAZ, 2002), consideramos necessário à incorporação da educação voltada para a transformação social na práxis escolar.

Constatamos que era fundamental entender e valorizar a singularidade cultural dessa escola ribeirinha para poder desenvolver uma educação dialógica e participativa, privilegiando a diversidade em detrimento da uniformidade, pois “a perda de identidade cultural, contribui para a desagregação dos grupos sociais, levando-os a consolidar posições de dependência, acomodação e impotência frente à dominação de grupos hegemônicos” (IBAMA, 1996, p. 22). Em vista desta postura, com o passar dos anos, o Projeto foi adquirindo maior dimensão, objetivando não só mostrar ao alunado a importância e a influência da natureza nas artes através do educar ambiental, mas também buscando a interdisciplinaridade.

Ressaltamos que o termo interdisciplinaridade não tem um sentido único, afinal, trata de novas conceituações cujas abordagens nem sempre são compreendidas da mesma forma (FERREIRA, 2005). Independente disto, interdisciplinaridade envolve também procedimentos interativos entre os indivíduos, configurando-se em atitudes e posturas (FAZENDA, 1999).

A interdisciplinaridade é utilizada para: [...] caracterizar a colaboração existente entre disciplinas diversas ou entre setores heterogêneos de uma mesma ciência (Exemplo: Psicologia e seus diferentes setores: Personalidade, Desenvolvimento Social etc.). Caracteriza-se por uma intensa reciprocidade nas trocas, visando um enriquecimento mútuo. (FAZENDA, 2002, p. 41).

Afora as inúmeras distinções terminológicas, a interdisciplinaridade pressupõe basicamente: [...] uma intersubjetividade, não pretende a construção de uma superciência, mas uma mudança de atitude frente ao problema do conhecimento, uma substituição da concepção fragmentária para a unitária do ser humano. (FAZENDA, 2002, p. 40).

Consideramos a Educação Ambiental (EA) interligada a interdisciplinaridade, por conta de seu caráter complexo e inter-relacional através do qual podemos favorecer a compreensão, dentro de uma contextura real, das interações e conflitos entre o homem, suas elaborações – arte, cultura, ciência, religião, senso comum - e a natureza (DÍAZ, 2002).

Neste trabalho assumimos que: [...] a Educação Ambiental, como perspectiva educativa, pode estar presente em todas as disciplinas, quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio natural, e as relações sociais, sem deixar de lado as suas especificidades. (REIGOTA, 2001, p. 25).

Mininni-Medina (1994) é mais enfática, ao se posicionar sobre o papel da EA na prática educativa:

 

[...] não deverá ser encarada como mais uma disciplina do currículo ou um tipo especial de educação, mas uma das dimensões que irá balizar a educação geral. Dessa forma, todos os professores serão responsáveis por incluir temas ambientais em seus programas e abordá-los em suas aulas, estabelecendo um vínculo social entre eles. É justamente nessa ótica que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA estabelece a Educação Ambiental. Ela deverá, segundo o PNUMA, será vista como uma dimensão da Educação seja no nível formal ou não-formal (MININNI-MEDINA, 1994, p. 51).

 

Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi estudar algumas atividades interdisciplinares desenvolvidas no Projeto Semeando as Cores envolvendo a Educação Artística como instrumento para melhoria da percepção discente com relação ao meio ambiente que integra.

 

 

CAMINHOS PERCORRIDOS

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental "Professor Antônio Brasileiro de Carvalho" (para resguardar a privacidade da instituição, adotamos este pseudônimo), constatamos que, apesar das recomendações nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), a Educação Artística não era valorada como disciplina. Alguns alunos, pais, até mesmo professores de outras disciplinas acreditavam que desenhar, pintar, esculpir são atividades recreativas e não pedagógicas. Desse modo, o aluno avança para outras séries mesmo com desempenhos insatisfatórios em Educação Artística.

Verificamos, também, que a falta de interesse e a grande evasão dos alunos estava presente nas outras disciplinas, talvez pela efetivação de processo educativo que se concretiza através do objetivo de formar cidadãos no âmbito da cultura nacional, a qual desconsidera especificidades – culturais, econômicas, geográficas, sociais - de lugares e regiões.

Não podemos ignorar numa alusão a Queiroz (2004), que o enfrentamento desta questão requer reflexões, interações e ações conjuntas entre escola, família e estudantes, tudo efetivado numa atmosfera de diálogo e respeito, na qual interações entre Educação Artística e EA revelaram-se bastante eficazes, como agentes de sensibilização e, posteriormente, conscientização.

Essa constatação nos remete a Brandão (2003), autora que enfatiza a relevância dos sentidos e da subjetividade, no entendimento da complexidade das relações humanas com a Natureza - considerando as implicações políticas e sociais envolvidas - ao salientar a importância das atividades artísticas e culturais na efetivação da EA. Para Brandão (Ibid) a perspectiva do compartilhamento de saberes e a ampliação da capacidade de reflexão crítica são efetivas contribuições da Arte na elaboração de uma cultura propícia às mudanças de atitudes vinculadas a compreensão do caráter sistêmico das nossas relações.

Na grade curricular da Escola Professor Antônio Brasileiro de Carvalho a EA era referida como tema transversal, em conformidade com recomendações oficiais (BRASIL, 1998); a maioria das questões trabalhadas com o aluno girava em torno do tema gerador, selecionado através de entrevistas e pesquisa com a comunidade local, a qual discute e aponta os problemas mais evidentes, com ênfase: 1) na preservação da floresta amazônica, onde os alunos falam principalmente sobre queimadas e a morte dos animais; 2) na poluição dos rios, focado principalmente no furo do Maguari, o qual corta a ilha de Caratateua, que sofre com a invasão das fábricas e madeireiras, cuja fixação e crescimento vêm aumentando quantitativamente; 3) em discussões sobre o lixo, o porquê de não jogá-lo em qualquer lugar, sujando a própria escola e outros ambientes que habitam; 4) na poluição visual, por conta do número muito elevado de placas informativas e outdoors nos arredores da escola e 5) o transporte coletivo precário na ilha de Caratateua.

Conversando com alguns professores da escola percebemos que, apesar de buscar contemplar problemas básicos da comunidade, as ações em EA eram predominantemente teóricas, em que pesava iniciativas dos professores generalistas quando, por exemplo, construíam cartazes com suas turmas, abordando o tema gerador poluição vinda da descarga dos ônibus e as conseqüências para a população (alergias e doenças) e para os peixes no rio (morte por asfixia).

Diante dessa realidade, implantamos o "Projeto Semeando as Cores", desenvolvido durante o período de 2002 a 2006, na Escola Professor Antônio  Brasileiro de Carvalho. A localização privilegiada da instituição de ensino, próxima à margem do furo do Maguari, local possuidor de riquíssima biodiversidade, contribuiu bastante para o bom andamento do trabalho.

O público-alvo foi composto por alunos de 1a a 8a séries do ensino fundamental, de ambos os sexos, com faixa etária de 8 a 16 anos. No início atendemos 20 alunos e no final alcançamos 60.

Realizamos reuniões com a presença dos alunos participantes e seus responsáveis, professores, equipe executora e corpo administrativo da Escola (para esclarecimentos sobre as ações, procedimentos, realizações dos alunos e de formas de divulgação dos trabalhos produzidos) e outras apenas com os alunos (para verificar o grau de aprendizagem e traçar novas metas, de acordo com os anseios dos participantes).

Gradativamente fomos introduzindo algumas atividades, como visitas monitoradas em locais histórico-culturais de Belém, nas quais, de acordo com Andrade (2003) e Andrade et al. (2004), foram enfocados aspectos artísticos e biológicos: noções sobre a biodiversidade amazônica, conhecimento do acervo de obras artísticas e construções arquitetônicas, conhecimento da história e da cultura dos povos indígenas da Amazônia, promoção do contato direto do alunado com a natureza, além de terem sido trabalhados aspectos importantes para a conservação desses patrimônios.

Com as visitas, os alunos passaram a compreender melhor a necessidade de conhecerem o bairro onde residem, observando mais detalhadamente, os problemas ambientais, inclusive os de cunho urbano. Concluímos, portanto, que estas visitas foram ricas experiências de EA, fundamentais para a formação global do aluno, contribuindo em aspectos muito bem referidos por Michael (2006): 1) a percepção de integrar o mundo natural, juntamente com outras formas de vida; 2) a compreensão que água não provém de uma torneira aberta, mas sim de todo um contexto natural e social e 3) o entendimento dos desafios associados à vida sustentável, com os quais podemos lidar empregando criatividade e cooperação.

Em relação à participação dos alunos, é importante ressaltar que muitos deles inicialmente arredios em sala de aula, em espaços não formais se mostram mais relaxados e solidários. Assim, foi possível introduzir técnicas de relaxamento antes e depois da aula, ministrada por uma professora voluntária, para fortalecer as relações humanas e melhorar a afetividade e a auto-estima dos alunos.

Sentimos, durante o Projeto, que era necessário pensar a Educação Ambiental/Interdisciplinaridade, em termos de processo de formação total do homem como agente ambiental, no qual era fundamental sempre partir de um referencial seguro, baseado no suporte Teórico/Prático. Por sugestão dos próprios alunos, foram convidados profissionais da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Rural da Amazônia (UFRA) para ministrar palestras sobre: Ecologia, Zoologia, Botânica e Educação Ambiental. Os alunos com nosso auxílio realizaram pesquisas bibliográficas sobre a biodiversidade Amazônica, cultura indígena e problemas ambientais.

Nesse processo dialógico, como educadores, nos comportamos como mediadores nas análises dos conteúdos, auxiliando os alunos em seu processo de desenvolvimento da capacidade crítica e criativa, contribuindo para verem [...] o mundo com curiosidade e admiração, aumentando a sua sensibilidade com relação à natureza, assim como a sua expressividade ao reagir ao meio ambiente.” (MICHAEL, 2006, p.147). Percebemos, dessa forma, que os alunos ganharam mais autonomia, ficaram mais satisfeitos e confiantes pela aprendizagem com suas descobertas próprias, pois de acordo com Macedo (2000, p.43) [...] quando as idéias são entendidas e são apropriadas de forma encarnada por aqueles que procuram entendê-las, edifica-se uma abertura e o fenômeno da educação tende a se mostrar”.

O indicativo de que a metodologia e as aplicações pedagógicas estavam funcionando foi sinalizado pelo interesse nas demais disciplinas. Os professores de Português, de Geografia e de Ciências, apesar de no início não participarem diretamente do Projeto, deram os seus depoimentos, relatando que perceberam mudanças com relação à freqüência, socialização e produção dos participantes. Com o passar dos anos, os professores das disciplinas básicas da escola foram, gradativamente, aderindo ao Projeto de modo coerente a aspectos clássicos da EA, conforme salientados por Dias (1993): atuações interdisciplinares centradas no enfrentamento de problemas ambientais locais e globais, com ampliação do universo de conhecimentos das pessoas envolvidas enfatizando-se participações coletivas e responsáveis.

O apoio dos professores foi essencial na manutenção de abordagens interdisciplinares, enriquecendo, dessa forma, a compreensão do alunado sobre a dinâmica homem/ambiente. Carece ressaltar que o trabalho coletivo contribui para os docentes repensarem sua formação tradicional e a própria compartimentalização dos processos de ensino e aprendizagem, tradicionais empecilhos para ações que requerem integrações entre professores (BIZERRIL & FARIA, 2001; MANCUSO, 2001). O “saber interdisciplinar” transcendeu a Educação Artística, com abordagens de temáticas de suma importância, como o estudo da localização geográfica e problemas urbanos na ilha, gramática, leitura e interpretação de textos em EA.

Os alunos ao desenharem e ao pintarem paisagens demonstraram preocupação com os problemas ambientais que vêm ocorrendo na ilha de Caratateua. Suas produções enfatizaram principalmente o aumento de invasões na escola e seu entorno, a poluição do rio Maguari, a poluição do ar causada pelas descargas dos ônibus, o aumento da violência, a falta de praças e de parques para passearem e brincarem.

Alguns pais também se mostraram surpreendidos com a mudança de comportamento de seus filhos, pois as atividades do projeto eram desenvolvidas todos os sábados, no período da manhã (8h às 12h). Nesse dia, de acordo com os depoimentos, os filhos acordavam bem cedo para prepararem o seu material de anotações e desenhos para chegarem à escola com antecedência.

Além disso, alguns pais ou responsáveis deram alguns depoimentos: “estou satisfeita, pois vejo meu filho lendo mais”; “[...] outro dia perguntou para avó para que serviam algumas plantas”; “ele está brigando menos com os irmãos”; “está tendo mais gosto de vir estudar na escola”; “parece estar mais feliz...”.

Ao refletirmos sobre estes posicionamentos e depoimentos, reconhecemos resultados de nossos empenhos em prol da Educação como processo, que liberta da falta de criticidade, apatia, inércia e omissão ante problemáticas ambientais, sempre atreladas a aspectos econômicos, sociais e culturais, conforme argumenta Lima (2004). Ainda em sintonia com este autor, também consideramos relevante o resgatar da autonomia vinculada à liberdade de pensamento, na qual nossos alunos exerçam o direito de escolher em relação as suas vidas, no ambiente que integram, considerando-se as necessidades individuais e sociais.

Obviamente os bons resultados jamais seriam alcançados sem o empenho docente. Entretanto concordamos com as palavras de Carvalho (2003, p. 10): [...] Um só professor é incapaz de mudar o clima de uma escola.” Temos clareza que somente através do trabalho coletivo, cujas ações procedam de reflexão e livre iniciativa, poderemos começar a modificar o contexto de uma escola tradicional, cujos olhos e ouvidos não podem estar fechados às características da comunidade que atende. E não basta apenas fazer diferente, é necessário manter as conquistas, numa atmosfera perene de revisões e retroalimentações, para garantir que bons resultados, como os referidos por alunos e seus pais, não se percam nos meandros cotidianos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O Projeto Semeando as Cores, que inicialmente tinha o objetivo de despertar o interesse do alunado para o universo artístico, foi se expandindo. O diferencial do Projeto foi realizar um cabedal de atividades interdisciplinares - com uma visão mais integradora e abrangente de interpretação da realidade da Escola Professor Antônio Brasileiro de Carvalho – as quais, durante as aulas regulares, não aconteciam.

As reuniões periódicas ocorridas com a participação de todos os envolvidos no Projeto foram essenciais não só para construção de novos saberes/técnicas  e a incorporação desses conteúdos no processo de formação coletiva dos educadores envolvidos, assim como para a elaboração de novas estratégias de ensino e definição de novas estruturas e práticas curriculares. As reuniões também foram importantes para as decisões logísticas: local, data, horários, seleção dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos no decorrer do processo para exposições, seleção de patrimônio histórico para visitação ...

Com a abordagem interdisciplinar - um importante viés a ser perseguido pelos educadores, porque favorece uma compreensão mais globalizada do ambiente, trabalhando a interação equilibrada entre os seres humanos e a natureza - buscamos superar a fragmentação do conhecimento, aspecto ainda freqüente na realidade da sala de aula.

Nesse contexto, o diálogo entre os diversos saberes, científicos ou populares, de maneira que através do confronto entre todos esses saberes emergissem as concepções e as formulações que os diferenciassem, conduziram à definição de limites e às possibilidades de integração.

De fato, verificamos que todos os atores envolvidos ajudaram bastante no progresso educacional dos alunos participantes, que vêm conquistando os seus espaços, alcançando as necessidades cognitivas, afetivas e de geração de aptidões para uma atividade responsável e ética dos alunos como agente social transformador.

Em vista do exposto, conseguimos identificar, ainda que timidamente, aspectos de uma educação transformadora.

Finalizamos retornando à epígrafe de Freire (1987) a qual abre esse artigo, cujo conceito descreve o respeito que deve existir entre os seres humanos, que deve ser fundamental para a eliminação dos oprimidos. Nesse sentido, concluímos que nós, os educadores, não somos mais fiéis depositários, mas, sim, construtores dessa nova realidade!

 

 

AGRADECIMENTOS:

            A coordenação, professores e funcionários da Escola Professor Antônio Brasileiro de Carvalho, pelo apoio logístico. Aos alunos participantes do Projeto.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

 

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Ilustrações: Silvana Santos